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quarta-feira, 30 de abril de 2014

Tema de Redação - UFG - 2006

Tema de Redação - UFG - 2006

Instruções

            A prova de Redação apresenta três propostas de construção textual. Para produzir o seu texto, você deve escolher um dos gêneros indicados abaixo:
            A – artigo de divulgação científica
            B – crônica
            C – carta aberta
            O tema é único para os três gêneros e deve ser desenvolvido segundo a proposta escolhida. Fuga do tema anula a Redação.
            A leitura da coletânea é obrigatória. Ao utilizá-la, você não deve copiar trechos ou frases sem que essa transcrição esteja a serviço do seu texto.
            Independentemente do gênero escolhido, o seu texto não deve ser assinado.

Tema:

Memória: constitutiva do homem e formadora da identidade social


Coletânea

            Uma memória coletiva se desenvolve a partir de laços de convivência familiares, escolares, profissionais. [...] Que interesse terão tais elementos para a geração atual? [...] Por muito que deva à memória coletiva é o indivíduo que recorda. Ele é o memorizador e das camadas do passado a que tem acesso pode reter objetos que são, para ele, e só para ele, significativos dentro de um tesouro comum. [...] Se a memória da infância e dos primeiros contatos com o mundo se aproxima, pela sua força e espontaneidade, da pura evocação, a lembrança dos fatos públicos acusa, muitas vezes, um pronunciado sabor de convenção. [...] Na memória política, os juízos de valor intervêm com mais insistência. O sujeito não se contenta em narrar como testemunha histórica “neutra”. Ele quer também julgar, marcando bem o lado em que estava naquela altura da História, e reafirmando sua posição ou matizando-a.
            A memória dos acontecimentos políticos suscita uma palavra presa à situação concreta do sujeito. O primeiro passo para abordá-la, parece, portanto, ser aquele que leve em conta a localização de classes e a profissão de quem está lembrando para compreender melhor a formação do seu ponto de vista. [...] Há um modo de viver os fatos da História, um modo de sofrê-los na carne que os torna indeléveis e os mistura com o cotidiano, a tal ponto que já não seria fácil distinguir a memória histórica da memória familiar e pessoal.

Bosi, E. Memória e sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: Edusp, 1987, p. 332-333, 371-385.

            A campanha de salvamento de Abu Simbel, alto Egito, foi fundamental para a consolidação do conceito de patrimônio mundial, difundindo em todo o mundo a idéia de que a responsabilidade pela preservação dos grandes monumentos – os tesouros do patrimônio mundial – não toca apenas aos países onde eles se situam, mas sim a todos os povos da terra, sem exceção.

PLANETA, n. 395. São Paulo, ago. 2005, p. 45. [Adaptado]

            [...] Já faz tempo eu vi você na rua / Cabelo ao vento, gente jovem reunida / Na parede da memória essa lembrança é o quadro que dói mais / Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo o que fizemos / Ainda somos os mesmos e vivemos / Como nossos pais [...]

BELCHIOR. Como nossos pais. Intérprete: REGINA, E. O mito. São Paulo: Universal Music, 1995. 1 CD. Faixa 3.

Baú de recordações. A professora aposentada Neuza Guerreiro de Carvalho (foto) guarda as memórias de seus 75 anos de vida em três baús e em dezenas de livros. Ali estão registros escritos, fotografias e objetos que contam não só a história de sua existência mas também a dos familiares que a antecederam e a sucederam e ainda a da cidade em que sempre viveu, São Paulo. A lembrança mais remota que conserva? “Uma caixinha que era do meu pai”, diz ela, e, do fundo do baú que leva o nome “Memórias e Histórias”, saca a caixinha cuidadosamente embalada para que dure por muitos anos. [...] 
Gosto do passado. Década de 50. Numa casa pobre, do bairro de Remédios, SP, crianças olham a chuva cair lá fora. Irene é uma delas. Do fogão à lenha sobe o cheiro de alho frito. O aroma perfuma a tarde. O avô de Irene faz miga, comida espanhola conhecida em Portugal como sopa de pão. A tropa mirim se aquieta. [...] Era aniversário do meu marido e eu estava servindo uma receita russa quando me lembrei da miga”, conta a dona-de-casa Irene Cavallini, 61. Correu e incluiu a passagem no livro “No vão da escada”, que publicou independentemente após fazer o curso “Resgatando e escrevendo suas memórias”, do Colégio Santa Maria, SP. [...] “Resgatar a própria história é um modo de se redescobrir e de registrar quem você é”, diz Maria Aldina Galfo, professora do curso.

FOLHA DE S. PAULO. São Paulo, 8 set. 2005, p. 8. Equilíbrio. [Adaptado].

            Imagine se existisse uma pílula da memória. Apenas um simples comprimido seria suficiente para não esquecermos nunca mais a data de aniversário do avô ou todos os detalhes daquela viagem de verão. Pois essa milagrosa invenção já está sendo desenvolvida por cientistas da Universidade da Califórnia, que afirmaram à revista New Scientist que ela poderia ser usada na recuperação de pessoas em estado de cansaço, no tratamento de pacientes com Alzheimer e até mesmo para aumentar o desempenho de pessoas saudáveis.

FOLHA DE S. PAULO. São Paulo, 8 set. 2005, p. 6. Equilíbrio.

            E se pudéssemos tomar um remédio que nos ajudasse a esquecer? Uma notícia divulgada no final de julho na revista científica Nature revelou que um grupo de psiquiatras nos EUA acredita que drogas do tipo bloqueadores beta, utilizadas largamente para tratar hipertensão, agem “apagando memórias ruins”, se administradas no momento certo. [...] Conta o psiquiatra Frederico Graeff, da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto: “a droga não faz esquecer um trauma, o que pode fazer é barrar um fluxo emocional excessivo, a pessoa não revive os sentimentos”. “O bloqueador beta inibe a ação da adrenalina e sua ‘prima’ no cérebro, a noradrenalina. Se você tem uma experiência emocionalmente estimulante, você vai liberar essas substâncias no corpo e no cérebro, e elas têm o papel de determinar o quão fortemente as memórias serão lembradas. O bloqueador beta barra a ação delas e enfraquece as memórias”, detalha James Mc-Gaugh.

GALILEU. São Paulo, set. 2005, n. 170, p. 37-38. [Adaptado].

            Preservar a vida é o mais arraigado dos instintos. Na evolução das espécies, a seleção natural cuidou de eliminar os incapazes de defendê-la com unhas e dentes.
            Os seres humanos não constituem exceção, mas, pelo fato de sermos animais racionais, aceitamos determinados limites para a duração da existência; mantê-la a qualquer custo não nos parece sensato. A perda irreversível da memória configura uma dessas situações. Incapazes de lembrar quem somos e de entender o que se passa a nossa volta, de que vale a condição humana?

VARELLA, D. A memória da velhice. Folha de S. Paulo. São Paulo, 3 set. 2005, p. E12.

            Atualmente, é triste a constatação de que há pouca gente sensível à manutenção de nossos monumentos, sensível à arquitetura produzida por nossos antepassados nessa cidade. [...] Infelizmente, atualmente o descaso com esse patrimônio vem se tornando prática comum: a regra é pô-lo abaixo. O que torna tudo pior é que em seu lugar surgem invariavelmente construções pioradas em todos os sentidos: estética, funcional ou economicamente. A situação é mais dramática no Centro da cidade, região em que os edifícios têm maior valor histórico e mesmo arquitetônico. Pois ali casas, sobrados e edifícios são postos abaixo para dar lugar a construções provisórias, barracões, puxados ou mesmo a meros estacionamentos.

UNES, W. Identidade art déco de Goiânia. São Paulo: Ateliê Editorial; Goiânia: Editora da UFG, 2001, p. 20-21. [Adaptado].

            Se o mundo do futuro se abre para a imaginação, mas não nos pertence mais, o mundo do passado é aquele no qual, recorrendo a nossas lembranças, podemos buscar refúgio dentro de nós mesmos, debruçar-nos sobre nós mesmos e nele reconstruir nossa identidade. [...] O tempo da memória segue um caminho inverso ao do tempo real: quanto mais vivas as lembranças que vêm à tona de nossas recordações, mais remoto é o tempo em que os fatos ocorreram.

BOBBIO, N. O tempo da memória. Rio de Janeiro: Campus, 1997. Contracapa.

(Tudo é sombra de sombras, com certeza [...]
Vão-se as datas e as letras eruditas / na pedra e na alma, sob etéreos ventos, / em lúcidas venturas e desditas.
E são todas as coisas uns momentos / de perdulária fantasmagoria, / – jogo de fugas e aparecimentos).
Das grotas de ouro à extrema escadaria, / por asas de memória e de saudade, / com o pó do chão meu sonho confundia.

MEIRELES, C. Romanceiro da Inconfidência. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999, p.40.

Propostas de Redação

A – ARTIGO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA

            O artigo de divulgação científica traz, numa linguagem acessível ao grande público, reflexões a respeito de determinado tema investigado por uma comunidade científica. Geralmente, as opiniões de estudiosos e os resultados das investigações se complementam ou se opõem. Esse gênero se constitui a partir de uma seleção de informações e comentários relevantes para se ter uma visão geral acerca do tema. No texto, predominam sequências expositivo-argumentativas.
            Imagine que você seja um jornalista de uma revista de divulgação científica e escreva um artigo a respeito das concepções de memória social, política, biológica etc. No projeto argumentativo, considere as relações entre essas diferentes perspectivas, o papel que esses tipos de memória exercem na formação do homem e na constituição da identidade de um povo.

B – CRÔNICA

            A crônica pode apresentar tanto características de um texto literário quanto de um texto jornalístico. Impressões a respeito de fatos ou de situações do cotidiano são recriadas em um texto que objetiva divertir o leitor e/ou trazer uma análise crítica. Nesse gênero, predominantemente narrativo-expositivo, o narrador pode ser participante ou não da história.
            Imagine que você tenha tomado uma pílula recém-lançada no mercado e isso gerou consequências nas suas relações sociais (na família, no trabalho, na vida afetiva etc), pois entre os efeitos da pílula, que age na memória, podem estar a lembrança e/ou o esquecimento de fatos e pessoas interessantes. A partir dessa situação, escreva uma crônica para ser publicada em um jornal de circulação local, considerando que a perda ou a recuperação da memória pode influenciar a construção de sua identidade.

C – CARTA ABERTA

            O gênero carta aberta manifesta publicamente, via meios de comunicação de massa, a opinião de um grupo de pessoas a respeito de um problema. A intenção é persuadir o interlocutor a tomar consciência do problema e se mobilizar para solucioná-lo. O texto denuncia e analisa os fatos, sugere e reivindica ações resolutivas. A construção da imagem do interlocutor e estratégias de convencimento determinam a predominância no texto de aspectos de natureza expositivo-argumentativa.
            Em nome de uma organização não-governamental, preocupada com a preservação da identidade individual e coletiva, redija uma carta aberta ao ministro da Cultura, para ser publicada em um jornal de circulação nacional, denunciando a perda progressiva da memória nacional, traduzida na deterioração do patrimônio histórico e cultural do Brasil. Exponha fatos que comprovem esse descaso, revelado em atitudes da população e dos órgãos governamentais, reivindique e sugira medidas que possam conter esse grave problema.


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Tema de Redação - UFG - 2005

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Instruções

         A prova de Redação apresenta três propostas de construção textual. Desse modo, para produzir o seu texto, você deve escolher um gênero, entre os três indicados a seguir:
            A - diário
            B - editorial
            C - carta de leitor

            O tema é único para os três gêneros. Fuga ao tema, desconsideração ou mera cópia da coletânea anulam a Redação.
            Com a finalidade de auxiliar o projeto do seu texto, o tema vem acompanhado de uma coletânea. Ela tem o objetivo de propiciar uma compreensão prévia e abrangente a respeito da temática proposta. Por isso, a leitura da coletânea é obrigatória. Ao utilizá-la, você não deve copiar trechos ou frases sem que essa transcrição esteja a serviço do seu projeto de texto.
            Independentemente do gênero escolhido, o seu texto não deve ser assinado.

TEMA

A Verdade: Inerente aos acontecimentos e às coisas do mundo? Construída a partir dos acontecimentos e das coisas num dado momento e lugar?


COLETÂNEA

ciência [Do lat. scientia]. S. f. [...] conjunto de conhecimentos socialmente adquiridos ou produzidos, historicamente acumulados, dotados de universalidade e objetividade que permitem sua transmissão, e estruturados com métodos, teorias e linguagens próprias, que visam compreender e, possivelmente, orientar a natureza e atividades humanas.

verdade [Do lat. veritate]. S. f. Conformidade com o real; exatidão, realidade; franqueza, sinceridade; coisa verdadeira ou certa; [...] princípio certo; [...] representação fiel de alguma coisa da natureza.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Hollanda. "Novo Aurélio século XXI. O Dicionário da Língua Portuguesa". Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999; p. 462 e 2060.

Câncer

            Quando as estatinas chegaram ao mercado, pensava-se que elas poderiam aumentar os riscos de câncer. Agora, os médicos começam a acreditar que os efeitos do remédio podem vir a ajudar no tratamento de pacientes com câncer, especialmente os tumores malignos de fígado, de intestino e de próstata.
            Começaram a ser feitos os primeiros levantamentos sobre a relação entre as estatinas e a prevenção do câncer da mama. O processo pelo qual o remédio combateria esses tumores ainda não foi desvendado.

"VEJA". São Paulo: Abril, n. 1858, 16 jun. 2004, p. 86.

            Ninguém tem dúvida de que discordâncias e erros de interpretação podem ocorrer. Infelizmente, fazem parte do aspecto subjetivo humano, do exercício da medicina. Resta aos especialistas a tarefa contínua de melhorar ao máximo o controle de qualidade de equipamentos, métodos, técnicos e médicos, num esforço constante para evitar informações desencontradas que possam prejudicar o paciente.
            Por sorte, a maioria das discrepâncias está em detalhes periféricos que raramente têm impacto significativo no manejo clínico. As restrições impostas pelos diferentes sistemas de saúde, assim como pelo mercado, podem reduzir a capacidade dos centros de diagnóstico em manter qualidade de níveis elevados, adequados. Quanto de discrepância entre especialistas pode ser considerado aceitável? Isso ainda não está claro hoje em dia. E não se sabe se ficará claro num futuro próximo.

"CARTA CAPITAL". São Paulo, n. 303, set. 2004, p. 56. Especial Saúde.

            Quando comparamos as físicas de Aristóteles, Galileu-Newton e Einstein, não estamos diante de uma mesma física, que teria evoluído ou progredido, mas diante de três físicas diferentes, baseadas em princípios, conceitos, demonstrações, experimentações e tecnologias completamente diferentes. Em cada uma delas, a ideia de Natureza é diferente; em cada uma delas os métodos empregados são diferentes; em cada uma delas o que se deseja conhecer é diferente.

CHAUI, Marilena. "Convite à filosofia". São Paulo: Ática,1999, p. 257.

            Se seus anzóis têm, até o momento, pescado só peixes pequenos, ele (o cientista) deve mudá-los para ver se consegue pescar peixes grandes. Se está convencido de que as coisas são de um jeito, deveria buscar evidências de que são de outro. Cada cientista consciente deveria lutar contra sua própria teoria. E é isso que o torna uma pessoa capaz de perceber o novo.

ALVES, Rubem. "Filosofia da Ciência - introdução ao jogo e a suas regras". São Paulo: Loyola, 2000, p. 189.

            Em nossas sociedades, a "economia política" da verdade tem cinco características historicamente importantes: a "verdade" é centrada na forma do discurso científico e nas instituições que o produzem; está submetida a uma constante incitação econômica e política (necessidade de verdade tanto para a produção econômica quanto para o poder político); é objeto, de várias formas, de uma imensa difusão e de um imenso consumo (circula nos aparelhos de educação ou de informação, cuja extensão no corpo social é relativamente grande, não obstante algumas limitações rigorosas); é produzida e transmitida sob o controle, não exclusivo, mas dominante, de alguns grandes aparelhos políticos ou econômicos (universidade, exército, escritura, meios de comunicação); enfim, é objeto de debate político e de confronto social (as lutas "ideológicas"). [...] Há um combate "pela verdade" ou, ao menos, "em torno da verdade" - entendendo-se, mais uma vez, que por verdade não quero dizer "o conjunto das coisas verdadeiras a descobrir ou a fazer aceitar", mas o "conjunto das regras segundo as quais se distingue o verdadeiro do falso e se atribui ao verdadeiro efeitos específicos de poder"; entendendo-se também que não se trata de um combate "em favor" da verdade, mas em torno do estatuto da verdade e do papel econômico-político que ela desempenha.

FOUCAULT, M. "Microfísica do poder". 18
 ed. Rio de Janeiro: Graal, 2003, p. 13.

Mídia, às vezes, fabrica notícias, afirma Gushiken

            O ministro Luiz Gushiken (Comunicação e Gestão Estratégica) disse que a mídia às vezes comete "deslizes" e "fabrica" notícias. As declarações foram dadas ao comentar a proposta de criação do Conselho Federal de Jornalismo para fiscalizar os profissionais.
            Gushiken diz que a liberdade de imprensa é "um valor definitivo na democracia", mas que "nada é absoluto".

"FOLHA DE S. PAULO". São Paulo, 11 ago. 2004.

A nossa moral e a deles

            Ser democrático, diz Giannotti, é conviver com esse "risco de o político tentar vencer eleições usando os recursos à mão, até manipulando indecisões e falhas do regulamento". Não existe política sem tolerância para certas faltas. Se não existe inferno, se o proletariado não vai nos salvar da barbárie da história e, enfim, se Marx está morto, se Deus está morto e nós mesmos não nos sentimos muito bem, há um espaço "cinzento" para alguma espécie de vale-tudo.

FREIRE, Vinícius Torres. A nossa moral e a deles. "Folha de S. Paulo", São Paulo, 15 set. 2003, p. A2.

A mentira na política

            Não se pode minimizar o papel vigilante da mídia. Se ela se contenta em denunciar aos quatro ventos o escândalo da mentira, apenas arma instrumento político para a oposição, sem fazer o balanço dos aspectos negativos e positivos da mentira. [...] É verdade que não pode discutir esses temas numa pequena nota de jornal, mas a bola está com ele [Vinícius] - particularmente, atitude que deve tomar. No título "A nossa moral e a deles", Vinícius levanta, a meu ver, uma questão importante: existe no PT e na esquerda em geral um traço de evangelização, pois só eles proclamam a verdade da história e da revolução, por conseguinte o que dizem é a verdade, e os adversários, a mentira.

GIANNOTTI, José Arthur. A mentira na política. "Folha de S. Paulo", São Paulo, 17 set. 2003, p. A3.

            No início do verão [europeu], uma notícia policial sacudia a França. Num trem de subúrbio, uma jovem que viajava com seu bebê fora assaltada e brutalizada por um bando de adolescentes magrebinos e negros. Constatando, ao roubarem seus documentos, que nascera nos "bairros ricos", eles haviam concluído que era judia.
            Consequentemente, o roubo se transformara em agressão antissemita: eles marcaram seu rosto à faca, pintaram nela suásticas e fizeram cortes selvagens em seus cabelos. Nenhum dos passageiros do trem interveio para defender a jovem e seu bebê, nem sequer para puxar simplesmente o sinal de alarme.
            Em 48 horas viam-se multiplicar as declarações de responsáveis políticos e os comentários dos jornais. Mais ainda que a agressão, era a passividade dos passageiros que levantava a indignação [...].
            Dois dias mais tarde ficou-se sabendo que todo o caso fora pura e simplesmente forjado. A jovem quisera por essa encenação chamar para si a atenção de um companheiro pouco sensível a seus problemas.
            As falsas notícias são tão velhas quanto o mundo assim como sua utilização no quadro de conflitos entre comunidades. Esta, porém, parece mostrar claramente o novo regime da mentira. Com efeito, conhecem-se duas formas tradicionais da mentira de massa. Há a forma do "rumor popular" - por exemplo, o que na Idade Média acusava os judeus de raptos de crianças destinadas a mortes rituais. E há a forma da mentira deliberadamente inventada por um poder, estatal ou outro, para atiçar em seu proveito o ódio contra uma comunidade que serve de bode expiatório.
            A mentira da jovem Marie-Léonie não se enquadra em nenhuma das duas. A máquina da informação, nos dias de hoje, é mais rápida que todo o rumor popular. E nossos governos consensuais não têm nenhum interesse em alimentar a guerra das comunidades. Portanto, não se pode aqui pôr em causa nem a tradicional "credulidade" das massas populares nem a imaginação perversa dos homens do poder.

RANCIERE, Jacques. As novas razões da mentira. "Folha de S. Paulo", São Paulo, 22 ago. 2004, p. 3. Caderno Mais!


PROPOSTAS DE REDAÇÃO

A - DIÁRIO

            O diário é um tipo de relato pessoal que narra fatos de nosso cotidiano, relata impressões sobre o mundo que nos cerca, nossas idéias, opiniões, emoções e até nossos segredos. No ambiente acadêmico-científico, o diário deixa transparecer os caminhos da pesquisa, as dúvidas, os problemas do pesquisador, as relações sociais que se estabelecem entre os participantes da pesquisa, enfim, é uma forma de se fazer um balanço das próprias ações.
            Imagine que você seja um cientista que descobriu a vacina contra o vírus HIV. O ministério da Saúde resolve aplicar a vacina antes de ela ser amplamente testada, e uma campanha de vacinação em massa é realizada pelo governo. Depois de realizada a vacinação, você descobre, por meio de novos testes, que a vacina não é eficiente, mas a divulgação da notícia é proibida. Você é obrigado a se calar. Diante desse conflito, você resolve escrever uma página de seu diário, relatando os acontecimentos e refletindo sobre o seu papel no desenvolvimento das pesquisas científicas e sobre a verdade na ciência.

B - EDITORIAL

            O editorial, por veicular a opinião do jornal sobre assuntos da atualidade, quase sempre polêmicos, caracteriza-se como um texto de natureza argumentativa.
            Você é o editor-chefe de um jornal de grande circulação nacional, que publicou uma notícia sobre o desvio de verba para a conta particular de um senador. A partir da denúncia do jornal, o senador foi julgado e teve seu mandato cassado. Alguns meses passaram-se, e uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) comprovou que houve um equívoco do jornal na demonstração dos valores, absolvendo, assim, o senador.
            Por meio de um editorial, você deve discutir o acontecimento e suas conseqüências, mostrar ao leitor as razões da publicação da notícia, justificando a atitude do seu jornal, questionar e tecer reflexões acerca da questão da verdade na política e no jornalismo.

C - CARTA DE LEITOR

            A carta de leitor é um gênero da mídia impressa; um espaço destinado aos leitores que queiram emitir pareceres pessoais favoráveis ou desfavoráveis às matérias publicadas.
            Faça de conta que você seja a jovem francesa Marie-Léonie, que, ao ler, no jornal "Le Monde", a notícia de que a agressão que sofrera havia sido uma farsa, decide escrever ao jornal a fim de esclarecer os acontecimentos ocorridos no trem. Você deve se defender das acusações divulgadas pelo jornal e recorrer a argumentos que fortaleçam sua defesa e que questionem o princípio da verdade nas práticas desenvolvidas pelos veículos de informação de massa.


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Patativa do Assaré - O Poeta da Roça

Patativa do Assaré - O Poeta da Roça


O poeta da roça

Sou fio das mata, cantô da mão grossa,
Trabáio na roça, de inverno e de estio.
A minha chupana é tapada de barro,
Só fumo cigarro de páia de mío.
Sou poeta das brenha, não faço o papé
De argum menestré, ou errante cantô
Que veve vagando, com sua viola,
Cantando, pachola, à percura de amô.

Não tenho sabença, pois nunca estudei,
Apenas eu sei o meu nome assiná.
Meu pai, coitadinho! vivia sem cobre,
E o fio do pobre não pode estudá.

Meu verso rastêro, singelo e sem graça,
Não entra na praça, no rico salão,
Meu verso só entra no campo e na roça
Nas pobre paioça, da serra ao sertão.

Só canto o buliço da vida apertada,
Da lida pesada, das roça e dos eito.
E às vez, recordando a feliz mocidade,
Canto uma sodade que mora em meu peito.

Eu canto o cabôco com suas caçada,
Nas noite assombrada que tudo apavora,
Por dentro da mata, com tanta corage
Topando as visage chamada caipora.

Eu canto o vaquêro vestido de côro,
Brigando com o tôro no mato fechado,
Que pega na ponta do brabo novio,
Ganhando lugio do dono do gado.

Eu canto o mendigo de sujo farrapo,
Coberto de trapo e mochila na mão,
Que chora pedindo o socorro dos home,
E tomba de fome, sem casa e sem pão.

E assim, sem cobiça dos cofre luzente,
Eu vivo contente e feliz com a sorte,
Morando no campo, sem vê a cidade,
Cantando as verdade das coisa do Norte.


(Patativa do Assaré, in "Cante lá que eu canto cá")



“O melhor da nossa vida
é paz, amor e união
e em cada semelhante
a gente ver um irmão.”

(Patativa do Assaré)


Você teve inducação.
Aprendeu muita ciença.
Mas das coisas do sertão
Não tem boa experiença.
Nunca fez um paioça
Nunca trabaiou na roça.
Não pode conhecer bem,
Pois nesta penosa vida,
Só quem penou da comida


Sabe o gosto que ela tem.

(Patativa do Assaré, in "Cante lá que eu canto cá")

Repare que a minha vida
É deferente da sua.
A sua rima pulida
Nasceu no salão da rua.
Já eu sou bem deferente,
Meu verso é como a simente
Que nasce inriba do chão;
Não tenho estudo nem arte,
A minha rima faz parte
Das obra da criação.
Mas porém, eu não invejo
O grande tesôro seu,
Os livro do seu colejo,
Onde você aprendeu.
Pra gente aqui sê poeta
E fazê rima compreta,
Não precisa professô;
Basta vê no mês de maio,
Um poema em cada gaio
E um verso em cada fulô
Seu verso é uma mistura
É um ta sarapaté,
Que quem tem pôca leitura,
Lê, mais não sabe o que é.
Tem tanta coisa incantada,
Tanta deusa, tanta fada,
Tanto mistéro e condão
E ôtros negoço impossive.
Eu canto as coisa visive
Do meu querido sertão
(...)

(Patativa do Assaré, in "Cante lá que eu canto cá")


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