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quinta-feira, 30 de julho de 2015

Texto: "O livro da solidão" — Cecília Meireles

O livro da solidão

            Os senhores todos conhecem a pergunta famosa universalmente repetida: “Que livro escolheria para levar consigo, se tivesse de partir para uma ilha deserta...?”
            Vêm os que acreditam em exemplos célebres e dizem naturalmente: “Uma história de Napoleão.” Mas uma ilha deserta nem sempre é um exílio... Pode ser um passatempo... Os que nunca tiveram tempo para fazer leituras grandes, pensam em obras de muitos volumes. Se são uma boa mescla de vida e sonho, pensam em toda a produção de Goethe, de Dostoievski, de Ibsen. Ou na Bíblia. Ou nas Mil e Uma Noites. 
            Pois eu creio que todos esses livros, embora esplêndidos, acabariam fatigando; e, se Deus me concedesse a mercê de morar numa ilha deserta (deserta, mas com relativo conforto, está claro — poltronas, chá, luz elétrica, ar condicionado), o que levava comigo era um dicionário. Dicionário de qualquer língua, até com algumas folhas soltas; mas um dicionário.
            Não sei se muita gente haverá reparado nisso — mas o dicionário é um dos livros mais poéticos, se não mesmo o mais poético dos livros. O dicionário tem dentro de si o universo completo. Logo que uma noção humana toma forma de palavra — que é o que dá existência às noções —, vai habitar o dicionário. As noções velhas vão ficando, com seus sestros de gente antiga, suas rugas, seus vestidos fora de moda; as noções novas vão chegando, com suas petulâncias, seus arrebiques, às vezes, sua rusticidade, sua grosseria. E tudo se vai arrumando direitinho, não pela ordem de chegada, como os candidatos a lugares nos ônibus, mas pela ordem alfabética, como nas listas de pessoas importantes, quando não se quer magoar ninguém...
            A minha pena é que não ensinem as crianças a amar o dicionário. Ele contém todos os gêneros literários, pois cada palavra tem seu halo e seu destino — umas vão para aventuras, outras para viagens, outras para novelas, outras para a poesia, umas para a história, outras para o teatro. E as surpresas de palavras que nunca se tinham visto nem ouvido! Raridades, horrores, maravilhas...
            Eu levaria o dicionário para a ilha deserta. O tempo passaria docemente, enquanto eu passeasse por entre nomes conhecidos e desconhecidos, nomes, sementes e pensamentos e sementes das flores de retórica. Poderia louvar melhor os amigos, e melhor perdoar os inimigos, porque o mecanismo da minha linguagem estaria mais ajustado nas suas molas complicadíssimas. Sobretudo, sabendo que germes pode conter uma palavra, cultivaria o silêncio, privilégio dos deuses, e ventura suprema dos homens.

(Cecília Meireles)

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Prova de Língua e Literatura em Língua Portuguesa – Cásper Líbero – 2010

Prova de Língua e Literatura em Língua Portuguesa – Cásper Líbero – 2010


1. Assinale a alternativa correta sobre Dom Casmurro, de Machado de Assis. 

a. O romance em si é um simples acidente, sendo fundamentais e orgânicas na obra a descrição dos costumes e a filosofia social que lhe está implícita.
b. Com este romance o escritor faz a liquidação dos saldos do Segundo Reinado e estabelece o divisor de águas entre o tipo patriarcal e o tipo burguês de civilização, representados no terreno da organização política, respectivamente, pela Monarquia e pela República.
c. Romance complexo e ambicioso, Dom Casmurro faz um estudo da desagregação psicológica do protagonista, cuja loucura é tratada com agudeza humorística.
d. A situação criada no romance já é por si mesma absurda, sugerindo uma espécie de mascarada confessa, em que o verdadeiro autor ajusta ou retira a máscara nas barbas do leitor, como quem não leva a sério os compromissos de artífice, isto é, fabricando uma ilusão romanesca e criando um ambiente que dê aos leitores certo simulacro de vida a evolver no tempo.
e. Por meio de um discurso ordenado e lógico, o protagonista procura resolver sua angústia existencial, incorrendo em duas falácias, ao estabelecer sua verdade: do ponto de vista estritamente jurídico, peca por basear sua persuasão no verossímil e, do ponto de vista moral-religioso, por sustentar suas justificativas pelo provável.

2. Assinale a alternativa que apresenta a análise crítica do excerto do capítulo XXXIII (“O penteado”), de Dom Casmurro, de Machado de Assis, apresentado a seguir.

– Pronto!
– Estará bom?
– Veja no espelho.
Em vez de ir ao espelho, que pensais que fez Capitu? Não vos esqueçais que estava sentada, de costas para mim. Capitu derreou a cabeça, a tal ponto, que me foi preciso acudir com as mãos e ampará-la; o espaldar da cadeira era baixo. Inclinei-me depois sobre ela, rosto a rosto, mas trocados, os olhos de um na linha da boca do outro. Pedi-lhe que levantasse a cabeça, podia ficar tonta, machucar o pescoço. Cheguei a dizer-lhe que estava feia; mas nem esta razão a moveu.
– Levanta, Capitu!
Não quis, não levantou a cabeça, e ficamos assim a olhar um para o outro, até que ela abrochou os lábios, eu desci os meus, e...

a. Quase toda a obra de Machado de Assis é um pretexto para o improviso de borboleteios maliciosos, digressões e parênteses felizes. (Augusto Meyer).
b. Que excelente, e penetrante, e fino estudo da mulher nos deu, como a brincar, recobrindo-o de riso e de ironia, o sr. Machado de Assis, nesta sua Capitu! (José Veríssimo).
c. A problemática de Dom Casmurro ultrapassa, por assim dizer, o esquema rígido das relações propostas apenas por este romance, pois não é só ele que reflete o problema do amor/casamento/ciúme na sociedade patriarcal brasileira. (Silviano Santiago).
d. A grande contribuição do humorismo na obra de Machado de Assis foi permitir-lhe revelar as tacanhas proporções da sua gente sem resvalar nem para a declamação nem para a caricatura. (Lúcia Miguel Pereira).
e. Na obra de Machado de Assis as mulheres são piores que os homens, mais perversas. (Mário de Andrade).

3. Assinale a alternativa correta sobre Luuanda, de José Luandino Vieira.

a. Nas três narrativas do livro, o leitor tem à disposição um precioso trabalho com a linguagem que torce e retorce a língua portuguesa, explorando a capacidade de refletir esse outro universo cultural que o escritor tem como objeto de seu inquieto olhar.
b. A escolha do espaço está associada à opção por personagens que acabam por se integrar à ordem que regula a sociedade colonial. Vavó Xixi e Zeca Santos, seu neto; as vizinhas Bina e Zefa; o menino Beto; Xico Futa; Lomelino dos Reis; Garrido e Inácia são personagens que organizam modos muito singulares de sobrevivência.
c. O trabalho de elaboração da linguagem nas estórias é capaz de preservar o mundo português da presença dos outros mundos que a cidade guarda, abolidos pela prolongada e feroz dominação.
d. Ocupando quase sempre o papel de protagonistas da literatura portuguesa, os angolanos cedem, por conta da complexidade cultural em que estava imerso o país, lugar e voz nessas narrativas para os portugueses, que estão dispostos a justificar o processo de colonização.
e. A alteração do nome da capital de Angola tem implicações na abordagem do espaço que foi, desde muito cedo, um ponto fundamental no império lusitano. O autor valoriza, assim, o ponto de vista dominante, o dos negros, mestiços e brancos pobres que apagaram os vestígios da colonização portuguesa naquele país.

4. Assinale a alternativa correta sobre o excerto da “Estória do ladrão e do papagaio”, que integra o livro Luuanda, de José Luandino Vieira, apresentado a seguir.

“Nem uazekele kié-uazeka kiambote, nem nada, era só assim a outra maneira civilizada como ele dizia; mas também depois ficava na boa conversa de patrícios e, então, aí o quimbundo já podia se assentar no meio de todas as palavras, ele até queria, porque para falar bem-bem português não podia, o exame da terceira é que estava lhe tirar agora e por isso não aceitava falar um português de toda a gente, só queria falar o mais superior.”

a. Escrito em quimbundo, o texto registra expressões em português, a fim de criar um estranhamento significativo para a compreensão da lógica que move o livro.
b. A linguagem dos musseques (os bairros pobres de Luanda) é reproduzida aqui fielmente, constituindo um precioso documento historiográfico que dá conta de explicar a dominação portuguesa em Angola.
c. O esforço de recriação do registro escrito culto da linguagem pode ser comparado ao de Guimarães Rosa e representa uma profunda reflexão sobre a arte de contar histórias.
d. O português sólido e cerrado, mas ao mesmo tempo transparente, que surge no texto está a serviço de registrar a história de um povo empenhado em sua emancipação política e cultural.
e. Diante do texto, logo percebemos não estar em contato com um escritor português. O
esforço de nacionalização da língua, que também se manifesta no recurso a uma sintaxe
diferente, procura exprimir a ruptura com a norma lusitana e indiciar outras rupturas que
precisam acontecer.

5. Assinale a alternativa correta sobre A rosa do povo, de Carlos Drummond de Andrade.

a. Os poemas do livro constituem uma síntese definidora do que representam as paisagens mineiras para o poeta, situado distante delas, mas sentindo-as em si mesmo na cidade confusa e tumultuada.
b. A obra é o depoimento de um poeta menino modificado pelo tempo. Assim, o menino faz-se antigo, colocando o presente e o passado numa continuidade para distanciá-los.
c. Ao longo dos poemas, o poeta percorre o interior de versos sóbrios, secos e contemplativos, mas impregnados de paixão e sentimento, baseado em uma dualidade: a aristocracia da expressão e o esforço generoso para a compreensão do que é popular.
d. O livro representa um sugestivo testemunho da luta que um poeta de vanguarda tem de travar contra o conservadorismo ignorante, a inércia burguesa e a estupidez instituída.
e. No conjunto de poemas, o poeta recupera o humorismo da fase inicial de sua carreira e um interesse renovado pela anedota e pelo fato corrente, tratados com relativa gratuidade.

6. Assinale a alternativa correta sobre os versos de “Carta a Stalingrado”, poema que integra A rosa do povo, de Carlos Drummond de Andrade, apresentados a seguir.

“A poesia fugiu dos livros, agora está nos jornais.
Os telegramas de Moscou repetem Homero.
Mas Homero é velho. Os telegramas cantam um mundo novo
que nós, na escuridão, ignorávamos.”

a. Escritos para celebrar o fim da Segunda Guerra, os versos tratam de uma área geográfica ambígua e utópica, a província e o mundo, que oscila entre o privado e o público, e que servirá de lastro para definir a força e o valor do Brasil no contexto das nações.
b. Os versos retratam o engajamento de Drummond, pelo viés ideológico-político, com as lutas revolucionárias no Brasil e no mundo afora, aludindo alegoricamente à adesão do poeta ao Partido Comunista Brasileiro.
c. Os versos prestam uma homenagem à memória de Josef Stalin, lançando questões relevantes para se discutir o papel político da palavra poética e o valor estratégico da imaginação num mundo que se queria em paz.
d. Retratando o ambiente nacional tomado pela covardia e a demência, bem como o ambiente internacional tomado por irmãos inimigos e sanguinários, os versos rejeitam a palavra poética tradicional, celebrando, em seu lugar, a força dos meios de comunicação.
e. Escritos durante a Segunda Guerra, os versos falam que os poemas épicos de então estão sendo escritos pelo povo europeu em guerra contra o nazi-fascismo, enquanto os brasileiros afundavam na retórica do Estado Novo e no desconhecimento de um mundo novo que surgia.

7. Assinale a alternativa correta sobre Sagarana, de Guimarães Rosa.

a. O tema do amor ocupa nas narrativas uma posição privilegiada, aparecendo entrelaçado com o problema da natureza do mal, quando atinge extrema complexidade por compor toda uma ideia erótica da vida.
b. Os contos compõem uma profissão de fé e uma arte poética em que o escritor, através
de rodeios, voltas e perífrases, por meio de alegorias e parábolas, analisa o seu gênero, o seu instrumento de expressão, a natureza da sua inspiração, a finalidade da sua arte, de toda arte.
c. Os contos são as primeiras histórias de um Brasil novo. Assim, a primeira e a última história se enlaçam pelo lugar que lhes serve de cenário comum, percorrido pelo mesmo menino a aprender seus caminhos.
d. Os contos trazem certo espírito regional, mas transcendem a região geográfica na qual as narrativas se desenvolvem. Assim, a província do autor é menos uma região do Brasil do que uma região da arte, com detalhes, locuções, vocabulário e geografia cosidos de maneira por vezes irreal, tamanha é a concentração com que trabalha o autor.
e. Ao lado de admiráveis figuras de mulher, avulta na tipologia literária dessas narrativas uma curiosa estirpe de personagens infantes de extrema perspicácia e aguda sensibilidade, muitas vezes dotados de poderes extraordinários, quando não possuem origem oculta ou vaga identidade.

8. Assinale a alternativa que apresenta a análise crítica do excerto do conto “São Marcos”, integrante de Sagarana, de Guimarães Rosa, apresentado a seguir.

“E era para mim um poema esse rol de reis leoninos, agora despojados da vontade sanhuda e só representados na poesia. Não pelos cilindros de ouro e pedras, postos sobre as reais comas riçadas, nem pelas alargadas barbas, entremeadas de fios de ouro. Só, só por causa dos nomes.
Sim, que, à parte o sentido prisco, valia o ileso gume do vocábulo pouco visto e menos ainda ouvido, raramente usado, melhor fora se jamais usado. Porque, diante de um gravatá, selva moldada em jarro jônico, dizer-se apenas drimirim ou amormeuzinho é justo; e, ao descobrir, no meio da mata, um angelim que atira para cima cinqüenta metros de tronco e fronde, quem não terá ímpeto de criar um vocativo absurdo e bradá-lo – Ó colossialidade! – na direção da altura? E não é sem assim que as palavras têm canto e plumagem.”

a. É todo o interior do Brasil, e não apenas os “sertões do Urucuia”, por suas paisagens, suas criaturas humanas, seus costumes e sua linguagem, que vive em sua obra. (Tristão de Ataíde).
b. O escritor parece divertir-se e, todavia, comover-se com seus mitos, tanto quanto o menino com seus brinquedos e o primitivo com suas superstições, ao considerá-los objetos reais dentro ao reino em que vivem, o sobrenatural. (Henriqueta Lisboa).
c. A metalinguagem encontra expressões variadas nos textos rosianos, que se estendem desde a própria técnica até a inserção de toda uma reflexão teórica sobre o processo de criação artística. (Eduardo Coutinho).
d. A sua obra, toda ela, compendia a história da realização heróica. Não há herói possível sem um fundo interno de contemplação – sem uma orientação, uma vontade, uma determinação de realizar os valores. (Franklin de Oliveira).
e. Nada mais natural, portanto, que, num escritor tão artista quanto Guimarães Rosa, a busca do ritmo seja um problema constante em todos os momentos da criação. (Ângela Vaz Leão).

9. Assinale a alternativa correta sobre O rei da vela, de Oswald de Andrade.

a. A peça trata da constatação do fracasso da civilização criada pelas gerações anteriores e a contemplação da massa amorfa de números em que é transformado o homem pela sociedade de consumo.
b. A peça, cuja montagem marcou a evolução do Teatro Oficina, da fase existencialista em direção ao engajamento social, conta a história de uma família nos dias que antecedem a revolução de 30 no Brasil.
c. Concebida não como um espetáculo, mas como um sonho coletivo, a peça tem como ancestral o anarquismo libertário, configurando uma obra na qual os artistas exprimem a necessidade de transgredir as leis num marginalismo criador.
d. A peça está vinculada a uma estética acentuadamente politizada, cujos carros-chefes são o anti-imperialismo, o anticapitalismo, a denúncia do subdesenvolvimento e a defesa da justiça social.
e. A ideia central do texto é a de que a sociedade e a cultura funcionam como um processo de esquizofrenia do indivíduo, conclamando os espectadores a libertarem-se do sistema e a unirem corpo e mente num sentimento de libertação.

10. Assinale a alternativa correta sobre a fala de Abelardo II, em O rei da vela, de
Oswald de Andrade, apresentada a seguir.

Abelardo II – A burguesia só produziu um teatro de classe. A apresentação de classe. Hoje evoluímos. Chegamos à espinafração.

a. Trata-se de um recurso metalinguístico que define o programa desenvolvido pela peça: a visão desmistificadora do país; o gosto demolidor de todos os valores e a importância da estética da descompostura.
b. Trata-se do uso de expressões curiosas da comédia brasileira, que prefere sempre escapar para a fantasia, guardando uma referência tácita à realidade, vista através da sátira ou da farsa.
c. A fala reflete a observação viva e inteligente da realidade, por meio de uma linguagem autêntica, vibrante e indignada ante os erros sociais.
d. Por meio dessa fala, o personagem propõe um grande painel histórico, político e filosófico, condenando o mundo antigo em função do homem surgido do proletariado triunfante.
e. A fala reflete a consciência da perda do mundo aristocrático, levando o personagem a descrever outro instante de crise – o acelerado processo de industrialização vivida pela metrópole paulistana a partir da Semana de 22.

11. Assinale a alternativa correta sobre A ilha, de Fernando Morais.

a. Trata-se de um romance-reportagem que lança mão de uma inovadora técnica de pesquisa, quando realiza exaustivo trabalho de coleta de fontes.
b. Trata-se de um livro-reportagem cuja técnica básica é a da entrevista, que se propõe a observar um país em construção.
c. Trata-se de um ensaio jornalístico cujo autor mergulha nas reminiscências dos habitantes de Cuba, disposto a recontar a história política e intelectual daquele país.
d. Trata-se de uma pesquisa historiográfica que revela os bastidores do regime cubano, tão pouco permeável ao grande público.
e. Trata-se de uma tese sociológica cujos capítulos mantêm entre si unidade ideológica, metodológica e temática, ao examinar uma das nações mais emblemáticas do século XX.

12. Assinale a alternativa que corrige, de acordo com a norma culta, o conjunto dos textos publicitários.

a. Fórmula guardada há sete chaves. Por isso ninguém copia o sabor do guaraná Amazonas./ Na sua vida existe muitos números. E o número do seu colesterol você sabe qual é? Chegou a linha Bel./ Mantenha-se na pista. Principalmente se for sábado à noite. Somatos. De bem com você./ Uma noite, depois de curtir um tempo com minha filha, recebi a assessoria de um gerente sobre meus investimentos. Foi aí que eu entendi o valor de ser cliente Portinari.
b. Fórmula guardada a sete chaves. Por isso ninguém copia o sabor do guaraná Amazonas./ Na sua vida existem muitos números. E o número do seu colesterol você sabe qual é? Chegou a linha Bel./ Mantenha-se na pista. Principalmente se for sábado a noite. Somatos. De bem com você./ Uma noite, depois de curtir um tempo com minha filha, recebi a ascessoria de um gerente sobre meus investimentos. Foi aí que eu entendi o valor de ser cliente Portinari.
c. Fórmula guardada há sete chaves. Por isso ninguém copia o sabor do guaraná Amazonas./ Na sua vida existem muitos números. E o número do seu colesterol você sabe qual é? Chegou a linha Bel./ Mantenha-se na pista. Principalmente se for sábado à noite. Somatos. De bem com você./ Uma noite, depois de curtir um tempo com minha filha, recebi a assesçoria de um gerente sobre meus investimentos. Foi aí que eu entendi o valor de ser cliente Portinari.
d. Fórmula guardada a sete chaves. Por isso ninguém copia o sabor do guaraná Amazonas./ Na sua vida existe muitos números. E o número do seu colesterol você sabe qual é? Chegou a linha Bel./ Mantenha-se na pista. Principalmente se for sábado a noite. Somatos. De bem com você./ Uma noite, depois de curtir um tempo com minha filha, recebi a assessoria de um gerente sobre meus investimentos. Foi aí que eu entendi o valor de ser cliente Portinari.
e. Fórmula guardada a sete chaves. Por isso ninguém copia o sabor do guaraná Amazonas./ Na sua vida existem muitos números. E o número do seu colesterol, você sabe qual é? Chegou a linha Bel./ Mantenha-se na pista. Principalmente se for sábado à noite. Somatos. De bem com você./ Uma noite, depois de curtir um tempo com minha filha, recebi a assessoria de um gerente sobre meus investimentos. Foi aí que eu entendi o valor de ser cliente Portinari.

Leia o texto e responda às questões 13 e 14.

            A maior estrela da Festa Literária Internacional de Paraty é uma figura anacrônica. Se você não conhece o jornalista e escritor Gay Talese, pode chegar a essa conclusão apenas pela observação de suas roupas e sua postura altiva. Está sol e faz calor em Paraty, mas Gay Talese só anda de terno. (...) O homem consegue ser a referência, mesmo para os que não sabem nada sobre sua importância. Ele passa, e todos olham.
            Ler sobre Talese apenas aumenta a impressão de que ele não pertence ao mundo atual. Ele foi um dos fundadores de uma maneira de reportar fatos chamada new journalism (novo jornalismo). Nada mais é do que contar a realidade com o cuidado e o talento de quem escreve um romance. Mesmo que o espaço seja um pequeno artigo de jornal. Em seu perfil mais famoso, sobre o cantor Frank Sinatra, não falou com o personagem principal. Observou-o durante uma noite inteira e ouviu todas as pessoas comuns, anônimas, que o cercavam. Contou a história como quem descreve uma cena. Como ficção.
            Talese não entende a internet e abomina o fato de que jovens jornalistas achem possível exercer a profissão diante da tela de um computador. “Quando eles querem saber algo, perguntam ao Google. Estão comprometidos apenas com as perguntas que fazem. Não se chocam acidentalmente com nada que estimule a pensar ou a imaginar”, diz. Sua doutrina é quem escuta muito e pergunta pouco. “Em nossa profissão, você não precisa fazer perguntas. Basta ir às ruas e olhar as pessoas. É aí que você descobre a vida como ela realmente é”, afirma. Para isso precisamos de tempo. E a internet não tem tempo a perder.(...)
            A cidade de Paraty olha para Gay Talese com espanto. Mas o ponto de vista dele, de dentro de seu terno com corte fino, embaixo de seu chapéu, é de quem acha que o mundo é que está diferente do que deveria ser. Em nenhum momento ele se sente estranho, ou fora de moda, principalmente quando fala de sua maior paixão: escrever
sobre a realidade. (Época, 6/7/2009).

13. Assinale a alternativa correta quanto ao sentido, à coerência e à coesão.

a. Talese consegue ser uma referência sobretudo pela maneira exótica de se vestir, mas o que o caracteriza é, sem dúvida, o cuidado na apuração dos fatos, sendo que não se deixa trair pela imaginação, nem pelo senso de realidade.
b. Para Talese, a melhor maneira de se construir a matéria jornalística consiste em observar a realidade e imprimir-lhe certa dose de imaginação, técnica que não deve contar com a interferência da internet.
c. Não que Talese não aceite a contribuição da internet, também ele supõe que, indo às ruas, o jornalista pode ampliar mais as informações sobre a matéria da qual se ocupa e que certamente muito terá a ganhar com a contribuição das pessoas.
d. Como um dos fundadores do novo jornalismo, Talese está convicto do impulso que a tecnologia poderá dar aos novos profissionais; portanto, instiga-os também a sair às ruas para colher a melhor informação sobre o assunto a ser pesquisado.
e. Mesmo aos 77 anos, Talese está afinado com todos os avanços que a tecnologia imprimiu à comunicação e, se é possível hoje elaborar matéria jornalística de qualidade, sempre se pode dizer que é por causa dela que a imprensa evoluiu.

14. Assinale a alternativa em que as preposições em destaque contêm, respectivamente, os mesmos valores das preposições destacadas nas frases abaixo.

Nada mais é do que contar a realidade com o cuidado e o talento de quem escreve um romance.
Ler sobre Talese apenas aumenta a impressão de que ele não pertence ao mundo atual. E a internet não tem tempo a perder.

a. Para Talese, o jornalista deve buscar a verdade com paciência./ O homem consegue ser referência mesmo para os que não sabem nada sobre sua importância./ As afirmações de Talese sobre a maneira de apurar os fatos levam a pensar.
b. As lições de Talese podem ser recebidas com reserva pelos novos jornalistas./ A matéria colocada sobre a mesa não se baseava na realidade./ De ano a ano surge uma figura original como a de Talese.
c. O repórter vai às ruas falar com as pessoas./ Eram pessoas da cidade, com histórias sobre os parentes que foram para a guerra./ De Nova York a Paraty, a viagem do jornalista foi tranquila.
d. O jornalista deve conviver com as pessoas por quem está interessado./ Sobre a cabeça dos jovens jornalistas devem cair as lições de Talese./ Daqui a um ano, todos poderão aprender mais sobre o novo jornalismo.
e. Andar com Talese pelas ruas de Paraty é ver o espanto no rosto das pessoas./ É preciso perguntar às pessoas sobre a vida do entrevistado/ Ele veio a Paraty para ensinar sobre a maneira de reportar fatos chamada new journalism.

Leia o texto a seguir e responda às questões de 15 a 20.

            Na linguagem cotidiana a palavra trabalho tem muitos significados. Embora pareça compreensível, como uma das formas elementares de ação dos homens, o seu conteúdo oscila. Às vezes, carregada de emoção, lembra dor, tortura, suor do rosto, fadiga. Noutras, mais que aflição e fardo, designa a operação humana de transformação da matéria natural em objeto de cultura. É o homem em ação para sobreviver e realizar-se, criando instrumentos, e com esses, todo um novo universo cujas vinculações com a natureza, embora inegáveis, se tornam opacas.
            Em quase todas as línguas da cultura europeia, trabalhar tem mais de uma significação. (...) Em português, apesar de haver labor e trabalho, é possível achar na mesma palavra trabalho ambas as significações: a de realizar uma obra que expresse o indivíduo, que lhe dê reconhecimento social e permaneça além de sua vida; e a de esforço rotineiro e repetitivo, sem liberdade, de resultado consumível e incômodo inevitável.
            No dicionário aparece em primeiro lugar o significado de aplicação das forças e faculdades humanas para alcançar determinado fim; atividade coordenada de caráter físico ou intelectual, necessária a qualquer tarefa, serviço ou empreendimento; exercício dessa atividade como ocupação permanente, ofício, profissão.
            Mas trabalho tem outros significados mais particulares, como o de esforço aplicado à produção de utilidades ou obras de arte, mesmo dissertação ou discurso. Pode significar o
conjunto das discussões e deliberações de uma sociedade ou assembleia convocada para tratar de interesse público, coletivo ou particular: “Os trabalhos da assembleia do sindicato tiveram como resultado a greve”. Pode significar o serviço de uma repartição burocrática, e ainda os deveres escolares dos alunos a serem verificados pelos professores. Como pode indicar o processo do nascimento da criança: “a mulher entrou em trabalho de parto”.
            Além de atividade e exercício, trabalho também significa dificuldade e incômodo: “aqui vieram passar trabalho”; “a última enchente deu muito trabalho”. Pois junto a todas as suas significações ativas, trabalho em português, e no plural, quer dizer preocupações, desgostos e aflições. É o conteúdo que predomina em labor, mas ainda está presente em trabalho.
            Isso se compreende melhor ao descobrir que em nossa língua a palavra trabalho se origina do latim tripalium, embora outras hipóteses a associem a trabaculum. Tripalium era um instrumento feito de três paus aguçados, algumas vezes ainda munidos de pontas de ferro, usado pelos agricultores para bater o trigo, as espigas de milho, o linho, para rasgá-los e esfiapá-los. A maioria dos dicionários, contudo, registra tripalium apenas como instrumento de tortura, o que teria sido originalmente, ou se tornado depois. A tripalium se liga o verbo do latim vulgar tripaliare, que significa justamente torturar.
            Ainda que originalmente o tripalium fosse usado no trabalho do agricultor, no trato do cereal, é do uso desse instrumento como meio de tortura que a palavra trabalho significou por muito tempo – e ainda conota – algo como padecimento e cativeiro. Desse conteúdo semântico de sofrer passou-se ao de esforçar-se, laborar e obrar. O primeiro sentido teria perdurado até o início do século XV; essa evolução de sentido teria ocorrido ao mesmo tempo em outras línguas latinas, como trabajo em espanhol, traballo em catalão, travail em francês e travaglio em italiano.
            No dicionário filosófico você poderá encontrar que o homem trabalha quando põe em atividade suas forças espirituais ou corporais, tendo em mira um fim sério que deve ser realizado ou alcançado. Assim, mesmo que não se produza nada imediatamente visível com o esforço do estudo, o trabalho de ordem intelectual corresponde àquela definição tanto quanto o trabalho corporal, embora seja este que leve a um resultado exteriormente perceptível, a um produto concreto ou a uma mudança de estado ou situação.
            Todo trabalho supõe tendência para um fim e esforço. Para alguns trabalhos, esse esforço será preponderantemente físico; para outros, preponderantemente intelectual. Contudo, parece míope e interesseira essa classificação que divide trabalho intelectual e trabalho corporal. A maioria dos esforços intelectuais se faz acompanhar de esforço corporal; uso minhas mãos e os músculos do braço quando datilografo estas páginas, que vou pensando. E o pedreiro usa sua inteligência ao empilhar com equilíbrio os tijolos sobre o cimento ainda não solidificado.
            O trabalho do homem aparece cada vez mais nítido quanto mais clara for a intenção e a direção de seu esforço. Trabalho, nesse sentido, possui o significado ativo de um esforço afirmado e desejado para a realização de objetivos; até mesmo o objetivo realizado, a obra, passa a ser chamado trabalho. Trabalho é o esforço e também seu resultado: a construção como processo e ação, e o edifício pronto.

(Suzana Albornoz. Texto adaptado).

15. Assinale a alternativa correta sobre o texto acima.

a. O texto explora basicamente o gênero narrativo, por meio do qual a autora conta a história da evolução do trabalho, do século XV aos dias de hoje.
b. Embora pertença essencialmente ao gênero dissertativo, o texto faz uso de algumas descrições que exploram o caráter sensorial do trabalho humano.
c. O gênero predominante no texto é o descritivo, empregado para analisar a evolução da palavra trabalho em diversas línguas latinas.
d. O gênero narrativo presente no texto está a serviço da dramatização da ideia de trabalho, que, segundo a autora, evoluiu da noção antiga de tortura até chegar ao sentido moderno de esforço e resultado.
e. O gênero básico explorado pelo texto é o dissertativo, usado pela autora para apresentar algumas ideias gerais ligadas à palavra trabalho.

16. Assinale a alternativa que apresenta os respectivos significados das palavras “fardo”, “opacas” e “consumível”, conforme elas estão empregadas no texto. [1º e 2º parágrafo].

a. o que custa suportar; que não são transparentes; que consome.
b. ocorrência funesta; que são oscilantes; que favorece o consumo exagerado.
c. o que custa suportar; que não são transparentes; que pode ser consumido.
d. ocorrência funesta; que são oscilantes; que consome.
e. aquilo que acontecerá a alguém; que são transparentes; que pode ser consumido.

17. “Para alguns trabalhos, esse esforço será preponderantemente físico; para outros, preponderantemente intelectual”. [9º parágrafo].
Assinale a alternativa correta quanto à relação que as palavras “físico” e “intelectual” estabelecem entre si.

a. Homonímia.   b. Sinonímia.   c. Paronímia.   d. Antonímia.   e. Polissemia.

18. “Assim, mesmo que não se produza nada imediatamente visível com o esforço do estudo, o trabalho de ordem intelectual corresponde àquela definição tanto quanto o trabalho corporal, embora seja este que leve a um resultado exteriormente perceptível, a um produto concreto ou a uma mudança de estado ou situação“.
Assinale a alternativa que indica, respectivamente, o valor semântico das conjunções assinaladas. [8º parágrafo].

a. Concessão e concessão.         b. Concessão e consequência.
c. Intensidade e condição.         d. Proporção e condição.
e. Intensidade e concessão.

19. Assinale a alternativa na qual o vocábulo que pertence à mesma classe gramatical que em “(…) uso minhas mãos e os músculos do braço quando datilografo estas páginas, que vou pensando” [9º parágrafo].

a. Talvez que a chuva passe e o tempo mude.
b. Eu sou como a garça triste que mora à beira do rio.
c. Lá longe, perdida na escuridão, uma que outra luz se projetava imprecisa.
d. Entrou para o jornal sem outra recomendação que uns versos apresentados ao editor por um amigo.
e. Vamos montar, que os outros não chegam.

20. Assinale a alternativa em que o sentido da palavra em destaque não está ligado à noção de trabalho.

a. O mar é um cérebro em laboração.
b. Admiram-se os lavores de mosaico da basílica de São Marcos.
c. “(...) de amor eterno seja símbolo o lábaro que ostentas estrelado”.
d. Estes versos são de minha própria lavra.
e. Laboriosa foi a organização do núcleo de países confederados militarmente pelo tratado de Paris.


Tema de redação – UERJ – 2012

Tema de redação – UERJ – 2012


Texto I

Previsões de especialistas

            A mídia nos bombardeia diariamente com as previsões de especialistas sobre o futuro. Esses experts mais erram do que acertam, mas nem por isso deixamos de recorrer a eles sempre que o horizonte se anuvia. Como explicar o paradoxo?
            Uma boa tentativa é o recém-lançado livro do escritor e jornalista Dan Gardner. As passagens mais divertidas do livro são sem dúvida aquelas em que o autor mostra, com exemplos e pesquisas científicas, quão precária é a previsão econômica e política.
            Num célebre discurso de 1977, por exemplo, o então presidente dos E.U.A., Jimmy Carter, ancorado nos conselhos dos principais experts do planeta, conclamou os americanos a reduzir drasticamente a dependência de petróleo de sua economia, porque os preços do hidrocarboneto subiriam e jamais voltariam a cair, o que inevitavelmente destruiria o American way1. Oito anos depois, as cotações do óleo despencaram e permaneceram baixas pelas duas décadas seguintes.
            Alguém pode alegar que Gardner escolhe de propósito alguns exercícios de futurologia que deram errado apenas para ridicularizar a categoria toda.
            Para refutar essa objeção, vamos conferir algumas abordagens do problema.
            Em 1984, uma revista britânica pediu a 16 pessoas que fizessem previsões sobre taxas de crescimento, câmbio, inflação e outros dados econômicos. Quatro dos entrevistados eram ex-ministros de finanças; quatro eram presidentes de empresas multinacionais; quatro, estudantes de economia de Oxford; e quatro, lixeiros de Londres. Uma década depois, as predições foram contrastadas com a realidade e classificadas pelos níveis de acerto. Os lixeiros terminaram empatados com os presidentes de corporações em primeiro lugar. Em último, ficaram os ministros – o que ajuda a explicar uma ou outra coisinha sobre governos.
            A razão para tantas dificuldades em adivinhar o futuro é de ordem física. Nós nos habituamos a ver a ciência prevendo com enorme precisão fenômenos como eclipses e marés. Só que esses são sistemas lineares ou, pelo menos, sistemas em que dinâmicas impostas pelo caos podem ser desprezadas. E, embora um bom número de fenômenos naturais seja linear, existem muitos que não o são. Quando o homem faz parte da equação, pode-se esquecer a linearidade.
            Nossos cérebros também trazem de fábrica alguns vieses que tornam nossa espécie presa fácil para adivinhos. Procuramos tão avidamente por padrões que os encontramos até mesmo onde não existem. Temos ainda compulsão por histórias, além de um desejo irrefreável de estar no controle. Assim, alguém que ofereça numa narrativa simples e envolvente a previsão do futuro pode vendê-la facilmente a incautos. Não é por outra razão que oráculos, profecias e augúrios estão presentes em quase todas as religiões.
            Como diz Gardner, vivemos na Idade da Informação, mas nossos cérebros são da Idade da Pedra. Eles não foram concebidos para processar o papel do acaso, no cerne do conhecimento científico atual. Nós continuamos a tratar as falas dos especialistas como se fossem auspícios2 divinos. Como não poderia deixar de ser, frequentemente quebramos a cara.

HÉLIO SCHWARTSMAN - Adaptado de www1.folha.uol.com.br, 30/06/2011

1 American way: estilo americano de vida
2 auspícios: prenúncios, presságios

Texto II

Ode1 para o futuro

Falareis de nós como de um sonho.
Crepúsculo dourado. Frases calmas.
Gestos vagarosos. Música suave.
Pensamento arguto2. Sutis sorrisos.
Paisagens deslizando na distância.
Éramos livres. Falávamos, sabíamos,
e amávamos serena e docemente.
Uma angústia delida3, melancólica,
sobre ela sonhareis.

E as tempestades, as desordens, gritos,
violência, escárnio4, confusão odienta5,
primaveras morrendo ignoradas
nas encostas vizinhas, as prisões,
as mortes, o amor vendido,
as lágrimas e as lutas,
o desespero da vida que nos roubam
- apenas uma angústia melancólica,
sobre a qual sonhareis a idade de ouro.

E, em segredo, saudosos, enlevados6,
falareis de nós - de nós! - como de um sonho.

JORGE DE SENA -  www.letras.ufrj.br

10
1 ode: tipo de poema
2 arguto: capaz de perceber as coisas mais sutis
3 delida: apagada
4 escárnio: desdém, menosprezo
5 odienta: que inspira aversão, ódio

6 enlevados: maravilhados, extasiados

Texto III



            Os textos desta prova tratam da relação do homem com o futuro, tema que ganha foco específico no fragmento abaixo, extraído de uma entrevista com o historiador Eric Hobsbawn.

            Há uma diferença entre esses movimentos de jovens educados nos países do Ocidente, onde, em geral, toda a juventude é fenômeno de minoria, e movimentos similares de jovens em países islâmicos e em outros lugares, nos quais a maioria da população tem entre 25 e 30 anos. Nestes países, portanto, muito mais do que na Europa, os movimentos de jovens são politicamente muito mais massivos e podem ter maior impacto político. O impacto adicional na radicalização dos movimentos de juventude acontece porque os jovens hoje, em período de crise econômica, são desproporcionalmente afetados pelo desemprego e, portanto, estão desproporcionalmente insatisfeitos. Mas não se pode adivinhar que rumos tomarão esses movimentos. Mas eles só, eles pelos seus próprios meios, não são capazes de definir o formato da política nacional e todo o futuro. De qualquer modo, devo dizer que está a fazer-me perguntas enquanto historiador, mas sobre o futuro. Infelizmente, os historiadores sabem tanto sobre o futuro quanto qualquer outra pessoa. Por isso, as minhas previsões não são fundadas em nenhuma especial vocação que eu tenha para prever o futuro.

ERIC HOBSBAWN -  Adaptado de http://historica.me

PROPOSTA DE REDAÇÃO

            A fala do historiador Eric Hobsbawn também apresenta uma reflexão sobre o futuro e suas possibilidades, relacionando o tema à ação da juventude, tradicionalmente considerada o futuro próximo das sociedades.
            A partir da leitura dos textos e de suas elaborações pessoais sobre o tema, redija um texto argumentativo em prosa, com no mínimo 20 e no máximo 30 linhas, em que discuta a seguinte questão:
            É possível, para a juventude de hoje, alterar o futuro?
            Utilize o registro padrão da língua e atribua um título ao seu texto.


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