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segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Texto: "Brinquedos incendiados" — Cecília Meireles

Brinquedos incendiados

            Uma noite houve um incêndio num bazar. E no fogo total desapareceram consumidos os seus brinquedos. Nós, crianças, conhecíamos aqueles brinquedos um por um, de tanto mirá-los nos mostruários – uns, pendentes de longos barbantes; outros, apenas entrevistos em suas caixas. Ah! Maravilhosas bonecas louras, de chapéus de seda! Pianos cujos sons cheiravam a metal e verniz! Carneirinhos lanudos, de guizo ao pescoço! Piões zumbidores! – e uns bondes com algumas letras escritas ao contrário, coisa que muito nos seduzia – filhotes que éramos, então, de M. Jordain, fazendo a nossa poesia concreta antes do tempo.
"Oceane". Jeannette Guichard-Bunel 
            Às vezes, num aniversário, ou pelo Natal, conseguíamos receber de presente alguns bonequinhos de celuloide, modestos cavalinhos de lata, bolas de gude, barquinhos sem possibilidade de navegação... – pois aquelas admiráveis bonecas de seda e filó, aqueles batalhões completos de soldados de chumbo, aquelas casas de madeira com portas e janelas, isso não chegávamos a imaginar sequer para onde iria. Amávamos os brinquedos sem esperança nem inveja, sabendo que jamais chegariam às nossas mãos, possuindo-os apenas em sonho, como se para isso, apenas, tivessem sido feitos.
            Assim, o bando que passava, de casa para a escola e da escola para casa, parava longo tempo a contemplar aqueles brinquedos e lia aqueles nítidos preços, com seus cifrões e zeros, sem muita noção do valor – porque nós, crianças, de bolsos vazios, como namorados antigos, éramos só renúncia e amor. Bastava-nos levar na memória aquelas imagens e deixar cravadas nelas, como setas, os nossos olhos.
            Ora, uma noite, correu a notícia de que o bazar incendiara. E foi uma espécie de festa fantástica. O fogo ia muito alto, o céu ficava todo rubro, voavam chispas e labaredas pelo bairro todo. As crianças queriam ver o incêndio de perto, não se contentavam com portas e janelas, fugiam para a rua, onde brilhavam bombeiros entre jorros d’água. A elas não interessavam nada peças de pano, cetins, cretones, cobertores, que os adultos lamentavam. Sofriam pelos cavalinhos e bonecas, os trens e palhaços, fechados, sufocados em suas grandes caixas. Brinquedos que jamais teriam possuído, sonhos apenas da infância, amor platônico.
            O incêndio, porém, levou tudo. O bazar ficou sendo um fumoso galpão de cinzas.
            Felizmente, ninguém tinha morrido – diziam em redor. Como não tinha morrido ninguém? , pensavam as crianças. Tinha morrido o mundo e, dentro dele, os olhos amorosos das crianças, ali deixados.
            E começávamos a pressentir que viriam outros incêndios. Em outras idades. De outros brinquedos. Até que um dia também desaparecêssemos sem socorro, nós brinquedos que somos, talvez de anjos distantes!

(Cecília Meireles)

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"A morte da tartaruga" — Millôr Fernandes
"O carnaval e o menino" — Carlos Heitor Cony
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Temas de redação – FEI – 2015

Temas de redação – FEI – 2015


Redação – FEI – Vestibular 2015 – 1º semestre

            Reflita sobre as possíveis relações entre educação de qualidade e justiça social. Elabore um texto dissertativo-argumentativo sobre o tema, definindo um posicionamento crítico coerente. Apresente um texto claro, coeso, com progressão de ideias e correção gramatical.
Redação – FEI – Vestibular 2015 – 2º semestre

            A interpretação do texto “Um apólogo”, de Machado de Assis, promove uma reflexão sobre a diferença entre as classes sociais. A partir desta sugestão, desenvolva um texto dissertativo-argumentativo sobre o tema “É possível construir um mundo em que prevaleça a justiça e a igualdade social?”.

INSTRUÇÕES:
1. Escreva no mínimo 20 linhas e no máximo 28 linhas.
2. Se usar letra de forma, que não é a melhor escolha, distingua maiúsculas de minúsculas.
3. Evite rasuras e escreva com letra legível.
4. Não se afaste do tema proposto.
5. Qualquer dúvida, solicite orientação ao fiscal.
6. Leia com atenção as instruções da folha oficial de redação.


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Prova de Língua Portuguesa – FEI – 2011 - 2º semestre

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PORTUGUÊS

O Fim do Mundo - Cecília Meireles

      A primeira vez que ouvi falar no fim do mundo, o mundo para mim não tinha nenhum sentido, ainda; de modo que não me interessava nem o seu começo nem o seu fim. Lembro-me, porém, vagamente, de umas mulheres nervosas que choravam, meio desgrenhadas, e aludiam a um cometa que andava pelo céu, responsável pelo acontecimento que elas tanto temiam. 
      Nada disso se entendia comigo: o mundo era delas, o cometa era para elas: nós, crianças, existíamos apenas para brincar com as flores da goiabeira e as cores do tapete.
      Mas, uma noite, levantaram-me da cama, enrolada num lençol, e, estremunhada, levaram-me à janela para me apresentarem à força ao temível cometa. Aquilo que até então não me interessava nada, que nem vencia a preguiça dos meus olhos pareceu-me, de repente, maravilhoso. Era um pavão branco, pousado no ar, por cima dos telhados? Era uma noiva, que caminhava pela noite, sozinha, ao encontro da sua festa?
      Gostei muito do cometa. Devia sempre haver um cometa no céu, como há lua, sol, estrelas. Por que as pessoas andavam tão apavoradas? A mim não me causava medo nenhum.
      Ora, o cometa desapareceu, aqueles que choravam enxugaram os olhos, o mundo não se acabou, talvez eu tenha ficado um pouco triste - mas que importância tem a tristeza das crianças?
      Passou-se muito tempo. Aprendi muitas coisas, entre as quais o suposto sentido do mundo. Não duvido de que o mundo tenha sentido. Deve ter mesmo muitos, inúmeros, pois em redor de mim as pessoas mais ilustres e sabedoras fazem cada coisa que bem se vê haver um sentido do mundo peculiar a cada um.
      Dizem que o mundo termina em fevereiro próximo. Ninguém fala em cometa, e é pena, porque eu gostaria de tornar a ver um cometa, para verificar se a lembrança que conservo dessa imagem do céu é verdadeira ou inventada pelo sono dos meus olhos naquela noite já muito antiga.
      O mundo vai acabar, e certamente saberemos qual era o seu verdadeiro sentido. Se valeu a pena que uns trabalhassem tanto e outros tão pouco. Por que fomos tão sinceros ou tão hipócritas, tão falsos e tão leais. Por que pensamos tanto em nós mesmos ou só nos outros. Por que fizemos voto de pobreza ou assaltamos os cofres públicos - além dos particulares. Por que mentimos tanto, com palavras tão judiciosas.
      Tudo isso saberemos e muito mais do que cabe enumerar numa crônica.
      Se o fim do mundo for mesmo em fevereiro, convém pensarmos desde já se utilizamos este dom de viver da maneira mais digna.
      Em muitos pontos da terra há pessoas, neste momento, pedindo a Deus - dono de todos os mundos - que trate com benignidade as criaturas que se preparam para encerrar a sua carreira mortal. Há mesmo alguns místicos - segundo leio - que, na Índia, lançam flores ao fogo, num rito de adoração.
      Enquanto isso, os planetas assumem os lugares que lhes competem, na ordem do universo, neste universo de enigmas a que estamos ligados e no qual por vezes nos arrogamos posições que não temos - insignificantes que somos, na tremenda grandiosidade total.
      Ainda há uns dias a reflexão e o arrependimento: por que não os utilizaremos?
      Se o fim do mundo não for em fevereiro, todos teremos fim, em qualquer mês...

1ª Questão. O texto acima é exemplo de:

(A) poesia (B) conto (C) romance (D) crônica (E) artigo

2ª Questão. “O fim do mundo” é escrito prioritariamente na:

(A) terceira pessoa do singular.
(B) primeira pessoa do singular.
(C) primeira pessoa do plural.
(D) segunda pessoa do singular.
(E) terceira pessoa do plural.

3ª Questão. Em “Lembro-me, porém, vagamente, de umas mulheres nervosas” (linha 03), o conectivo em destaque estabelece uma relação de:

(A) oposição (B) explicação (C) conclusão (D) soma (E) alternância

4ª Questão. A prosa intimista do texto não inibe as reflexões da autora sobre o tema central, que pode ser identificado com:

(A) os profetas que anunciam o fim do mundo.
(B) a utopia e a melancolia inerentes à existência humana.
(C) a reflexão sobre o sentido do mundo e da vida.
(D) a angústia e o medo diante da morte.
(E) a dissolução das crenças no fim do mundo.

5ª Questão. Na rememoração da infância, há:

(A) distanciamento crítico (B) desilusão (C) confusão (D) medo (E) saudosismo

6ª Questão. Cecília Meireles é uma escritora do período literário conhecido por:

(A) Classicismo (B) Realismo (C) Romantismo (D) Modernismo (E) Simbolismo

7ª Questão. Na primeira parte do texto, o olhar da criança para o mundo dos adultos é caracterizado por:

(A) intimidade (B) afeto (C) incompreensão (D) admiração (E) agressividade

8ª Questão. O olhar da autora sobre a realidade a aproxima de escritores:

(A) irônicos, como Machado de Assis.
(B) líricos, como Carlos Drummond de Andrade.
(C) sarcásticos, como Oswald de Andrade.
(D) preciosistas, como Olavo Bilac.
(E) inovadores, como Guimarães Rosa.

9ª Questão. Cecília Meireles se impôs no cenário nacional prioritariamente como:

(A) poetisa (B) cronista (C) romancista (D) contista (E) crítica literária

10ª Questão. O final do terceiro parágrafo é exemplo de:

(A) discurso direto.
(B) diálogo.
(C) discurso direto e indireto.
(D) discurso onisciente.
(E) discurso indireto livre.
11ª Questão. Observe atentamente a construção do texto analisado e assinale a alternativa correta:

(A) Os parágrafos são longos e complexos.
(B) Os parágrafos são curtos, o vocabulário simples e a linguagem é ágil.
(C) O linguagem é bastante sofisticada devido à intrincada organização sintática do texto.
(D) Os vocábulos de uso cotidiano se contrapõem aos extensos períodos.
(E) Os parágrafos curtos dificultam a interpretação do texto.

12ª Questão. No penúltimo parágrafo, o uso dos adjetivos é fundamental para:

(A) sugerir o ritmo acelerado dos acontecimentos nos tempos modernos.
(B) indicar o modo pelo qual as coisas aconteciam antigamente.
(C) questionar os hábitos dos antigos.
(D) opor a importância que o ser humano pensa ter à importância que atribui ao universo.
(E) afirmar a preponderância do ser humano sobre a natureza.

13ª Questão. Em “o mundo não se acabou” (linhas 17-18), lê-se um exemplo de:

(A) voz ativa (B) voz passiva (C) voz passiva analítica (D) voz recíproca (E) voz reflexiva

14ª Questão. Em “Por que mentimos tanto, com palavras tão judiciosas” (linha 32), o termo em destaque pode ser substituído por:

(A) difamatórias, agressivas.
(B) incriminadoras, acusadoras.
(C) ajuizadas, sensatas.
(D) imprudentes, descuidadas.
(E) requintadas, apuradas.

15ª Questão. A leitura completa do texto sugere que a autora:

(A) não se mostra confiante na possibilidade dos homens repensarem suas atitudes no mundo, mas tem esperança de que, com algum esforço, isso possa acontecer.
(B) observa com ironia as orações dirigidas a Deus diante do anúncio do fim do mundo, pois crê que tais pedidos sejam falsos e superficiais.
(C) tem um olhar cético sobre o homem, pois não acredita em sua habilidade de refletir sobre o mundo e mudar suas atitudes.
(D) é pessimista sobre a realidade de modo geral, já que ela crê que o mundo acabará devido a guerras ou desastres naturais.
(E) olha com indiferença para a humanidade, pois não espera nada dela.

16ª Questão. Em “Dizem que o mundo termina em fevereiro próximo” (linha 24), há exemplo de:

(A) sujeito indeterminado
(B) sujeito oculto
(C) sujeito simples
(D) sujeito composto
(E) sujeito inexistente

17ª Questão. A leitura atenta do texto permite inferir que:

(A) há elogio à postura contemplativa do homem diante do mundo.
(B) há uma espécie de chamamento ao leitor, para que ele se torne mais consciente sobre as suas ações no mundo.
(C) trata-se de um alerta para que o ser humano recicle seu lixo.
(D) o misticismo pode conduzir o homem a assumir consciência história.
(E) há elogio à consciência histórica que o ser humano demonstra possuir.

18ª Questão. A oração em destaque em “Ora, o cometa desapareceu, aqueles que choravam enxugaram os olhos, o mundo não se acabou” (linhas 17-18) é exemplo de oração subordinada:

(A) adjetiva explicativa
(B) adverbial causal
(C) adverbial comparativa
(D) adverbial
(E) adjetiva restritiva

19ª Questão. Em “Gostei muito do cometa” (linha 14), sintaticamente, o termo em destaque é classificado como:

(A) adjunto adverbial (B) objeto direto (C) objeto indireto (D) sujeito (E) adjunto adnominal

20ª Questão. O verbo em destaque na oração “Não duvido de que o mundo tenha sentido” (linha 21) encontra-se:

(A) no presente do indicativo
(B) no pretérito perfeito do indicativo
(C) no futuro do subjuntivo
(D) no presente do subjuntivo
(E) no pretérito do subjuntivo



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Texto: "A morte da tartaruga" — Millôr Fernandes

A morte da tartaruga

"Little boy". Fatemeh Haghnejad.
O menininho foi ao quintal e voltou chorando: a tartaruga tinha morrido. A mãe foi ao quintal com ele, mexeu na tartaruga com um pau (tinha nojo daquele bicho) e constatou que a tartaruga tinha morrido mesmo. Diante da confirmação da mãe, o garoto pôs-se a chorar ainda com mais força. A mãe a princípio ficou penalizada, mas logo começou a ficar aborrecida com o choro do menino. “Cuidado, senão você acorda o seu pai”. Mas o menino não se conformava. Pegou a tartaruga no colo e pôs-se a acariciar-lhe o casco duro. A mãe disse que comprava outra, mas ele respondeu que não queria, queria aquela, viva! A mãe lhe prometeu um carrinho, um velocípede, lhe prometeu uma surra, mas o pobre menino parecia estar mesmo profundamente abalado com a morte do seu animalzinho de estimação. 
Afinal, com tanto choro, o pai acordou lá dentro, e veio, estremunhado, ver de que se tratava. O menino mostrou-lhe a tartaruga morta. A mãe disse: ― “Está aí assim há meia hora, chorando que nem maluco. Não sei mais o que faço. Já lhe prometi tudo mas ele continua berrando desse jeito”. O pai examinou a situação e propôs: ― “Olha, Henriquinho. Se a tartaruga está morta não adianta mesmo você chorar. Deixa ela aí e vem cá com o pai”. O garoto depôs cuidadosamente a tartaruga junto do tanque e seguiu o pai, pela mão. O pai sentou-se na poltrona, botou o garoto no colo e disse: ― “Eu sei que você sente muito a morte da tartaruguinha. Eu também gostava muito dela. Mas nós vamos fazer pra ela um grande funeral.” (Empregou de propósito a palavra difícil). O menininho parou imediatamente de chorar. “Que é funeral?” O pai lhe explicou que era um enterro. “Olha, nós vamos à rua, compramos uma caixa bem bonita, bastante balas, bombons, doces e voltamos para casa. Depois botamos a tartaruga na caixa em cima da mesa da cozinha e rodeamos de velinhas de aniversário. Aí convidamos os meninos da vizinhança, acendemos as velinhas, cantamos o “Happy-Birth-Day-To-You” pra tartaruguinha morta e você assopra as velas. Depois pegamos a caixa, abrimos um buraco no fundo do quintal, enterramos a tartaruguinha e botamos uma pedra em cima com o nome dela e o dia em que ela morreu. Isso é que é funeral! Vamos fazer isso?” O garotinho estava com outra cara. “Vamos, papai, vamos! A tartaruguinha vai ficar contente lá no céu, não vai? Olha, eu vou apanhar ela”. Saiu correndo. Enquanto o pai se vestia, ouviu um grito no quintal. “Papai, papai, vem cá, ela está viva!” O pai correu pro quintal e constatou que era verdade. A tartaruga estava andando de novo, normalmente. “Que bom, hein?” ― disse ― “Ela está viva! Não vamos ter que fazer o funeral!” “Vamos sim, papai” ― disse o menino ansioso, pegando uma pedra bem grande ― “Eu mato ela.”

MORAL: O IMPORTANTE NÃO É A MORTE, É O QUE ELA NOS TIRA.

(Millôr Fernandes, in "Fábulas fabulosas")


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