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quinta-feira, 28 de julho de 2016

Texto: “Tropeções da inteligência” – Rubem Alves

Tropeções da inteligência


       Há a história dos dois ursos que caíram numa armadilha e foram levados para um circo. Um deles, com certeza era mais inteligente que o outro, aprendeu logo a se equilibrar na bola e a andar no monociclo. Seu retrato começou a aparecer em cartazes e todo o mundo batia palmas: “Como é inteligente”. O outro, burro, ficava amuado num canto e, por mais que o treinador fizesse promessas e ameaças, não dava sinais de entender. Chamaram o psicólogo do circo e o diagnóstico veio rápido: “É inútil insistir. O QI é muito baixo…” 


      Ficou abandonado num canto, sem retratos e sem aplausos, urso burro, sem serventia…O tempo passou. Veio a crise econômica e o circo foi a falência. Concluíram que a coisa mais caridosa que poderia fazer aos animais era devolvê-los às florestas de onde haviam sido retirados. E assim, os dois ursos fizeram a longa viagem de volta.

       Estranho que em meio a viagem o urso tido por burro parece ter acordado da letargia, como se ele estivesse reconhecendo lugares velhos, odores familiares, enquanto que seu amigo de QI alto brincava tristemente com a bola, último presente. Finalmente, chegaram e foram soltos.

       O urso burro sorriu, com aquele sorriso que os ursos entendem, deu um urro de prazer e abraçou aquele mundo lindo de que nunca esquecera. O urso inteligente subiu na sua bola e começou o número que sabia tão bem. Era só o que sabia fazer. Foi então que ele entendeu, em meio às memórias de gritos e crianças, cheio de pipoca, música de banda, salto de trapezistas e peixes mortos servidos na boca, que há uma inteligência que é boa para o circo. O problema é que ela não presta para viver. Para exibir sua inteligência ele tivera que esquecer de muitas coisas. E este esquecimento seria sua morte.

      E podemo-nos perguntar se o desenvolvimento da inteligência não se dá, sempre, às custas de coisas que devem ser esquecidas, abandonadas, deixadas atrás…

(Rubem Alves, em Estórias de quem gosta de ensinar, 1993)


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"O grande desastre aéreo de ontem" — Jorge de Lima
"A volta" — Luís Fernando Verissimo


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terça-feira, 5 de julho de 2016

PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA - UERJ - 2015

PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA - UERJ - 2015



Angeli
Folha de São Paulo, 17/12/2013


QUESTÃO 01 - No cartum, há uma alusão aos “rolezinhos”, manifestações em que jovens, em geral oriundos de periferias, formam grandes grupos para circular dentro de shoppings. Com base no diálogo entre os guardas e nos elementos visuais que compõem o cartum, é
possível inferir uma crítica do cartunista baseada no seguinte fato:

(A) os jovens se descontrolam em grupos muito numerosos
(B) os guardas pertencem à mesma classe social dos jovens
(C) os guardas hesitam no cumprimento de medida repressiva
(D) os jovens ameaçam as atividades comerciais dos shoppings

QUESTÃO 02 - Por meio de aspectos gráficos, o cartum sugere o caráter generalizante que pode ter um preconceito. Um aspecto que aponta para essa generalização é:

(A) o traçado plano do cenário principal
(B) a forma difusa das pessoas ao fundo
(C) o destaque dado ao letreiro do shopping
(D) a nitidez da representação dos dois guardas

O ARRASTÃO

            Estarrecedor, nefando, inominável, infame. Gasto logo os adjetivos porque eles fracassam em dizer o sentimento que os fatos impõem. Uma trabalhadora brasileira, descendente de escravos, como tantos, que cuida de quatro filhos e quatro sobrinhos, que parte para o trabalho às quatro e meia das manhãs de todas as semanas, que administra com o marido um ganho de mil e seiscentos reais, que paga pontualmente seus carnês, como milhões de trabalhadores brasileiros, é baleada em circunstâncias não esclarecidas no Morro da Congonha e, levada como carga no porta-malas de um carro policial a pretexto de ser atendida, é arrastada à morte, a céu aberto, pelo asfalto do Rio.
            Não vou me deter nas versões apresentadas pelos advogados dos policiais. Todas as vozes terão que ser ouvidas, e com muita atenção à voz daqueles que nunca são ouvidos. Mas, antes das versões, o fato é que esse porta-malas, ao se abrir fora do script, escancarou um real que está acostumado a existir na sombra.
            O marido de Cláudia Silva Ferreira disse que, se o porta-malas não se abrisse como abriu (por obra do acaso, dos deuses, do diabo), esse seria apenas “mais um caso”. Ele está dizendo: seria uma morte anônima, aplainada1 pela surdez da praxe2, pela invisibilidade, uma morte não questionada, como tantas outras.
            É uma imagem verdadeiramente surreal, não porque esteja fora da realidade, mas porque destampa, por um “acaso objetivo” (a expressão era usada pelos surrealistas3), uma cena recalcada4 da consciência nacional, com tudo o que tem de violência naturalizada e corriqueira, tratamento degradante dado aos pobres, estupidez elevada ao cúmulo, ignorância bruta transformada em trapalhada transcendental5, além de um índice grotesco de métodos de camuflagem e desaparição de pessoas. Pois assim como Amarildo6 é aquele que desapareceu das vistas, e não faz muito tempo, Cláudia é aquela que subitamente salta à vista, e ambos soam, queira-se ou não, como o verso e o reverso do mesmo.
            O acaso da queda de Cláudia dá a ver algo do que não pudemos ver no caso do desaparecimento de Amarildo. A sua passagem meteórica pela tela é um desfile do carnaval de horror que escondemos. Aquele carro é o carro alegórico de um Brasil, de um certo Brasil que temos que lutar para que não se transforme no carro alegórico do Brasil.

José Miguel Wisnik - Adaptado de oglobo.globo.com, 22/03/2014.
1 aplainada − nivelada
2 praxe − prática, hábito
3 surrealistas − participantes de movimento artístico do século 20 que enfatiza o papel do inconsciente
4 recalcada − fortemente reprimida
5 transcendental − que supera todos os limites
6 Amarildo − pedreiro desaparecido na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, em 2013, depois de ser detido por policiais

QUESTÃO 03 - No início do texto, ao expressar sua indignação em relação ao tema abordado, o autor apresenta uma reflexão sobre o emprego de adjetivos. Essa reflexão está associada à seguinte ideia:

(A) o fato exige análise criteriosa
(B) o contexto constrói ambiguidade
(C) a linguagem se mostra insuficiente
(D) a violência pede descrição cuidadosa

QUESTÃO 04 - Todas as vozes terão que ser ouvidas, e com muita atenção à voz daqueles que nunca são ouvidos.
Esta frase contém um ponto de vista que se baseia na pressuposição da existência de:

(A) testemunhas omissas do caso
(B) falhas importantes nos processos
(C) segmentos excluídos da população
(D) imparcialidades frequentes nos julgamentos

QUESTÃO 05 - Ele está dizendo: seria uma morte anônima, aplainada pela surdez da praxe, pela invisibilidade, uma morte não questionada, como tantas outras.
Logo após citar a declaração do marido de Cláudia, o autor a explica.
Em relação a essa declaração, a explicação do autor produz o efeito de:

(A) enfatizar seu conteúdo
(B) corrigir sua construção
(C) enumerar seus detalhes
(D) contrapor-se a sua simplicidade

QUESTÃO 06 - É uma imagem verdadeiramente surreal,
Na argumentação desenvolvida pelo autor, a imagem do porta-malas do carro da polícia expressa sentidos ambivalentes em relação à violência. Esses sentidos podem ser definidos como:

(A) achar − perder (B) socorrer − redimir (C) esconder − revelar (D) orientar − desorientar

QUESTÃO 07 - Pois assim como Amarildo é aquele que desapareceu das vistas, e não faz muito tempo, Cláudia é aquela que subitamente salta à vista, e ambos soam, queira-se ou não, como o verso e o reverso do mesmo.
Neste trecho, para aproximar dois casos recentemente noticiados na imprensa, o autor emprega um recurso de linguagem denominado:

(A) antítese (B) negação (C) metonímia (D) personificação

QUESTÃO 08 - Aquele carro é o carro alegórico de um Brasil, de um certo Brasil que temos que lutar para que não se transforme no carro alegórico do Brasil.
A sequência do emprego dos artigos em “de um Brasil” e “do Brasil” representa uma relação de sentido entre as duas expressões, intimamente ligada a uma preocupação social por parte do autor do texto.
Essa relação de sentido pode ser definida como:

(A) ironia (B) conclusão (C) causalidade (D) generalização

Medo e vergonha

            O medo é um evento poderoso que toma o nosso corpo, nos põe em xeque, paralisa alguns e atiça a criatividade de outros. Uma pessoa em estado de pavor é dona de uma energia extra capaz de feitos incríveis.
            Um amigo nosso, quando era adolescente, aproveitou a viagem dos pais da namorada para ficar na casa dela. Os pais voltaram mais cedo e, pego em flagrante, nosso Romeu teve a brilhante ideia de pular, pelado, do segundo andar. Está vivo. Tem hoje essa incrível história pra contar, mas deve se lembrar muito bem da vergonha.
            Me lembrei dessa história por conta de outra completamente diferente, mas na qual também vi meu medo me deixar em maus lençóis.
            Estava caminhando pelo bairro quando resolvi explorar umas ruas mais desertas. De repente, vejo um menino encostado num muro. Parecia um menino de rua, tinha seus 15, 16 anos e, quando me viu, fixou o olhar e apertou o passo na minha direção. Não pestanejei. Saí correndo. Correndo mesmo, na mais alta performance de minhas pernas.
            No meio da corrida, comecei a pensar se ele iria mesmo me assaltar. Uma onda de vergonha foi me invadindo. O rapaz estava me vendo correr. E se eu tivesse me enganado? E se ele não fosse fazer nada? Mesmo que fosse. Ter sido flagrada no meu medo e preconceito daquela forma já me deixava numa desvantagem fulminante.
            Não sou uma pessoa medrosa por excelência, mas, naquele dia, o olhar, o gesto, alguma coisa no rapaz acionou imediatamente o motor de minhas pernas e, quando me dei conta, já estava em disparada.
            Fui chegando ofegante a uma esquina, os motoristas de um ponto de táxi me perguntaram o que tinha acontecido e eu, um tanto constrangida, disse que tinha ficado com medo. Me contaram que ele vivia por ali, tomando conta dos carros. Fervi de vergonha.
            O menino passou do outro lado da rua e, percebendo que eu olhava, imitou minha corridinha, fazendo um gesto de desprezo. Tive vontade de sentar na guia1 e chorar. Ele só tinha me olhado, e o resto tinha sido produto legítimo do meu preconceito.
            Fui atrás dele. Não consegui carregar tamanha bigorna2 pra casa. “Ei!” Ele demorou a virar. Se eu pensava que ele assaltava, ele também não podia imaginar que eu pedisse desculpas. Insisti: “Desculpa!” Ele virou. Seu olhar agora não era mais de ladrão, e sim de professor. Me perdoou com um sinal de positivo ainda cheio de desprezo. Fui pra casa pelada, igual ao Romeu suicida.

Denise Fraga - folha.uol.com.br, 08/01/2013
1 guia − meio-fio da calçada
2 bigorna − bloco de ferro para confecção de instrumentos

QUESTÃO 09 - No primeiro parágrafo, apresentam-se algumas características do medo, quase todas positivas, mas se omite uma de suas características negativas, tematizada no decorrer do texto. Esta característica negativa do medo é a de:

(A) basear-se em fatos                   (B) ter vergonha do sentimento
(C) reforçar um constrangimento     (D) ser motivado por preconceito

QUESTÃO 10 - A crônica é um gênero textual que frequentemente usa uma linguagem mais informal e próxima da oralidade, pouco preocupada com a rigidez da chamada norma culta. Um exemplo claro dessa linguagem informal, presente no texto, está em:

(A) O medo é um evento poderoso que toma o nosso corpo, (l. 1)
(B) Me lembrei dessa história por conta de outra completamente diferente, (l. 8)
(C) De repente, vejo um menino encostado num muro. (l. 10-11)
(D) ele também não podia imaginar que eu pedisse desculpas. (l. 28)

QUESTÃO 11 - Seu olhar agora não era mais de ladrão, e sim de professor. (l. 29)
A frase deixa subentendida a ideia de que o menino foi capaz de ensinar, pelo exemplo, algo à autora. Esse ensinamento dado pelo menino está ligado à capacidade de:

(A) perdoar (B) desprezar (C) desculpar-se (D) arrepender-se

QUESTÃO 12 - Na última frase da crônica, a autora correlaciona dois episódios. Em ambos, aparece o atributo “pelado(a)”. No entanto, esse atributo tem significado diferente em cada um dos episódios. No texto, o significado de cada termo se caracteriza por ser, respectivamente:

(A) literal e figurado (B) geral e particular (C) descritivo e irônico (D) ambíguo e polissêmico

CANÇÃO DO VER

Fomos rever o poste.
O mesmo poste de quando a gente brincava de pique
e de esconder.
Agora ele estava tão verdinho!
O corpo recoberto de limo e borboletas.
Eu quis filmar o abandono do poste.
O seu estar parado.
O seu não ter voz.
O seu não ter sequer mãos para se pronunciar com
as mãos.
Penso que a natureza o adotara em árvore.
Porque eu bem cheguei de ouvir arrulos1 de passarinhos
que um dia teriam cantado entre as suas folhas.
Tentei transcrever para flauta a ternura dos arrulos.
Mas o mato era mudo.
Agora o poste se inclina para o chão − como alguém
que procurasse o chão para repouso.
Tivemos saudades de nós.

Manoel de Barros - Poesia completa. São Paulo: Leya, 2010.

1 arrulos − canto ou gemido de rolas e pombas

QUESTÃO 13 - No poema, o poste é associado à própria vida do eu poético. Nessa associação, a imagem do poste se constrói pelo seguinte recurso da linguagem:

(A) anáfora (B) metáfora (C) sinonímia (D) hipérbole

QUESTÃO 14 - O título Canção do ver reúne duas esferas diferentes dos sentidos humanos: audição e visão. No entanto, no decorrer do poema, a visão predomina sobre a audição. Os dois elementos que confirmam isso são:

(A) o imobilismo do poste e a saudade dos tempos passados
(B) a inclinação do poste e sua adoção pela paisagem natural
(C) a aparência do poste e a suposição do arrulo dos passarinhos
(D) o silêncio do poste e a impossibilidade de transcrição musical

QUESTÃO 15 - Agora ele estava tão verdinho! (v. 4)
De modo diferente do que ocorre em passarinhos, o emprego do diminutivo, no verso acima, contribui para expressar um sentido de:

(A) oposição (B) gradação (C) proporção (D) intensidade

QUESTÃO 16 - A memória expressa pelo enunciador do texto não pertence somente a ele. Na construção do poema, essa ideia é reforçada pelo emprego de:

(A) tempo passado e presente           (B) linguagem visual e musical
(C) descrição objetiva e subjetiva      (D) primeira pessoa do singular e do plural



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Texto 1

Texto 2 - O que é o Estatuto da Família?

            É um projeto de lei que tramita na Câmara dos Deputados. O texto desse projeto tenta definir o que pode ser considerado uma família no Brasil. Ou seja, o projeto propõe regras jurídicas para definir quais grupos podem ser considerados uma família perante a lei.

(“O que é o Estatuto da Família?”. www.cartacapital.com.br, 25.10.2015. Adaptado.)

Texto 3 - Projeto de Lei no 6583, de 2013 (Estatuto da Família)

            Para os fins desta Lei, define-se família como o núcleo social formado a partir da união entre um homem e uma mulher, por meio de casamento ou união estável, ou ainda por comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes.

(Anderson Ferreira [deputado federal pelo PR]. “Projeto de Lei no 6583/2013”. www.camara.gov.br, 16.10.2015. Adaptado.)

Texto 4 - O Estatuto da Família veio num momento bastante oportuno. Nunca a principal instituição da sociedade e o matrimônio foram tão atacados como nos dias atuais. Basta ver crianças e adolescentes sendo aliciados para o mundo do crime e das drogas, a violência doméstica, a gravidez na adolescência, os programas televisivos cada vez mais imorais e violentos, sem falar na visível deturpação do conceito de matrimônio e na banalização dos valores familiares conquistados há décadas. Tudo isso repercute negativamente na dinâmica psicossocial do indivíduo.
            O Estatuto da Família não deveria causar tanto alvoroço no que se refere ao conceito de família. A definição não é minha e de nenhum parlamentar. É a Carta Constitucional que, assim, restringe sua composição. Não tem nada a ver com preconceito ou discriminação.

(Sóstenes Cavalcante [deputado federal pelo PSD]. “Estatuto da Família é base para sociedade mais justa, fraterna e desenvolvida”. http://congressoemfoco.uol.com.br, 08.10.2015. Adaptado.)

Texto 5 - A ONU no Brasil disse estar acompanhando “com preocupação” a tramitação, no Congresso Nacional, da Proposição Legislativa que institui o Estatuto da Família, especialmente quanto ao conceito de família e “seus impactos para o exercício dos direitos humanos”.
            Citando tratados internacionais, a ONU afirmou ser importante assegurar que outros arranjos familiares, além do formado por casal heteroafetivo, também sejam igualmente protegidos como parte dos esforços para eliminar a discriminação: “Negar a existência destas composições familiares diversas, para além de violar os tratados internacionais, representa uma involução legislativa”.

(“Brasil: ONU está preocupada com projeto de lei que define conceito de família”. http://nacoesunidas.org, 27.10.2015.)

           Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva uma dissertação, empregando a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema:

O conceito de família proposto pelo Estatuto da Família: discriminação contra outros arranjos familiares?

"Mestra Silvina" — Cora Coralina

Mestra Silvina

Vesti a memória com meu mandrião balão.
Centrei nas mãos meu vintém de cobre.
Oferta de uma infância pobre, inconsciente, ingênua,
revivida nestas páginas.

Minha escola primária, fostes meu ponto de partida, 
"Porta de escola". Francis Luis Mora.

dei voltas ao mundo.
Criei meus mundos...
Minha escola primária. Minha memória reverencia minha
velha Mestra.

Nas minhas festivas noites de autógrafos, minhas colunas de
jornais
e livros, está sempre presente minha escola primária.
Eu era menina do banco das mais atrasadas.

Minha escola primária...
Eu era um casulo feio, informe, inexpressivo.
E ela me refez, me desencantou.
Abriu pela paciência e didática da velha mestra,
cinqüentanos mais do que eu, o meu entendimento ocluso.

A escola da Mestra Silvina...
Tão pobre ela. Tão pobre a escola...
Sua pobreza encerrava uma luz que ninguém via.
Tantos anos já corridos...
Tantas voltas deu-me a vida...

No brilho de minhas noites de autógrafos,
luzes, mocidade e flores à minha volta, bruscamente a
mutação se faz.

Cala o microfone, a voz da saudação.
Peça a peça se decompõe a cena,
retirados os painéis, o quadro se refaz,
tão pungente, diferente.

Toda pobreza da minha velha escola
se impõe e a mestra é iluminada de uma nova dimensão.

Estão presentes nos seus bancos
seus livros desusados, suas lousas que ninguém mais vê,
meus colegas relembrados...
Queira ou não, vejo-me tão pequena, no banco das
atrasadas.

E volto a ser Aninha,
aquela em que ninguém
acreditava.

(Cora Coralina)

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"Balada do amor através das idades" — Carlos Drummond de Andrade
"O grande desastre aéreo de ontem" — Jorge de Lima
"Conversa de viajante" — Stanislaw Ponte-Preta

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Tema de Redação – Unesp – 2015

Tema de Redação – Unesp – 2015

REDAÇÃO – Unesp – 2015

Texto 1 - O Brasil era o último país do mundo ocidental a eliminar a escravidão! Para a maioria dos parlamentares, que se tinham empenhado pela abolição, a questão estava encerrada. Os ex-escravos foram abandonados à sua própria sorte. Caberia a eles, daí por diante, converter sua emancipação em realidade. Se a lei lhes garantia o status jurídico de homens livres, ela não lhes fornecia meios para tornar sua liberdade efetiva. A igualdade jurídica não era suficiente para eliminar as enormes distâncias sociais e os preconceitos que mais de trezentos anos de cativeiro haviam criado. A Lei Áurea abolia a escravidão mas não seu legado. Trezentos anos de opressão não se eliminam com uma penada. A abolição foi apenas o primeiro passo na direção da emancipação do negro. Nem por isso deixou de ser uma conquista, se bem que de efeito limitado.

(Emília Viotti da Costa. A abolição, 2008.)

Texto 2 - O Instituto Ethos, em parceria com outras entidades, divulgou um estudo sobre a participação do negro nas 500 maiores empresas do país. E lamentou, com os jornais, o fato de que 27% delas não souberam responder quantos negros havia em cada nível funcional. Esse dado foi divulgado como indício de que, no Brasil, existe racismo. Um paradoxo. Quase um terço das empresas demonstra a entidades seriíssimas que “cor” ou “raça” não são filtros em seus departamentos de RH e, exatamente por essa razão, as empresas passam a ser suspeitas de racismo. Elas são acusadas por aquilo que as absolve. Tempos perigosos, em que pessoas, com ótimas intenções, não percebem que talvez estejam jogando no lixo o nosso maior patrimônio: a ausência de ódio racial.
            Há toda uma gama de historiadores sérios, dedicados e igualmente bem-intencionados, que estudam a escravidão e se deparam com esta mesma constatação: nossa riqueza é esta, a tolerância. Nada escamoteiam: bem documentados, mostram os horrores da escravidão, mas atestam que, não a cor, mas a condição econômica é que explica a manutenção de um indivíduo na pobreza. [...]. Hoje, se a maior parte dos pobres é de negros, isso não se deve à cor da pele. Com uma melhor distribuição de renda, a condição do negro vai melhorar acentuadamente. Porque, aqui, cor não é uma questão.

(Ali Kamel. “Não somos racistas”. www.oglobo.com.br, 09.12.2003.)

Texto 3 - Qualquer estudo sobre o racismo no Brasil deve começar por notar que, aqui, o racismo é um tabu. De fato, os brasileiros imaginam que vivem numa sociedade onde não há discriminação racial. Essa é uma fonte de orgulho nacional, e serve, no nosso confronto e comparação com outras nações, como prova inconteste de nosso status de povo civilizado.

(Antonio Sérgio Alfredo Guimarães. Racismo e anti-racismo no Brasil, 1999. Adaptado.)

Texto 4 - Na ausência de uma política discriminatória oficial, estamos envoltos no país de uma “boa consciência”, que nega o preconceito ou o reconhece como mais brando. Afirma-se de modo genérico e sem questionamento uma certa harmonia racial e joga-se para o plano pessoal os possíveis conflitos. Essa é sem dúvida uma maneira problemática de lidar com o tema: ora ele se torna inexistente, ora aparece na roupa de alguém outro.
            É só dessa maneira que podemos explicar os resultados de uma pesquisa realizada em 1988, em São Paulo, na qual 97% dos entrevistados afirmaram não ter preconceito e 98% dos mesmos entrevistados disseram conhecer outras pessoas que tinham, sim, preconceito. Ao mesmo tempo, quando inquiridos sobre o grau de relação com aqueles que consideravam racistas, os entrevistados apontavam com frequência parentes próximos, namorados e amigos íntimos. Todo brasileiro parece se sentir, portanto, como uma ilha de democracia racial, cercado de racistas por todos os lados.

(Lilia Moritz Schwarcz. Nem preto nem branco, muito pelo contrário, 2012. Adaptado.)

       Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva uma redação de gênero dissertativo,empregando a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema:

O legado da escravidão e o preconceito contra negros no Brasil







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