Temas de Redação
- 1ª Fase – Unicamp – 1998
Há
três temas sugeridos para redação. Você deve escolher um deles e desenvolvê-lo
conforme o tipo de texto indicado, segundo as instruções que se encontram na
orientação dada para cada tema. Assinale no alto da página de resposta o tema
escolhido.
Coletânea
de textos:
Os
textos foram tirados de fontes diversas e apresentam fatos, dados, opiniões e
argumentos relacionados com o tema. Eles não representam a opinião da banca
examinadora: são textos como aqueles a que você está exposto na sua vida diária
de leitor de jornais, revistas ou livros, e que você deve saber ler e comentar.
Consulte a coletânea e utilize-a segundo as instruções específicas dadas para
cada tema. Não a copie. Ao elaborar sua redação, você poderá utilizar-se também
de outras informações que julgar relevantes para o desenvolvimento do tema
escolhido.
ATENÇÃO:
SE VOCÊ NÃO SEGUIR AS INSTRUÇÕES RELATIVAS AO TEMA QUE ESCOLHEU, SUA REDAÇÃO
SERÁ ANULADA.
TEMA
A
No
mundo contemporâneo, imagens são criadas e divulgadas pela mídia graças à
tecnologia; tudo vem sendo reduzido à imagem, ao espetáculo, num processo que
afeta fortemente nossa vida e culmina na produção de realidades virtuais.
Levando em conta os trechos abaixo, escreva um texto dissertativo no qual você
discutirá a seguinte questão:
Supervalorizar
a imagem é desvalorizar o homem?
1. Faz poucos anos, num debate sobre o poder da televisão, numa biblioteca
pública da periferia
paulistana, um homem da plateia pediu a palavra para dar o seu depoimento.
Contou que sua filha, de 5 anos de idade, depois de ser repreendida pela mãe,
reagiu gritando: “Não sou mais sua filha. Agora eu sou filha da Xuxa”. A mãe de
verdade, “demitida” assim de repente, ficou sem reação.(...) O cotidiano
infantil de nossos dias já não é demarcado apenas por coisas corpóreas, como o
estilingue, a bola de futebol, a mãe ou o pai. Em grandes extensões, ele é dado
por objetos imaginários, como os cavaleiros do zodíaco, os filmes policiais e
até mesmo a Xuxa, que, na imaginação daquela telespectadora tão pequena, tinha
assumido o lugar da mãe.
Eugenio
Bucci, Veja, 21/5/97
2. Você sabe o que é um Tamagotchi? É um brinquedinho eletrônico que cabe na mão
(e na cabeça) de qualquer criança. É como se o bichinho eletrônico fosse de
verdade. Você tem que tomar conta dele, mexendo nos comandos eletrônicos. Dar
comida, colocar para dormir, ver se está com febre, dar remédios, fazer
carinho. Coisa de japonês, com certeza.
Mario
Prata, ISTOÉ, 3/9/97
3. Quando se fala de realidades virtuais, coloca-se em geral a ênfase sobre o
caráter fantasmático
e imaterial de tais dimensões da experiência: este pressuposto é partilhado
tanto pelos apologistas da nova tecnologia virtual, que a celebram como um modo
de dissolver, de enfraquecer ou de espiritualizar a realidade, quanto pelos
críticos, que a interpretam como mais um engano, como evasão, que nos exime das
responsabilidades e dos perigos do presente, projetando-nos em um mundo
evanescente e desencarnado. Tanto uns quanto os outros dão como certo que as
realidades virtuais não são realidades verdadeiras, mas sim sistemas de representação
da realidade cujo lugar pretendem assumir. Esta aspiração é vista pelos
apologistas como uma espécie de liberação das angústias e dos limites da
realidade; pelos críticos como uma espécie de fuga culpada. Mas a realidade não
é algo óbvio e imóvel! Hoje a virtualidade não aumenta a dimensão da
precariedade do real, mas sim a reduz; ela faz com que o homem da época da
representação passe para a da disponibilidade: as coisas virtuais estão constantemente
a nossa disposição. Tudo é oferecido e esta oferta de tudo é que constitui a virtualidade.
Mario
Perniola, O sex appeal do inorgânico, Einaudi, 1994, p.38
4. Esta é, basicamente, uma história sobre a sociedade moderna e global. É a
mídia moderna. A televisão, a imprensa, as fotos e todo o resto. Todos deram
uma ultra-importância para o tipo de coisa que sempre atraiu o interesse de
muita gente: fofocas. O tratamento dado a Diana é uma espécie de ápice da
multiglobal sociedade da mídia. Basicamente, o que temos aqui é a
ultramagnificação de uma espécie de telenovela. Uma telenovela que termina em tragédia.
Uma mulher jovem, rica e bonita morta junto com seu namorado repentinamente. Esta
sociedade da mídia global tornou possível a esta princesa exercitar muito bem
sua simpatia à caridade e a projetos como o de combate às minas terrestres. Ela
e seus projetos foram eficazes porque foram imediatamente globalizados pela
mídia.
Eric
Hobsbawm, Folha de São Paulo, 3/9/97
5. O americano Lloyd Dubroff teve apenas alguns segundos para se arrepender da
maior besteira de sua existência - uma besteira que matou sua filhinha de 7
anos, Jessica, e custou-lhe a própria vida.(...) Há cinco meses colocou a
garotinha num curso de pilotagem e a desafiou a se tornar a pessoa mais jovem a
atravessar os Estados Unidos de costa a costa no comando de um avião (os
americanos adoram esse tipo de proeza). (...) A travessia, a bordo de um Cessna
monomotor de quatro lugares, começou na quarta-feira passada, na Califórnia. O primeiro
dia foi bem. Na manhã seguinte, dia 11, aconteceu a tragédia: o avião
espatifou-se num bairro residencial (...). Jessica, o pai e o instrutor de vôo
Joe Reid morreram na hora.
Veja,
17/4/96
6.
7. Como toda febre muda o comportamento das pessoas, a “tamagoshimania” criou polêmica.(...)
Mas ainda é cedo para afirmar se eles são bons ou ruins para a gente. “Só após três
ou quatro anos de convívio comum é que dá para fazer uma avaliação do efeito”,
diz o psiquiatra Haim Grünspun, que por muito tempo acompanhou a mania de
Barbie. “Assim como a boneca, o bichinho virtual poderá, com o tempo, desenvolver
a afetividade e a responsabilidade das pessoas”, explica o médico.
Estadinho,
O Estado de São Paulo, 30/8/97
8. O publicitário Duda Mendonça, responsável pela recuperação da imagem do atual
prefeito e por gerar uma imagem para seu candidato, considera que a principal
distinção entre um candidato e um hambúrguer é que o segundo não fala, não tem
passado.
José
AugustoGuilhon de Albuquerque, “A pata e a galinha” , Folha de S.Paulo, 29/9/96
9. A realidade virtual: sistema que permite ao usuário “entrar e interagir” com
uma imagem.As primeiras áreas a se beneficiarem da realidade virtual deverão
ser o setor de entretenimento, a educação e a simulação de desenvolvimento de
projetos. O projeto do Boeing 777 foi inteiramente montado dentro desse
conceito e chegou ao final sem nenhum erro de concepção.
Luiz
Nassif, “Tecnologia e educação no futuro”, Folha de S.Paulo, 8/9/1997
TEMA
B
Entre
os papéis da minha família, foi encontrada esta carta, que traz no final o nome Anita
de G., uma tia-avó, já falecida
Laguna,
23 de fevereiro de 1948
Meu
bom marido
Saudações.
Recebi
a sua cartinha a qual me pareceu bastante lacônica, e na qual me diz que chegou
sem novidade, que o Rio está uma formosura, etc. etc. Avalio o quanto não se terá
por aí divertido, esquecido de nós que continuamos aqui nesta triste solidão. Rogo
que termine o mais breve possível o que tem que fazer e volte. As saudades são
muitas. Não se esqueça de trazer alguma coisa bonita e de novidade, principalmente
os últimos figurinos porque os que aqui há estão fora de moda. Retribuindo-lhe
o seu abraço e desejando-lhe saúde, sou sempre a sua boa e querida mulher
Anita
de G.
Os
jovens da família, ao ler a carta, entenderam-na literalmente. Já os mais
velhos, contemporâneos
de tia Anita e da carta, sabem que esta é cópia de um modelo disponível em um
livro muito difundido na época: O Secretário Moderno ou Guia indispensável para
cada um se dirigir na vida sem auxílio de outrem, de J. Queiroz (Ed. do Povo
Ltda., Rio de Janeiro, 1948). Sabem também que a leitura da carta não pode ser
literal, mas tem que ser feita à luz de uma série de acontecimentos.
Invente
uma história narrando os acontecimentos que tornam inadequada a leitura literal
da carta.
TEMA
C
O
empresário Antonio Ermírio de Moraes escreveu o artigo abaixo (Folha de São
Paulo, 3/8/97)
em que se manifesta sobre a sujeira na cidade de São Paulo. Leia o artigo com
atenção e reflita também sobre o que está sugerido nas entrelinhas a propósito
de pobreza, cidadania, limpeza, ação governamental, etc
Até
quando, São Paulo?
Os
leitores têm todo o direito de se queixar quando volto a um mesmo assunto.
Acontece
que o retorno ao tema decorre da persistência do problema. Refiro-me à
imundície que campeia na cidade de São Paulo.
Muita
gente confunde pobreza com sujeira. Nada mais errado. As pessoas humildes são
exatamente as que mais valorizam o asseio, a higiene e a limpeza.
Você
já notou como é generalizado o banho dos trabalhadores da construção civil
depois de uma jornada de trabalho?
Você
já reparou como são bem areadas as panelas das donas-decasas dos domicílios das
periferias?
Você
já observou a brancura das camisas e blusas dos uniformes dos seus filhos?
O
que se vê na capital de São Paulo é fruto de puro abandono e total falta de
autoridade.
São
pessoas imundas que emporcalham a cidade como prova da sua selvageria e reflexo
da insensibilidade dos governantes.
Uns
defecam nos jardins. Outros cozinham debaixo dos viadutos. Há ainda os que
penduram a roupa encardida nos galhos das árvores. Tudo a céu aberto e no maior
acinte aos cidadãos que aqui vivem.
Na
ausência de um plano diretor para cuidar da habitação, avoluma-se o número de
pessoas que, usando tábuas, papelão e até embalagens de geladeiras, vão se
mudando definitivamente para debaixo das pontes, onde passam a residir
“tranquilamente” no meio de escandalosa sujeira.
O
mais espantoso é ver as autoridades municipais e estaduais consentirem com a
multiplicação desses chiqueiros que, na verdade, são uma verdadeira provocação
aos que pagam altos impostos e que têm o direito de exigir um mínimo de higiene
na cidade em que habitam e trabalham.
Já passou bastante da hora de as autoridades
agirem. Elas estão atrasadas há vários anos - mas têm de agir.
Não
é justo que a população como um todo seja submetida a um ambiente tão
vergonhoso e deprimente como é o de São Paulo.
Não
sou saudosista a ponto de querer voltar ao tempo do prefeito Faria Lima, quando
o símbolo da capital era uma bela rosa.
Mas
também não acho correto submeter um povo trabalhador a uma cidade imunda e
abandonada.
Afinal,
esse povo está seguindo as regras democráticas, comparece às eleições e escolhe
ordeiramente os seus vereadores, prefeitos e governadores.
É
hora de eles realizarem mais trabalho e menos política, limpando esta cidade
que já foi orgulho do nosso país. Mãos à obra!
A
partir da leitura e da sua reflexão sobre os implícitos, e imaginando que você
discorda do articulista, escreva-lhe uma carta, na forma de um texto argumentativo,
na qual você exponha as razões de sua discordância.
ATENÇÃO: AO ASSINAR A CARTA, USE INICIAIS
APENAS, DE FORMA A NÃO SE IDENTIFICAR.
www.veredasdalingua.blogspot.com.br
Leia também:
Temas
de redação – Unicamp – 1999
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