Prova de Língua
Portuguesa, Literatura e Interpretação de Textos – FGV – 2013 - 2º semestre
16 Leia os
seguintes textos:
I
As comunidades,
os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de
seu patrimônio cultural, além dos instrumentos, objetos, artefatos e lugares,
também as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas. Esse
segundo conjunto de bens culturais é denominado pela Unesco de Patrimônio
Cultural .............................. .
http://portal.iphan.gov.br.
Adaptado.
II
A contabilidade
também se adapta aos novos tempos. Uma prova é o surgimento do analista de
ativos ............................, aquilo que até há pouco tempo parecia não
ter preço, como a marca de uma empresa e o relacionamento com clientes.
Exame: melhores
e maiores.
Edição especial. Julho de 2011.
Tendo em vista o
contexto, os adjetivos mais adequados para preencher as lacunas dos textos
acima são, respectivamente,
A Tradicional /
pecuniários.
B Popular /
financeiros.
C Imaterial /
intangíveis.
D Urbano / não
contabilizados.
E Identificável /
em espécie.
Texto para as
questões de 17 a 19
A
rádio CBN reapresentou uma reportagem na qual dois repórteres, um negro e outro
branco, de idades próximas e vestindo roupas parecidas, testaram o atendimento
que receberiam em estabelecimentos comerciais cariocas.
O
tratamento dado ao negro foi sistematicamente pior e em boa parte das vezes nem
sequer foi atendido. Em uma loja de roupas masculinas, ao branco foi oferecido
um terno de maior qualidade, e, ao negro, o mais barato.
O
diabo é que os preconceitos se devem a uma poderosa capacidade humana, a de
fazer generalizações a partir de experiências limitadas. Poderosa, mas falível.
Preconceitos como o racismo ou o sexismo são frutos de generalizações indevidas
e estigmatizadoras. Porém, sem conceitos prévios (preconceitos), que permitam
tomar decisões rápidas, teríamos dificuldade para fazer coisas simples, como
dirigir ou escolher um restaurante sem ter uma indicação.
Ainda
assim, vale uma constatação etimológica: preconceito é sinônimo de prejuízo.
Nossos antepassados, ao criar suas línguas, perceberam que conceitos ou juízos
prévios costumam levar a perdas, a ideias equivocadas.
M. Miterhof, Folha
de S. Paulo. 31/01/2013. Adaptado.
17 Reproduz uma
ideia contida no texto a seguinte frase:
A O modo de vestir
influiu no tratamento recebido pelo repórter negro em algumas lojas do Rio.
B Um preconceito,
tomando-se a palavra em seu sentido etimológico, pode orientar um
comportamento
não necessariamente negativo.
C A sinonímia
apontada em “preconceito” e “prejuízo” baseia-se nos prefixos e não nos
radicais
dessas palavras.
D A capacidade
humana de fazer generalizações deve ser vista mais como defeito do que como
qualidade.
E As decisões
rápidas não podem ser tomadas se não tivermos indicações prévias de como agir.
18 Sobre a
conjunção “mas”, empregada no trecho “Poderosa, mas falível” (L. 08), só NÃO
é correto afirmar:
A Poderia ser
substituída pela locução “se bem que”.
B Estabelece uma
relação de sentido semelhante à do conectivo “todavia”.
C Subordina dois
adjetivos, pressupondo uma relação de causa e consequência.
D Liga dois
adjetivos, compondo com eles uma frase nominal.
E Está adequada ao
contexto, tendo em vista a oposição semântica que ele apresenta.
19 Zeugma é um caso
especial de elipse que consiste na omissão de um termo expresso anteriormente. Esse
recurso foi usado de forma inadequada para o sujeito da seguinte frase do
texto:
A “que receberiam
em estabelecimentos comerciais cariocas” (L. 02 e 03).
B “e em boa parte
das vezes nem sequer foi atendido” (L. 04 e 05).
C “teríamos
dificuldade para fazer coisas simples” (L. 10).
D “ sem ter uma
indicação” (L. 11).
E “ao criar suas
línguas” (L. 13).
Textos para as
questões de 20 a 22
CAPÍTULO
PRIMEIRO
Rubião
fitava a enseada, — eram oito horas da manhã. Quem o visse, com os polegares metidos
no cordão do chambre, à janela de uma grande casa de Botafogo, cuidaria que ele
admirava aquele pedaço de água quieta; mas, em verdade, vos digo que pensava em
outra coisa. Cotejava o passado com o presente. Que era, há um ano? Professor.
Que é agora? Capitalista. Olha para si, para as chinelas (umas chinelas de
Túnis, que lhe deu recente amigo, Cristiano Palha), para a casa, para o jardim,
para a enseada, para os morros e para o céu; e tudo, desde as chinelas até o céu,
tudo entra na mesma sensação de propriedade.
—
Vejam como Deus escreve direito por linhas tortas, pensa ele. Se mana Piedade
tem casado com Quincas Borba, apenas me daria uma esperança colateral. Não
casou; ambos morreram, e aqui está tudo comigo; de modo que o que parecia uma
desgraça...
Machado de
Assis, Quincas Borba, in: Obra Completa, Rio de Janeiro:
Nova Aguilar, 1994
20 O verbo “cuidar”
foi empregado no texto (“cuidaria” – L. 2) com a mesma acepção que na seguinte frase:
A Por ser
inconsequente, não cuidava ser o projeto tão árduo.
B Apesar de ser
criança, sabia se cuidar como ninguém.
C Ainda não tivera
tempo de cuidar da forma de chegar lá.
D Em meio à crise,
todos devem se cuidar.
E
Todos
os moradores cuidavam da vila com dedicação.
21 No trecho “Se mana Piedade tem casado com Quincas Borba” (L. 08 e 09), o verbo constitui
A um tempo verbal
que caiu em desuso na norma-padrão do português atual.
B uma forma
linguística criada pelo autor para simular a linguagem coloquial.
C uma forma verbal
que indica um fato futuro em relação a outro também futuro.
D um tempo do modo
indicativo, empregado em lugar de outro do subjuntivo.
E
um
tempo composto que serve como variante do presente do indicativo.
22 Entre os temas
propostos ou suscitados pelo texto, é objeto das cogitações da filosofia de “Humanitas”
(ou do célebre “Humanitismo”, que já aparecia nas Memórias póstumas de Brás
Cubas), formulada por Quincas Borba, a ideia de que
A a meditação contemplativa
é a chave da correta compreensão do mundo.
B todo poder
corrompe, e o poder econômico corrompe absolutamente.
C tanto o
entendimento do presente quanto a projeção do futuro dependem da incorporação historicista
do passado.
D Deus é
abscôndito, e seus desígnios são insondáveis, mormente para o reduzido alcance
da razão humana.
E as desgraças são
apenas aparentes, na medida em que a eliminação de uma vida é a condição do florescimento
de outra.
23 Considere a
seguinte relação de momentos da história social e política do Brasil, para, em
seguida, responder ao que se pede:
I Proclamação da
Independência e domínio de uma oligarquia segura de si, baseada na escravidão.
II Desenvolvimento
de uma nova classe comercial, ligada ao capital internacional.
III Proclamação da
República e carência de transformação social efetiva.
IV Abolição da
escravatura e abandono dos ex-escravos à sua própria sorte.
Esses eventos e
aspectos históricos marcam, sobretudo, respectivamente, as histórias contadas
nos seguintes romances de Machado de Assis:
A Quincas Borba,
Dom Casmurro, Memorial de Aires e Esaú e Jacó.
B Dom Casmurro,
Memórias póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba e Esaú e
Jacó.
C Memórias
póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, Esaú e Jacó e Memorial de
Aires.
D Dom Casmurro,
Esaú e Jacó, Memórias póstumas de Brás Cubas e Memorial de Aires.
E Memórias
póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro, Quincas Borba e Esaú e
Jacó.
Texto para as
questões 24 e 25
Leia a
posteridade, ó pátrio Rio,
Em meus versos
teu nome celebrado;
Por que vejas
uma hora despertado
O sono vil do
esquecimento frio:
Não vês nas tuas
margens o sombrio,
Fresco assento
de um álamo copado;
Não vês ninfa
cantar, pastar o gado
Na tarde clara
do calmoso estio.
Turvo banhando
as pálidas areias
Nas porções do riquíssimo
tesouro
O vasto campo da
ambição recreias.
Que de seus
raios o planeta louro
Enriquecendo o
influxo em tuas veias,
Quanto em chamas
fecunda, brota em ouro.
Cláudio
Manuel da Costa, Obras.
24 Para a correta compreensão do poema, é necessário saber que o sujeito de “Leia” (verso 1) é
A “a posteridade”.
B “ó pátrio rio”.
C “teu nome
celebrado”.
D elíptico,
subentendendo a figura do leitor.
E indeterminado,
pois não se sabe a quem se dirige o poeta.
25 Considere as
seguintes informações sobre o texto:
Nesse poema, manifestam-se as fusões entre
I o reconhecimento
da matriz marcadamente europeia do imaginário arcádico e a tentativa de sua transplantação
para o Novo Mundo;
II o propósito
nativista de louvar a própria terra e a percepção do caráter coisificado de sua
condição colonial;
III configurações
formais de ordem cultista e a utilização de elementos composicionais já mais típicos
da poesia neoclássica.
Está correto o
que se afirma em
A I, somente.
B I e II, somente.
C I e III,
somente.
D II e III,
somente.
E I, II e III.
Texto para as
questões 26 e 27
Como
sempre acontece a quem tem muito onde escolher, o pequeno, a quem o padrinho
queria fazer clérigo mandando-o a Coimbra, a quem a madrinha queria fazer
artista metendo-o na Conceição, a quem D. Maria queria fazer rábula
arranjando-o em algum cartório, e a quem enfim cada conhecido ou amigo queria dar
um destino que julgava mais conveniente às inclinações que nele descobria, o
pequeno, dizemos, tendo tantas coisas boas, escolheu a pior possível: nem foi
para Coimbra, nem para a Conceição, nem para cartório algum; não fez nenhuma
destas coisas, nem também outra qualquer: constituiu-se um completo vadio,
vadio-mestre,vadio-tipo.
Manuel Antônio
de Almeida, Memórias de um sargento de milícias.
26 A repetição
constitui um recurso expressivo marcante na construção desse texto. Dos
seguintes elementos linguísticos, o único que NÃO é empregado de forma
reiterada no excerto é:
A substantivos com
a mesma função sintática.
B verbos no
pretérito.
C estruturas
frasais semelhantes.
D pronomes com
função de complemento.
E adjetivos com
conotação subjetiva.
27 Ao constituir-se
“vadio”, Leonardo (filho)
A seguia o exemplo
do pai, assim fazendo jus ao dito popular que rege o livro: “quem sai aos seus não
degenera”.
B arriscava-se a
recair na condição de “escravo de ganho”, conforme previa, para a vadiagem, a Instrução
Régia vigente na época.
C assumia o
destino que lhe era ditado por sua condição de mestiço, de acordo com a regra
do determinismo racial.
D tornava-se
representativo de boa parcela dos homens livres, no Rio de Janeiro escravista
de sua época.
E sofria as
consequências de sua situação de criança abandonada pelos pais, e criada, com indiferença,
em casa de terceiros.
28 Em relação a Macunaíma,
de Mário de Andrade – obra central do Modernismo e da literatura brasileira –
só NÃO é correto afirmar que
A se trata de
livro bastante autoral, ao mesmo tempo que constituído pelo agenciamento de materiais
heteróclitos.
B sua personagem
principal deriva de um mito indígena, colhido pelo autor na obra de um pesquisador
estrangeiro.
C comporta a
narrativa da busca de um objeto mágico, no que se assemelha, entre outras, a
certas narrativas medievais de mesmo teor.
D a crítica à
preguiça do herói é proporcional ao apreço do autor pelo trabalho firme e
produtivo.
E conjuga, em sua
composição, um tom solene, de lenda, o registro satírico e procedimentos paródicos.
Texto para as
questões 29 e 30
Falo somente com
o que falo:
com as mesmas
vinte palavras
girando ao redor
do sol
que as limpa do
que não é faca:
de toda uma
crosta viscosa,
resto de janta
abaianada,
que fica na
lâmina e cega
seu gosto da
cicatriz clara.
***
Falo somente do
que falo:
do seco e de
suas paisagens,
Nordestes,
debaixo de um sol
ali do mais
quente vinagre:
que reduz tudo
ao espinhaço,
cresta o
simplesmente folhagem,
folha prolixa,
folharada,
onde possa
esconder-se a fraude.
***
João
Cabral de Melo Neto
29 O poema (aqui
reproduzido sem o título e apenas parcialmente) elenca aspectos marcantes da
obra de um escritor brasileiro, cujo nome corresponde ao próprio título do
texto. Deduz-se corretamente, da leitura do excerto, que se trata de
A Euclides da
Cunha.
B Graciliano
Ramos.
C José Lins do
Rego.
D Jorge Amado.
E João Guimarães
Rosa.
30 Além de
referir-se, já desde o título, a um outro escritor, o poema de João Cabral de
Melo Neto contém, igualmente, elementos muito representativos da obra e, em
particular, das preferências do próprio autor, dos quais são exemplos bastante
marcados predominantemente as expressões
A “faca” e “lâmina”.
B “crosta viscosa”
e “janta abaianada”.
C “janta abaianada”
e “vinagre”.
D “sol” e “folhagem”.
E
“folha
prolixa” e “fraude”.GABARITO
16
– C 17 – B 18 – C
19 – B 20 – A 21 – D
22 – E 23 – C
24 – A 25 – E 26 – E
27 – D 28 – D 29 – B
30 – Awww.veredasdalingua.blogspot.com.br
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