Ricardo
Reis (heterônimo de Fernando Pessoa)
A
Cada Qual
A
cada qual, como a 'statura, é dada
A
justiça: uns faz altos
O
fado, outros felizes.
Nada
é prêmio: sucede o que acontece.
Nada,
Lídia, devemos
Ao
fado, senão tê-lo.
(Ricardo
Reis)
Anjos
ou Deuses
Anjos
ou deuses, sempre nós tivemos,
A visão perturbada de que acima
De nos e compelindo-nos
Agem outras presenças.
Como acima dos gados que há nos campos
O nosso esforço, que eles não compreendem,
Os coage e obriga
E eles não nos percebem,
Nossa vontade e o nosso pensamento
São as mãos pelas quais outros nos guiam
Para onde eles querem E nós não desejamos.
A visão perturbada de que acima
De nos e compelindo-nos
Agem outras presenças.
Como acima dos gados que há nos campos
O nosso esforço, que eles não compreendem,
Os coage e obriga
E eles não nos percebem,
Nossa vontade e o nosso pensamento
São as mãos pelas quais outros nos guiam
Para onde eles querem E nós não desejamos.
(Ricardo
Reis)
Cada
Coisa
Cada
coisa a seu tempo tem seu tempo.
Não florescem no inverno os arvoredos,
Nem pela primavera Têm branco frio os campos.
À noite, que entra, não pertence, Lídia,
Não florescem no inverno os arvoredos,
Nem pela primavera Têm branco frio os campos.
À noite, que entra, não pertence, Lídia,
O mesmo ardor que o dia nos pedia.
Com mais sossego amemos A nossa incerta vida.
À lareira, cansados não da obra
Mas porque a hora é a hora dos cansaços,
Não
puxemos a voz Acima de um segredo,
E casuais, interrompidas, sejam
Nossas palavras de reminiscência
(Não para mais nos serve A negra ida do Sol) —
E casuais, interrompidas, sejam
Nossas palavras de reminiscência
(Não para mais nos serve A negra ida do Sol) —
Pouco
a pouco o passado recordemos
E as histórias contadas no passado
Agora duas vezes Histórias, que nos falem
Das flores que na nossa infância ida
E as histórias contadas no passado
Agora duas vezes Histórias, que nos falem
Das flores que na nossa infância ida
Com
outra consciência nós colhíamos
E sob uma outra espécie
De olhar lançado ao mundo.
E assim, Lídia, à lareira, como estando,
E sob uma outra espécie
De olhar lançado ao mundo.
E assim, Lídia, à lareira, como estando,
Deuses
lares, ali na eternidade,
Como quem compõe roupas
O outrora compúnhamos
Como quem compõe roupas
O outrora compúnhamos
Nesse
desassossego que o descanso
Nos traz às vidas quando só pensamos
Naquilo que já fomos, E há só noite lá fora.
Nos traz às vidas quando só pensamos
Naquilo que já fomos, E há só noite lá fora.
(Ricardo
Reis)
Lídia
Lídia,
ignoramos. Somos estrangeiros
Onde que quer que estejamos.
Lídia, ignoramos. Somos estrangeiros
Onde quer que moremos, Tudo é alheio
Nem fala língua nossa.
Façamos de nós mesmos o retiro
Onde esconder-nos, tímidos do insulto
Do tumulto do mundo.
Que quer o amor mais que não ser dos outros?
Como um segredo dito nos mistérios,
Seja sacro por nosso.
Onde que quer que estejamos.
Lídia, ignoramos. Somos estrangeiros
Onde quer que moremos, Tudo é alheio
Nem fala língua nossa.
Façamos de nós mesmos o retiro
Onde esconder-nos, tímidos do insulto
Do tumulto do mundo.
Que quer o amor mais que não ser dos outros?
Como um segredo dito nos mistérios,
Seja sacro por nosso.
Ninguém
a Outro Ama
Ninguém
a outro ama, senão que ama
O que de si há nele, ou é suposto.
Nada te pese que não te amem. Sentem-te
Quem és, e és estrangeiro.
Cura de ser quem és, amam-te ou nunca.
Firme contigo, sofrerás avaro
De penas.
O que de si há nele, ou é suposto.
Nada te pese que não te amem. Sentem-te
Quem és, e és estrangeiro.
Cura de ser quem és, amam-te ou nunca.
Firme contigo, sofrerás avaro
De penas.
Para
ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim, em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim, em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.
www.veredasdalingua.blogspot.com.br
Leia também:
“Muito cedo para decidir” – Rubem Alves
Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa) – Poemas
“Menor perverso” – Olavo Bilac
Alberto Caeiro (heterônimo de Fernando Pessoa) – Poemas
"A mesa do café" - Antonio Maria
www.veredasdalingua.blogspot.com.br
Conheça as apostilas do blog Veredas da Língua. Clique em uma das imagens abaixo e saiba como adquiri-las.
PREPARE-SE PARA OS PRINCIPAIS VESTIBULARES DO PAÍS. ADQUIRA AGORA MESMO O PROGRAMA 500 TEMAS DE REDAÇÃO!
|
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário