Tema de Redação - UFG - 2009 - 1º Semestre
Instruções
A prova de redação
apresenta três propostas de construção textual. Para produzir o seu texto, você
deve escolher um dos gêneros indicados abaixo:
A – Editorial
B – Carta aberta
C – Conto de ficção
científica
O tema é único para os
três gêneros e deve ser desenvolvido segundo a proposta escolhida.
A fuga do tema anula a
redação. A leitura da coletânea é obrigatória. Ao utilizá-la, você não deve copiar
trechos ou frases sem que essa transcrição esteja a serviço do seu texto.
Independentemente do gênero escolhido, o seu texto NÃO deve ser assinado.
Tema: As formas de vigilância e o controle do corpo
Coletânea
1. Quando o belo ganha a máscara da plástica
Pouco tempo atrás, a
escritora americana Stacy Schiff desfrutava uma linda tarde ao lado de um amigo
francês que visitava Nova York pela primeira vez. No fim do dia, porém, ele
mostrou-se intrigado. Queria saber o que havia acontecido com as pessoas mais
velhas na cidade. Seus rostos eram esticados demais, lustrosos demais. Em
Paris, disse ele, os velhos pareciam velhos – e não havia nada de errado nisso.
A idade do amigo francês de Stacy: 8 anos. Sim, até mesmo uma criança mais
observadora pode perceber que algo estranho vem ocorrendo. E não só em Nova
York, é claro. Basta ir a shoppings e restaurantes de qualquer grande cidade
brasileira, como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, para deparar com
pessoas de pele alaranjada (sessões de bronzeamento artificial podem dar esse
efeito), maçãs do rosto salientes, testa estirada, lábios inflados e dentes
branquíssimos, de uma alvura inexistente na natureza. É um contingente que, pelo jeito, tende a aumentar, graças aos avanços
técnicos e ao barateamento dos procedimentos estéticos. Ficou mais fácil,
enfim, fazer uma intervenção atrás da outra – e isso dá vazão à obsessão
doentia pela manutenção da beleza e juventude. “O resultado dessa obsessão são
bizarrices produzidas por falta de bom senso não só dos pacientes, como dos próprios
médicos”, diz o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica –
Regional São Paulo, João de Moraes Prado Neto.
Não há nada de errado
em querer consertar uma falta de acabamento congênita, melhorar a silhueta
castigada pelo excesso de comida e pelo sedentarismo ou atenuar as marcas do
tempo. É uma forma perfeitamente compreensível e legítima de conservar (ou
restaurar) a autoestima. Um nariz menos adunco, uma ruguinha cancelada, uns
quilinhos aspirados – e eis que a beleza deixa de ser apenas a promessa de
felicidade, para citar a frase do escritor francês Stendhal. A questão é quando
se exagera na dose. Tem-se aí uma patologia. [...] O argumento por trás do tratamento
preventivo é mexer um pouco já para evitar grandes intervenções lá na frente. O
resultado? Mulheres de 30 anos que se parecem com mulheres de 40 tentando
aparentar 30. Esquisito? Sim, esquisitíssimo, mas é o que vem ocorrendo. “Quanto
mais intervenções são feitas, mais rígida fica a pele. A paciente adquire as
feições de uma estátua, deixa de ter uma expressão natural”, disse à Veja o
médico francês Yves-Gérard Illouz, o inventor da lipoaspiração. Ficam todos –
porque há inúmeros homens que se enquadram nesse caso – assustadoramente iguais
uns aos outros. Como se tivessem saído (com defeito de fabricação) da mesma
linha de produção. É a máscara da plástica.
BUCHALLA, A. P. Veja. São Paulo, 2 jul. 2008. Especial, p.
110-114. (Adaptado).
2.
Se a magreza
apresenta-se como a forma mais representativa de sucesso social, a gordura é encarada
como desleixo e falta de controle pessoal sendo considerada, conforme pesquisas
de Novaes (2006), como o verdadeiro sinônimo de feiúra. [...] A vigilância do
corpo desdobra-se na própria autovigilância. Desse modo, não se trata de uma
vigilância exercida somente a partir do exterior, mas que é também exercida
pelo próprio indivíduo que precocemente aprende a se controlar. [...] Para
Foucault o que caracteriza a modernidade é o advento de uma era normativa. Podemos
então constatar que todos os indivíduos estão submetidos às regras e
recomendações da magreza. Mas, ao constatar que todos os sujeitos se encontram
de acordo com essa referência, como podemos compreender que somente alguns são
levados a serem reconhecidos como anoréxicos e bulímicos? O anormal neste caso é entendido não como uma
ausência de normas, mas sim como uma inflexibilidade e restrição da própria
norma. Então, poderíamos dizer que lutar pela beleza do corpo, seja com dietas,
ginásticas, drenagens linfáticas para a conquista de um corpo magro, que, por
sua vez, condiz com a conquista do sucesso social, por si só não configuram um
aprisionamento. Sem dúvida, trata-se de estratégias encontradas por alguns para
incluir, adaptar e adequar o corpo na suposta normatividade sociocultural.
IDA, S. W. Anorexia e bulimia: uma perspectiva social. Disponível
em: <www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle>. Acesso em: 03 nov. 2008.
3. As máquinas falantes
Qual a relação entre o
corpo e o Eu: o corpo é “propriedade” do Eu – costumamos dizer: meu corpo – ou
se confunde com ele? [...] afirmo que nosso corpo nos pertence muito menos do
que costumamos imaginar. Ele pertence ao universo simbólico que habitamos,
pertence ao Outro; o corpo é formatado pela linguagem e depende do lugar social
que lhe é atribuído para se constituir. [...] Se os corpos não existem fora da
linguagem, as práticas da linguagem determinam a aparência, a expressividade e
até mesmo a saúde dos corpos. [...] Observamos que os corpos se modificam por
efeito do que se diz sobre eles. Nossos corpos não são independentes da rede discursiva
em que estamos inseridos, como não são independentes da rede de trocas – trocas
de olhares, de toques, de palavras e de substâncias – que estabelecemos. [...]
O sujeito moderno, cercado e amparado por técnicas e saberes científicos que
visam lhe proporcionar saúde, bem-estar corporal e um adiamento indefinido da
morte, está ao mesmo tempo cada vez mais distante de saber escutar as demandas
e manifestações de seu corpo pulsional. Acostumado a adiar o prazer e a
satisfação de necessidades, já não é capaz de desfrutar da sexualidade, do
repouso, do ócio e das pequenas sensações provocadas pelo contato com a
natureza.
KEHL, M. R. As máquinas falantes. In: NOVAES, A. O homem-máquina: a
ciência manipula o corpo. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. p. 243-256.
4. O corpo dos candidatos
Arnold Schwarzenegger,
o fisioculturista e ator que é hoje governador da Califórnia, participou de um
comício de John McCain, em Ohio.
Schwarzenegger,
republicano, apoia McCain. Sem se afastar muito do seu estilo habitual de governo,
que é feito de respeito e diálogo com a oposição, ele tentou ser engraçado e
disse: “Quero convidar o senador Obama para a academia. Temos que fazer alguma
coisa para suas pernas magras. Ele tem que fazer agachamentos...”. Tudo isso
para chegar à conclusão que difícil mesmo vai ser desenvolver os músculos do
pensamento do senador. Ao relatar essa história, o “New York Post” (jornal
popular, a favor de McCain) publicou, no sábado, lado a lado, uma foto de Obama
em calção de banho e uma de Schwarzenegger quando ele ganhou o título de Mr.
Olympia, em 1975. A piada é capenga, visto que 1) Schwarzenegger, hoje, está
longe da forma física de seus 20 anos (circulam, na net, fotos dele em 1996 que
não são lisonjeiras); 2) Obama não puxa muito ferro, mas, num jogo de basquete,
ele provavelmente daria uma lavada até no Schwarzenegger de 1975; 3) mais
importante, o próprio Schwarzenegger, quando entrou na política, sofreu
bastante por ser considerado uma massa de carne (eventualmente bem definida)
com pouco cérebro... [...] McCain tem 72 anos, não puxa ferro nem joga basquete
e, como todos sabemos, carrega as sequelas dos anos passados nas prisões do Vietnã
sem que seus ferimentos fossem curados de maneira adequada. Mesmo de terno, a postura
de McCain é estranha, caminha como um pato de asas cortadas. Mas isso não tem
relevância, sequer satírica, pois o corpo de McCain não é um corpo real, é um
corpo simbólico: ele só tem valor por carregar os estigmas de seu serviço à
nação. A bem dizer, Obama poderia lembrar que, na idade em que Schwarzenegger
puxava ferro cinco horas por dia, ele estava sentando na biblioteca da
faculdade de direito ou, então, batia pernas pelas ruas de Chicago organizando comunidades
de cidadãos; isso também é servir à nação.
Ele poderia acrescentar
que a escolha de seu esporte preferido é um jeito de manter o contato com os
jovens dos guetos, que, pelos EUA afora, reúnem-se nas inúmeras quadras
públicas de basquete.
Mas não faria muita
diferença. Há uma outra razão pela qual o corpo de McCain é respeitado como
corpo simbólico (um registro histórico de seus feitos e méritos) e o de Obama
pode ser apresentado e apreciado como corpo real (eventualmente erótico).
Obama não é um descendente de escravos africanos levados para as
colônias que se tornariam os EUA; Obama é filho de um africano livre, que
chegou aos EUA como estudante. Mas pouco importa: ser negro nos EUA significa
carregar o peso da escravidão como uma herança inevitável.
E a escravidão é o
momento em que milhões de indivíduos foram privados de qualquer estatuto simbólico
(perderam nomes, tradições, história, línguas, direitos) e reduzidos simples e
totalmente a seus corpos. Na escravidão, importava que os homens fossem fortes,
bons reprodutores, com todos os dentes. Só isso.
É coisa do passado? Nem
tanto. A ideia do negro sexual e atleticamente superdotado vinga até hoje e tem
esta origem: o escravo só pode mostrar seu valor pelo corpo, que é tudo o que
lhe resta.
CALLIGARIS, C. O corpo dos candidatos. Disponível em:
<www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft0311200809.htm>. Acesso em: 04
nov. 2008.
5. Vaidade
Nosso corpo não pode ser modelado e remodelado apenas para satisfazer nossa vaidade. Isso pode nos levar à loucura, ao fanatismo. As pessoas são diferentes entre si e aceitar essas diferenças é um grande passo para que não façamos do corpo um estereótipo de beleza.
SILVA, F. M. da. IstoÉ. São Paulo, 23 jan. 2008, Cartas, p. 14.
6. Velhice? Fica para mais tarde
7. Desvendando os segredos dos genes da longevidade
[...] Embora tenham
procurado retardar o envelhecimento por dezenas de milhares de anos sem sucesso,
algumas pessoas acharão difícil aceitar que o processo possa ser controlado
pela manipulação de um grupo de genes. No entanto, sabemos que é possível
evitar o envelhecimento em mamíferos mediante uma simples mudança dietética: a
restrição calórica funciona. E mostramos que os genes da sirtuína controlam
muitos dos mesmos caminhos moleculares de restrição alimentar. Sem realmente
conhecermos as causas precisas, e potencialmente múltiplas, do envelhecimento, já
demonstramos, em uma variedade de formas de vida, que ele pode ser retardado pela
manipulação de alguns reguladores e deixando que eles cuidem da saúde dos
organismos. [...]
Nossos laboratórios
estão realizando experimentos controlados com camundongos que em breve deverão
informar se o gene SIRT1 controla a saúde e o tempo de vida nos mamíferos.
Levaremos décadas até saber como os genes da sirtuína afetam a longevidade
humana. Quem espera tomar uma pílula e viver 130 anos talvez tenha nascido um
século cedo demais. Mesmo assim, quem está vivo hoje poderá ver o emprego de
remédios moduladores da atividade das enzimas sirtuínas no tratamento de
Alzheimer, câncer, diabetes e doenças cardíacas. Testes clínicos de várias
dessas drogas para o tratamento de diabetes, herpes e doenças
neurodegenerativas estão em andamento.
A longo prazo,
esperamos que o desvendamento dos segredos dos genes da longevidade permitirá não
só tratar as doenças da velhice, mas impedir que apareçam. Pode ser difícil
imaginar a vida quando as pessoas puderem se sentir jovens e viver
relativamente livres das doenças atuais até quase cem anos. Alguns poderão
indagar se vale a pena manipular o tempo de vida humano. Mas no início do
século XX, a expectativa de vida era de uns 40 anos. Ela quase dobrou, para cerca
de 75 anos, graças ao advento dos antibióticos e da saúde pública. A sociedade
adaptou-se a essa mudança drástica da longevidade média, e poucos gostariam de
retornar à vida sem esses avanços. Sem dúvida, as gerações futuras, acostumadas
a viver além dos 100 anos, verão nossos métodos atuais de melhorar a saúde como relíquias
primitivas de uma era passada.
SINCLAIR, D. A.; GUARENTE, L. Scientific American Brasil. São Paulo,
n. 47, abr. 2006, p. 47.
8. Garotos se penduram em barra,
onde ficam por cinco minutos como parte do treino na Universidade de Esportes
de Xangai.
Propostas de redação
A – Editorial
O editorial é um gênero do discurso argumentativo que tem a
finalidade de manifestar a opinião de um jornal, de uma revista, ou de qualquer
outro órgão de imprensa, a respeito de acontecimentos importantes no cenário
nacional ou internacional. Não é assinado porque não deve ser associado a um
ponto de vista individual. Deve ser enfático, equilibrado e informativo. Além
de apresentar opiniões assumidas pelo veículo de imprensa, costuma também
resumir opiniões contrárias,
para refutá-las.
Imagine que você seja o
editor-chefe de um jornal de grande circulação nacional e, diante das matérias
divulgadas por uma revista, é motivado a escrever o editorial do próximo número
do jornal. A motivação para a produção do editorial centra-se, principalmente,
na fala do presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (excerto 1)
e na pesquisa a respeito da velhice (excerto 6).
O editorial deve
defender a posição do jornal quanto às práticas de controle do corpo
desencadeadas pelas formas de vigilância constantes que determinam os padrões
de saúde, beleza, longevidade, como garantias para o bem-estar físico e mental.
Mobilize argumentos que sustentem o ponto de vista do jornal, refutando
argumentos contrários ao seu posicionamento.
B – Carta aberta
De natureza
persuasivo-argumentativa, o gênero carta aberta manifesta publicamente,
por meio de órgãos de imprensa, a opinião de uma pessoa ou de um grupo de
pessoas a respeito de um problema. Tem a finalidade de persuadir um
interlocutor específico a tomar consciência do problema e se mobilizar para
solucioná-lo. O texto denuncia os fatos, analisando-os, sugere e reivindica
ações resolutivas, mobilizando a opinião pública para a adesão ao ponto de
vista do locutor. Para isso, o locutor deve construir a imagem do interlocutor e as estratégias
adequadas para convencê-lo.
Observe a imagem da
matéria sobre o treinamento dos atletas chineses (excerto 8) e considere a
seguinte situação: um dos garotos da imagem, depois de adulto e já tendo
participado de três olimpíadas, resolve escrever uma carta aberta ao Comitê
Olímpico Internacional (COI), denunciando o excesso de disciplina imposto aos
atletas pelos treinadores e reivindicando solução para o problema.
Com base nessa
situação, você vai escrever uma carta aberta em que o atleta chinês será o locutor,
o COI será o interlocutor específico e a sociedade, o público leitor da
denúncia. Além de denunciar os problemas desencadeados pelas práticas
disciplinares e de controle do corpo, a carta deve analisar os fatos ocorridos
nas práticas de treinamento e na vida cotidiana dos atletas. O locutor deve
utilizar estratégias argumentativas e persuasivas para convencer o COI a adotar
ações que solucionem o problema e para mobilizar a opinião pública a acatar o
seu ponto de vista em relação às formas de vigilância e de controle do corpo
nas competições esportivas.
Para escrever sua
carta, considere as características interlocutivas próprias desse gênero.
C – Conto de ficção científica
O gênero conto de ficção científica mantém certas características
do conto. Trata-se de uma narrativa curta que apresenta narrador, personagens,
enredo, tempo e espaço. O conto constrói uma história focada em um conflito
único e apresenta o desenvolvimento e a resolução desse conflito. A ficção
científica lida principalmente com o impacto da ciência, tanto verdadeira como
imaginada, sobre a sociedade ou sobre os indivíduos. Por isso, inclui o fator
ciência como componente essencial.
Como gênero literário,
o conto de ficção científica apresenta histórias fictícias e fantásticas, mas cuja
fantasia propõe-se a ser plausível, quer em uma época e local distantes ou
próximos, quer mesmo no aqui e agora. Há uma tentativa de convencer o público
leitor de que as idéias que apresenta podem não ser possíveis no contexto
atual, mas poderiam ser no futuro, valendo-se de uma explicação científica ou
pelo menos racional.
Escreva um conto de
ficção científica no qual você seja o narrador-personagem. Imagine que, numa
tentativa de prolongar sua vida e de se manter eternamente jovem no futuro,
você se submeta a uma técnica de congelamento até o ano de 2100. Após esse
período, seu corpo será descongelado e integrado à sociedade. Construa um
conflito que envolva idéias e valores sobre o seu corpo e o das outras
personagens com as quais você se relaciona no futuro. Apresente justificativas para
a ação de manipular o tempo na tentativa de atingir a imortalidade. Por meio
das ações e dos diálogos entre as personagens, discuta as diferentes formas de
vigilância e de controle do corpo nos dois tempos vividos por você (antes do
congelamento e após o descongelamento). A trama deve basear-se em explicações
científicas ou racionais que assegurem plausibilidade à fantasia construída no
conto.
www.veredasdalingua.blogspot.com.br
Tema de Redação - UFG – 2001
Conheça as apostilas de gramática do blog Veredas da Língua. Clique em uma das imagens abaixo e saiba como adquiri-las.
Leia também:
Tema de Redação - UFG – 2001
Conheça as apostilas de gramática do blog Veredas da Língua. Clique em uma das imagens abaixo e saiba como adquiri-las.
ATENÇÃO: Além das apostilas, o aluno recebe também, GRATUITAMENTE, o programa em Powerpoint: 500 TEMAS DE REDAÇÃO
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário