Prova de língua portuguesa - UNIFESP 2009
Quando saltaram em terra começou a Maria
a sentir certos enojos: foram os dois morar juntos: e daí a um mês
manifestaram-se claramente os efeitos da pisadela e do beliscão; sete meses
depois teve a Maria um filho (...) E este nascimento é certamente de tudo o que
temos dito o que mais nos interessa, porque o menino de quem falamos é o herói
desta história.
(Manuel
Antônio de Almeida, Memórias de um Sargento de Milícias.)
01. Com base nas informações do texto 1, é correto afirmar que Leonardo
(A)
acreditava que a vida no Brasil poderia ser tão interessante quanto a de
Portugal.
(B)
saiu de Portugal em companhia de sua namorada, Maria da Hortaliça.
(C)
buscava um ofício lucrativo e agradável no Brasil, como o que tinha em
Portugal.
(D)
veio ao Brasil em razão de seu enfado com a vida que levava em Portugal.
(E)
via o Brasil como um lugar de raras chances de êxito pessoal.
02.
Com base nas informações verbais e visuais, é correto afirmar que o beliscão de
Maria representa
(A)
a cumplicidade na situação de aproximação desencadeada pela pisadela.
(B)
o desdém da quitandeira frente à intenção de aproximação de Leonardo.
(C)
a condenação à atitude de Leonardo, por supor uma intimidade indesejada.
(D)
o repúdio da quitandeira à situação, vendo Leonardo como homem desprezível.
(E)
a aceitação de uma amizade, mas não de uma aproximação íntima entre ambos.
03.
Observando as formas verbais Fora, Aborrecera-se e viera, é correto afirmar que
representam ações
(A)
simultâneas, por essa razão expressas todas no mesmo tempo e modo verbal.
(B)
inconclusas em um tempo anterior ao plano das ações narradas no pretérito
imperfeito.
(C)
simultâneas e freqüentes no tempo passado, daí a opção pelo pretérito
imperfeito.
(D)
situadas em diferentes momentos, por isso expressas em diferentes tempos
verbais.
(E)
situadas num tempo anterior ao plano das ações narradas no pretérito perfeito
04.
Analise as afirmações sobre Memórias de um Sargento de Milícias.
I. Esse romance incorpora, dentre outros
valores do Romantismo, a idealização da mulher e do amor.
II.
O protagonista da história, Leonardinho, filho de Leonardo e Maria da
Hortaliça, afasta-se do perfil de herói romântico, e sua história desenvolve-se
numa narrativa em que se denunciam as mazelas e pobrezas sociais.
III. A obra retrata a alta sociedade carioca
do século XIX, criticando o jogo de interesses sociais.
Está
correto apenas o que se afirma em
(A)
I. (B) II. (C) III.
(D) I e III. (E) II e III.
INSTRUÇÃO:
Os versos de Gregório de Matos são base para responder às questões de números
05 a 07.
Neste
mundo é mais rico, o que mais rapa:
Quem
mais limpo se faz, tem mais carepa:
Com
sua língua ao nobre o vil decepa:
O
Velhaco maior sempre tem capa.
05.
Nos versos, o eu lírico deixa evidente que
(A)
uma pessoa se torna desprezível pela ação do nobre.
(B)
o honesto é quem mais aparenta ser desonesto.
(C)
geralmente a riqueza decorre de ações ilícitas.
(D)
as injúrias, em geral, eliminam as injustiças.
(E)
o vil e o rico são vítimas de severas injustiças.
06.
Levando em consideração que, em sua produção literária, Gregório de Matos
dedicou-se também à sátira irreverente, pode-se afirmar que os versos se marcam
(A)
pelo sentimentalismo, fruto da sintonia do eu lírico com a sociedade.
(B)
pela indiferença, decorrente da omissão do eu lírico com a sociedade.
(C)
pelo negativismo, pois o eu lírico condena a sociedade pelo viés da religião
(D)
pela indignação, advinda de um ideal moralizante expresso pelo eu lírico.
(E)
pela ironia, já que o eu lírico supõe que todas as pessoas são desonestas.
07.
Assinale a alternativa correta.
(A)
Na expressão Neste mundo, o pronome refere-se a um mundo utópico, irreal.
(B)
Em Quem mais limpo se faz, o pronome se indica reciprocidade.
(C)
Língua e capa são termos empregados em sentido denotativo.
(D)
A expressão Com sua língua, que remete a nobre, é indicativa de causa.
(E)
Em ao nobre, emprega-se a preposição para se evitar a ambiguidade.
(A)
o autor obtém um efeito de humor baseado no emprego de palavras derivadas por
prefixação, a partir do substantivo Batman.
(B)
os termos batmana e batmãe correspondem ao sujeito composto da oração, na
sintaxe do período da primeira fala.
(C)
o termo batbarraco está empregado em sentido conotativo, já que barraco, nesse
contexto, não remete à ideia de habitação, e sim à de briga e confusão.
(D)
o pronome ele assume valor indefinido na oração da primeira fala.
(E)
a frase de Batman manteria o sentido se fosse assim redigida: Foi um só
batboca!
INSTRUÇÃO:
As questões de números 09 a 13 baseiam-se no texto a seguir, extraído de
Formação da Literatura Brasileira, de Antonio Candido.
No Brasil, o homem de estudo, de ambição
e de sala, que provavelmente era, encontrou condições inteiramente novas. Ficou
talvez mais disponível, e o amor por Dorotéia de Seixas o iniciou em ordem nova
de sentimentos: o clássico florescimento da primavera no outono.
Foi um acaso feliz para a nossa
literatura esta conjunção de um poeta de meia idade com a menina de dezessete
anos. O quarentão é o amoroso refinado, capaz de sentir poesia onde o adolescente
só vê o embaraçoso cotidiano; e a proximidade da velhice intensifica, em
relação à moça em flor, um encantamento que mais se apura pela fuga do tempo e
a previsão da morte:
Ah! enquanto os destinos impiedosos
não voltam contra nós a face irada,
façamos, sim, façamos, doce amada,
os nossos breves dias mais ditosos.
09.
Em seu texto, Antonio Candido refere-se ao poeta .................., que tornou
......... como tema de sua lírica. Os espaços da frase devem ser preenchidos
com
(A)
renascentista Luís Vaz de Camões ... Inês de Castro
(B)
árcade Tomás Antônio Gonzaga ... Marília
(C)
romântico Gonçalves Dias ... a natureza
(D)
romântico Álvares de Azevedo ... a morte
(E)
árcade Bocage ... Marília
10.
Deus me deu um amor no tempo de madureza,
quando
os frutos ou não são colhidos ou sabem a verme
Deus
– ou foi talvez o diabo – deu-me este amor maduro,
e
a um e outro agradeço, pois que tenho um amor.
Estes
versos, de Carlos Drummond de Andrade, podem ser tematicamente relacionados ao
texto de Antonio Candido, na medida em que
(A)
exemplificam a ideia contida em clássico florescimento da primavera no outono.
(B)
justificam a idéia de que o adolescente só vê o embaraçoso cotidiano.
(C)
negam a ideia de que o homem de quarenta anos é o amoroso.
(D)
confirmam a ideia de que o amor se desencanta com a previsão da morte.
(E)
se opõem à ideia de que a proximidade da velhice intensifica um encantamento.
11.
Nos versos apresentados por Antonio Candido, fica evidente que o eu lírico
(A)
reconhece a amada como única forma de não sofrer pela morte.
(B)
se mostra frustrado e angustiado pela possibilidade de morrer.
(C)
considera o presente desagradável, tanto quanto a morte iminente.
(D)
se entrega ao amor da amada para burlar o tempo e atrasar a morte.
(E)
convida a amada a aproveitar o presente, já que a morte é inevitável.
12.
Em – Ficou talvez mais disponível, e o amor por Doroteia de Seixas o iniciou em
ordem nova de sentimentos: o clássico florescimento da primavera no outono. – a
vírgula separa orações coordenadas com sujeitos gramaticais .........; os dois pontos
introduzem uma .................... .
Os
espaços devem ser preenchidos, respectivamente, com
(A)
indeterminados ... síntese das informações precedentes
(B)
idênticos ... ratificação das informações precedentes
(C)
inexistentes ... retificação de informação mal definida anteriormente
(D)
distintos ... explicação de informação anterior
(E)
ocultos ... citação
13.
Se a frase – O quarentão é o amoroso refinado, capaz de sentir poesia onde o
adolescente só vê o embaraçoso cotidiano ... – for para o plural e o termo
sublinhado substituído por um sinônimo, obtém-se: Os quarentões são os amorosos
refinados,
(A)
capazes de sentirem poesia onde os adolescentes só vem o confuso cotidiano ...
(B)
capaz de sentirem poesia onde os adolescentes só veem o atribulado cotidiano
...
(C)
capazes de sentirem poesia onde os adolescentes só vêm o enganoso cotidiano ...
(D)
capaz de sentir poesia onde os adolescentes só vêm o encrencado cotidiano ...
(E)
capazes de sentir poesia onde os adolescentes só veem o complicado cotidiano
...
14.
Leia a charge, publicada por ocasião da morte da comediante Dercy Gonçalves.
II.
segue a norma padrão de acentuação das palavras monossilábicas;
III.
sugere a demora da chegada da morte, ideia reforçada pelos símbolos empregados na
frase
Está
correto o que se afirma em
(A)
I, II e III. (B)
II e III, apenas. (C)
I e III, apenas. (D)
III, apenas. (E)
I, apenas.
INSTRUÇÃO:
Leia os dois textos seguintes e responda às questões de números 15 a 20.
Texto
I - Dercy Gonçalves, a trágica
Ao Brasil a palavra “infantil” talvez
não caiba, mas a Dercy Gonçalves cabe. Ela era infantilizada e infantilizadora.
O palavrão era sua arma. Que graça pode haver num palavrão? A mesma de um tombo
do palhaço: em princípio, exceto em ocasiões muito inesperadas, nenhuma. Mas as
crianças acham engraçado. Igualmente, o palavrão, exceto em ocasiões precisas,
não tem graça. Entre Dercy e sua plateia, no entanto, o grande intermediário, a
solda, o agente infalível do riso, era o palavrão. “O palavrão... quando virá o
palavrão?”, perguntava-se a plateia, ansiosa, quando ele tardava. Dercy
Gonçalves sem falar p.q.p. ou filha da p. seria o mesmo que Carmen Miranda sem
o turbante e os balangandãs. Dercy não fraudava a expectativa. Se o palhaço não
pode deixar de tropeçar, ela não podia deixar de soltar o palavrão. A plateia,
tão infantilizada quanto a artista, esbaldava-se.
No Carnaval de 1991, Dercy, aos 83 anos,
desfilou pela escola de samba Viradouro com os seios de fora. Faziam-lhe uma
homenagem, mas não bastava sua presença. Era preciso fazer o tipo. Como não lhe
deram o microfone para dizer palavrões, ofereceu o corpo. Na opinião
predominante, foi um gesto bonito e libertário, mas também era possível
enxergar ali um momento semelhante ao encenado por Garrincha na mesma avenida,
anos antes – um Garrincha inchado e zumbi, exibido como bicho de circo.
Identificada à comédia, Dercy também podia ser entendida como personagem de tragédia.
(Veja,
30.07.2008. Adaptado.)
Texto
II - Só mesmo dizendo um palavrão
Dercy não viveu uma personagem. Ela era
Dercy até dormindo. E continua sendo após a morte, no samba-enredo entoado em
seu enterro e no polêmico túmulo em pé, em forma de pirâmide. No palco e na
vida, ela não gostava de drama. Por isso trocou de nome. Das dores de Dolores,
seu nome de batismo, ela não tinha nada. Aos infortúnios, respondia com
irreverência.
(Época,
28.07.2008. Adaptado.)
15.
O autor do primeiro texto deixa claro que
a)
os palavrões de Dercy eram considerados engraçados pelas crianças.
b)
havia nos palavrões proferidos por Dercy Gonçalves a graça que os justificava.
c)
o tombo do palhaço e o palavrão são destituídos de graça, por serem
imprevisíveis.
d)
o palavrão era um expediente de que se valia Dercy Gonçalves para compor seu
tipo.
e)
a graça dos tombos e dos palavrões independe da expectativa do público.
16.
Dentre as substituições propostas para a expressão sublinhada nos trechos, a
única que está de acordo com a linguagem formal é:
(A)
Que graça pode haver num palavrão? (ter)
(B)
Faziam-lhe uma homenagem ... (pra ela)
(C)
.... exceto em ocasiões muito inesperadas, nenhuma. (salvo)
(D)
Entre Dercy e sua platéia, no entanto, o grande intermediário ... (a mesma)
(E)
... seria o mesmo que Carmen Miranda sem o turbante e os balangandãs. (que nem)
17.
Tendo como elementos o desfile de Carnaval de 1991 e a referência a Garrincha,
a aparição de Dercy Gonçalves na avenida é vista pelo autor do primeiro texto
como
a)
uma exposição um tanto melancólica e decadente da comediante.
b)
uma homenagem um tanto exagerada à comediante já decadente.
c)
um gesto bonito e libertário, não havendo nela nada trágico.
d)
uma situação trágica na opinião da maioria que assistiu ao espetáculo.
e)
uma exposição cômica da comediante, como sempre acontecia.
18.
O trecho – Se o palhaço não pode deixar de tropeçar, ela não podia deixar de
soltar o palavrão. – pode ser parafraseado e substituído por
a)
À medida que o palhaço não pode deixar de tropeçar, ela não podia deixar de
soltar o palavrão.
b)
O palhaço não pode deixar de tropeçar, no entanto ela não podia deixar de
soltar o palavrão.
c)
Embora o palhaço não pode deixar de tropeçar, ela não podia deixar de soltar o
palavrão.
d)
O palhaço não pode deixar de tropeçar, tanto que ela não podia deixar de soltar
o palavrão.
e)
Assim como o palhaço não pode deixar de tropeçar, ela não podia deixar de
soltar o palavrão.
19. Comparando o texto da revista Época ao da
revista Veja, é possível afirmar que eles
a)
apresentam a comediante como uma figura caricata e bastante frágil.
b)
não apresentam da mesma forma a comediante e a autenticidade de seu humor.
c)
assinalam a precariedade do humor de Dercy, daí o aspecto trágico de sua vida.
d)
convergem no que diz respeito ao perfil trágico da comediante.
e)
apontam para o fato de Dercy ter sido uma encenação, por isso pouco
convincente.
20.
A reescrita da informação implica alteração de sentido em:
a)
Só mesmo dizendo um palavrão (Só dizendo um mesmo palavrão)
b)
Ela era Dercy até dormindo. (Até dormindo ela era Dercy.)
c)
... e no polêmico túmulo em pé, em forma de pirâmide. (... e no polêmico
túmulo, em forma de pirâmide, em pé.)
d)
No palco e na vida, ela não gostava de drama. (Ela não gostava de drama, no
palco e na vida.)
e)
Das dores de Dolores, seu nome de batismo, ela não tinha nada. (Das dores de
seu nome de batismo, Dolores, ela não tinha nada.)
INSTRUÇÃO:
As questões de números 21 a 24 baseiam-se no texto a seguir.
A
ciência do palavrão
Por que diabos m... é palavrão? Aliás,
por que a palavra diabos, indizível décadas atrás, deixou de ser um? Outra:
você já deve ter tropeçado numa pedra e, para revidar, xingou-a de algo como
filha da …, mesmo sabendo que a dita nem mãe tem.
Pois é: há mais mistérios no universo
dos palavrões do que o senso comum imagina. Mas a ciência ajuda a desvendá-los.
Pesquisas recentes mostram que as palavras sujas nascem em um mundo à parte
dentro do cérebro. Enquanto a linguagem comum e o pensamento consciente ficam a
cargo da parte mais sofisticada da massa cinzenta, o neocórtex, os palavrões
moram nos porões da cabeça. Mais exatamente no sistema límbico. Nossa parte animal
fica lá.
E sai de vez em quando, na forma de
palavrões. A medicina ajuda a entender isso. Veja o caso da síndrome de
Tourette. Essa doença acomete pessoas que sofreram danos no gânglio basal, a
parte do cérebro cuja função é manter o sistema límbico comportado. E os
palavrões saem como se fossem tiques nervosos na forma de palavras.
Mas você não precisa ter lesão nenhuma
para se descontrolar de vez em quando, claro. Justamente por não pensar, quando
essa parte animal do cérebro fala, ela consegue traduzir certas emoções com uma
intensidade inigualável.
Os palavrões, por esse ponto de vista,
são poesia no sentido mais profundo da palavra. Duvida? Então pense em uma
palavra forte. Paixão, por exemplo. Ela tem substância, sim, mas está longe de
transmitir toda a carga emocional da paixão propriamente dita. Mas com um grande
e gordo p.q.p. a história é outra. Ele vai direto ao ponto, transmite a emoção
do sistema límbico de quem fala diretamente para o de quem ouve. Por isso
mesmo, alguns pesquisadores consideram o palavrão até mais sofisticado que a linguagem
comum.
(www.super.abril.com.br/revista/.
Adaptado.)
21.
De acordo com o texto,
(A)
o palavrão é uma expressão legítima do sentimento, estando associado à parte
mais instintiva do cérebro.
(B)
o sistema límbico difere da linguagem comum, pois sua força de expressão está
associada à parte sofisticada do cérebro.
(C)
a parte animal do cérebro traduz certas emoções com a mesma intensidade que o
faz a linguagem comum.
(D)
a linguagem comum, muitas vezes, passa por descontrole, já que é produzida pelo
sistema límbico.
(E)
o palavrão é proferido pelo fato de haver no cérebro humano regiões suscetíveis
a lesões.
22.
As interrogações iniciais do texto questionam
(A)
a dissociação entre palavrão e cultura.
(B)
se palavrão é realmente linguagem.
(C)
o status de um palavrão.
(D)
o impacto da utilização do palavrão.
(E)
a necessidade de se empregar um palavrão.
23.
O texto afirma que os palavrões… são poesia no sentido mais profundo da
palavra. Isto significa que eles
(A)
sugerem os sentimentos pelo viés da subjetividade.
(B)
revestem de concretude o sentimento que exprimem.
(C)
transmitem a emoção do pensamento consciente.
(D)
têm substância como qualquer outra palavra.
(E)
têm o poder de expressão da linguagem comum.
24.
No texto, o substantivo palavrão, ainda que se mostre flexionado em grau, não
reporta à ideia de tamanho. Tal emprego também se verifica em:
(A)
Durante a pesquisa, foi colocada uma gotícula do ácido para se definir a
reação.
(B)
Na casa dos sete anões, Branca de Neve encontrou sete minúsculas caminhas.
(C)
Para cortar gastos, resolveu confeccionar livrinhos que cabem nos bolsos.
(D)
Não estava satisfeita com aquele empreguinho sem graça e sem perspectivas.
(E)
Teve um carrinho de dois lugares, depois um carro de cinco e, hoje, um de sete.
INSTRUÇÃO:
Para responder às questões de números 25 a 27, leia os dois trechos.
Trecho
1
No dia seguinte, encontrei Madalena
escrevendo. Avizinhei-me nas pontas dos pés e li o endereço de Azevedo Gondim.
– Faz favor de mostrar isso?
Madalena agarrou uma folha que ainda não
havia sido dobrada.
(...)
– Vá para o inferno, trate da sua vida.
Aquela resistência enfureceu-me:
– Deixa ver a carta, galinha.
Madalena desprendeu-se e entrou a correr
pelo quarto, gritando:
– Canalha!
D. Glória chegou à porta, assustada:
– Pelo amor de Deus! Estão ouvindo lá
fora.
Perdi a cabeça:
– Vá amolar a p.q.p. Está mouca, aí com
a sua carinha de santa? É isto: p.q.p. E se achar ruim, rua. A senhora e a boa
de sua sobrinha, compreende? P.q.p. as duas.
Trecho
2
Penso em Madalena com insistência. Se
fosse possível recomeçarmos... Para que enganar-me? Se fosse possível recomeçarmos,
aconteceria exatamente o que aconteceu. Não consigo modificar-me, é o que mais
me aflige.
25.
No trecho 1, o narrador pediu a Madalena que lhe mostrasse o que estava
escrevendo. Frente à recusa, sua reação revela
(A)
incômodo, por não identificar o destinatário.
(B)
ciúme, expresso nos insultos a ela lançados.
(C)
descaso, ocasionado pela má conduta da mulher.
(D)
medo, na forma contida de se expressar.
(E)
resignação, por pressupor-se traído.
26.
No trecho 2, o narrador
(A)
almeja viver de outra forma para deixar de enganar a si próprio.
(B)
atribui a Madalena a impossibilidade de viver plenamente sua vida.
(C)
sabe que tudo aconteceria da mesma forma por conta de Madalena.
(D)
reconhece, incomodado, a impossibilidade de mudar e viver de outro jeito.
(E)
acredita que não pode mudar pelo fato de não ter Madalena a seu lado.
27.
Paulo Honório cresceu e afirmou-se no clima da posse, mas a sua união com a
professorinha idealista da cidade vem a ser o único e decisivo malogro daquela
posição de propriedade estendida a um ser humano. (...) romance do desencontro
fatal entre o universo do ter e o universo do ser, [a obra] ficará, na economia
extrema de seus meios expressivos, como paradigma do romance psicológico e
social da nossa literatura. Também aqui vira escritor o herói decaído a
anti-herói depois do suicídio da mulher que a sua violência destruíra.
(Alfredo
Bosi, História concisa da Literatura Brasileira.)
Os
trechos 1 e 2 e as informações de Alfredo Bosi remetem a
(A)
Senhora, de José de Alencar.
(B)
Dom Casmurro, de Machado de Assis.
(C)
São Bernardo, de Graciliano Ramos.
(D)
Fogo morto, de José Lins do Rego.
(E)
Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa.
28.
Leia os textos e analise as afirmações.
ra
terra ter
rat
erra ter
rate
rra ter
rater
ra ter
raterr
a ter
raterra
terr
araterra
ter
raraterra
te
rraraterra
t
erraraterra
terraraterra
(Décio
Pignatari.)
I.
A graça do texto 1 decorre da ambigüidade que assume o termo concreta na
situação apresentada.
II.
O texto 2 é exemplo de poesia concreta, relacionada ao experimentalismo
poético, no qual o poema rompe com o verso tradicional e transforma-se em
objeto visual.
III.
Para a interpretação do texto 2, pode-se prescindir dos signos verbais.
Está
correto o que se afirma em
(A)
I, apenas. (B) III, apenas. (C) I e II, apenas. (D) I e III, apenas. (E) I, II
e III.
INSTRUÇÃO:
As questões de números 29 e 30 baseiam-se num poema de Florbela Espanca.
Esquecimento
Esse
de quem eu era e era meu,
Que
foi um sonho e foi realidade,
Que
me vestiu a alma de saudade,
Para
sempre de mim desapareceu.
Tudo
em redor então escureceu,
E
foi longínqua toda a claridade!
Ceguei...
tateio sombras... que ansiedade!
Apalpo
cinzas porque tudo ardeu!
Descem
em mim poentes de Novembro...
A
sombra dos meus olhos, a escurecer...
Veste
de roxo e negro os crisântemos...
E
desse que era meu já me não lembro...
Ah!
a doce agonia de esquecer
A
lembrar doidamente o que esquecemos...!
29.
O esquecimento descrito pelo eu lírico
(A)
decorre do seu sentimento de perda e de saudade.
(B)
é fruto dos seus sonhos, incompatíveis com a realidade.
(C)
torna-o ciente de que sua agonia está por findar.
(D)
traduz a esperança, pelo jogo de cores remetendo à claridade.
(E)
mostra o amor como intenso e indesejável.
30.
Na última estrofe, o eu lírico expressa, por meio de
(A)
hipérboles, a dificuldade de se tentar esquecer um grande amor.
(B)
metáforas, a forma de se esquecer plenamente a pessoa amada.
(C)
eufemismos, as contradições do amor e os sofrimentos dele decorrentes.
(D)
metonímias, o bem-estar ligado a amar e querer esquecer.
(E)
paradoxos, a impossibilidade de o esquecimento ser levado a cabo.
GABARITO:
01
D 02 A 03 E 04 B 05 C 06 D 07 E 22 C 08 C 09 B 10 A 11 E 12 D 13 E 14 C 15 D
16 C17 A 18 E 19 B 20 A 21 A 23 B 24 D 25
B 26 D 27 C 28
C 29 A 30 E
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