Prova
de língua portuguesa – Unifesp 2018
Leia a crônica “Premonitório”, de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), para responder às questões de 01 a 09.
Do
fundo de Pernambuco, o pai mandou-lhe um telegrama: “Não saia casa 3 outubro
abraços”.
O
rapaz releu, sob emoção grave. Ainda bem que o velho avisara: em cima da hora,
mas avisara. Olhou a data: 28 de setembro. Puxa vida, telegrama com a nota de
urgente, levar cinco dias de Garanhuns a Belo Horizonte! Só mesmo com uma
revolução esse telégrafo endireita. E passado às sete da manhã, veja só; o pai
nem tomara o mingau com broa, precipitara-se na agência para expedir a
mensagem.
Não
havia tempo a perder. Marcara encontros para o dia seguinte, e precisava cancelar
tudo, sem alarde, como se deve agir em tais ocasiões. Pegou o telefone, pediu
linha, mas a voz de d. Anita não respondeu. Havia tempo que morava naquele
hotel e jamais deixara de ouvir o “pois não” melodioso de d. Anita, durante o
dia. A voz grossa, que resmungara qualquer coisa, não era de empregado da casa;
insistira: “como é?”, e a ligação foi dificultosa, havia besouros na linha. Falou
rapidamente a diversas pessoas, aludiu a uma ponte que talvez resistisse ainda
uns dias, teve oportunidade de escandir as sílabas de arma virumque cano1,
disse que achava pouco cem mil unidades, em tal emergência, e arrematou: “Dia 4
nós conversamos.” Vestiu-se, desceu. Na portaria, um sujeito de panamá bege,
chapéu de aba larga e sapato de duas cores levantou-se e seguiu-o. Tomou um
carro, o outro fez o mesmo. Desceu na praça da Liberdade e pôs-se a contemplar um
ponto qualquer. Tirou do bolso um caderninho e anotou qualquer coisa. Aí, já
havia dois sujeitos de panamá, aba larga e sapato bicolor, confabulando a pequena
distância. Foi saindo de mansinho, mas os dois lhe seguiram na cola. Estava
calmo, com o telegrama do pai dobrado na carteira, placidez satisfeita na alma.
O pai avisara a tempo, tudo correria bem. Ia tomar a calçada quando a baioneta
em riste advertiu: “Passe de largo”; a Delegacia Fiscal estava cercada de
praças, havia armas cruzadas nos cantos. Nos Correios, a mesma coisa, também na
Telefônica. Bondes passavam escoltados. Caminhões conduziam tropa, jipes
chispavam. As manchetes dos jornais eram sombrias; pouca gente na rua. Céu
escuro, abafado, chuva próxima.
Pensando
bem, o melhor era recolher-se ao hotel; não havia nada a fazer. Trancou-se no
quarto, procurou ler, de vez em quando o telefone chamava: “Desculpe, é
engano”, ou ficava mudo, sem desligar. Dizendo-se incomodado, jantou no quarto,
e estranhou a camareira, que olhava para os móveis como se fossem bichos.
Deliberou deitar-se, embora a noite apenas começasse. Releu o telegrama, apagou
a luz.
Acordou
assustado, com golpes na porta. Cinco da manhã. Alguém o convidava a ir à
Delegacia de Ordem Política e Social. “Deve ser engano.” “Não é não, o chefe
está à espera.” “Tão cedinho? Precisa ser hoje mesmo? Amanhã eu vou.” “É hoje e
é já.” “Impossível.” Pegaram-lhe dos braços e levaram-no sem polêmica. A cidade
era uma praça de guerra, toda a polícia a postos. “O senhor vai dizer a verdade
bonitinho e logo” – disse-lhe o chefe. – “Que sabe a respeito do troço?” “Não
se faça de bobo, o troço que vai estourar hoje.” “Vai estourar?” “Não sabia? E
aquela ponte que o senhor ia dinamitar mas era difícil?” “Doutor, eu falei a
meu dentista, é um trabalho de prótese que anda abalado. Quer ver? Eu tiro.” “Não,
mas e aquela frase em código muito vagabundo, com palavras que todo mundo manja
logo, como arma e cano?” “Sou professor de latim, e corrigi a epígrafe de um
trabalho.” “Latim, hem? E a conversa sobre os cem mil homens que davam para
vencer?” “São unidades de penicilina que um colega tomou para uma infecção no
ouvido.” “E os cálculos que o senhor fazia diante do palácio?” Emudeceu. “Diga,
vamos!” “Desculpe, eram uns versinhos, estão aqui no bolso.” “O senhor é
esperto, mas saia desta. Vê este telegrama? É cópia do que o senhor recebeu de
Pernambuco. Ainda tem coragem de negar que está alheio ao golpe?” “Ah, então é
por isso que o telegrama custou tanto a chegar?” “Mais custou ao país, gritou o
chefe. Sabe que por causa dele as Forças Armadas ficaram de prontidão, e que
isso custa cinco mil contos? Diga depressa.” “Mas, doutor…” Foi levado para
outra sala, onde ficou horas. O que aconteceu, Deus sabe. Afinal, exausto,
confessou: “O senhor entende conversa de pai pra filho? Papai costuma ter
sonhos premonitórios, e toda a família acredita neles. Sonhou que me
aconteceria uma coisa no dia 3, se eu saísse de casa, e telegrafou prevenindo.
Juro!”
Dia
4, sem golpe nenhum, foi mandado em paz. O sonho se confirmara: realmente, não
devia ter saído de casa.
(70 historinhas,
2016.)
1 arma virumque
cano: “canto as armas e o varão” (palavras iniciais da epopeia Eneida,
do escritor Vergílio, referentes ao herói Eneias).
QUESTÃO 01 – De acordo
com a crônica, o filho recebeu o telegrama do pai no dia
(A) 28 de setembro.
(B) 29 de setembro.
(C) 2 de outubro.
(D) 4 de outubro.
(E) 3 de outubro.
QUESTÃO 02 – Em
relação ao sonho do pai, a reação do filho é de
(A) desconfiança.
(B) apatia.
(C) perplexidade.
(D) desdém.
(E) respeito.
QUESTÃO 03 – Depreende-se
da crônica que o telegrama demorou a chegar
(A) porque ficou
retido na delegacia de polícia.
(B) por conta de um sonho
premonitório.
(C) porque uma revolta
popular estava em curso.
(D) por conta da
lentidão do serviço dos telégrafos.
(E) porque um golpe
militar estava em andamento.
QUESTÃO 04 – O chamado
discurso indireto livre constitui uma construção em que a voz do personagem se
mescla à voz do narrador. Verifica-se a ocorrência de discurso indireto livre
em:
(A) “Havia tempo que
morava naquele hotel e jamais deixara de ouvir o ‘pois não’ melodioso de d.
Anita, durante o dia.” (3o parágrafo)
(B) “E passado às sete
da manhã, veja só; o pai nem tomara o mingau com broa, precipitara-se na
agência para expedir a mensagem.” (2o parágrafo)
(C) “Aí, já havia dois
sujeitos de panamá, aba larga e sapato bicolor, confabulando a pequena
distância.” (3o parágrafo)
(D) “Trancou-se no
quarto, procurou ler, de vez em quando o telefone chamava: ‘Desculpe, é
engano’, ou ficava mudo, sem desligar.” (4o parágrafo)
(E) “‘O senhor é
esperto, mas saia desta. Vê este telegrama? É cópia do que o senhor recebeu de
Pernambuco. Ainda tem coragem de negar que está alheio ao golpe?’” (5o
parágrafo)
QUESTÃO 05 – Metonímia:
figura de retórica que consiste no uso de uma palavra fora do seu contexto
semântico normal, por ter uma significação que tenha relação objetiva, de
contiguidade [vizinhança, proximidade], material ou conceitual, com o conteúdo ou
o referente ocasionalmente pensado. (Dicionário Houaiss da língua portuguesa,
2009.)
Verifica-se a
ocorrência de metonímia no trecho:
(A) “‘São unidades de
penicilina que um colega tomou para uma infecção no ouvido.’” (5o parágrafo)
(B) “Ia tomar a
calçada quando a baioneta em riste advertiu: ‘Passe de largo’;” (3o parágrafo)
(C) “Tirou do bolso um
caderninho e anotou qualquer coisa.” (3o parágrafo)
(D) “Puxa vida,
telegrama com a nota de urgente, levar cinco dias de Garanhuns a Belo
Horizonte!” (2o parágrafo)
(E) “Dizendo-se
incomodado, jantou no quarto, e estranhou a camareira, que olhava para os
móveis como se fossem bichos.” (4o parágrafo)
QUESTÃO 06 – Estão
empregados em sentido figurado os termos destacados nos trechos:
(A) “As manchetes dos
jornais eram sombrias; pouca gente na rua.” (3o parágrafo) e “E aquela
ponte que o senhor ia dinamitar mas era difícil?” (5o parágrafo).
(B) “As manchetes dos
jornais eram sombrias; pouca gente na rua.” (3o parágrafo) e “Não se
faça de bobo, o troço que vai estourar hoje.” (5o parágrafo).
(C) “Não se faça de
bobo, o troço que vai estourar hoje.” (5o parágrafo) e “Acordou
assustado, com golpes na porta.” (5o parágrafo).
(D) “E aquela ponte
que o senhor ia dinamitar mas era difícil?” (5o parágrafo) e “Não se
faça de bobo, o troço que vai estourar hoje.” (5o parágrafo).
(E) “[...] a ligação
foi dificultosa, havia besouros na linha.” (3o parágrafo) e “E aquela
ponte que o senhor ia dinamitar mas era difícil?” (5o parágrafo).
QUESTÃO 07
• “A cidade era uma
praça de guerra, toda a polícia a postos. ‘O senhor vai dizer a verdade bonitinho
e logo’ – disse-lhe o chefe.” (5o parágrafo)
• “‘E os cálculos que
o senhor fazia diante do palácio?’ Emudeceu. ‘Diga, vamos!’ ‘Desculpe, eram uns
versinhos, estão aqui no bolso.’” (5o parágrafo)
No contexto em que se
inserem, as palavras “bonitinho” e “versinhos” exprimem, respectivamente,
(A) afetividade e
antipatia.
(B) vulgaridade e
sarcasmo.
(C) desprezo e
indiferença.
(D) advertência e
modéstia.
(E) irritação e
delicadeza.
QUESTÃO 08 - “Deliberou
deitar-se, embora a noite apenas começasse.” (4o parágrafo)
Em relação à oração
anterior, a oração destacada exprime ideia de
(A) causa.
(B) condição.
(C) concessão.
(D) consequência.
(E) conclusão.
QUESTÃO 09 – “Falou
rapidamente a diversas pessoas, aludiu a uma ponte que talvez
resistisse ainda uns dias, teve oportunidade de escandir as sílabas de arma
virumque cano” (3o parágrafo)
Os termos em destaque
constituem, respectivamente,
(A) uma preposição,
uma preposição e um artigo.
(B) um pronome, uma
preposição e um artigo.
(C) um artigo, um
artigo e um pronome.
(D) uma preposição, um
artigo, um artigo.
(E) um pronome, uma
preposição e um pronome.
Leia o soneto “Aquela
triste e leda madrugada”, do escritor português Luís de Camões (1525?-1580),
para responder às questões de 10 a 12.
Aquela triste e leda
madrugada,
cheia toda de mágoa e
de piedade,
enquanto houver no
mundo saudade
quero que seja sempre
celebrada.
Ela só, quando amena e
marchetada
saía, dando ao mundo
claridade,
viu apartar-se de uma
outra vontade,
que nunca poderá
ver-se apartada.
Ela só viu as lágrimas
em fio
que, de uns e de
outros olhos derivadas,
se acrescentaram em
grande e largo rio.
Ela viu as palavras
magoadas
que puderam tornar o
fogo frio,
e dar descanso às
almas condenadas.
(Sonetos,
2001.)
QUESTÃO 10 – O pronome
“Ela”, que se repete no início de três estrofes, refere-se a
(A) “piedade”.
(B) “mágoa”.
(C) “saudade”.
(D) “claridade”.
(E) “madrugada”.
QUESTÃO 11 – A imagem
das lágrimas a formarem um “largo rio” (3a estrofe) produz um efeito expressivo
que se classifica como
(A) paradoxo.
(B) pleonasmo.
(C) personificação.
(D) hipérbole.
(E) eufemismo.
QUESTÃO 12 – Observa-se
a elipse (supressão) do termo “vontade” no verso:
(A) “viu apartar-se de
uma outra vontade,” (2a estrofe)
(B) “cheia toda de
mágoa e de piedade,” (1a estrofe)
(C) “quero que seja
sempre celebrada.” (1a estrofe)
(D) “Ela só viu as
lágrimas em fio” (3a estrofe)
(E) “que puderam
tornar o fogo frio,” (4a estrofe)
QUESTÃO 13 – A veia
humorística do poeta romântico Álvares de Azevedo (1831-1852) está
exemplificada nos versos:
(A) Feliz daquele que
no livro d’alma
Não tem folhas
escritas
E nem saudade amarga,
arrependida,
Nem lágrimas malditas!
(B) Coração, por que
tremes? Vejo a morte,
Ali vem lazarenta e
desdentada...
Que noiva!... E devo
então dormir com ela?...
Se ela ao menos
dormisse mascarada!
(C) E eu amo as flores
e o doce ar mimoso
Do amanhecer da serra
E o céu azul e o manto
nebuloso
Do céu da minha terra!
(D) Quando falo
contigo, no meu peito
Esquece-me esta dor
que me consome:
Talvez corre o prazer
nas fibras d’alma:
E eu ouso ainda
murmurar teu nome!
(E) Quando, à noite,
no leito perfumado
Lânguida fronte no
sonhar reclinas,
No vapor da ilusão por
que te orvalha
Pranto de amor as
pálpebras divinas?
QUESTÃO 14 – Talvez o
aspecto mais evidente da novidade retórica e formal na composição dessa obra
seja justamente a metalinguagem ou a autorreflexividade da narrativa, quer
dizer, o narrador “explica” constantemente para o leitor o andamento e o modo
pelo qual vai contando suas histórias. Essa autorreflexividade tem um
importante efeito de quebra da ilusão realista, pois lembra sempre o leitor de
que ele está lendo um livro e que este, embora narre a respeito da vida de
personagens, é apenas um livro, ou seja, um artifício, um artefato inventado.
Pode-se
dizer também que a reflexão do narrador, além de revelar a poética que preside
a composição de sua narrativa, revela também a exigência dessa poética de
contar com um novo tipo de leitor: o narrador como que pretende um leitor
participante, ativo e não passivo.
(Valentim Facioli. Um
defunto estrambótico, 2008. Adaptado.)
Tal comentário
aplica-se à obra
(A) Memórias de um
sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida.
(B) O Ateneu,
de Raul Pompeia.
(C) O cortiço,
de Aluísio Azevedo.
(D) Iracema, de
José de Alencar.
(E) Memórias
póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.
QUESTÃO 15 – Nesta
obra, eu quis estudar temperamentos e não caracteres. Escolhi personagens
soberanamente dominadas pelos nervos e pelo sangue, desprovidas de
livre-arbítrio, arrastadas a cada ato de suas vidas pelas fatalidades da
própria carne. Começa-se a compreender que o meu objetivo foi acima de tudo um
objetivo científico.
(Émile Zola apud Alfredo
Bosi. História concisa da literatura brasileira, 1994. Adaptado.)
Depreendem-se dessas
considerações do escritor francês Émile Zola, a respeito de uma de suas obras,
preceitos que orientam a corrente literária
(A) romântica.
(B) árcade.
(C) naturalista.
(D) simbolista.
(E) barroca.
Para responder às
questões de 16 a 20, leia o trecho da obra Os sertões, de
Euclides da Cunha (1866 - 1909), em que se narram eventos referentes a uma das expedições
militares enviadas pelo governo federal para combater Antônio Conselheiro e
seus seguidores sediados em Canudos.
Oitocentos
homens desapareciam em fuga, abandonando as espingardas; arriando as padiolas,
em que se estorciam feridos; jogando fora as peças de equipamento; desarmando-se;
desapertando os cinturões, para a carreira desafogada; e correndo, correndo ao
acaso, correndo em grupos, em bandos erradios, correndo pelas estradas e pelas
trilhas que as recortam, correndo para o recesso das caatingas, tontos, apavorados,
sem chefes...
Entre
os fardos atirados à beira do caminho ficara, logo ao desencadear-se o pânico –
tristíssimo pormenor! – o cadáver do comandante. Não o defenderam. Não houve um
breve simulacro de repulsa contra o inimigo, que não viam e adivinhavam no
estrídulo dos gritos desafiadores e nos estampidos de um tiroteio irregular e
escasso, como o de uma caçada. Aos primeiros tiros os batalhões diluíram-se.
Apenas
a artilharia, na extrema retaguarda, seguia vagarosa e unida, solene quase, na
marcha habitual de uma revista, em que parava de quando em quando para varrer a
disparos as macegas traiçoeiras; e prosseguindo depois, lentamente, rodando,
inabordável, terrível...
[...]
Um
a um tombavam os soldados da guarnição estoica. Feridos ou espantados os muares
da tração empacavam; torciam de rumo; impossibilitavam a marcha. A bateria
afinal parou. Os canhões, emperrados, imobilizaram-se numa volta do caminho...
O
coronel Tamarindo, que volvera à retaguarda, agitando-se destemeroso e
infatigável entre os fugitivos, penitenciando-se heroicamente, na hora da
catástrofe, da tibieza anterior, ao deparar com aquele quadro estupendo,
procurou debalde socorrer os únicos soldados que tinham ido a Canudos. Neste
pressuposto ordenou toques repetidos de “meia-volta, alto!”. As notas das
cornetas, convulsivas, emitidas pelos corneteiros sem fôlego, vibraram
inutilmente. Ou melhor – aceleraram a fuga. Naquela desordem só havia uma determinação
possível: “debandar!”.
Debalde
alguns oficiais, indignados, engatilhavam revólveres ao peito dos foragidos.
Não havia contê-los. Passavam; corriam; corriam doudamente; corriam dos
oficiais; corriam dos jagunços; e ao verem aqueles, que eram de preferência alvejados
pelos últimos, caírem malferidos, não se comoviam. O capitão Vilarim batera-se
valentemente quase só e ao baquear, morto, não encontrou entre os que comandava
um braço que o sustivesse. Os próprios feridos e enfermos estropiados lá se
iam, cambeteando, arrastando-se penosamente, imprecando os companheiros mais
ágeis...
As
notas das cornetas vibravam em cima desse tumulto, imperceptíveis, inúteis...
Por
fim cessaram. Não tinham a quem chamar. A infantaria desaparecera...
(Os sertões,
2016.)
QUESTÃO 16 – O trecho
narra
(A) a debandada trágica
dos seguidores de Antônio Conselheiro.
(B) a completa
aniquilação do povoado de Canudos.
(C) o desfecho
desastroso da expedição militar.
(D) o desmantelamento
dos dois grupos de combatentes.
(E) a resistência
heroica dos soldados do governo.
QUESTÃO 17 – Em “O
coronel Tamarindo [...] ao deparar com aquele quadro estupendo, procurou debalde
socorrer os únicos soldados que tinham ido a Canudos.” (6o parágrafo), o
termo destacado pode ser substituído, sem prejuízo para o sentido do texto,
por:
(A) inutilmente.
(B) lealmente.
(C) desesperadamente.
(D) valentemente.
(E) humildemente.
QUESTÃO 18 – “Debalde
alguns oficiais, indignados, engatilhavam revólveres ao peito dos foragidos.
Não havia contê-los. Passavam; corriam; corriam doudamente; corriam dos oficiais;
corriam dos jagunços; e ao verem aqueles, que eram de preferência alvejados
pelos últimos, caírem malferidos, não se comoviam.” (7o parágrafo)
Os termos “los”,
“aqueles” e “últimos” referem-se, respectivamente, a
(A) foragidos,
foragidos e jagunços.
(B) oficiais, jagunços
e oficiais.
(C) oficiais, oficiais
e jagunços.
(D) foragidos,
oficiais e jagunços.
(E) foragidos,
jagunços e oficiais.
QUESTÃO 19 – No
trecho, o estilo de Euclides da Cunha pode ser caracterizado,
sobretudo, como
(A) transgressor.
(B) informal.
(C) didático.
(D) lacônico.
(E) rebuscado.
QUESTÃO 20 – Em “Um a
um tombavam os soldados da guarnição estoica.” (4o parágrafo), o termo
destacado é um
(A) verbo transitivo
direto e indireto.
(B) verbo
intransitivo.
(C) verbo transitivo
indireto.
(D) verbo de ligação.
(E) verbo transitivo
direto.
Para responder às
questões de 21 a 23, leia o trecho do livro Abolição, da
historiadora brasileira Emília Viotti da Costa.
Durante
três séculos (do século XVI ao XVIII) a escravidão foi praticada e aceita sem
que as classes dominantes questionassem a legitimidade do cativeiro. Muitos
chegavam a justificar a escravidão, argumentando que graças a ela os negros
eram retirados da ignorância em que viviam e convertidos ao cristianismo. A conversão
libertava os negros do pecado e lhes abria a porta da salvação eterna. Dessa
forma, a escravidão podia até ser considerada um benefício para o negro! Para
nós, esses argumentos podem parecer cínicos, mas, naquela época, tinham poder
de persuasão. A ordem social era considerada expressão dos desígnios da
Providência Divina e, portanto, não era questionada. Acreditava-se que era a
vontade de Deus que alguns nascessem nobres, outros, vilões, uns, ricos,
outros, pobres, uns, livres, outros, escravos. De acordo com essa teoria, não
cabia aos homens modificar a ordem social. Assim, justificada pela religião e sancionada
pela Igreja e pelo Estado – representantes de Deus na Terra –, a escravidão não
era questionada. A Igreja limitava-se a recomendar paciência aos escravos e
benevolência aos senhores.
Não
é difícil imaginar os efeitos dessas ideias. Elas permitiam às classes
dominantes escravizar os negros sem problemas de consciência. Os poucos
indivíduos que no Período Colonial, fugindo à regra, questionaram o tráfico de
escravos e lançaram dúvidas sobre a legitimidade da escravidão, foram expulsos
da Colônia e o tráfico de escravos continuou sem impedimentos. Apenas os
próprios escravos questionavam a legitimidade da instituição, manifestando seu
protesto por meio de fugas e insurreições. Encontravam, no entanto, pouca
simpatia por parte dos homens livres e enfrentavam violenta repressão.
(A abolição,
2010.)
QUESTÃO 21 – De acordo
com a historiadora,
(A) as classes
dominantes valiam-se de argumentos religiosos para legitimar a escravidão.
(B) os negros não
ousavam sequer questionar a legitimidade da escravidão.
(C) a Igreja assumia
uma postura corajosa em defesa dos escravos.
(D) as ideias
defendidas pelas classes dominantes destoavam da ideologia vigente na época.
(E) os negros que
ousavam combater o tráfico de escravos eram expulsos da Colônia.
QUESTÃO 22 – “Acreditava-se
que era a vontade de Deus que alguns nascessem nobres, outros, vilões, uns,
ricos, outros, pobres, uns, livres, outros, escravos.” (1o parágrafo)
No contexto em que se
insere, o termo “vilão” deve ser entendido na seguinte acepção:
(A) “camponês medieval
que trabalhava para um senhor feudal”.
(B) “aquele que é
indigno, abjeto, desprezível”.
(C) “aquele que não
pertence à nobreza, plebeu”.
(D) “aquele que não
tem religião, ateu”.
(E) “aquele que reside
em vila”.
QUESTÃO 23 – “De
acordo com essa teoria, não cabia aos homens modificar a ordem social.”
(1o parágrafo)
O trecho destacado
exerce a função sintática de
(A) objeto indireto.
(B) objeto direto.
(C) adjunto adnominal.
(D) sujeito.
(E) adjunto adverbial.
QUESTÃO 24 – O Surrealismo
buscou a comunicação com o irracional e o ilógico, deliberadamente
desorientando e reorientando a consciência por meio do inconsciente. (Fiona
Bradley. Surrealismo, 2001.)
Verifica-se a
influência do Surrealismo nos seguintes versos:
(A) Um gatinho faz
pipi.
Com gestos de garçom
de restaurant-Palace
Encobre cuidadosamente
a mijadinha.
Sai vibrando com
elegância a patinha direita:
– É a única criatura
fina na pensãozinha burguesa.
(Manuel Bandeira,
“Pensão familiar”.)
(B) A igreja era
grande e pobre. Os altares, humildes.
Havia pouca flores.
Eram flores de horta.
Sob a luz fraca, na
sombra esculpida
(quais as imagens e
quais os fiéis?)
ficávamos.
(Carlos Drummond de
Andrade, “Evocação Mariana”.)
(C) Nunca me
esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas
retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei
que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no
meio do caminho
no meio do caminho
tinha uma pedra.
(Carlos Drummond de
Andrade, “No meio do caminho”.)
(D) E nas bicicletas
que eram poemas
chegavam meus amigos
alucinados.
Sentados em desordem
aparente,
ei-los a engolir
regularmente seus relógios
enquanto o hierofante
armado cavaleiro
movia inutilmente seu
único braço.
(João Cabral de Melo
Neto, “Dentro da perda da memória”.)
(E) – Desde que estou
retirando
só a morte vejo ativa,
só a morte deparei
e às vezes até
festiva;
só morte tem
encontrado
quem pensava encontrar
vida,
e o pouco que não foi
morte
foi de vida severina.
(João Cabral de Melo
Neto, “Morte e vida severina”.)
QUESTÃO 25 – O uso
intensivo da metáfora insólita, a entrega ao fluxo da consciência, a ruptura
com o enredo factual foram constantes do seu estilo de narrar. Os analistas à
caça de estruturas não deixarão tão cedo em paz seus textos complexos e
abstratos. Há na gênese dos seus contos e romances tal exacerbação do momento
interior que, a certa altura do seu itinerário, a própria subjetividade entra
em crise. O espírito, perdido no labirinto da memória e da autoanálise, reclama
um novo equilíbrio.
(Alfredo Bosi. História
concisa da literatura brasileira, 1994. Adaptado.)
Tal comentário
refere-se a
(A) Jorge Amado.
(B) José Lins do Rego.
(C) Graciliano Ramos.
(D) Guimarães Rosa.
(E) Clarice Lispector.
Leia um trecho do
artigo “Reflexões sobre o tempo e a origem do Universo”, do físico brasileiro
Marcelo Gleiser, para responder às questões de 26 a 29.
Qualquer
discussão sobre o tempo deve começar com uma análise de sua estrutura, que, por
falta de melhor expressão, devemos chamar de “temporal”. É comum dividirmos o
tempo em passado, presente e futuro. O passado é o que vem antes do presente e
o futuro é o que vem depois. Já o presente é o “agora”, o instante atual.
Isso
tudo parece bastante óbvio, mas não é. Para definirmos passado e futuro,
precisamos definir o presente. Mas, segundo nossa separação estrutural, o
presente não pode ter duração no tempo, pois nesse caso poderíamos definir um período
no seu passado e no seu futuro. Portanto, para sermos coerentes em nossas
definições, o presente não pode ter duração no tempo. Ou seja, o presente não
existe!
A
discussão acima nos leva a outra questão, a da origem do tempo. Se o tempo teve
uma origem, então existiu um momento no passado em que ele passou a existir.
Segundo nossas modernas teorias cosmogônicas, que visam explicar a origem do
Universo, esse momento especial é o momento da origem do Universo “clássico”. A
expressão “clássico” é usada em contraste com “quântico”, a área da física que
lida com fenômenos atômicos e subatômicos.
[...]
As
descobertas de Einstein mudaram profundamente nossa concepção do tempo. Em sua
teoria da relatividade geral, ele mostrou que a presença de massa (ou de
energia) também influencia a passagem do tempo, embora esse efeito seja
irrelevante em nosso dia a dia. O tempo relativístico adquire uma plasticidade
definida pela realidade física à sua volta. A coisa se complica quando usamos a
relatividade geral para descrever a origem do Universo.
(Folha de S.Paulo,
07.06.1998.)
QUESTÃO 26 – “Mas,
segundo nossa separação estrutural, o presente não pode ter duração no tempo,
pois nesse caso poderíamos definir um período no seu passado e no seu
futuro.” (2o parágrafo)
Os pronomes destacados
no texto referem-se a
(A) “separação”.
(B) “presente”.
(C) “caso”.
(D) “tempo”.
(E) “período”.
QUESTÃO 27 – “Em sua
teoria da relatividade geral, ele mostrou que a presença de massa (ou de
energia) também influencia a passagem do tempo, embora esse efeito seja
irrelevante em nosso dia a dia.” (4o parágrafo)
Ao se converter o
trecho destacado para a voz passiva, o verbo “influencia” assume a seguinte
forma:
(A) é influenciada.
(B) foi influenciada.
(C) era influenciada.
(D) seria
influenciada.
(E) será influenciada.
QUESTÃO 28 – Em
“[Einstein] mostrou que a presença de massa (ou de energia) também influencia a
passagem do tempo, embora esse efeito seja irrelevante em nosso dia a
dia.” (4o parágrafo), a conjunção destacada pode ser substituída, sem prejuízo
para o sentido do texto, por:
(A) visto que.
(B) a menos que.
(C) ainda que.
(D) a fim de que.
(E) desde que.
QUESTÃO 29 – O processo
de formação de palavras verificado em “estrutural” (2o parágrafo) também está
presente em
(A) “futuro” (1o
parágrafo).
(B) “portanto” (2o
parágrafo).
(C) “momento” (3o
parágrafo).
(D) “plasticidade” (4o
parágrafo).
(E) “origem” (3o
parágrafo).
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