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quarta-feira, 22 de maio de 2019

UNIFESP 2018 – PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA

Prova de língua portuguesa – Unifesp 2018


Leia a crônica “Premonitório”, de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), para responder às questões de 01 a 09.

Do fundo de Pernambuco, o pai mandou-lhe um telegrama: “Não saia casa 3 outubro abraços”.
O rapaz releu, sob emoção grave. Ainda bem que o velho avisara: em cima da hora, mas avisara. Olhou a data: 28 de setembro. Puxa vida, telegrama com a nota de urgente, levar cinco dias de Garanhuns a Belo Horizonte! Só mesmo com uma revolução esse telégrafo endireita. E passado às sete da manhã, veja só; o pai nem tomara o mingau com broa, precipitara-se na agência para expedir a mensagem.
Não havia tempo a perder. Marcara encontros para o dia seguinte, e precisava cancelar tudo, sem alarde, como se deve agir em tais ocasiões. Pegou o telefone, pediu linha, mas a voz de d. Anita não respondeu. Havia tempo que morava naquele hotel e jamais deixara de ouvir o “pois não” melodioso de d. Anita, durante o dia. A voz grossa, que resmungara qualquer coisa, não era de empregado da casa; insistira: “como é?”, e a ligação foi dificultosa, havia besouros na linha. Falou rapidamente a diversas pessoas, aludiu a uma ponte que talvez resistisse ainda uns dias, teve oportunidade de escandir as sílabas de arma virumque cano1, disse que achava pouco cem mil unidades, em tal emergência, e arrematou: “Dia 4 nós conversamos.” Vestiu-se, desceu. Na portaria, um sujeito de panamá bege, chapéu de aba larga e sapato de duas cores levantou-se e seguiu-o. Tomou um carro, o outro fez o mesmo. Desceu na praça da Liberdade e pôs-se a contemplar um ponto qualquer. Tirou do bolso um caderninho e anotou qualquer coisa. Aí, já havia dois sujeitos de panamá, aba larga e sapato bicolor, confabulando a pequena distância. Foi saindo de mansinho, mas os dois lhe seguiram na cola. Estava calmo, com o telegrama do pai dobrado na carteira, placidez satisfeita na alma. O pai avisara a tempo, tudo correria bem. Ia tomar a calçada quando a baioneta em riste advertiu: “Passe de largo”; a Delegacia Fiscal estava cercada de praças, havia armas cruzadas nos cantos. Nos Correios, a mesma coisa, também na Telefônica. Bondes passavam escoltados. Caminhões conduziam tropa, jipes chispavam. As manchetes dos jornais eram sombrias; pouca gente na rua. Céu escuro, abafado, chuva próxima.
Pensando bem, o melhor era recolher-se ao hotel; não havia nada a fazer. Trancou-se no quarto, procurou ler, de vez em quando o telefone chamava: “Desculpe, é engano”, ou ficava mudo, sem desligar. Dizendo-se incomodado, jantou no quarto, e estranhou a camareira, que olhava para os móveis como se fossem bichos. Deliberou deitar-se, embora a noite apenas começasse. Releu o telegrama, apagou a luz.
Acordou assustado, com golpes na porta. Cinco da manhã. Alguém o convidava a ir à Delegacia de Ordem Política e Social. “Deve ser engano.” “Não é não, o chefe está à espera.” “Tão cedinho? Precisa ser hoje mesmo? Amanhã eu vou.” “É hoje e é já.” “Impossível.” Pegaram-lhe dos braços e levaram-no sem polêmica. A cidade era uma praça de guerra, toda a polícia a postos. “O senhor vai dizer a verdade bonitinho e logo” – disse-lhe o chefe. – “Que sabe a respeito do troço?” “Não se faça de bobo, o troço que vai estourar hoje.” “Vai estourar?” “Não sabia? E aquela ponte que o senhor ia dinamitar mas era difícil?” “Doutor, eu falei a meu dentista, é um trabalho de prótese que anda abalado. Quer ver? Eu tiro.” “Não, mas e aquela frase em código muito vagabundo, com palavras que todo mundo manja logo, como arma e cano?” “Sou professor de latim, e corrigi a epígrafe de um trabalho.” “Latim, hem? E a conversa sobre os cem mil homens que davam para vencer?” “São unidades de penicilina que um colega tomou para uma infecção no ouvido.” “E os cálculos que o senhor fazia diante do palácio?” Emudeceu. “Diga, vamos!” “Desculpe, eram uns versinhos, estão aqui no bolso.” “O senhor é esperto, mas saia desta. Vê este telegrama? É cópia do que o senhor recebeu de Pernambuco. Ainda tem coragem de negar que está alheio ao golpe?” “Ah, então é por isso que o telegrama custou tanto a chegar?” “Mais custou ao país, gritou o chefe. Sabe que por causa dele as Forças Armadas ficaram de prontidão, e que isso custa cinco mil contos? Diga depressa.” “Mas, doutor…” Foi levado para outra sala, onde ficou horas. O que aconteceu, Deus sabe. Afinal, exausto, confessou: “O senhor entende conversa de pai pra filho? Papai costuma ter sonhos premonitórios, e toda a família acredita neles. Sonhou que me aconteceria uma coisa no dia 3, se eu saísse de casa, e telegrafou prevenindo. Juro!”
Dia 4, sem golpe nenhum, foi mandado em paz. O sonho se confirmara: realmente, não devia ter saído de casa.

(70 historinhas, 2016.)

1 arma virumque cano: “canto as armas e o varão” (palavras iniciais da epopeia Eneida, do escritor Vergílio, referentes ao herói Eneias).

QUESTÃO 01 – De acordo com a crônica, o filho recebeu o telegrama do pai no dia

(A) 28 de setembro.
(B) 29 de setembro.
(C) 2 de outubro.
(D) 4 de outubro.
(E) 3 de outubro.

QUESTÃO 02 – Em relação ao sonho do pai, a reação do filho é de

(A) desconfiança.
(B) apatia.
(C) perplexidade.
(D) desdém.
(E) respeito.

QUESTÃO 03 – Depreende-se da crônica que o telegrama demorou a chegar

(A) porque ficou retido na delegacia de polícia.
(B) por conta de um sonho premonitório.
(C) porque uma revolta popular estava em curso.
(D) por conta da lentidão do serviço dos telégrafos.
(E) porque um golpe militar estava em andamento.

QUESTÃO 04 – O chamado discurso indireto livre constitui uma construção em que a voz do personagem se mescla à voz do narrador. Verifica-se a ocorrência de discurso indireto livre em:

(A) “Havia tempo que morava naquele hotel e jamais deixara de ouvir o ‘pois não’ melodioso de d. Anita, durante o dia.” (3o parágrafo)
(B) “E passado às sete da manhã, veja só; o pai nem tomara o mingau com broa, precipitara-se na agência para expedir a mensagem.” (2o parágrafo)
(C) “Aí, já havia dois sujeitos de panamá, aba larga e sapato bicolor, confabulando a pequena distância.” (3o parágrafo)
(D) “Trancou-se no quarto, procurou ler, de vez em quando o telefone chamava: ‘Desculpe, é engano’, ou ficava mudo, sem desligar.” (4o parágrafo)
(E) “‘O senhor é esperto, mas saia desta. Vê este telegrama? É cópia do que o senhor recebeu de Pernambuco. Ainda tem coragem de negar que está alheio ao golpe?’” (5o parágrafo)

QUESTÃO 05 – Metonímia: figura de retórica que consiste no uso de uma palavra fora do seu contexto semântico normal, por ter uma significação que tenha relação objetiva, de contiguidade [vizinhança, proximidade], material ou conceitual, com o conteúdo ou o referente ocasionalmente pensado. (Dicionário Houaiss da língua portuguesa, 2009.)
Verifica-se a ocorrência de metonímia no trecho:

(A) “‘São unidades de penicilina que um colega tomou para uma infecção no ouvido.’” (5o parágrafo)
(B) “Ia tomar a calçada quando a baioneta em riste advertiu: ‘Passe de largo’;” (3o parágrafo)
(C) “Tirou do bolso um caderninho e anotou qualquer coisa.” (3o parágrafo)
(D) “Puxa vida, telegrama com a nota de urgente, levar cinco dias de Garanhuns a Belo Horizonte!” (2o parágrafo)
(E) “Dizendo-se incomodado, jantou no quarto, e estranhou a camareira, que olhava para os móveis como se fossem bichos.” (4o parágrafo)

QUESTÃO 06 – Estão empregados em sentido figurado os termos destacados nos trechos:

(A) “As manchetes dos jornais eram sombrias; pouca gente na rua.” (3o parágrafo) e “E aquela ponte que o senhor ia dinamitar mas era difícil?” (5o parágrafo).
(B) “As manchetes dos jornais eram sombrias; pouca gente na rua.” (3o parágrafo) e “Não se faça de bobo, o troço que vai estourar hoje.” (5o parágrafo).
(C) “Não se faça de bobo, o troço que vai estourar hoje.” (5o parágrafo) e “Acordou assustado, com golpes na porta.” (5o parágrafo).
(D) “E aquela ponte que o senhor ia dinamitar mas era difícil?” (5o parágrafo) e “Não se faça de bobo, o troço que vai estourar hoje.” (5o parágrafo).
(E) “[...] a ligação foi dificultosa, havia besouros na linha.” (3o parágrafo) e “E aquela ponte que o senhor ia dinamitar mas era difícil?” (5o parágrafo).

QUESTÃO 07
• “A cidade era uma praça de guerra, toda a polícia a postos. ‘O senhor vai dizer a verdade bonitinho e logo’ – disse-lhe o chefe.” (5o parágrafo)
• “‘E os cálculos que o senhor fazia diante do palácio?’ Emudeceu. ‘Diga, vamos!’ ‘Desculpe, eram uns versinhos, estão aqui no bolso.’” (5o parágrafo)

No contexto em que se inserem, as palavras “bonitinho” e “versinhos” exprimem, respectivamente,

(A) afetividade e antipatia.
(B) vulgaridade e sarcasmo.
(C) desprezo e indiferença.
(D) advertência e modéstia.
(E) irritação e delicadeza.

QUESTÃO 08 - “Deliberou deitar-se, embora a noite apenas começasse.” (4o parágrafo)
Em relação à oração anterior, a oração destacada exprime ideia de

(A) causa.
(B) condição.
(C) concessão.
(D) consequência.
(E) conclusão.

QUESTÃO 09 – “Falou rapidamente a diversas pessoas, aludiu a uma ponte que talvez resistisse ainda uns dias, teve oportunidade de escandir as sílabas de arma virumque cano” (3o parágrafo)
Os termos em destaque constituem, respectivamente,

(A) uma preposição, uma preposição e um artigo.
(B) um pronome, uma preposição e um artigo.
(C) um artigo, um artigo e um pronome.
(D) uma preposição, um artigo, um artigo.
(E) um pronome, uma preposição e um pronome.

Leia o soneto “Aquela triste e leda madrugada”, do escritor português Luís de Camões (1525?-1580), para responder às questões de 10 a 12.

Aquela triste e leda madrugada,
cheia toda de mágoa e de piedade,
enquanto houver no mundo saudade
quero que seja sempre celebrada.

Ela só, quando amena e marchetada
saía, dando ao mundo claridade,
viu apartar-se de uma outra vontade,
que nunca poderá ver-se apartada.

Ela só viu as lágrimas em fio
que, de uns e de outros olhos derivadas,
se acrescentaram em grande e largo rio.

Ela viu as palavras magoadas
que puderam tornar o fogo frio,
e dar descanso às almas condenadas.

(Sonetos, 2001.)

QUESTÃO 10 – O pronome “Ela”, que se repete no início de três estrofes, refere-se a

(A) “piedade”.
(B) “mágoa”.
(C) “saudade”.
(D) “claridade”.
(E) “madrugada”.

QUESTÃO 11 – A imagem das lágrimas a formarem um “largo rio” (3a estrofe) produz um efeito expressivo que se classifica como

(A) paradoxo.
(B) pleonasmo.
(C) personificação.
(D) hipérbole.
(E) eufemismo.

QUESTÃO 12 – Observa-se a elipse (supressão) do termo “vontade” no verso:

(A) “viu apartar-se de uma outra vontade,” (2a estrofe)
(B) “cheia toda de mágoa e de piedade,” (1a estrofe)
(C) “quero que seja sempre celebrada.” (1a estrofe)
(D) “Ela só viu as lágrimas em fio” (3a estrofe)
(E) “que puderam tornar o fogo frio,” (4a estrofe)

QUESTÃO 13 – A veia humorística do poeta romântico Álvares de Azevedo (1831-1852) está exemplificada nos versos:

(A) Feliz daquele que no livro d’alma
Não tem folhas escritas
E nem saudade amarga, arrependida,
Nem lágrimas malditas!
(B) Coração, por que tremes? Vejo a morte,
Ali vem lazarenta e desdentada...
Que noiva!... E devo então dormir com ela?...
Se ela ao menos dormisse mascarada!
(C) E eu amo as flores e o doce ar mimoso
Do amanhecer da serra
E o céu azul e o manto nebuloso
Do céu da minha terra!
(D) Quando falo contigo, no meu peito
Esquece-me esta dor que me consome:
Talvez corre o prazer nas fibras d’alma:
E eu ouso ainda murmurar teu nome!
(E) Quando, à noite, no leito perfumado
Lânguida fronte no sonhar reclinas,
No vapor da ilusão por que te orvalha
Pranto de amor as pálpebras divinas?

QUESTÃO 14 – Talvez o aspecto mais evidente da novidade retórica e formal na composição dessa obra seja justamente a metalinguagem ou a autorreflexividade da narrativa, quer dizer, o narrador “explica” constantemente para o leitor o andamento e o modo pelo qual vai contando suas histórias. Essa autorreflexividade tem um importante efeito de quebra da ilusão realista, pois lembra sempre o leitor de que ele está lendo um livro e que este, embora narre a respeito da vida de personagens, é apenas um livro, ou seja, um artifício, um artefato inventado.
Pode-se dizer também que a reflexão do narrador, além de revelar a poética que preside a composição de sua narrativa, revela também a exigência dessa poética de contar com um novo tipo de leitor: o narrador como que pretende um leitor participante, ativo e não passivo.

(Valentim Facioli. Um defunto estrambótico, 2008. Adaptado.)

Tal comentário aplica-se à obra

(A) Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida.
(B) O Ateneu, de Raul Pompeia.
(C) O cortiço, de Aluísio Azevedo.
(D) Iracema, de José de Alencar.
(E) Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.

QUESTÃO 15 – Nesta obra, eu quis estudar temperamentos e não caracteres. Escolhi personagens soberanamente dominadas pelos nervos e pelo sangue, desprovidas de livre-arbítrio, arrastadas a cada ato de suas vidas pelas fatalidades da própria carne. Começa-se a compreender que o meu objetivo foi acima de tudo um objetivo científico.

(Émile Zola apud Alfredo Bosi. História concisa da literatura brasileira, 1994. Adaptado.)

Depreendem-se dessas considerações do escritor francês Émile Zola, a respeito de uma de suas obras, preceitos que orientam a corrente literária

(A) romântica.
(B) árcade.
(C) naturalista.
(D) simbolista.
(E) barroca.


Para responder às questões de 16 a 20, leia o trecho da obra Os sertões, de Euclides da Cunha (1866 - 1909), em que se narram eventos referentes a uma das expedições militares enviadas pelo governo federal para combater Antônio Conselheiro e seus seguidores sediados em Canudos.

Oitocentos homens desapareciam em fuga, abandonando as espingardas; arriando as padiolas, em que se estorciam feridos; jogando fora as peças de equipamento; desarmando-se; desapertando os cinturões, para a carreira desafogada; e correndo, correndo ao acaso, correndo em grupos, em bandos erradios, correndo pelas estradas e pelas trilhas que as recortam, correndo para o recesso das caatingas, tontos, apavorados, sem chefes...
Entre os fardos atirados à beira do caminho ficara, logo ao desencadear-se o pânico – tristíssimo pormenor! – o cadáver do comandante. Não o defenderam. Não houve um breve simulacro de repulsa contra o inimigo, que não viam e adivinhavam no estrídulo dos gritos desafiadores e nos estampidos de um tiroteio irregular e escasso, como o de uma caçada. Aos primeiros tiros os batalhões diluíram-se.
Apenas a artilharia, na extrema retaguarda, seguia vagarosa e unida, solene quase, na marcha habitual de uma revista, em que parava de quando em quando para varrer a disparos as macegas traiçoeiras; e prosseguindo depois, lentamente, rodando, inabordável, terrível...
[...]
Um a um tombavam os soldados da guarnição estoica. Feridos ou espantados os muares da tração empacavam; torciam de rumo; impossibilitavam a marcha. A bateria afinal parou. Os canhões, emperrados, imobilizaram-se numa volta do caminho...
O coronel Tamarindo, que volvera à retaguarda, agitando-se destemeroso e infatigável entre os fugitivos, penitenciando-se heroicamente, na hora da catástrofe, da tibieza anterior, ao deparar com aquele quadro estupendo, procurou debalde socorrer os únicos soldados que tinham ido a Canudos. Neste pressuposto ordenou toques repetidos de “meia-volta, alto!”. As notas das cornetas, convulsivas, emitidas pelos corneteiros sem fôlego, vibraram inutilmente. Ou melhor – aceleraram a fuga. Naquela desordem só havia uma determinação possível: “debandar!”.
Debalde alguns oficiais, indignados, engatilhavam revólveres ao peito dos foragidos. Não havia contê-los. Passavam; corriam; corriam doudamente; corriam dos oficiais; corriam dos jagunços; e ao verem aqueles, que eram de preferência alvejados pelos últimos, caírem malferidos, não se comoviam. O capitão Vilarim batera-se valentemente quase só e ao baquear, morto, não encontrou entre os que comandava um braço que o sustivesse. Os próprios feridos e enfermos estropiados lá se iam, cambeteando, arrastando-se penosamente, imprecando os companheiros mais ágeis...
As notas das cornetas vibravam em cima desse tumulto, imperceptíveis, inúteis...
Por fim cessaram. Não tinham a quem chamar. A infantaria desaparecera...

(Os sertões, 2016.)


QUESTÃO 16 – O trecho narra

(A) a debandada trágica dos seguidores de Antônio Conselheiro.
(B) a completa aniquilação do povoado de Canudos.
(C) o desfecho desastroso da expedição militar.
(D) o desmantelamento dos dois grupos de combatentes.
(E) a resistência heroica dos soldados do governo.

QUESTÃO 17 – Em “O coronel Tamarindo [...] ao deparar com aquele quadro estupendo, procurou debalde socorrer os únicos soldados que tinham ido a Canudos.” (6o parágrafo), o termo destacado pode ser substituído, sem prejuízo para o sentido do texto, por:

(A) inutilmente.
(B) lealmente.
(C) desesperadamente.
(D) valentemente.
(E) humildemente.

QUESTÃO 18 – “Debalde alguns oficiais, indignados, engatilhavam revólveres ao peito dos foragidos. Não havia contê-los. Passavam; corriam; corriam doudamente; corriam dos oficiais; corriam dos jagunços; e ao verem aqueles, que eram de preferência alvejados pelos últimos, caírem malferidos, não se comoviam.” (7o parágrafo)
Os termos “los”, “aqueles” e “últimos” referem-se, respectivamente, a

(A) foragidos, foragidos e jagunços.
(B) oficiais, jagunços e oficiais.
(C) oficiais, oficiais e jagunços.
(D) foragidos, oficiais e jagunços.
(E) foragidos, jagunços e oficiais.

QUESTÃO 19 – No trecho, o estilo de Euclides da Cunha pode ser caracterizado,
sobretudo, como

(A) transgressor.
(B) informal.
(C) didático.
(D) lacônico.
(E) rebuscado.

QUESTÃO 20 – Em “Um a um tombavam os soldados da guarnição estoica.” (4o parágrafo), o termo destacado é um

(A) verbo transitivo direto e indireto.
(B) verbo intransitivo.
(C) verbo transitivo indireto.
(D) verbo de ligação.
(E) verbo transitivo direto.

Para responder às questões de 21 a 23, leia o trecho do livro Abolição, da historiadora brasileira Emília Viotti da Costa.

Durante três séculos (do século XVI ao XVIII) a escravidão foi praticada e aceita sem que as classes dominantes questionassem a legitimidade do cativeiro. Muitos chegavam a justificar a escravidão, argumentando que graças a ela os negros eram retirados da ignorância em que viviam e convertidos ao cristianismo. A conversão libertava os negros do pecado e lhes abria a porta da salvação eterna. Dessa forma, a escravidão podia até ser considerada um benefício para o negro! Para nós, esses argumentos podem parecer cínicos, mas, naquela época, tinham poder de persuasão. A ordem social era considerada expressão dos desígnios da Providência Divina e, portanto, não era questionada. Acreditava-se que era a vontade de Deus que alguns nascessem nobres, outros, vilões, uns, ricos, outros, pobres, uns, livres, outros, escravos. De acordo com essa teoria, não cabia aos homens modificar a ordem social. Assim, justificada pela religião e sancionada pela Igreja e pelo Estado – representantes de Deus na Terra –, a escravidão não era questionada. A Igreja limitava-se a recomendar paciência aos escravos e benevolência aos senhores.
Não é difícil imaginar os efeitos dessas ideias. Elas permitiam às classes dominantes escravizar os negros sem problemas de consciência. Os poucos indivíduos que no Período Colonial, fugindo à regra, questionaram o tráfico de escravos e lançaram dúvidas sobre a legitimidade da escravidão, foram expulsos da Colônia e o tráfico de escravos continuou sem impedimentos. Apenas os próprios escravos questionavam a legitimidade da instituição, manifestando seu protesto por meio de fugas e insurreições. Encontravam, no entanto, pouca simpatia por parte dos homens livres e enfrentavam violenta repressão.

(A abolição, 2010.)

QUESTÃO 21 – De acordo com a historiadora,

(A) as classes dominantes valiam-se de argumentos religiosos para legitimar a escravidão.
(B) os negros não ousavam sequer questionar a legitimidade da escravidão.
(C) a Igreja assumia uma postura corajosa em defesa dos escravos.
(D) as ideias defendidas pelas classes dominantes destoavam da ideologia vigente na época.
(E) os negros que ousavam combater o tráfico de escravos eram expulsos da Colônia.

QUESTÃO 22 – “Acreditava-se que era a vontade de Deus que alguns nascessem nobres, outros, vilões, uns, ricos, outros, pobres, uns, livres, outros, escravos.” (1o parágrafo)
No contexto em que se insere, o termo “vilão” deve ser entendido na seguinte acepção:

(A) “camponês medieval que trabalhava para um senhor feudal”.
(B) “aquele que é indigno, abjeto, desprezível”.
(C) “aquele que não pertence à nobreza, plebeu”.
(D) “aquele que não tem religião, ateu”.
(E) “aquele que reside em vila”.

QUESTÃO 23 – “De acordo com essa teoria, não cabia aos homens modificar a ordem social.” (1o parágrafo)
O trecho destacado exerce a função sintática de

(A) objeto indireto.
(B) objeto direto.
(C) adjunto adnominal.
(D) sujeito.
(E) adjunto adverbial.

QUESTÃO 24 – O Surrealismo buscou a comunicação com o irracional e o ilógico, deliberadamente desorientando e reorientando a consciência por meio do inconsciente. (Fiona Bradley. Surrealismo, 2001.)
Verifica-se a influência do Surrealismo nos seguintes versos:

(A) Um gatinho faz pipi.
Com gestos de garçom de restaurant-Palace
Encobre cuidadosamente a mijadinha.
Sai vibrando com elegância a patinha direita:
– É a única criatura fina na pensãozinha burguesa.
(Manuel Bandeira, “Pensão familiar”.)
(B) A igreja era grande e pobre. Os altares, humildes.
Havia pouca flores. Eram flores de horta.
Sob a luz fraca, na sombra esculpida
(quais as imagens e quais os fiéis?)
ficávamos.
(Carlos Drummond de Andrade, “Evocação Mariana”.)
(C) Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
(Carlos Drummond de Andrade, “No meio do caminho”.)
(D) E nas bicicletas que eram poemas
chegavam meus amigos alucinados.
Sentados em desordem aparente,
ei-los a engolir regularmente seus relógios
enquanto o hierofante armado cavaleiro
movia inutilmente seu único braço.
(João Cabral de Melo Neto, “Dentro da perda da memória”.)
(E) – Desde que estou retirando
só a morte vejo ativa,
só a morte deparei
e às vezes até festiva;
só morte tem encontrado
quem pensava encontrar vida,
e o pouco que não foi morte
foi de vida severina.
(João Cabral de Melo Neto, “Morte e vida severina”.)

QUESTÃO 25 – O uso intensivo da metáfora insólita, a entrega ao fluxo da consciência, a ruptura com o enredo factual foram constantes do seu estilo de narrar. Os analistas à caça de estruturas não deixarão tão cedo em paz seus textos complexos e abstratos. Há na gênese dos seus contos e romances tal exacerbação do momento interior que, a certa altura do seu itinerário, a própria subjetividade entra em crise. O espírito, perdido no labirinto da memória e da autoanálise, reclama um novo equilíbrio.

(Alfredo Bosi. História concisa da literatura brasileira, 1994. Adaptado.)

Tal comentário refere-se a

(A) Jorge Amado.
(B) José Lins do Rego.
(C) Graciliano Ramos.
(D) Guimarães Rosa.
(E) Clarice Lispector.

Leia um trecho do artigo “Reflexões sobre o tempo e a origem do Universo”, do físico brasileiro Marcelo Gleiser, para responder às questões de 26 a 29.

Qualquer discussão sobre o tempo deve começar com uma análise de sua estrutura, que, por falta de melhor expressão, devemos chamar de “temporal”. É comum dividirmos o tempo em passado, presente e futuro. O passado é o que vem antes do presente e o futuro é o que vem depois. Já o presente é o “agora”, o instante atual.
Isso tudo parece bastante óbvio, mas não é. Para definirmos passado e futuro, precisamos definir o presente. Mas, segundo nossa separação estrutural, o presente não pode ter duração no tempo, pois nesse caso poderíamos definir um período no seu passado e no seu futuro. Portanto, para sermos coerentes em nossas definições, o presente não pode ter duração no tempo. Ou seja, o presente não existe!
A discussão acima nos leva a outra questão, a da origem do tempo. Se o tempo teve uma origem, então existiu um momento no passado em que ele passou a existir. Segundo nossas modernas teorias cosmogônicas, que visam explicar a origem do Universo, esse momento especial é o momento da origem do Universo “clássico”. A expressão “clássico” é usada em contraste com “quântico”, a área da física que lida com fenômenos atômicos e subatômicos.
[...]
As descobertas de Einstein mudaram profundamente nossa concepção do tempo. Em sua teoria da relatividade geral, ele mostrou que a presença de massa (ou de energia) também influencia a passagem do tempo, embora esse efeito seja irrelevante em nosso dia a dia. O tempo relativístico adquire uma plasticidade definida pela realidade física à sua volta. A coisa se complica quando usamos a relatividade geral para descrever a origem do Universo.

(Folha de S.Paulo, 07.06.1998.)

QUESTÃO 26 – “Mas, segundo nossa separação estrutural, o presente não pode ter duração no tempo, pois nesse caso poderíamos definir um período no seu passado e no seu futuro.” (2o parágrafo)
Os pronomes destacados no texto referem-se a

(A) “separação”.
(B) “presente”.
(C) “caso”.
(D) “tempo”.
(E) “período”.

QUESTÃO 27 – “Em sua teoria da relatividade geral, ele mostrou que a presença de massa (ou de energia) também influencia a passagem do tempo, embora esse efeito seja irrelevante em nosso dia a dia.” (4o parágrafo)
Ao se converter o trecho destacado para a voz passiva, o verbo “influencia” assume a seguinte forma:

(A) é influenciada.
(B) foi influenciada.
(C) era influenciada.
(D) seria influenciada.
(E) será influenciada.

QUESTÃO 28 – Em “[Einstein] mostrou que a presença de massa (ou de energia) também influencia a passagem do tempo, embora esse efeito seja irrelevante em nosso dia a dia.” (4o parágrafo), a conjunção destacada pode ser substituída, sem prejuízo para o sentido do texto, por:

(A) visto que.
(B) a menos que.
(C) ainda que.
(D) a fim de que.
(E) desde que.

QUESTÃO 29 – O processo de formação de palavras verificado em “estrutural” (2o parágrafo) também está presente em

(A) “futuro” (1o parágrafo).
(B) “portanto” (2o parágrafo).
(C) “momento” (3o parágrafo).
(D) “plasticidade” (4o parágrafo).
(E) “origem” (3o parágrafo).

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