Prova
de língua portuguesa – Unifesp 2019
Examine a tira de André Dahmer para responder às questões de 01 a 03.
QUESTÃO 01 – A fala
“Demora, mas eles aprendem.” (3o quadrinho) sugere que o anjo, a propósito das
afirmações do personagem retratado nos dois primeiros quadrinhos,
(A) não tem uma
opinião formada sobre elas.
(B) concorda com elas.
(C) nota uma
contradição entre elas.
(D) não dá importância
a elas.
(E) considera-as
pessimistas.
QUESTÃO 02 – Assinale
a alternativa em que se verifica a análise correta de um fato linguístico
presente na tira.
(A) Em “Viu, Senhor?”
(3o quadrinho), o termo “Senhor” exerce a função sintática de sujeito do verbo
“viu”.
(B) Em “um cão nervoso
correndo em círculos, amarrado ao poste da ignorância” (2o quadrinho), a
oposição entre os termos “correndo” e “amarrado” configura um pleonasmo.
(C) Em “A humanidade é
isso” (2o quadrinho), o termo “isso” retoma o conteúdo de um enunciado expresso
no quadrinho anterior.
(D) Em “Ele vai voltar
atrás, você vai ver” (3o quadrinho), a expressão “voltar atrás” constitui uma
redundância.
(E) Em “Ele vai voltar
atrás, você vai ver” (3o quadrinho), a expressão “voltar atrás” pode ser
substituída por “se arrepender”.
QUESTÃO 03 – Verifica-se
o emprego de vírgula para assinalar a supressão de um verbo
(A) no segundo e no
terceiro quadrinhos.
(B) no segundo
quadrinho, apenas.
(C) no terceiro
quadrinho, apenas.
(D) no primeiro e no
terceiro quadrinhos.
(E) no primeiro
quadrinho, apenas.
Leia o trecho inicial
do conto “A doida”, de Carlos Drummond de Andrade, para responder às questões
de 04 a 10.
A
doida habitava um chalé no centro do jardim maltratado. E a rua descia para o
córrego, onde os meninos costumavam banhar-se. Era só aquele chalezinho, à
esquerda, entre o barranco e um chão abandonado; à direita, o muro de um grande
quintal. E na rua, tornada maior pelo silêncio, o burro que pastava. Rua cheia
de capim, pedras soltas, num declive áspero. Onde estava o fiscal, que não
mandava capiná-la?
Os
três garotos desceram manhã cedo, para o banho e a pega de passarinho. Só com
essa intenção. Mas era bom passar pela casa da doida e provocá-la. As mães
diziam o contrário: que era horroroso, poucos pecados seriam maiores. Dos
doidos devemos ter piedade, porque eles não gozam dos benefícios com que nós,
os sãos, fomos aquinhoados. Não explicavam bem quais fossem esses benefícios, ou explicavam demais,
e restava a impressão de que eram todos privilégios de gente adulta, como fazer
visitas, receber cartas, entrar para irmandades. E isso não comovia ninguém. A
loucura parecia antes erro do que miséria. E os três sentiam-se inclinados a
lapidar1 a doida, isolada e agreste no seu jardim.
Como
era mesmo a cara da doida, poucos poderiam dizê-lo. Não aparecia de frente e de
corpo inteiro, como as outras pessoas, conversando na calma. Só o busto,
recortado numa das janelas da frente, as mãos magras, ameaçando. Os cabelos,
brancos e desgrenhados. E a boca inflamada, soltando xingamentos, pragas, numa
voz rouca. Eram palavras da Bíblia misturadas a termos populares, dos quais
alguns pareciam escabrosos, e todos fortíssimos na sua cólera. Sabia-se
confusamente que a doida tinha sido moça igual às outras no seu tempo remoto
(contava mais de sessenta anos, e loucura e idade, juntas, lhe lavraram o
corpo). Corria, com variantes, a história de que fora noiva de um fazendeiro, e
o casamento uma festa estrondosa; mas na própria noite de núpcias o homem a
repudiara, Deus sabe por que razão. O marido ergueu-se terrível e empurrou-a,
no calor do bate-boca; ela rolou escada abaixo, foi quebrando ossos,
arrebentando-se. Os dois nunca mais se veriam. Já outros contavam que o pai,
não o marido, a expulsara, e esclareciam que certa manhã o velho sentira um
amargo diferente no café, ele que tinha dinheiro grosso e estava custando a
morrer – mas nos racontos2 antigos abusava-se de veneno. De qualquer modo, as
pessoas grandes não contavam a história direito, e os meninos deformavam o
conto. Repudiada por todos, ela se fechou naquele chalé do caminho do córrego,
e acabou perdendo o juízo. Perdera antes todas as relações. Ninguém tinha ânimo
de visitá-la. O padeiro mal jogava o pão na caixa de madeira, à entrada, e
eclipsava-se. Diziam que nessa caixa uns primos generosos mandavam pôr, à
noite, provisões e roupas, embora oficialmente a ruptura com a família se
mantivesse inalterável. Às vezes uma preta velha arriscava-se a entrar, com seu
cachimbo e sua paciência educada no cativeiro, e lá ficava dois ou três meses,
cozinhando. Por fim a doida enxotava-a. E, afinal, empregada nenhuma queria servi-la.
Ir viver com a doida, pedir a bênção à doida, jantar em casa da doida, passaram
a ser, na cidade, expressões de castigo e símbolos de irrisão3.
Vinte
anos de uma tal existência, e a legenda está feita. Quarenta, e não há mudá-la.
O sentimento de que a doida carregava uma culpa, que sua própria doidice era
uma falta grave, uma coisa aberrante, instalou-se no espírito das crianças. E
assim, gerações sucessivas de moleques passavam pela porta, fixavam
cuidadosamente a vidraça e lascavam uma pedra. A princípio, como justa
penalidade. Depois, por prazer. Finalmente, e já havia muito tempo, por hábito.
Como a doida respondesse sempre furiosa, criara-se na mente infantil a ideia de
um equilíbrio por compensação, que afogava o remorso.
Em
vão os pais censuravam tal procedimento. Quando meninos, os pais daqueles três
tinham feito o mesmo, com relação à mesma doida, ou a outras. Pessoas sensíveis
lamentavam o fato, sugeriam que se desse um jeito para internar a doida. Mas
como? O hospício era longe, os parentes não se interessavam. E daí –
explicava-se ao forasteiro que porventura estranhasse a situação – toda cidade
tem seus doidos; quase que toda família os tem. Quando se tornam ferozes, são
trancados no sótão; fora disto, circulam pacificamente pelas ruas, se querem
fazê-lo, ou não, se preferem ficar em casa. E doido é quem Deus quis que
ficasse doido... Respeitemos sua vontade. Não há remédio para loucura; nunca
nenhum doido se curou, que a cidade soubesse; e a cidade sabe bastante, ao
passo que livros mentem.
(Contos de aprendiz,
2012.)
1 lapidar: apedrejar.
2 raconto: relato,
narrativa.
3 irrisão: zombaria.
QUESTÃO 04 – De acordo
com o segundo parágrafo,
(A) os garotos, ao
descerem a rua, tinham como principal objetivo provocar a doida.
(B) as explicações
dadas pelas mães para condenar as provocações à doida não comoviam os garotos.
(C) as provocações dos
garotos à doida não comoviam ninguém.
(D) as mães, apesar de
dizerem o contrário, consideravam as provocações dos seus filhos à doida uma
mera brincadeira.
(E) as mães, por
considerarem a doida responsável por sua loucura, não repreendiam seus filhos.
QUESTÃO 05 – “Corria,
com variantes, a história de que fora noiva de um fazendeiro, e o casamento uma
festa estrondosa; mas na própria noite de núpcias o homem a repudiara, Deus
sabe por que razão.” (4o parágrafo)
Ao empregar a
expressão “Deus sabe por que razão”, o narrador reforça, em relação à história
divulgada, o seu caráter
(A) fantasioso.
(B) dramático.
(C) religioso.
(D) incerto.
(E) popular.
QUESTÃO 06 – No trecho
“Dos doidos devemos ter piedade, porque eles não gozam dos benefícios com que
nós, os sãos, fomos aquinhoados” (2o parágrafo), em respeito à norma-padrão,
estaria correto o uso da preposição “a” em lugar de “com” se a expressão sublinhada
fosse substituída por
(A) fazemos jus.
(B) recebemos.
(C) somos merecedores.
(D) estamos
satisfeitos.
(E) nos orgulhamos.
QUESTÃO 07
• “loucura e idade,
juntas, lhe lavraram o corpo” (4o parágrafo)
• “Ninguém tinha ânimo
de visitá-la” (4o parágrafo)
• “a ideia de um
equilíbrio por compensação, que afogava o remorso” (5o parágrafo)
Os termos sublinhados
foram empregados, respectivamente, em sentido
(A) literal, literal e
literal.
(B) figurado, literal
e figurado.
(C) literal, literal e
figurado.
(D) figurado, figurado
e literal.
(E) figurado, figurado
e figurado.
QUESTÃO 08 – “Como a
doida respondesse sempre furiosa, criara-se na mente infantil a ideia de um
equilíbrio por compensação, que afogava o remorso.” (5o parágrafo)
Em relação ao trecho
que o sucede, o trecho sublinhado expressa ideia de
(A) finalidade.
(B) causa.
(C) proporção.
(D) comparação.
(E) consequência.
QUESTÃO 09 – Em “Não
aparecia de frente e de corpo inteiro, como as outras pessoas, conversando na
calma” (3o parágrafo), o termo sublinhado é um verbo
(A) de ligação.
(B) transitivo direto
e indireto.
(C) transitivo direto.
(D) intransitivo.
(E) transitivo
indireto.
QUESTÃO 10 – Derivação
regressiva: formação de palavras novas pela redução de uma palavra já
existente. A redução se faz mediante supressão de elementos terminais (sufixos,
desinências).
(Celso Pedro Luft. Gramática
resumida, 2004.)
Constitui exemplo de palavra
formada pelo processo de derivação regressiva o termo sublinhado em:
(A) “Sabia-se
confusamente que a doida tinha sido moça igual às outras no seu tempo remoto”
(4o parágrafo)
(B) “E a boca
inflamada, soltando xingamentos, pragas, numa voz rouca.” (3o parágrafo)
(C) “Os três garotos
desceram manhã cedo, para o banho e a pega de passarinho.” (2o parágrafo)
(D) “A doida habitava
um chalé no centro do jardim maltratado.” (1o parágrafo)
(E) “O sentimento de
que a doida carregava uma culpa, que sua própria doidice era uma falta grave”
(5o parágrafo)
QUESTÃO 11 – É com
base no mito da Arcádia que erguem suas doutrinas: destruindo a “hidra do mau
gosto”, os árcades procuram realizar obra semelhante à dos clássicos antigos.
Daí a imitação dos modelos greco-latinos ser a primeira característica a considerar
na configuração da estética arcádica.
(Massaud Moisés. A
literatura portuguesa, 1992. Adaptado.)
A “hidra do mau gosto”
mencionada no texto refere-se ao estilo
(A) renascentista.
(B) pré-romântico.
(C) neoclássico.
(D) barroco.
(E) medieval.
Leia o poema “Sou um
evadido”, do escritor português Fernando Pessoa, para responder às questões de 12
a 17.
Sou um evadido.
Logo que nasci
Fecharam-me em mim,
Ah, mas eu fugi.
Se a gente se cansa
Do mesmo lugar,
Do mesmo ser
Por que não se cansar?
Minha alma procura-me
Mas eu ando a monte1,
Oxalá que ela
Nunca me encontre.
Ser um é cadeia,
Ser eu é não ser.
Viverei fugindo
Mas vivo a valer.
(Obra poética,
1997.)
1 “andar a monte”:
andar fugido das autoridades.
QUESTÃO 12 – A fuga
retratada no poema é uma fuga
(A) do anonimato.
(B) da identidade.
(C) da multiplicidade.
(D) da sociedade.
(E) da aparência.
QUESTÃO 13 – O eu
lírico expressa um desejo em:
(A) “Ser eu é não
ser.” (4a estrofe)
(B) “Ah, mas eu fugi.”
(1a estrofe)
(C) “Logo que nasci /
Fecharam-me em mim,” (1a estrofe)
(D) “Minha alma
procura-me / Mas eu ando a monte,” (3a estrofe)
(E) “Oxalá que ela /
Nunca me encontre.” (3a estrofe)
QUESTÃO 14 – O eu
lírico inclui o leitor em sua argumentação
(A) na terceira
estrofe, apenas.
(B) na primeira
estrofe, apenas.
(C) na quarta estrofe,
apenas.
(D) na segunda
estrofe, apenas.
(E) na segunda e na
terceira estrofes.
QUESTÃO 15 – Decorre
da evasão empreendida pelo eu lírico
(A) sua cisão interna.
(B) seu desprezo pelo
mundo.
(C) seu desejo de
morrer.
(D) sua ausência de
esperança.
(E) seu isolamento
social.
QUESTÃO 16 – “Rima
rica” é aquela que ocorre entre palavras de classes gramaticais diferentes, a
exemplo do que se verifica
(A) na primeira estrofe
(“nasci”/“fugi”) e na segunda estrofe (“lugar”/“cansar”).
(B) na terceira
estrofe (“monte”/“encontre”), apenas.
(C) na segunda estrofe
(“lugar”/“cansar”), apenas.
(D) na primeira
estrofe (“nasci”/“fugi”) e na terceira estrofe (“monte”/“encontre”).
(E) na segunda estrofe
(“lugar”/“cansar”) e na terceira estrofe (“monte”/“encontre”).
QUESTÃO 17 – “Se a
gente se cansa
Do mesmo lugar,
Do mesmo ser
Por que não se
cansar?” (2a estrofe)
Os termos sublinhados
constituem
(A) pronomes, somente.
(B) conjunção, pronome
e pronome, respectivamente.
(C) conjunções,
somente.
(D) pronome, conjunção
e conjunção, respectivamente.
(E) conjunção,
conjunção e pronome, respectivamente.
QUESTÃO 18 – Os haviam
“civilizado” a imagem do índio, injetando nele os padrões do cavalheirismo
convencional. Os , ao contrário, procuraram nele e no negro o primitivismo, que
injetaram nos padrões da civilização dominante como renovação e quebra das
convenções acadêmicas.
(Antonio Candido. Iniciação
à literatura brasileira, 2010. Adaptado.)
As lacunas do texto
devem ser preenchidas, respectivamente, por
(A) românticos e
simbolistas.
(B) árcades e
simbolistas.
(C) árcades e
modernistas.
(D) românticos e
modernistas.
(E) simbolistas e
modernistas.
QUESTÃO 19 – Examine a
tira de Steinberg, publicada em seu Instagram no dia 20.08.2018.
Colabora para o efeito
de humor da tira o recurso à figura de linguagem denominada
(A) eufemismo.
(B) pleonasmo.
(C) hipérbole.
(D) personificação.
(E) sinestesia.
Para responder às
questões de 20 a 27, leia o trecho do livro Casa-grande e
senzala, de Gilberto Freyre.
Mas
a casa-grande patriarcal não foi apenas fortaleza, capela, escola, oficina,
santa casa, harém, convento de moças, hospedaria. Desempenhou outra função
importante na economia brasileira: foi também banco. Dentro das suas grossas
paredes, debaixo dos tijolos ou mosaicos, no chão, enterrava-se dinheiro,
guardavam-se joias, ouro, valores. Às vezes guardavam-se joias nas capelas,
enfeitando os santos. Daí Nossas Senhoras sobrecarregadas à baiana de teteias, balangandãs,
corações, cavalinhos, cachorrinhos e correntes de ouro. Os ladrões, naqueles
tempos piedosos, raramente ousavam entrar nas capelas e roubar os santos. É
verdade que um roubou o esplendor e outras joias de São Benedito; mas sob o
pretexto, ponderável para a época, de que “negro não devia ter luxo”. Com
efeito, chegou a proibir-se, nos tempos coloniais, o uso de “ornatos de algum
luxo” pelos negros.
Por
segurança e precaução contra os corsários, contra os excessos demagógicos,
contra as tendências comunistas dos indígenas e dos africanos, os grandes
proprietários, nos seus zelos exagerados de privativismo, enterraram dentro de casa
as joias e o ouro do mesmo modo que os mortos queridos. Os dois fortes motivos
das casas-grandes acabarem sempre mal-assombradas com cadeiras de balanço se
balançando sozinhas sobre tijolos soltos que de manhã ninguém encontra; com
barulho de pratos e copos batendo de noite nos aparadores; com almas de
senhores de engenho aparecendo aos parentes ou mesmo estranhos pedindo
padres--nossos, ave-marias, gemendo lamentações, indicando lugares com botijas
de dinheiro. Às vezes dinheiro dos outros, de que os senhores ilicitamente se
haviam apoderado. Dinheiro que compadres, viúvas e até escravos lhes tinham
entregue para guardar. Sucedeu muita dessa gente ficar sem os seus valores e
acabar na miséria devido à esperteza ou à morte súbita do depositário. Houve
senhores sem escrúpulos que, aceitando valores para guardar, fingiram-se depois
de estranhos e desentendidos: “Você está maluco? Deu-me lá alguma cousa para
guardar?”
Muito
dinheiro enterrado sumiu-se misteriosamente. Joaquim Nabuco, criado por sua
madrinha na casa-grande de Maçangana, morreu sem saber que destino tomara a
ourama para ele reunida pela boa senhora; e provavelmente enterrada em algum
desvão de parede. […] Em várias casas-grandes da Bahia, de Olinda, de
Pernambuco se têm encontrado, em demolições ou escavações, botijas de dinheiro.
Na que foi dos Pires d’Ávila ou Pires de Carvalho, na Bahia, achou-se, num
recanto de parede, “verdadeira fortuna em moedas de ouro”. Noutras
casas-grandes só se têm desencavado do chão ossos de escravos, justiçados pelos
senhores e mandados enterrar no quintal, ou dentro de casa, à revelia das autoridades.
Conta-se que o visconde de Suaçuna, na sua casa-grande de Pombal, mandou
enterrar no jardim mais de um negro supliciado por ordem de sua justiça
patriarcal. Não é de admirar. Eram senhores, os das casas-grandes, que mandavam
matar os próprios filhos. Um desses patriarcas, Pedro Vieira, já avô, por
descobrir que o filho mantinha relações com a mucama de sua predileção, mandou
matá-lo pelo irmão mais velho.
(In: Silviano
Santiago (coord.). Intérpretes do Brasil, 2000.)
QUESTÃO 20 – De acordo
com o texto, os ladrões da época evitavam praticar furtos
(A) devido à violência
dos senhores de engenho.
(B) por respeito aos
mortos.
(C) devido às crenças
religiosas.
(D) em razão do rigor
da justiça.
(E) por medo de
assombrações.
QUESTÃO 21 – “Noutras
casas-grandes só se têm desencavado do chão ossos de escravos, justiçados pelos
senhores e mandados enterrar no quintal, ou dentro de casa, à revelia das
autoridades.” (3o parágrafo)
Conclui-se da leitura
desse trecho que, em relação às autoridades, os senhores de engenho assumiam um
comportamento
(A) transgressor.
(B) vingativo.
(C) submisso.
(D) isento.
(E) respeitoso.
QUESTÃO 22 – Guardadas
as proporções, o ambiente retratado no texto de Gilberto Freyre aparece com
destaque na produção literária de
(A) Euclides da Cunha.
(B) Machado de Assis.
(C) Aluísio Azevedo.
(D) José Lins do Rego.
(E) Lima Barreto.
QUESTÃO 23 – “Os
ladrões, naqueles tempos piedosos, raramente ousavam
entrar nas capelas e
roubar os santos. É verdade que um roubou o esplendor e outras joias de São
Benedito; mas sob o pretexto, ponderável para a época, de que ‘negro não devia ter
luxo’.” (1o parágrafo)
Em relação à frase
anterior, a frase sublinhada constitui uma
(A) condição.
(B) ratificação.
(C) conclusão.
(D) redundância.
(E) ressalva.
QUESTÃO 24 – Em “Não é
de admirar. Eram senhores, os das casas-grandes, que mandavam matar os próprios
filhos.” (3o parágrafo), a conjunção que poderia unir as duas frases, sem
alteração de sentido, é:
(A) como.
(B) mas.
(C) embora.
(D) se.
(E) pois.
QUESTÃO 25 – A expressão
do texto cujo sentido está corretamente indicado é:
(A) “ponderável para a
época” (1o parágrafo) → desprezível para o
tempo.
(B) “tempos piedosos”
(1o parágrafo) → época fervorosa.
(C) “excessos
demagógicos” (2o parágrafo) → desmando
político.
(D) “tendências
comunistas” (2o parágrafo) → incitação
pública.
(E) “zelos exagerados”
(2o parágrafo) → aflições excessivas.
QUESTÃO 26 – Ao se
transpor a frase “Às vezes guardavam-se joias nas capelas, enfeitando os
santos.” (1o parágrafo) para a voz passiva analítica, o termo sublinhado assume
a seguinte forma:
(A) seriam guardadas.
(B) fossem guardadas.
(C) foram guardadas.
(D) eram guardadas.
(E) são guardadas.
QUESTÃO 27 – A forma
verbal destacada deve sua flexão ao termo sublinhado em:
(A) “Deu-me
lá alguma cousa para guardar?” (2o parágrafo)
(B) “Sucedeu muita
dessa gente ficar sem os seus valores e acabar na miséria devido à esperteza ou
à morte súbita do depositário.” (2o parágrafo)
(C) “Desempenhou
outra função importante na economia brasileira: foi também banco.” (1o
parágrafo)
(D) “os grandes
proprietários, nos seus zelos exagerados de privativismo, enterraram dentro
de casa as joias e o ouro do mesmo modo que os mortos queridos.” (2o parágrafo)
(E) “Às vezes dinheiro
dos outros, de que os senhores ilicitamente se haviam apoderado.”
(2o parágrafo)
QUESTÃO 28 – A verve
social da poesia de João Cabral de Melo Neto mostra-se mais evidente nos
versos:
(A) A cana cortada é
uma foice.
Cortada num ângulo
agudo,
ganha o gume afiado da
foice
que a corta em foice,
um dar-se mútuo.
Menino, o gume de uma
cana
cortou-me ao quase de
cegar-me,
e uma cicatriz, que
não guardo,
soube dentro de mim
guardar-se.
(B) Formas primitivas
fecham os olhos
escafandros ocultam
luzes frias;
invisíveis na
superfície pálpebras
não batem.
Friorentos corremos ao
sol gelado
de teu país de mina
onde guardas
o alimento a química o
enxofre
da noite.
(C) No espaço jornal
a sombra come a
laranja,
a laranja se atira no
rio,
não é um rio, é o mar
que transborda de meu
olho.
No espaço jornal
nascendo do relógio
vejo mãos, não
palavras,
sonho alta noite a
mulher
tenho a mulher e o
peixe.
(D) Os sonhos
cobrem-se de pó.
Um último esforço de
concentração
morre no meu peito de
homem enforcado.
Tenho no meu quarto
manequins corcundas
onde me reproduzo
e me contemplo em
silêncio.
(E) O mar soprava
sinos
os sinos secavam as
flores
as flores eram cabeças
de santos.
Minha memória cheia de
palavras
meus pensamentos
procurando fantasmas
meus pesadelos
atrasados de muitas noites.
QUESTÃO 29 – Para
exprimir seu pensamento, este escritor teve de forjar uma língua que é só dele.
O leitor que aborda pela primeira vez um de seus livros fica desconcertado com
a obscuridade dessa língua. Mas ao mesmo tempo é subjugado, e enfeitiçado, por
essa maneira inteiramente nova de dizer as coisas. E pouco a pouco tudo começa
a adquirir um sentido, um sentido múltiplo, ambíguo, numa palavra, poético. Seu
vocabulário é inteiramente renovado pela prática sistemática do neologismo.
Todos os recursos da fonética são explorados.
(Paul Teyssier. Dicionário
de literatura brasileira, 2003. Adaptado.)
O texto refere-se ao
escritor
(A) Guimarães Rosa.
(B) Graciliano Ramos.
(C) Euclides da Cunha.
(D) Machado de Assis.
(E) José de Alencar.
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