Prova de língua portuguesa - UNIFESP 2008
01. Considere
o texto e analise as três afirmações seguintes.
I. A
frase Toda criança deve ser assistida quanto ao seu direito à atenção e ao
carinho dos adultos está correta quanto aos sentidos propostos no texto e
também quanto à regência.
II. Deve-se
interpretar a referência do pronome você como criança, conforme
sugerido pelo título do texto.
III. As
duas orações que compõem as perguntas estabelecem entre si relação de
adversidade.
Está
correto apenas o que se afirma em
(A)
I. (B) II. (C) III.
(D) I e II. (E) II e III.
INSTRUÇÃO:
Considere o trecho de notícia seguinte para responder às questões de números 02 e 03.
Polícia
investiga troca de bebê por casa
A polícia do Paraná está investigando
três casos de doação ilegal de bebês no Estado, que teriam sido trocados pelos
pais por material de construção, cestas básicas e por uma casa.
(Folha
de S.Paulo, 10.06.1999.)
02. Comparando
o primeiro texto, De criança para criança, como texto da notícia, é
correto afirmar que a atitude dos pais
(A)
viola o exposto naquele texto, já que eles não obtiveram vantagens pessoais com
a doação.
(B)
confirma o que vem exposto naquele texto, já que os bebês foram doados para que
tivessem uma vida melhor.
(C)
contradiz o que vem exposto naquele texto, já que os bebês não foram
devidamente respeitados.
(D)
nega o que vem exposto naquele texto, já que a adoção não violou o direito dos
bebês.
(E)
confirma o que vem exposto naquele texto quanto à doação, que é ilegal, mas
necessária.
03. Tendo
em vista que a investigação policial não estava concluída na época da publicação
da notícia, o emprego da forma verbal teriam sugere que os casos investigados
eram
(A)
fantasiosos. (B)
possíveis. (C)
confirmados. (D)
contraditórios. (E)
idealizados.
INSTRUÇÃO:
As questões de números 04 a 08 baseiam-se no texto de
Moacyr Scliar.
A
casa das ilusões perdidas
Quando ela anunciou que estava grávida,
a primeira reação dele foi de desagrado, logo seguida de franca irritação. Que
coisa, disse, você não podia tomar cuidado, engravidar logo agora que estou
desempregado, numa pior, você não tem cabeça mesmo, não sei o que vi em você,
já deveria ter trocado de mulher havia muito tempo. Ela, naturalmente, chorou,
chorou muito. Disse que ele tinha razão, que aquilo fora uma
irresponsabilidade, mas mesmo assim queria ter o filho. Sempre sonhara com
isso, com a maternidade — e agora que o sonho estava prestes a se realizar, não
deixaria que ele se desfizesse.
— Por favor, suplicou. — Eu faço
tudo que você quiser, eu dou um jeito de arranjar trabalho, eu sustento o nenê,
mas, por favor, me deixe ser mãe.
Ele disse que ia pensar. Ao fim de três
dias daria a resposta. E sumiu.
Voltou, não ao cabo de três dias, mas de
três meses. Àquela altura ela já estava com uma barriga avantajada que tornava
impossível o aborto; ao vê-lo, esqueceu a desconsideração, esqueceu tudo —
estava certa de que ele vinha com a mensagem que tanto esperava, você pode ter
o nenê, eu ajudo você a criá-lo.
Estava errada. Ele vinha, sim, dizer-lhe
que podia dar à luz a criança; mas não para ficar com ela. Já tinha feito o
negócio: trocariam o recém-nascido por uma casa. A casa que não tinham e que
agora seria o lar deles, o lar onde — agora ele prometia — ficariam para
sempre.
Ela ficou desesperada. De novo caiu em
prantos, de novo implorou. Ele se mostrou irredutível. E ela, como sempre,
cedeu.
Entregue a criança, foram visitar a
casa. Era uma modesta construção num bairro popular. Mas era o lar prometido e
ela ficou extasiada. Ali mesmo, contudo, fez uma declaração:
— Nós vamos encher esta casa de
crianças. Quatro ou cinco, no mínimo.
Ele não disse nada, mas ficou pensando.
Quatro ou cinco casas, aquilo era um bom começo.
(Moacyr
Scliar, Folha de S.Paulo, 14.06.1999.)
04. No
texto, a idéia de ilusões perdidas diz respeito à
(A)
realização da maternidade que, na verdade, não atinge a sua plenitude.
(B)
desolação da jovem mãe ao ver que a casa recebida não era luxuosa como
concebera.
(C)
alegria da mãe com a casa e à superação da tristeza pela doação da criança.
(D)
melancolia da mãe por programar todas as crianças que teria para trocar por
casas.
(E)
certeza do homem de que a mulher não formará com ele um lar na casa nova.
05. O
casal age de modo contrário aos sentimentos comuns de justiça e dignidade. No
contexto da narrativa, tais comportamentos explicam-se
(A)
pela falta de amor que há entre a mulher e o companheiro, fazendo com que tudo que
os rodeia se torne um negócio vantajoso.
(B)
pelo amor exagerado que a mulher sente e pela confusão de sentimentos que o
companheiro vive na descoberta desse amor.
(C)
pelo ódio exagerado que a mulher sente do companheiro e pela forma displicente
e pouco amável como ele a vê.
(D)
pela submissão exagerada da mulher ao companheiro e pela forma mesquinha e
interesseira como ele resolve as coisas.
(E)
pela forma irresponsável com que a mulher age em relação ao companheiro, o que
o faz tomar atitudes impensadas.
06. Ele
não disse nada, mas ficou pensando. Quatro ou cinco casas, aquilo era um bom
começo.
As
duas frases finais do texto deixam evidente que ter mais filhos
(A)
é uma possibilidade pouco atraente para o casal que, por hora, já conquistou
algo à custa de sofrimento.
(B)
será para o casal uma forma de alcançar a felicidade, já que a mulher e seu
companheiro poderão ter a casa cheia de crianças.
(C)
pode tornar-se lucrativo na ótica do companheiro, embora a mulher ainda veja
isso com olhos sonhadores.
(D)
se torna uma forma de compensar o episódio pouco feliz da doação do primeiro
filho do casal.
(E)
não alteraria em nada a vida do casal, já que não haveria como fazer os dois
esquecerem a criança doada.
07. Eu
faço tudo que você quiser, eu dou um jeito de arranjar trabalho, eu sustento o
nenê, mas, por favor, me deixe ser mãe.
Mantida a mesma forma de tratamento e supondo que a frase fosse proferida pelo homem, ela assumiria a seguinte forma:
Mantida a mesma forma de tratamento e supondo que a frase fosse proferida pelo homem, ela assumiria a seguinte forma:
(A)
Faças tudo que eu quero, dês um jeito de arranjar trabalho, sustentas o nenê,
que eu te deixo ser mãe.
(B)
Faz tudo que eu quero, dê um jeito de arranjar trabalho, sustenta o nenê, que
eu lhe deixo ser mãe.
(C)
Faz tudo que eu quero, dá um jeito de arranjar trabalho, sustenta o nenê, que
eu deixo você ser mãe.
(D)
Faça tudo que eu quero, dá um jeito de arranjar trabalho, sustente o nenê, que
eu lhe deixo ser mãe.
(E)
Faça tudo que eu quero, dê um jeito de arranjar trabalho, sustente o nenê, que
eu a deixo ser mãe.
08. No
texto, há muitas retomadas pronominais, basicamente expressas pelos pronomes ele e ela.
Isso não gera ambiguidade principalmente porque
(A)
se alternam os pronomes com sinônimos.
(B)
as referências dos pronomes são muito restritas.
(C)
as formas verbais estão todas no mesmo tempo.
(D)
todos os pronomes poderiam ser omitidos.
(E)
as frases curtas limitam a interpretação.
INSTRUÇÃO:
Considere trecho da Bíblia para responder às questões de números 09 e 10.
E disse [Deus]: Certamente tornarei a ti
por este tempo da vida; e eis que Sara tua mulher terá um filho. E Sara
escutava à porta da tenda, que estava atrás dele.
E eram Abraão e Sara já velhos, e
adiantados em idade; já a Sara havia cessado o costume das mulheres.
Assim, pois, riu-se Sara consigo,
dizendo: Terei ainda deleite depois de haver envelhecido, sendo também o meu
senhor já velho? (...)
E concebeu Sara, e deu a Abraão um filho
na sua velhice, ao tempo determinado, que Deus lhe tinha falado.
(www.bibliaonline.com.br,
Gn 18, 10-12; 21, 2.)
09. No
trecho, afirma-se que Abraão e Sara já estavam adiantados em idade e
que a Sara já havia cessado o costume das mulheres. Essas expressões são
(A)
eufemismos, que remetem, respectivamente, à velhice e ao ciclo menstrual.
(B)
metáforas, que remetem, respectivamente, à idade adulta e ao vigor sexual.
(C)
hipérboles, que remetem, respectivamente, à velhice e à paixão feminina.
(D)
sinestesias, que remetem, respectivamente, à decrepitude e à sensualidade.
(E)
sinédoques, que remetem, respectivamente, à idade adulta e ao amor.
10. Em
Assim, pois,
riu-se Sara consigo...
...
que Deus lhe tinha falado.
a
conjunção pois tem valor ........... e o pronome lhe refere-se ao
termo ............
Os
espaços devem ser preenchidos, respectivamente, com
(A)
conclusivo e Abraão.
(B) explicativo e Sara.
(C) causal e Sara.
(D) explicativo e Abraão.
(B) explicativo e Sara.
(C) causal e Sara.
(D) explicativo e Abraão.
(E)
condicional e Abraão.
INSTRUÇÃO:
Considere a tirinha para responder às questões de números 11 a 13.
11.
O termo hedonismo, na fala do pai de Calvin, está relacionado
(A)
à sua busca por valores mais humanos.
(B)
ao seu novo ritmo de vida.
(C)
à sua busca por prazer pessoal e imediato.
(D)
à sua forma convencional de viver.
(E)
ao seu medo de enfrentar a realidade.
12. Assinale
a alternativa correta, tendo como referência todas as falas do menino Calvin.
(A)
O emprego de termos como gente e tem é inadequado, uma vez
que estão carregados de marcas da linguagem coloquial desajustadas à situação
de comunicação apresentada.
(B)
Calvin emprega o pronome você não necessariamente para marcar a
interlocução: antes, trata-se de um recurso da linguagem coloquial utilizado
como forma de expressar idéias genéricas.
(C)
O emprego de termos de significação ampla — como noção, tudo, normal —
prejudica a compreensão do texto, pois o leitor não consegue entender, com
clareza,
o
que se pretende dizer.
(D)
O pronome eles é empregado duas vezes, sendo impossível, no contexto,
recuperar-lhe as referências.
(E)
O termo bem é empregado com valor de confirmação das informações
precedentes.
13.
Em — E correr uns bons 20 km! — o termo uns assume va lor
de
(A)
posse. (B) exatidão. (C) definição. (D) especificação. (E) aproximação.
INSTRUÇÃO:
As questões de números 14 a 17 baseiam-se no texto de Mário
de Andrade.
É por causa do meu engraxate que ando
agora em plena desolação. Meu engraxate me deixou.
Passei duas vezes pela porta onde ele
trabalhava e nada. Então me inquietei, não sei que doenças mortíferas, que
mudança pra outras portas se passaram em mim, resolvi perguntar ao menino que
trabalhava na outra cadeira. O menino é um retalho de hungarês, cara de
infeliz, não dá simpatia alguma. E tímido, o que torna instintivamente a gente
muito combinado com o universo no propósito de desgraçar esses desgraçados de
nascença. “Está vendendo bilhete de loteria”, respondeu antipático, me deixando
numa perplexidade penosíssima: pronto! Estava sem engraxate! Os olhos do menino
chispeavam ávidos, porque sou um dos que ficam fregueses e dão gorjeta. Levei
seguramente um minuto pra definir que tinha de continuar engraxando sapatos
toda a vida minha e ali estava um menino que, a gente ensinando, podia ficar
engraxate bom.
(Mário
de Andrade, Os Filhos da Candinha.)
14. A
desolação por que passa o narrador resulta
(A)
do sumiço do engraxate, por quem o narrador, ao valer-se dos serviços, criara
certa afeição.
(B)
da ausência do engraxate, de cujos serviços, mesmo precários, aquele se valia.
(C)
da presença do menino hungarês, pouco aberto ao diálogo, em substituição
obrigatória ao antigo engraxate.
(D)
do sumiço do engraxate com quem ele evitava a todo custo criar laços afetivos.
(E)
da necessidade dos serviços do tímido menino hungarês, que certamente não
chegaria a ser bom engraxate.
15. A
timidez do engraxate despertava no narrador um sentimento de
(A)
pena dele e daqueles que, como ele, também viviam mal.
(B)
repulsa por ele e pelos de sua condição de mal-nascido.
(C)
enternecimento por ele e pelos mal-nascidos, por sua natural infelicidade.
(D)
distanciamento dele e daqueles que o viam com interesse.
(E)
indignação com ele e com aqueles que pouco faziam para progredir.
16. É
correto afirmar que
(A)
o narrador ficou sem engraxate, mas queria encontrar o menino para agradecer
pelos bons serviços que recebera.
(B)
o menino hungarês é antipático, pois se refere, com ironia, ao outro que, um
dia, já esteve trabalhando ao seu lado como engraxate, prestando serviços ao
narrador.
(C)
a possibilidade de ficar definitivamente sem seu engraxate, que poderia lograr
êxito no novo emprego, perturbava demais o narrador.
(D)
o espírito generoso do narrador com o engraxate, ficando freguês e dando
gorjetas, não foi suficiente para evitar ser maltratado pelo menino.
(E)
a forma dissimulada como o menino hungarês trata o narrador naquele momento
difícil mostra-o como se estivesse se divertindo com a situação.
17. Assinale
a alternativa correta.
(A)
Respeitando-se os sentidos do texto, a primeira frase pode ser parafraseada
por: Embora meu engraxate tenha me deixado, ando agora em plena desolação.
(B)
Em — Os olhos do menino chispeavam ávidos... — a forma verbal
significa observavam placidamente.
(C)
Na norma padrão, a frase — Meu engraxate me deixou. — também pode
assumir a forma: Me deixou meu engraxate.
(D)
Afrase — “Está vendendo bilhete de loteria”, respondeu antipático... —,
em discurso indireto, assume a forma: Respondeu antipático que estaria
vendendo bilhete de loteria.
(E)
A frase — ... ali estava um menino que, a gente ensinando, podia ficar
engraxate bom. — na norma padrão, na primeira pessoa do plural, assume a
seguinte forma: ... ali estava um menino que, se nós ensinássemos, poderia
tornar-se bom engraxate.
18. Sobre
Mário de Andrade e a Semana de 22, afirma-se:
I. A Semana desencadeou
na cultura brasileira um período que Mário denominou orgia intelectual,
favorecida pelas mãos da burguesia culta do Rio de Janeiro e de São Paulo, da
qual ele era um representante.
II. Apesar
de estar em contato com as novas tendências das artes, Mário manteve-se fiel
àqueles que os modernistas chamaram de conservadores, em geral os
parnasianos, dos quais sua obra recebe influência decisiva.
III. Ao
contrário de Oswald, que era irreverente em relação à dominação cultural europeia,
Mário não tinha um projeto literário em que houvesse preocupação significativa
com a cultura nacional.
Está
correto apenas o que se afirma em
(A)
I. (B) II. (C) III.
(D) I e II. (E) II e III.
19. Leia
a charge.
Assinale
a alternativa em que a frase mantém o sentido da resposta do policial.
(A)
Achei algo.
(B)
Achei alguma coisa.
(C)
Achei algum futuro.
(D)
Não achei futuro algum.
(E)
Não achei muita coisa.
INSTRUÇÃO:
As questões de números 20 a 23 referem-se ao texto
seguinte.
No ensino, como em outras coisas, a
liberdade deve ser questão de grau. Há liberdades que não podem ser toleradas.
Uma vez conheci uma senhora que afirmava não se dever proibir coisa alguma a
uma criança, pois ela deve desenvolver sua natureza de dentro para fora. “E se
a sua natureza a levar a engolir alfinetes?” indaguei; lamento dizer que a
resposta foi puro vitupério. No entanto, toda criança abandonada a si mesma,
mais cedo ou mais tarde engolirá alfinetes, tomará veneno, cairá de uma janela
alta ou doutra forma chegará a mau fim. Um pouquinho mais velhos, os meninos,
podendo, não se lavam, comem demais, fumam até enjoar, apanham resfriados por
molhar os pés, e assim por diante — além do fato de se divertirem
importunando anciãos, que nem sempre possuem a capacidade de resposta de
Eliseu. Quem advoga a liberdade da educação não quer dizer que as crianças
devam fazer, o dia todo, o que lhes der na veneta. Deve existir um elemento de
disciplina e autoridade: a questão é até que ponto, e como deve ser exercido.
(Bertrand
Russell, Ensaios céticos.)
20. Do
ponto de vista do autor, fica claro que a liberdade
(A)
é essencial à criança e sua falta é prejudicial, quando não se entende o porquê
da restrição.
(B)
não deve ser concebida de forma absoluta, havendo necessidade de que sejam
coibidos os excessos.
(C)
é um modo de a criança desenvolver-se de forma independente, quando criada sem
restrições.
(D)
deve ser tolerada para que não haja prejuízo ao desenvolvimento pessoal e
social da criança.
(E)
serve para atos de prejuízo pessoal, por isso não possui nada que seja
realmente bom à criança.
21. As
liberdades não toleradas
(A)
dizem respeito a fatos externos ao ambiente escolar.
(B)
comprometem o rendimento escolar da criança.
(C)
representam riscos à integridade da criança e de adultos.
(D)
impedem que a criança se desenvolva plenamente.
(E)
são exemplos de disciplina e autoridade.
INSTRUÇÃO:
As questões de números 22 e 23 baseiam-se na frase — Quem
advoga a liberdade da educação não quer dizer que as crianças devam fazer, o
dia todo, o que lhes der na veneta.
22.
O termo advoga deve ser entendido como
(A)
impõe. (B) afirma. (C) estuda.
(D) exige. (E) defende.
23.
Substituindo-se Quem por As pessoas que, obtém-se:
(A)
As pessoas que advoga a liberdade da educação não querem dizer que as crianças
devam fazer, o dia todo, o que lhes der na veneta.
(B)
As pessoas que advogam a liberdade da educação não quer dizerem que as crianças
devam fazer, o dia todo, o que lhes derem na veneta.
(C)
As pessoas que advogam a liberdade da educação não quer dizer que as crianças
devam fazer, o dia todo, o que lhes der na veneta.
(D)
As pessoas que advogam a liberdade da educação não querem dizer que as crianças
devam fazer, o dia todo, o que lhes der na veneta.
(E)
As pessoas que advogam a liberdade da educação não querem dizerem que as
crianças devam fazer, o dia todo, o que lhes derem na veneta.
INSTRUÇÃO:
O poema de Alberto Caeiro é base para responder às questões de números 24 e 25.
A
Criança que Pensa em Fadas
A
criança que pensa em fadas e acredita nas fadas
Age
como um deus doente, mas como um deus.
Porque
embora afirme que existe o que não existe
Sabe
como é que as cousas existem, que é existindo,
Sabe
que existir existe e não se explica,
Sabe
que não há razão nenhuma para nada existir,
Sabe
que ser é estar em algum ponto
Só
não sabe que o pensamento não é um ponto qualquer.
24. Nos
versos, fica evidente o perfil do heterônimo de Fernando Pessoa, Alberto
Caeiro, pois ele
(A)
entende que o homem está atrelado a uma visão subjetiva da existência.
(B)
volta-se para o mundo sensível que o rodeia como forma de conceber a
existência.
(C)
concebe a existência como apreensão dos elementos místicos e indefinidos.
(D)
não acredita que a existência possa ser definida em termos de objetividade.
(E)
busca na metafísica a base de uma concepção da existência subjetiva.
25. O
teólogo Leonardo Boff, em entrevista à revista Filosofia, diz: Eu me
lembro agora, sábado, de um menino de oito anos, que veio e me disse: “Vô, por
que as coisas existem?” A filosofia começa com isso. Respondi que elas existem
porque existem. E aí até citei um poeta, Angelus Silesius: “A flor floresce por
florescer / Não pergunta se a olham / E sorri pro universo. A rosa é sem
porquê.” E ele disse: “E eu? O que eu faço aqui nesse mundo?” Oito anos de
idade e já colocou as questões da metafísica fundamentais.
(Filosofia
– ciência & vida, Ano 1, n.º 05.)
No
poema de Caeiro, o ponto de vista de Silesius, com o qual concorda Boff, é
(A)
confirmado, pois o eu lírico entende que a existência está ligada a um deus.
(B)
negado, pois o eu lírico entende que se deve evitar o questionamento da
metafísica.
(C)
negado, pois o eu lírico entende que a existência é uma grande falta de razão.
(D)
confirmado, pois o eu lírico entende que o existir por si só já basta.
(E)
negado, pois o eu lírico entende que não se apreende a realidade senão por
intermédio de um deus.
INSTRUÇÃO:
Para responder às questões de números 26 a 30, leia o texto de
Lygia Fagundes Telles.
Que
se chama solidão
Chão da infância. Algumas lembranças me
parecem fixadas nesse chão movediço, as minhas pajens. Minha mãe fazendo seus
cálculos na ponta do lápis ou mexendo o tacho de goiabada ou ao piano; tocando
suas valsas. E tia Laura, a viúva eterna que foi morar na nossa casa e que
repetia que meu pai era um homem instável. Eu não sabia o que queria dizer
instável mas sabia que ele gostava de fumar charutos e gostava de jogar. A tia
um dia explicou, esse tipo de homem não consegue parar muito tempo no mesmo
lugar e por isso estava sempre sendo removido de uma cidade para outra como
promotor. Ou delegado. Então minha mãe fazia os tais cálculos de futuro, dava
aquele suspiro e ia tocar piano. E depois, arrumar as malas.
— Escutei que a gente vai se mudar outra
vez, vai mesmo? perguntou minha pajem Maricota. Estávamos no quintal chupando
os gomos de cana que ela ia descascando. Não respondi e ela fez outra pergunta:
Sua tia vive falando que agora é tarde porque a Inês é morta, quem é essa tal
de Inês?
Sacudi a cabeça, não sabia. Você é
burra, Maricota resmungou cuspinhando o bagaço. (...)
— Corta mais cana, pedi e ela
levantou-se enfurecida: Pensa que sou sua escrava, pensa? A escravidão já
acabou!, ficou resmungando enquanto começou a procurar em redor, estava sempre
procurando alguma coisa e eu saía atrás procurando também, a diferença é que
ela sabia o que estava procurando, uma manga madura? Jabuticaba? Eu já tinha
perguntado ao meu pai o que era isso, escravidão. Mas ele soprou a fumaça para
o céu (dessa vez fumava um cigarro de palha) e começou a recitar uma poesia que
falava num navio cheio de negros presos em correntes e que ficavam chamando por
Deus. Deus, eu repeti quando ele parou de recitar. Fiz que sim com a cabeça e
fui saindo, Agora já sei.
(Lygia
Fagundes Telles, Invenção e Memória.)
26. De
acordo com o texto, entende-se que o chão da infância da narradora é marcado
(A)
pela incômoda viuvez da tia.
(B)
pela ausência do pai.
(C)
pelo convívio com família e pajens.
(D)
pelo medo da escravidão.
(E)
pela indiferença das pajens.
27. Entende-se
que a relação da narradora com a pajem baseia-se
(A)
na tolerância entre elas, embora a narradora quase não consiga conter sua raiva
com os descasos da pajem.
(B)
na tensão entre elas, embora a pajem deva respeito à narradora, pois tem uma
relação profissional com a família.
(C)
na indiferença entre elas, pois tanto a narradora deixa de responder como a
pajem deixa de atender-lhe o pedido.
(D)
na rivalidade entre elas, fato que se comprova pela agressividade da pajem que
sonhava estar no lugar da narradora.
(E)
na proximidade entre elas, pois a pajem, por exemplo, externa seus sentimentos
de desagrado, quando se vê incomodada por algo.
28. Na
resposta enfurecida da pajem à narradora, repete-se a forma verbal pensa.
Essa resposta permite entender que ela
(A)
não pretende mais cortar cana naquele momento.
(B)
se vê na obrigação de atender o pedido.
(C)
está, na verdade, fazendo uma brincadeira.
(D)
não compreendeu ao certo o que lhe foi pedido.
(E)
se dispõe a atender o pedido com prontidão.
29. Leia
as estrofes seguintes.
I. Quando
uma noite, estando descuidados Na cortadora proa vigiando, Uma nuvem
que os ares escurece, Sobre nossas cabeças aparece. Tão temerosa
vinha e carregada, Que pôs nos corações um grande medo; Bramindo, o
negro mar de longe brada, Como se desse em vão nalgum rochedo. “— Ó
Potestade, disse, sublimada: Que ameaço divino ou que segredo Este
clima e este mar nos apresenta, Que mor coisa parece que tormenta?”
II. Presa
nos elos de uma só cadeia, A multidão faminta cambaleia, E chora e
dança ali! Um de raiva delira, outro enlouquece, Outro, que de
martírios embrutece, Cantando, geme e ri!No entanto o capitão manda a
manobra. E após fitando o céu que se desdobra Tão puro sobre o mar, Diz
do fumo entre os densos nevoeiros: “Vibrai rijo o chicote,
marinheiros!Fazei-os mais dançar!...”
III. Ó
mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal! Por te
cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão rezaram! Quantas
noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar!
No
texto, a narradora comenta que seu pai recitava uma poesia que falava num
navio cheio de negros presos em correntes e que ficavam chamando por Deus.
Observando I, II e III, é correto afirmar que os versos recitados pelo pai
estão transcritos apenas em
(A)
I: trata-se do poema A Camões, de Manuel Bandeira.
(B)
I: trata-se do poema Os Lusíadas, de Luiz Vaz de Camões.
(C)
II: trata-se do poema O Monstrengo, de Fernando Pessoa.
(D)
II: trata-se do poema O navio negreiro, de Castro Alves.
(E)
III: trata-se do poema Mar português, de Álvaro de Campos.
30. O
texto de Lygia Fagundes Telles apresenta marcas características do projeto
literário da autora, ligado à ficção
(A)
do realismo fantástico. (B)
documentária urbano-social.
(C)
regionalista. (D)
metafísica. (E)
intimista e psicológica.
GABARITO:
01
D 02 C 03 B 04 A 05 D 06 C 07 E 08 B 09 A 10 A 11 C 12 B 13 E 14 A 15 B
16 C 17 E 18 A 19 D 20 B 21 C 22 E 23 D 24 B 25
D 26 C 27 E 28 A 29 D 30 E
Leia também:
UNIFESP 2017 – PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA
UNIFESP 2016 – PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA
UNIFESP 2014 – PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA
UNIFESP 2013 – PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA
UNIFESP 2017 – PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA
UNIFESP 2016 – PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA
UNIFESP 2014 – PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA
UNIFESP 2013 – PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA
www.veredasdalingua.blogspot.com.br
Conheça as apostilas do blog Veredas da Língua. Clique em uma das imagens abaixo e saiba como adquiri-las.
Nenhum comentário:
Postar um comentário