Temas de redação – Unicamp – 2019
PROPOSTA 1
Você é um(a) estudante do Ensino Médio na rede pública estadual e soube de um acontecimento revoltante na sua escola: sua professora de Filosofia recebeu ofensas e ameaças anônimas por suposta tentativa de doutrinação política, ao ter iniciado o curso sobre as origens da Cidadania e dos Direitos Humanos modernos com o texto a seguir:
Teócrito e o pensamento
A ninguém, nem aos deuses nem aos demônios, nem às tiranias da terra nem às tiranias do céu, foi dado o poder de impedir aos homens o exercício daquele que é o primeiro e o maior de seus atributos: o exercício do pensamento. Podem amarrar as mãos de um homem, impedindo-lhe o gesto. Podem atar-lhe os pés, impedindo-lhe o andar. Podem vazar-lhe os olhos, impedindo a vista. Podem cortar-lhe a língua, impedindo a fala. O direito de pensar, o poder de pensar, porém, estão acima de todas as violências e de todas as repressões, que nada podem contra seu exercício. (...) Parece claro que não há abuso mais abominável que o de tentar impor limitações ao pensamento de qualquer pessoa.
Pretender
suprimir o pensamento de quem quer que seja é o maior dos crimes. Pois não é
apenas um crime contra uma pessoa, mas contra a própria espécie humana, uma vez
que o pensamento é o atributo que distingue o ser humano dos demais seres
criados sobre a face da terra. (...)
Na
vida na cidade, se um homem neutraliza dentro de si o direito de pensar, a
cidade pode ser tomada e dominada pela ferocidade de um tirano, cujo despotismo
levará o povo à morte pela fome, pela crueldade ou por outras formas de
injustiça e
prepotência.
E se não o povo todo, pelo menos uma parte do povo, certamente, será arrastada
à opressão, à tortura, ao cárcere ou a qualquer outra forma de perdição. Os
tiranos não gostam que as pessoas pensem.
a) reivindicar
que a escola se posicione publicamente em defesa da professora;
b) reivindicar
a manutenção de aulas de Filosofia que tematizem os Direitos Humanos; e
c) justificar suas reivindicações. Para tanto, você deve levar em conta tanto o texto acima quanto os excertos abaixo.
1. A
instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade
humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas
liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade
entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as
atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz.
2.
3. No que toca aos direitos humanos, a filósofa Hannah Arendt identificou na ruptura trazida pela experiência totalitária do nazismo e do stalinismo a inauguração do tudo é possível, que levou pessoas a serem tratadas como supérfluas e descartáveis. Tal fato contrariou os valores consagrados da Justiça e do Direito, voltados a evitar a punição desproporcional e a distribuição não equitativa de bens e situações. Arendt propõe assegurar um mundo comum, marcado pela pluralidade e pela diversidade, o qual, através do exercício da liberdade, impediria o ressurgimento de um novo estado totalitário de natureza. No mundo contemporâneo, continuam a persistir situações sociais, políticas e econômicas que, mesmo depois do término dos regimes totalitários, contribuem para tornar os homens supérfluos e sem lugar num mundo comum, como a ubiquidade da pobreza e da miséria, a ameaça do holocausto nuclear, a irrupção da violência, os surtos terroristas, a limpeza étnica, os fundamentalismos excludentes e intolerantes.
(Adaptado de Celso
Lafer, A reconstrução dos direitos humanos: a contribuição de Hannah Arendt. Estudos
Avançados, v. 11, n. 30, São Paulo, p. 55-65, maio/ago. 1997.)
4. O bicho está pegando
na educação. Fico pensando em que mundo vivem os que acham que as escolas
brasileiras sofrem de “contaminação político-ideológica” comandada por “um
exército organizado de militantes travestidos de professores”. É uma baita
contradição para quem diz defender a “pluralidade”, e é o caminho oposto dos
países de alto desempenho em educação: Estados Unidos (em que alguns Estados
oferecem educação sexual desde o século XIX), Nova Zelândia, Suécia, Finlândia
e França. No Brasil, querem interditar o debate. Mesma coisa com os estudos
indígenas e
africanos,
classificados aqui como porta de entrada para favorecer “movimentos sociais”.
Já na Noruega, o currículo é generoso com o povo sami, habitantes
originais do norte da Escandinávia. “Doutrinação”, por lá, chama-se respeito à diversidade
e às raízes da história do país. Para piorar, o principal evangelista dessa
“Bíblia do Mal” seria Paulo Freire. Justo ele, pacifista convicto e obcecado
pela ideia de que as pessoas deveriam pensar livremente. Presos na cortina de fumaça
da suposta doutrinação, empobrecemos um pouco mais o debate sobre educação.
(Adaptado de Blog do Sakamoto. Disponível em https://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br. Acessado em 05/07/2018.)
PROPOSTA 2
Sua professora de
Geografia abriu um fórum no ambiente virtual da disciplina para discutir o
tópico “IDH e crescimento do PIB como indicadores de desenvolvimento” e propôs
as seguintes questões: a) Observe a classificação do Brasil nos rankings apresentados
nos gráficos 1 e 2; b) Interprete os textos 3, 4 e 5; e c) Indique se haveria
diferenças no desenvolvimento social do Brasil caso o país optasse por uma
política econômica que tenha como consequência uma melhor classificação no ranking
do IDH ou no ranking do crescimento do PIB.
Publique uma postagem
nesse fórum, na qual, a partir da leitura dos textos indicados abaixo, você
deve:
a)
apontar em qual ranking o Brasil subiria se
privilegiasse os aspectos qualidade de vida e igualdade no desenvolvimento social;
b)
apresentar
as consequências de priorizar o consumo para o desenvolvimento social; e
c)
argumentar
em favor do seu ponto de vista.
3. Um breve conjunto de informações para nos fazer repensar as relações de consumo:
• A indústria da moda é a segunda
maior consumidora de água no mundo. Só perde para a do petróleo.
• Estima-se que 17% a 20% da
poluição da água industrial vem de tingimento e tratamento têxtil.
• Cerca de 15% a 20% de tecido é
desperdiçado a cada peça cortada. E tecido não é reciclável.
• Estima-se que 10% das emissões de
gases de efeito estufa provêm da indústria da moda.
• As fábricas de moda consomem mais
de 130 milhões de toneladas de carvão/ano para gerar energia.
• Para suprir a demanda do consumo,
quase toda matéria-prima utilizada na moda resulta em problema: do
algodão, cheio de pesticidas, ao
poliéster, oriundo da exploração do petróleo.
• Operários da indústria têxtil em
países como China, Índia e Bangladesh trabalham mais de 12 horas por dia e ganham
menos do que 100 dólares por mês.
• Cerca de 80% da mão de obra deste
mercado são mulheres. E menos de 2% ganham o suficiente para viver em condições
dignas. Para ganhar mais, elas chegam a trabalhar mais de 75 horas por semana. E
tem quem ache que o consumismo é um problema individual que só diz respeito à
própria conta bancária…
(Adaptado de Nina Guimarães, O consumismo destrói o meio ambiente e incentiva o trabalho escravo. Metrópoles, 19/04/2017.)
4. As principais redes de varejo de moda do país associadas à ABVTEX (Associação Brasileira do Varejo Têxtil) já notam a melhora no ânimo dos consumidores. “O cenário é mais favorável, a partir do momento em que há maior disponibilidade de crédito; a inflação está abaixo do esperado, com aumento no poder de compra; e há uma leve redução do desemprego. Esses fatores somados ajudam a elevar a intenção de compra”, aponta Lima, diretor executivo da ABVTEX. A FGV estima que, em 2018, o PIB cresça 2,5%. Esse crescimento deve permanecer liderado pelo consumo.
(Adaptado de Em 2018, crescimento permanecerá liderado pelo consumo, diz FGV. Disponível em http://www.abvtex.org.br/. Acessado em 04/05/ 2018.)
5. Pelo 12º ano consecutivo, só deu ela: a Noruega foi novamente eleita pela ONU como o melhor país do mundo para se viver. Segundo Jens Wandel, diretor do departamento administrativo do Programa de Desenvolvimento da ONU, o sucesso do país consiste em combinar o crescimento de renda com um elevado nível de igualdade. “Ao longo do tempo, a Noruega conseguiu aumentar sua renda e, ao mesmo tempo, garantir que os rendimentos sejam distribuídos de modo uniforme”.
(Adaptado de Índice de Desenvolvimento Humano: o que faz da Noruega o melhor lugar para se viver? Huffpost Brasil, 17/12/2015.)
www.veredasdalingua.blogspot.com.br
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