Temas de Redação
- 1ª Fase – Unicamp – 1999
ORIENTAÇÃO
GERAL
Há
três temas sugeridos para redação. Você deve escolher um deles e desenvolvê-lo
conforme o tipo de texto indicado, segundo as instruções que se encontram na
orientação dada para cada tema. Assinale no alto da página de resposta o tema
escolhido.
Coletânea
de textos:
Os
textos foram tirados de fontes diversas e apresentam fatos, dados, opiniões e
argumentos relacionados com o tema. Eles não representam a opinião da banca
examinadora: são textos como aqueles a que você está exposto na sua vida diária
de leitor de jornais, revistas ou livros, e que você deve saber ler e comentar.
Consulte a coletânea e utilize-a segundo as instruções específicas dadas para
cada tema. Não a copie. Ao elaborar sua redação, você poderá utilizar-se também
de outras informações que julgar relevantes para o desenvolvimento do tema
escolhido.
ATENÇÃO:
SE VOCÊ NÃO SEGUIR AS INSTRUÇÕES RELATIVAS AO TEMA QUE ESCOLHEU, SUA REDAÇÃO
SERÁ ANULADA.
TEMA
A
O
Brasil está em vias de completar cinco séculos de existência aos olhos do mundo
europeu. São os já conhecidos 500 anos de seu descobrimento, que serão
comemorados oficialmente em abril de 2000. Como em qualquer data importante, o
momento é oportuno para um balanço e uma reflexão. O balanço poderia resultar
muito parcial, se se prendesse exclusivamente a fatos econômicos e a dados
sociais circunstanciais. Por isso, faz-se necessário, neste caso, considerar a
questão de quem somos hoje. Tendo isso em mente, e contando com o apoio obrigatório
dos fragmentos abaixo, escreva uma dissertação sobre o tema
500
anos de Brasil
1.
Esqueça tudo o que você aprendeu na escola sobre o descobrimento do Brasil.
(...) A dois anos das comemorações oficiais pelos 500 anos de descobrimento do
Brasil, os últimos trabalhos de pesquisadores portugueses, espanhóis e
franceses revelam uma história muito mais fascinante e épica sobre a chegada
dos colonizadores portugueses ao Novo Mundo. O primeiro português a chegar ao
Brasil foi o navegador Duarte Pacheco Pereira, um gênio da astronomia,
navegação e geografia e homem da mais absoluta confiança do rei de Portugal, d.
Manuel I. Duarte Pacheco descobriu o Brasil um ano e meio
antes de Cabral, entre novembro e dezembro de 1498. (...) As novas pesquisas
sobre a verdadeira história do descobrimento sepultam definitivamente a
inocente versão ensinada nas escolas de que Cabral chegou ao Brasil por acaso,
depois de ter-se desviado da sua rota em direção às Índias.
(ISTO É,
26 de novembro de 1997.)
2.
...a despeito de nossa riqueza aparente, somos uma nação pobre em sua
generalidade, onde a distribuição do dinheiro é viciosa, onde a posse das
terras é anacrônica. Aquele anda nas mãos dos negociantes estrangeiros; estas
sob o tacão de alguns senhores feudais. A grande massa da população, espoliada
por dois lados, arredada do comércio e da lavoura, neste país essencialmente
agrícola, como se costuma dizer, moureja por ali abatida e faminta, não tendo
indústria em que trabalhe; pois que até os palitos e os paus de vassoura
mandam-lhe vir do estrangeiro. (...) povo educado, como um rebanho mole e
automático, sob a vergasta do poder absoluto, vibrada pelos governadores,
vice-reis, capitães-mores e pelos padres da companhia; povo flagelado por todas
as extorsões – nunca fomos, nem somos ainda uma nação culta, livre e original.
(Romero,
Sílvio.História da Literatura Brasileira. 1881.)
3.
O Brasil surge e se edifica a si mesmo, mas não em razão do desígnio de seus
colonizadores. Eles só nos queriam como feitoria lucrativa. Contrariando as
suas expectativas, nos erguemos, imprudentes, inesperadamente, como um novo
povo, distinto de quantos haja, deles inclusive, na busca de nosso ser e de
nosso destino. (...) Somos um povo novo, vale dizer um gênero singular de gente
marcada por nossas matrizes, mas diferente de todas, sem caminho de retorno a
qualquer delas. Esta singularidade nos condena a nos inventarmos a nós mesmos,
uma vez que já não somos indígenas, nem transplantes ultramarinos de Portugal
ou da África.
(Ribeiro,
Darcy. O Brasil como problema.1995.)
4.
Não conhecemos proletariado, nem fortunas colossais que jamais se hão de
acumular entre nós, graças aos nossos hábitos e sistema de sucessão. Nem
argentarismo, pior que a tirania, nem pauperismo, pior que a escravidão.(...) O
Brasil jamais provocou, jamais agrediu, jamais lesou, jamais humilhou outras
nações.
(...)
A estatística dos crimes depõe muito em favor dos nossos costumes. Viaja-se
pelo sertão sem armas, com plena segurança, topando sempre gente simples,
honesta, serviçal. Os homens de Estado costumam deixar o poder mais pobres do
que nele entraram. Magistrados subalternos, insuficientemente remunerados,
sustentam terríveis lutas obscuras, em prol da justiça, contra potentados
locais. (...) Quase todos os homens políticos brasileiros legam a miséria a
suas famílias.
(Affonso
Celso. Porque me ufano de meu país. 1900.)
5.
(…)
Se tu vencesses Calabar!
Se
em vez de portugueses,
-
holandeses!?
Ai
de nós!
Ai
de nós sem as coisas deliciosas que em nós moram:
redes,
rezas,
novenas,
procissões,
-
e essa tristeza, Calabar,
e
essa alegria danada, que se sente
subindo,
balançando, a alma da gente.
Calabar,
tu não sentiste
essa
alegria gostosa de ser triste!
(Lima,
Jorge de. Poesia Completa, vol. 1.)
NOTA DO BLOG: A banca cometeu um pequeno equívoco ao transcrever o primeiro verso do poema acima de Jorge de Lima. O correto é: "Se tu vencesses, Calabar!" A ausência da vírgula transforma o vocativo em objeto direto e muda o significado da frase.
6.
O pau-brasil foi o primeiro monopólio estatal do Brasil: só a metrópole podia
explorá-lo (ou terceirizar o empreendimento). Seria, também, o mais duradouro
dos cartéis: a exploração só foi aberta à iniciativa privada em 1872, quando as
reservas já haviam escasseado brutalmente. Exploração não é o termo: o que
houve foi uma devastação, com a derrubada de 70 milhões de árvores. Como que confirmando
a vocação simbólica, o pau-brasil seria usado, em setembro de 1826, para o
pagamento dos
juros do primeiro empréstimo externo tomado pelo Brasil. Ao deparar com o
Tesouro Nacional desprovido de ouro, d. Pedro I enviou à Inglaterra 50 quintais
(3t) de toras de pau-brasil para leiloá-las em Londres. A esperança do
Imperador de saldar a dívida com o “pau-de-tinta” esbarrou numa inovação
tecnológica: o advento da indústria de anilinas reduzira em muito o valor da
árvore-símbolo do Brasil. Os juros foram pagos com atraso. Em dinheiro, não em
paus.
(Bueno,
E. (org). História do Brasil. Empresa Folha da Manhã. 2ª ed. 1997.)
7.
Jamais se saberá com certeza, mas quando os portugueses chegaram à Bahia, os
índios brasileiros somavam mais de 2 milhões - quase três, segundo alguns
autores. Agora, dizimados por gripe, sarampo e varíola, escravizados aos
milhares e exterminados pelas guerras tribais e pelo avanço da civilização, não
passam de 325.652 - menos do que dois Maracanãs lotados. (...) A idade média
dos índios brasileiros é de 17,5 anos, porque mais da metade da população tem
menos de 15 anos. A expectativa de
vida é de 45,6 anos, e a mortalidade infantil é de 150 para cada mil nascidos.
Existem pelo menos 50 grupos que jamais mantiveram contato com o homem branco,
41 dos quais nem sequer se sabe onde vivem, embora seu destino já pareça
traçado: a extinção os persegue e ameaça.
(Bueno,
E. (org).História do Brasil. Empresa Folha da Manhã. 2ª ed. 1997.)
8.
Há um Código de Defesa do Consumidor, há leis que cuidam do racismo, do direito
de greve, dos crimes hediondos, do juizado de pequenas causas, do sigilo da
conversação telefônica, da tortura, etc. O país cresceu.
(Carvalho
Filho, L. F. Folha de S. Paulo. 3 de outubro de 1998.)
TEMA
B
Imagine-se
nesta situação: um dia, ao invés de encontrar-se no ano de 1998, você (mantendo
os conhecimentos de que dispomos em nossa época) está em abril de 1500,
participando de alguma forma do seguinte episódio relatado por Pero Vaz de
Caminha:
“Viu
um deles [índios] umas contas de rosário, brancas; acenou que lhas dessem,
folgou muito com elas, e lançou-as ao pescoço. Depois tirou-as e enrolou-as no
braço e acenava para a terra e então para as contas e para o colar do capitão,
como que dariam ouro por aquilo. Isto tomávamos nós assim por o desejarmos; mas
se ele queria dizer que levaria as contas e mais o colar, isto não queríamos
nós entender, porque não lho havíamos de dar.”
(Caminha,
Pero Vaz de. Carta a El Rey Dom Manuel.)
Redija
uma narrativa em 1ª pessoa. Nessa narrativa, você deverá:
a)
participar necessariamente da ação;
b)
fazer aparecer as diferenças culturais entre as três partes: você, que veio do
final do século XX, os índios e os portugueses da época do descobrimento.
TEMA
C
Faça
de conta que você tem um amigo em Portugal que confia muito em você e que
estava pensando em passar uma temporada no Brasil e talvez até em migrar.
Suponha também que, recentemente, ele lhe tenha escrito uma carta dizendo que
está pensando em abandonar tal projeto, em consequência das notícias sobre o
Brasil que tem lido ultimamente. Para justificar-se, ele incluiu na carta a
seguinte amostra de manchetes, que o impressionaram, publicadas com destaque em
menos de um mês, em um único jornal:
● FALTAM
ÁGUA, LUZ E TELEFONE NAS ESCOLAS, DIZ PESQUISA DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO (Folha
de S. Paulo, 16 de setembro de 1998)
● METADE DOS ELEITORES NÃO TÊM 1º GRAU
(Folha de S. Paulo, 20 de outubro de 1998)
● BRASIL É CAMPEÃO DE CASOS DE DENGUE,
LEPRA E LEPTOSPIROSE NAS AMÉRICAS
(Folha de S. Paulo, 21 de setembro de 1998)
● MISERÁVEIS SÃO 25 MILHÕES (Folha de S.
Paulo, 26 de setembro de 1998)
● 83% SÃO ANALFABETOS FUNCIONAIS (Folha de
S. Paulo, 26 de setembro de 1998)
● PARTOS DE MENINAS AUMENTARAM 81% NO RIO
(Folha de S. Paulo, 29 de setembro de 1998)
● SP DESPEJA NA RUA UM TERÇO DE SEU LIXO
(Folha de S. Paulo, 4 de outubro de 1998)
Escreva-lhe
uma carta na qual, colocando em discussão as manchetes acima, você tenta
convencê-lo de que, apesar de haver de fato problemas, a imagem que se faz de
nosso país, a partir do noticiário, é parcial, e que, portanto, continua valendo
a pena vir para o Brasil.
www.veredasdalingua.blogspot.com.br
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Temas
de redação – Unicamp – 1998
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