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quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Prova de Língua Portuguesa – FEI – 2015 - 2º semestre

Prova de Língua Portuguesa – FEI – 2015 - 2º semestre

PORTUGUÊS

Leia atentamente o texto “Um apólogo”, de Machado de Assis, e responda a seguir:

            Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:
            — Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma cousa neste mundo?
            — Deixe-me, senhora.
            — Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.
            — Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros.
            — Mas você é orgulhosa.
            — Decerto que sou.
            — Mas por quê?
            — É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose, senão eu?
            — Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu e muito eu?
            — Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados... (...)
            Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para dar a isto uma cor poética. E dizia a agulha:
            — Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo e acima...
            A linha não respondia; ia andando. Buraco aberto pela agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha, vendo que ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a costura, para o dia seguinte. (...)
            Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da bela dama, e puxava de um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando, acolchetando, a linha para mofar da agulha, perguntou-lhe:
            — Ora, agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? Vamos, diga lá.
            (...) Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça:
            — Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!

1ª Questão. O estilo do texto permite afirmar que:

(A) trata-se de uma produção literária contemporânea.
(B) não é possível inferir nada da linguagem.
(C) trata-se de uma produção literária, mas não contemporânea.
(D) trata-se de uma produção contemporânea, mas não literária.
(E) trata-se de uma produção acadêmica e, portanto, não literária.

2ª Questão. Machado de Assis é um escritor conhecido como representante do:

(A) Naturalismo. (B) Realismo. (C) Modernismo.(D) Classicismo. (E) Barroco.

3ª Questão. A palavra “apólogo”, que compõe o título, significa:

(A) texto em prosa com a intenção de informar os leitores dos eventos cotidianos.
(B) texto lírico e marcado pela busca de persuadir os leitores.
(C) texto dramático, no qual se reconhecem todos os componentes deste gênero.
(D) narrativa que sugere lições de moral por meio de personagens inanimados.
(E) narrativa longa voltada para divertir os leitores.

4ª Questão. Machado de Assis é contemporâneo de:

(A) João Ubaldo Ribeiro (B) Carlos Drummond de Andrade
(C) Clarice Lispector      (D) José de Alencar             (E) Gregório de Matos

5ª Questão. A agulha e o novelo de linha:

(A) são personagens que se encontram em disputa e contradições.
(B) são personagens complementares e solidários entre si.
(C) no final, tornam-se ambos dispensáveis.
(D) representam a necessidade de companheirismo.
(E) não conseguem se comunicar de modo adequado.

6ª Questão. A fala do “professor de melancolia” ao final do texto evidencia que:

(A) as relações sociais tendem ao equilíbrio.
(B) a valorização do sujeito é inerente ao seu trabalho.
(C) as pessoas desprezam as aparências e valorizam o trabalho.
(D) a discussão é necessária, porque promove o entendimento.
(E) nem sempre há a valorização das partes envolvidas em um trabalho.

7ª Questão. No final do texto, lê-se “Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça”. Considerando este fragmento, é correto afirmar sobre o foco narrativo:

(A) o narrador, em primeira pessoa, contou esta história ao professor de melancolia.
(B) a narradora é a agulha.
(C) o narrador é o novelo de lã.
(D) subentende-se que a costureira é um dos narradores.
(E) o professor de melancolia é um dos narradores que o conto evidencia.

8ª Questão. “Um apólogo” é exemplo de:

(A) crônica. (B) romance. (C) conto.(D) novela. (E) prosa épica.

9ª Questão. A leitura atenta de “Um apólogo” permite afirmar que:

(A) há na sociedade a busca de convivência harmônica entre as classes sociais.
(B) prevalece na sociedade a afirmação daqueles que se sentem superiores aos que se sentem inferiores.
(C) os professores educam os alunos para que não perpetuem a luta entre as classes sociais.
(D) é melhor permanecer indiferente às questões sociais.
(E) o professor está satisfeito com o papel que exerce na vida dos outros.

10ª Questão. Depreende-se do texto que:

(A) o trabalho é reconhecido socialmente.
(B) o trabalho braçal é parte do trabalho intelectual.
(C) os trabalhadores se satisfazem com o trabalho desempenhado, mesmo quando não podem usufruir dele.
(D) todos os trabalhadores podem usufruir da atividade realizada.
(E) os trabalhadores normalmente não usufruem dos resultados da atividade que realizam.


11ª Questão. “Um apólogo” apresenta:

(A) apenas o discurso direto.
(B) apenas o discurso indireto.
(C) apenas o discurso direto livre.
(D) discurso direto e discurso indireto.
(E) apenas discurso indireto livre.

12ª Questão. A conhecida expressão “Era uma vez” remete o receptor do texto a um tempo antigo. O verbo:

(A) apresenta-se no pretérito imperfeito do indicativo.
(B) está flexionado no presente do indicativo.
(C) está flexionado no pretérito mais-que-perfeito do indicativo.
(D) apresenta-se no futuro do presente do indicativo.
(E) apresenta-se no pretérito perfeito do indicativo.

13ª Questão. Em “Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa”, a oração em destaque imprime à frase a ideia de:

(A) lugar. (B) tempo. (C) proporção. (D) causa. (E) consequência.

14ª Questão. Reflita sobre os termos em destaque e responda a seguir: “A linha não respondia; ia andando”:

(A) os termos evidenciam ações que se projetam para o futuro.
(B) “respondia” marca a continuidade da ação e “ia andando” traduz uma ação finalizada.
(C) “respondia” tem o mesmo sujeito de “ia andando”, locução verbal que sugere uma ação desenvolvida de modo contínuo.
(D) “ia andando” sugere uma ação que antecede a sugerida em “respondia”.
(E) o sujeito de “respondia” não é o mesmo que se depreende de “ia andando”.

15ª Questão. Em “— É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose, senão eu?”, sobre o termo em destaque é correto afirmar:

(A) é um artigo que acompanha e define o substantivo comum expresso em “cose”.
(B) trata-se de um pronome pessoal do caso oblíquo, que se refere à expressão “nossa ama”.
(C) trata-se de um pronome pessoal do caso reto, responsável por ocupar a função de sujeito do verbo “coser”.
(D) trata-se de um pronome pessoal do caso oblíquo, responsável por retomar a expressão “os vestidos e os enfeites”.
(E) é um termo responsável por introduzir uma nova oração no período.

16ª Questão. Em “não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano”, lê-se exemplo de:

(A) personificação. (B) metonímia. (C) eufemismo. (D) hipérbole. (E) onomatopeia.

17ª Questão. É possível afirmar que a agulha e o novelo de linha representam, respectivamente:

(A) o lugar social da costureira (agulha) e da baronesa (novelo de linha).
(B) o lugar social da baronesa (agulha) e da costureira (novelo de linha).
(C) o desejo de luxo (agulha) e o destino trágico (novelo de linha).
(D) a conquista do lugar social adequado para cada classe social.
(E) a revolução (novelo de linha) e a manutenção do poder (agulha).

18ª Questão. Em “a baronesa vestiu-se”, o verbo está na:

(A) voz ativa. (B) voz reflexiva. (C) voz passiva. (D) voz passiva sintética. (E) voz ativa analítica.

19ª Questão. Reflita sobre o fragmento dentro do seu contexto: “a linha para mofar da agulha, perguntou-lhe”. Sem prejudicar o sentido original, o termo em destaque poderia ser substituído por qual dos termos abaixo?

(A) encher de mofo (B) ficar esperando passivamente (C) zombar (D) alegrar (E) distrair

20ª Questão. Em “A agulha, vendo que ela não lhe dava resposta”, há respectivamente a ocorrência de:

(A) objeto indireto e adjunto adverbial.
(B) adjunto adverbial e objeto direto.
(C) adjunto adverbial e objeto indireto.
(D) objeto direto e objeto direto.
(E) objeto indireto e objeto direto.

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