Temas de Redação
– Unicamp – 2015
Neste
caderno, na prova de Redação, deverão ser elaborados 2 textos (Texto 1 e Texto
2). Os 2 textos são de execução obrigatória. Não deverá haver nenhuma
identificação pessoal (nome, sobrenome, etc.) nos textos.
TEXTO
1
Você integra um grupo de estudos formado
por estudantes universitários. Periodicamente, cada membro apresenta resultados
de leituras realizadas sobre temas diversos. Você ficou responsável por
elaborar uma síntese sobre o tema humanização no atendimento à saúde,
que deverá ser escrita em registro formal. As fontes para escrever a
síntese são um trecho de um artigo científico (excerto A) e um trecho de um
ensaio (excerto B). Seu texto deverá contemplar:
a) o conceito de
humanização no atendimento à saúde;
b) o ponto de
vista de cada texto sobre o conceito, assim como as principais informações que
sustentam esses pontos de vista;
c) as relações
possíveis entre os dois pontos de vista.
Excerto A
A humanização é vista como a
capacidade de oferecer atendimento de qualidade, articulando os avanços tecnológicos
com o bom relacionamento.
O Programa Nacional de Humanização
da Assistência Hospitalar (PNHAH) destaca a importância da conjugação do
binômio "tecnologia" e "fator humano e de relacionamento".
Há um diagnóstico sobre o divórcio entre dispor de alta tecnologia e nem sempre
dispor da delicadeza do cuidado, o que desumaniza a assistência. Por outro
lado, reconhece-se que não ter recursos tecnológicos, quando estes são
necessários, pode ser um fator de estresse e conflito entre profissionais e
usuários, igualmente desumanizando o cuidado. Assim, embora se afirme que ambos
os itens constituem a qualidade do sistema, o "fator humano" é
considerado o mais estratégico pelo documento do PNHAH, que afirma:
(...) as
tecnologias e os dispositivos organizacionais, sobretudo numa área como a da
saúde, não funcionam sozinhos – sua eficácia é fortemente influenciada pela
qualidade do fator humano e do relacionamento que se estabelece entre
profissionais e usuários no processo de atendimento. (Ministério da
Saúde, 2000).
(Adaptado de
Suely F. Deslandes, Análise do discurso oficial sobre a humanização da
assistência hospitalar. Ciência & saúde coletiva. Vol. 9, n. 1, p.
9-10. Rio de Janeiro, 2004.)
Excerto B
A famosa Faculdade para Médicos e
Cirurgiões da Escola de Medicina da Columbia University, em Nova York, formou
recentemente um Programa de Medicina Narrativa que se ocupa daquilo que veio a
se chamar “ética narrativa”. Ele foi organizado em resposta à percepção recrudescente
do sofrimento – e até das mortes – que podia ser atribuído parcial ou
totalmente à atitude dos médicos de ignorarem o que os pacientes contavam sobre
suas doenças, sobre aquilo com que tinham que lidar, sobre a sensação de serem
negligenciados e até mesmo abandonados. Não é que os médicos não acompanhassem
seus casos, pois eles seguiam meticulosamente os prontuários de seus pacientes:
ritmo cardíaco, hemogramas, temperatura e resultados dos exames especializados.
Mas, para parafrasear uma das médicas comprometidas com o programa, eles simplesmente
não ouviam o que os pacientes lhes contavam: as histórias dos pacientes. Na sua
visão, eles eram médicos “que se atinham aos fatos”. “Uma vida”, para citar a
mesma médica, “não é um registro em um prontuário”. Se um paciente está na
expectativa de um grande e rápido efeito por parte de uma intervenção ou medicação
e nada disso acontece, a queda ladeira abaixo tem tanto o seu lado biológico
como psíquico.
“O que é, então, a medicina
narrativa?”, perguntei*. “Sua responsabilidade é ouvir o que o paciente tem a
dizer, e só depois decidir o que fazer a respeito. Afinal de contas, quem é o
dono da vida, você ou ele?”. O programa de medicina narrativa já começou a
reduzir o número de mortes causadas por incompetências narrativas na Faculdade
para Médicos e Cirurgiões.
*A pergunta é
feita por Jerome Bruner a Rita Charon, idealizadora do Programa de Medicina
Narrativa.
(Adaptado
de Jerome Bruner, Fabricando histórias: direito, literatura, vida. São
Paulo: Letra e Voz, 2014, p. 115-116.)
TEXTO
2
Em busca de soluções para os
inúmeros incidentes de violência ocorridos na escola em que estudam, um grupo de
alunos, inspirados pela matéria “Conversar para resolver conflitos”, resolveu
fazer uma primeira reunião para discutir o assunto. Você ficou responsável pela
elaboração da carta-convite dessa reunião, a ser endereçada pelo grupo
à comunidade escolar – alunos, professores, pais, gestores e
funcionários.
A carta deverá convencer os
membros da comunidade escolar a participarem da reunião, justificando a importância
desse espaço para a discussão de ações concretas de enfrentamento do problema
da violência na escola. Utilize as informações da matéria abaixo para construir
seus argumentos e mostrar possibilidades de solução.
Lembre-se de que o grupo deverá
assinar a carta e também informar o dia, o horário e o local da
reunião.
Conversar para
resolver conflitos.
Quando a escuta
e o diálogo são as regras, surgem soluções pacíficas para as brigas.
Alunos que brigam com colegas,
professores que desrespeitam funcionários, pais que ofendem os diretores. Casos
de violência na escola não faltam. A pesquisa O Que Pensam os Jovens de
Baixa Renda sobre a Escola, realizada pelo Centro Brasileiro de
Análise e
Planejamento (Cebrap) sob encomenda da Fundação Victor Civita (FVC), ambos de
São Paulo, revelou que 11% dos estudantes se envolveram em conflitos com seus
pares nos últimos seis meses e pouco mais de 8% com professores, coordenadores
e diretores. Poucas escolas refletem sobre essas situações e elaboram
estratégias para construir uma cultura da paz. A maioria aplica punições que,
em vez de acabarem com o enfrentamento, estimulam esse tipo de atitude e tiram
dos jovens a autonomia para resolver problemas.
Segundo Telma Vinha, professora de
Psicologia Educacional da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e
colunista da revista NOVA ESCOLA, implementar um projeto institucional de
mediação de conflitos é fundamental para implantar espaços de diálogo sobre a
qualidade das relações e os problemas de convivência e propor maneiras não violentas
de resolvê-los. Assim, os próprios envolvidos em uma briga podem chegar a uma
solução pacífica.
Por essa razão, é importante que, ao
longo do processo de implantação, alunos, professores, gestores e funcionários
sejam capacitados para atuar como mediadores. Esses, por sua vez, precisam ter algumas
habilidades como saber se colocar no lugar do outro, manter a imparcialidade,
ter cuidado com as palavras e se dispor a escutar.
O projeto inclui a realização de um
levantamento sobre a natureza dos conflitos e um trabalho preventivo para
evitar a agressão como resposta para essas situações. Além disso, ao
sensibilizar os professores e funcionários, é possível identificar as violências
sofridas pelos diferentes segmentos e atuar para acabar com elas.
Pessoas
capacitadas atuam em encontros individuais e coletivos
Há duas formas principais de a
mediação acontecer, segundo explica Lívia Maria Silva Licciardi, doutoranda em
Psicologia Educacional, Desenvolvimento Humano e Educação pela Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp). A primeira é quando há duas partes envolvidas.
Nesse caso, ambos os lados se apresentam ou são chamados para conversar com os
mediadores - normalmente eles atuam em dupla para que a imparcialidade no
encaminhamento do caso seja garantida - em uma sala reservada para esse fim.
Eles ouvem as diversas versões, dirigem a conversa para tentar fazer com que
todos entendam os sentimentos colocados em jogo e ajudam na resolução do episódio,
deixando que os envolvidos proponham caminhos para a decisão final.
A segunda forma é utilizada quando
acontece um problema coletivo - um aluno é excluído pela turma, por exemplo.
Diante disso, o ideal é organizar mediações coletivas, como uma assembleia.
Nelas, um gestor ou um professor pauta o encontro e conduz a discussão, sem
expor a vítima nem os agressores. "O objetivo é fazer com que todos falem,
escutem e proponham saídas para o impasse. Assim, a solução deixa de ser
punitiva e passa a ser formativa, levando à corresponsabilização pelos
resultados", diz Ana Lucia Catão, mestre em Psicologia Social pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUCSP). Ela ressalta que o debate é
enriquecido quando se usam outros recursos: filmes, peças de teatro e músicas
ajudam na contextualização e compreensão do problema.
No Colégio Estadual Federal (CEF)
602, no Recanto das Emas, subdistrito de Brasília, o Projeto Estudar em Paz,
realizado desde 2011 em parceria com o Núcleo de Estudos para a Paz e os
Direitos Humanos da Universidade de Brasília (NEP/UnB), tem 16 alunos mediadores
formados e outros 30 sendo capacitados. A instituição conta ainda com 28
professores habilitados e desde o começo deste ano o projeto faz parte da
formação continuada. "Os casos de violência diminuíram. Recebo menos
alunos na minha sala e as depredações do patrimônio praticamente deixaram de existir.
Ao virarem protagonistas das decisões, os estudantes passam a se
responsabilizar por suas atitudes", conta Silvani dos Santos, diretora.
(...)
"Essas propostas trazem um
retorno muito grande para as instituições, que conseguem resultados satisfatórios.
É preciso, porém, planejá-las criteriosamente", afirma Suzana Menin,
professora da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp).
(Adaptado de
Karina Padial, Conversar para resolver. Gestão Escolar. São Paulo, no.
27, ago/set 2013. http://gestaoescolar.abril.com.br/formacao/conversar-resolver-conflitos-brigas-dialogo-762845.shtml?page=1.
Acessado em 02/10/2014.)
www.veredasdalingua.blogspot.com.br
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