Tema de redação – UERJ – 2015
QUAL ROMANCE VOCÊ ESTÁ LENDO?
Sempre pensei que fosse sábio desconfiar de quem
não lê literatura. Ler ou não ler romances é para mim um critério. Quer saber
se tal político merece seu voto? Verifique se ele lê literatura. Quer escolher
um psicanalista ou um psicoterapeuta? Mesma sugestão. E, cuidado, o hábito de ler,
em geral, pode ser melhor do que o de não ler, mas não me basta: o critério que
vale para mim é ler especificamente literatura − ficção literária.
Você dirá que estou apenas exigindo dos outros que
eles sejam parecidos comigo. E eu teria de concordar, salvo que acabo de
aprender que minha confiança nos leitores de ficção literária é justificada.
Algo que eu acreditava intuitivamente foi confirmado em pesquisa que acaba de ser
publicada pela revista Science, “Reading literary fiction improves theory of mind”[Ler ficção literária melhora a teoria da mente], de David C. Kidd e
Emanuele Castano.
Kidd e Castano aplicaram esses testes em diferentes
grupos, criados a partir de uma amostra homogênea: 1) um grupo que acabava de
ler trechos de ficção literária, 2) um grupo que acabava de ler trechos de não
ficção, 3) um grupo que acabava de ler trechos de ficção popular, 4) um grupo
que não lera nada. Conclusão: os leitores de ficção literária enxergam melhor a
complexidade do outro e, com isso, podem aumentar sua empatia e seu respeito
pela diferença de seus semelhantes. Com um pouco de otimismo, seria possível
apostar que ler literatura seja um jeito de se precaver contra sociopatia e
psicopatia*.
A pesquisa mede o efeito imediato da leitura de
trechos literários. Não sabemos se existem efeitos cumulativos da leitura
passada: o que importa não é se você leu, mas se está lendo. A pesquisa
constata também que a ficção popular não tem o mesmo efeito da literária. A
diferença é explicada assim: a leitura de ficção literária nos mobiliza para
entender a experiência das personagens. Segundo os pesquisadores,
“contrariamente à ficção literária, a ficção popular tende a retratar o mundo e
as personagens como internamente consistentes e previsíveis. Ela pode confirmar
as expectativas do leitor em vez de promover o trabalho de sua teoria da mente”.
Na próxima vez em que eu for chamado a sabatinar um
candidato a um emprego, não me esquecerei de perguntar: qual é o romance que
você está lendo?
Contardo
Calligaris Adaptado de www1.folha.uol.com.br.
*
sociopatia
e psicopatia − doenças psicológicas caracterizadas pelo comportamento
antissocial
PROPOSTA DE
REDAÇÃO
O psicanalista Contardo Calligaris defende que se
avalie o valor de uma pessoa, um político ou um profissional, verificando se
eles leem literatura.
A partir da leitura do conjunto dos textos desta
prova e de suas próprias reflexões, redija um texto argumentativo-dissertativo,
em prosa, com 20 a 30 linhas, em que apresente seu posicionamento acerca do
ponto de vista defendido por Calligaris, ou seja, de que é preciso levar em
conta a leitura de literatura para avaliar a formação e os valores de uma pessoa.
Utilize a norma-padrão da língua e atribua um
título à sua redação.
www.veredasdalingua.blogspot.com.br
Tema de redação – UERJ – 2009
Tema de Redação - UFRJ - 2011
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