Cartas de amor
Eu era
aluno do Júlio de Castilhos e estudava à tarde (as manhãs, naquela época,
estavam reservadas às turmas femininas). Um dia cheguei para a aula, coloquei
meus livros na carteira e ali estava, bem no fundo, um papel cuidadosamente
dobrado. Era uma carta; dirigida não a mim, mas "ao colega da tarde".
E era uma carta de amor. De amor não; de paixão. Paixão fogosa, incontida,
transbordante, a carta de uma alma sequiosa de afeto. À qual o jovem escritor
não teve a menor dificuldade de responder.
"In thought". Josef Kote. |
Iniciou-se assim uma
correspondência que se prolongou pelo ano letivo, não se interrompendo nem com
as provas, nem com as férias de julho. À medida que o ano ia chegando a seu
fim, os arroubos epistolares iam crescendo. Cheguei à conclusão de que
precisava conhecer a minha misteriosa correspondente, aquela bela da manhã que
me encantava com suas frases.
Mas... Seria realmente bela?
A julgar pela letra,sim;eu até a imaginava como uma moça esguia, morena, de
belos olhos verdes. Contudo, nem mesmo os grandes especialistas em grafologia
estão imunes ao erro, e um engano poderia ser trágico. Além disto, eu já tinha
uma namorada que não escrevia, mas era igualmente fogosa.
Optei, portanto, pelo
mistério, pelo "nunca te vi, sempre te amei". A minha história de
amor continuou somente na fantasia. Que é o melhor lugar para as grandes
histórias de amor.
Leia também:
"Meu reino por um pente" – Paulo Mendes Campos
"A flor e a náusea" – Carlos Drummond de Andrade
"O mato" – Rubem Braga
Wally Salomão – Poemas
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A fantasia sempre será o melhor lugar...
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