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quarta-feira, 30 de setembro de 2015

PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA — ESPM — 2º Semestre de 2015

PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA — ESPM — 2º Semestre de 2015



Texto para as questões de 1 a 7:

Abraço caudaloso

            Amizade entre cronistas é um perigo: todo papo esbarra em crônica, já que toda crônica é uma espécie de papo. Foi numa conversa com o Antonio Prata, meu ex-ami­go-platônico – “ex” não por não ser mais amigo, mas por não ser mais platônico – que a bola começou a quicar. “Isso dá uma crô­nica”, ele disse. Mas nenhum dos dois es­creveu, por escrúpulos de estar roubando a ideia do outro. Eu, que tenho menos escrú­pulos e menos ideias, resolvi escrever.
            Palavras, percebemos, são pessoas. Al­gumas são sozinhas: Abracadabra. Eureca. Bingo. Outras são promíscuas (embora pre­firam a palavra “gregária”): estão sempre cercadas de muitas outras: Que. De. Por.
            Algumas palavras são casadas. A pala­vra caudaloso, por exemplo, tem união está­vel com a palavra rio – você dificilmente verá caudaloso andando por aí acompanhada de outra pessoa. O mesmo vale para frondosa¹, que está sempre com a árvore. Perdidamen­te, coitado, é um advérbio que só adverbia o adjetivo apaixonado. Nada é ledo² a não ser o engano, assim como nada é crasso³ a não ser o erro. Ensejo é uma palavra que só ser­ve para ser aproveitada. Algumas palavras estão numa situação pior, como calculis­ta, que vive em constante ménage, sempre acompanhada de assassino, frio e e.
            Algumas palavras dependem de outras, embora não sejam grudadas por um hífen - quando têm hífen elas não são casadas, são siamesas. Casamento acontece quando se está junto por algum mistério. Alguns dirão que é amor, outros dirão que é afinidade, carência, preguiça e outros sentimentos me­nos nobres (a palavra engano, por exemplo, só está com ledo por pena - sabe que ledo, essa palavra moribunda, não iria encontrar mais nada a essa altura do campeonato).
            Esse é o problema do casamento entre as palavras, que por acaso é o mesmo do casa­mento entre pessoas. Tem sempre uma pala­vra que ama mais. A palavra árvore anda com várias palavras além de frondosa. O casamen­to é aberto, mas para um lado só. A palavra rio sai com várias outras palavras na calada da noite: grande, comprido, branco, vermelho - e caudaloso fica lá, sozinho, em casa, esperando o rio chegar, a comida esfriando no prato.
            Um dia, caudaloso cansou de ser mal­tratado e resolveu sair com outras palavras. Esbarrou com o abraço que, por sua vez, es­tava farto de sair com grande, essa palavra tão gasta. O abraço caudaloso deu tão certo que ficaram perdidamente inseparáveis. Foi em Manuel de Barros. Talvez pra isso sirva a poesia, pra desfazer ledos enganos em prol de encontros mais frondosos.

(Gregório Duvivier, 02/02/2015, Folha de S.Paulo) ¹frondoso: que tem muitas folhas ou fron­des; abundante em ramos. ²ledo: risonho, alegre, contente, jubiloso. ³crasso: grosseiro, rude, bronco.

Questão 01  - Quando o autor usa a expressão “a bola co­meçou a quicar” significa que:

a) faltaram escrúpulos por parte do autor por ter roubado a ideia do amigo.
b) foi o princípio do estremecimento da ami­zade entre o autor e o amigo.
c) quando o amigo deixou de ser platônico houve a quebra da amizade.
d) deu início, a partir daí, ao processo criati­vo da crônica.
e) a amizade entre os cronistas ficou com­prometida pelo fato de a conversa ter vi­rado crônica.

Questão 02 - Segundo o autor, a princípio só NÃO fazia parte do grupo das “palavras casadas” o par:

a) árvore frondosa    b) perdidamente apaixonado
c) ledo engano         d) erro crasso                            e) abraço caudaloso

Questão 03  - Dado o uso constante, as “palavras casa­das”, citadas pelo autor, podem ser enten­didas como exemplos de:

a) idiotismos     b) lugar comum     c) neologismos     d) jargões     e) pleonasmos

Questão 04  - Num tom bem humorado e lançando mão de expressões informais ou populares, o autor elabora uma crônica com reflexões meta­linguísticas. Dos segmentos abaixo, o único que se diferencia das demais em termos de nível de linguagem é:

a) “todo papo esbarra em crônica”
b) “a bola começou a quicar”
c) “Eu, que tenho menos escrúpulos e me­nos ideias,...”
d) “encontrar mais nada a essa altura do campeonato”
e) “Talvez pra isso sirva...”

Questão 05 - O que justificaria haver palavras “promís­cuas” (ou “gregárias”) como “que”, “de” e “por” seria o fato de estas:

a) serem elementos de ligação ou estabele­cerem relações entre as palavras.
b) serem regidas por verbos ou adjetivos.
c) concordarem com qualquer termo da oração.
d) variarem de gênero conforme o termo a que se referem.
e) substituírem nomes ou pronomes.

Questão 06 - A conclusão do texto leva o leitor a acreditar que:

a) a união entre as palavras, assim como en­tre as pessoas, apresenta invariavelmente desequilíbrios de relacionamento.
b) o papel da poesia é o da reconfiguração (seja da linguagem, seja do relaciona­mento) em busca de combinações mais ricas.
c) a função da poesia é atenuar conflitos in­terpessoais, visando a uma relação mais harmônica entre as pessoas.
d) a poesia tem a função de ver a realidade por um filtro melhor, proporcionando idí­lios românticos variados.
e) o problema do casamento, seja entre pa­lavras, seja entre pessoas, é o diferente grau de dedicação que cada um confere ao outro.

Questão 07 - “Algumas palavras estão numa situação pior, como calculista, que vive em cons­tante ménage, sempre acompanhada de assassino, frio e e.”. O termo em destaque traduz ideia de: ________________ e pode ser substituído sem prejuízo de sentido por: ___________________. O item que preenche corretamente as lacunas é:

a) comparação – à maneira de
b) causa – porque
c) comparação – tal qual
d) conformidade – conforme
e) modo – à maneira de

Questão 08 - Na tira acima, temos respectivamente no 1º e último quadrinhos:

a) onomatopeia e função metalinguística.
b) aliteração e função metalinguística.
c) assonância e função conativa.
d) onomatopeia e função fática.
e) assonância e função emotiva.

Questão 09  - Leia: A luta dos usuários dos fretados pelo di­reito de descer a Serra pela Pista Sul da Imi­grantes intensificou-se durante a onda de pro­testos que atingiu boa parte do País em junho.  (jornal A Tribuna, 25/09/2015, Santos)
Na frase acima:

a) haveria uma vírgula optativa depois do termo “usuários”.
b) a expressão “pela Pista Sul” deveria estar entre vírgulas.
c) faltou uma vírgula obrigatória antes de “intensificou-se”.
d) o segmento “pelo direito de descer a Ser­ra” deveria estar entre vírgulas.
e) a rigor não há obrigatoriedade de vírgula alguma no período todo.


Questão 10 - Assinale o item em que o termo grifado da frase transgride as normas cultas da língua:

a) As declarações do ministro do Planeja­mento foram dadas pouco depois de ele receber o cargo da antecessora.
b) A taxa de crescimento do PIB ficará abai­xo da do ano passado.
c) Segundo João Goulart na época, o golpe de 64 teria ceifado a oportunidade de o Brasil dar um grande impulso para o pro­cesso democrático na América Latina.
d) A Coreia do Norte tornou-se uma amea­ça nuclear (segundo os EUA), apesar do país conviver com seriíssimos problemas sociais.
e) É maior a chance de a mulher (e não o homem) manifestar algum sentimento de estresse no trabalho.

Questão 11 - Assinale o item em que o termo grifado foi usado de modo indevido:

a) Muitos teriam tachado de mera propa­ganda a fundação de um califado por par­te do Estado Islâmico. (Folha de SP)
b) “Fui tachado de arrogante, prepotente e babaca” (Rafinha Bastos).
c) Nosso humor, que sempre foi amoral, é agora taxado de imoral. Resta saber se a alternativa do humor politizado é possível. (Joel Pinheiro)
d) O consumo de álcool na cidade deve ser taxado e servir diretamente ao tratamen­to sistêmico da situação. (Folha de SP)
e) Com a queda do petróleo, abre-se espa­ço para reduzir subsídios e até taxar os combustíveis fósseis. (Folha de SP) 

Questão 12 - Levando em conta os elementos verbais e não verbais nas propagandas apresentadas abaixo, assinale aquela cuja indicação NÃO esteja correta:

a) ambiguidade   b) trocadilho   c) comparação   d) catacrese   e) paronomásia

Questão 13 - Assinale a única frase aceita pelas normas de regência verbal:

a) Sem-terra preferem a Bolsa Família a Re­forma Agrária.
b) O jogador disse que preferia jogar no Mo­rumbi do que jogar no Interior.
c) O consumidor endividado prefere mais a bebida barata que o uísque importado.
d) Deputado petista preferiu ficar no Con­gresso que assumir cargo administrativo.
e) A presidente afirmou que “prefere o ba­rulho da imprensa livre ao silêncio das di­taduras”.

Questão 14 - Leia:

Hora do pôr do sol? - hora fagueira,
Qu’encerras tanto amor, tristeza tanta!
Quem há que de te ver não sinta enlevos,
Quem há na terra que não sinta as fibras
Todas do coração pulsar-lhe amigas,
Quando desse teu manto as pardas franjas
Soltas, roçando a habitação dos homens?
Há i prazer tamanho que embriaga,
Há i prazer tão puro, que parece
Haver anjos dos céus com seus acordes
A mísera existência acalentado!

(Gonçalves Dias, trecho de “A Tarde”)

Os versos acima exemplificam a caracterís­tica romântica:

a) do sentimentalismo romântico que aponta para a desilusão amorosa.
b) do nacionalismo que exalta a beleza exó­tica da natureza brasileira.
c) do escapismo em que a morte representa a libertação da vida material.
d) da projeção do estado de espírito do poe­ta nos elementos da natureza.
e) do pessimismo e da melancolia, configu­rando o chamado “mal do século”.

Questão 15 - A colônia só deixa de o ser quando passa a sujeito de sua história.(Alfredo Bosi). 
Histo­ricamente pode-se afirmar que a literatura brasileira conseguiu sua efetiva autonomia em relação às influências da matriz euro­peia somente no:

a) Arcadismo, quando Tomás Antonio Gon­zaga denunciou os desmandos dos gover­nantes da época em “Cartas Chilenas”.
b) Romantismo, quando este tematizou ele­mentos tipicamente brasileiros como o ín­dio, a fauna e a flora e apresentou um eu lírico egocêntrico, centralizador do uni­verso.
c) Naturalismo, quando sob a óptica cienti­ficista da época retrataram-se o coletivo, os desvios de comportamento, o meio de­gradado dos cortiços e pensões.
d) Modernismo da geração de 22, quando houve uma revolução nas artes e na cul­tura brasileira em que se buscaram novas linguagens, formas e abordagens, além de um nacionalismo crítico dentre outros.
e) Modernismo da geração de 30, quando se consolidaram as propostas revolucio­nárias da primeira fase e se abordaram temas sociais e metafísicos.

Questão 16 - Pode-se afirmar que não houve no Brasil um movimento literário surrealista propriamen­te dito. No entanto, é possível detectar aqui e acolá um ou outro poema com nítidos traços surrealistas. Identifique-o abaixo:

a) Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
(Manuel Bandeira)
b) Mamãe vestida de renda
tocava piano no caos.
Uma noite abriu as asas
Cansada de tanto som,
Equilibrou-se no azul,
De tonta não mais olhou
Para mim, para ninguém:
Cai no álbum de retratos.
(Murilo Mendes)
c) Parece, Senhor, que me desdobrei,
que me multipliquei,
que a chuva dos céus cai dentro de minhas mãos...
(Vinícius de Moraes)
d) Eu não tinha esse rosto de hoje
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio tão amargo.
(Cecília Meireles)
e) Fazer o que seja é inútil.
Não fazer nada é inútil.
Mas entre fazer e não fazer
mais vale o inútil do fazer.

(João Cabral de Melo Neto)

Texto para as questões de 17 a 20:

            Levo ou não levo, é isso. Talvez seja melhor sofrer a sorte da gente de qual­quer jeito, porque deve estar escrito. Ou é melhor brigar com tudo e acabar com tudo. Morrer é como que dormir e dormindo é quando a gente termina as con­sumições, por isso é que a gente sempre quer dormir. Só que dormir pode dar so­nhos e aí fica tudo no mesmo. Por isso é que é melhor morrer, porque não tem so­nhos, quando a gente solta a alma e tudo finda. Porque a vida é comprida demais e tem desastres. Quem aguenta a velhice que vai chegando, os espotismos e as or­dens falsas, a dor de corno, as demoras em tudo, as coisas que não se entende e a in­gratidão, quando a gente não merece, se a gente mesmo pode se despachar, até com uma faca? Quem é que aguenta esse peso, nessa vida que só dá suor e briga? Quem aguenta é quem tem medo da morte, por­que de lá nenhum viajante voltou e isso é que enfraquece a vontade de morrer. E aí a gente vai suportando as coisas ruins, só para não experimentar outras, que a gente não conhece ainda. E é pensando que a gente fica frouxo e a vontade de brigar se amarela quando se assunta nisso, e o que a gente resolveu fazer, quando a gente se lembra disso e se desvia e acaba não se fazendo nada.

(João Ubaldo Ribeiro, Sargento Getúlio, RJ, Nova Fron­teira)

Questão 17 - Assinale a alternativa cuja afirmação NÃO seja condizente com o texto:

a) o dilema inicial do narrador oscila en­tre ser obrigado a se sujeitar ao destino, que já está escrito, e enfrentar a tudo e a todos.
b) o narrador protagonista estabelece um paralelo entre “morrer” e “dormir”, já que em ambos haveria a ideia de fim.
c) “dormir” acaba sendo uma fuga para as “consumições”, ou seja, aquilo que con­some o ser humano, como os sofrimentos.
d) a morte é encarada como superior ao sono, uma vez que neste os sonhos não alterariam o quadro catastrófico da vida e naquela tudo findaria.
e) o peso da existência se dá pelo fato de a vida não ser efêmera, além de conter mui­tos “suores” e “brigas”.

Questão 18 - O trecho: “Quem aguenta a velhice que vai chegando, os espotismos e as or­dens falsas, a dor de corno, as demoras em tudo, as coisas que não se entende e a ingratidão, quando a gente não mere­ce, se a gente mesmo pode se despachar, até com uma faca?” relata os desastres da vida. Nele só não houve menção:

a) ao autoritarismo e às mentiras.    b) à traição conjugal.
c) ao desconhecido.                         d) ao suicídio.              e) à fugacidade do tempo

Questão 19 - Assinale a afirmação CORRETA:

a) os questionamentos do narrador sobre a vida ganham uma evolução até desembo­car na vontade de morrer.
b) a constatação de que na morte não há vol­ta faz as pessoas preferirem a vida e de­sistirem decididamente da morte.
c) o medo da morte e, sobretudo, do desco­nhecido faz com que as pessoas supor­tem os desastres da vida.
d) os reveses da vida impelem o indivíduo a ser frouxo, a abdicar das iniciativas e, por fim, a não fazer nada.
e) a sucessão de perguntas traduz a falta de respostas do narrador para os enigmas da vida após a morte.

Questão 20 - Aforismo é uma sentença moral breve e conceituosa, soando como máxima, como verdade. Das frases abaixo a única que NÃO pode ser considerada aforismo é:

a) Morrer é como que dormir e dormindo é quando a gente termina as consumições...
b) Levo ou não levo, é isso.
c) Porque a vida é comprida demais e tem desastres.
d) Quem aguenta é quem tem medo da mor­te, porque de lá nenhum viajante voltou...
e) E é pensando que a gente fica frouxo...


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