PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA — ESPM — 2º Semestre de 2014
Texto para as questões 1 a 3:
ROLEZINHOS
Uma amiga me
diz que ela passeia pelos shoppings para ter a impressão de estar fora do
Brasil, ou seja, num espaço público que não seja ansiógeno1 e violento. Claro,
é uma ilusão fugaz; basta olhar para as vitrines para constatar que tudo é
brutalmente mais caro do que no exterior - pelos impostos, pela produtividade
medíocre ou pela corrupção endêmica, tanto faz. Mesmo assim, insiste minha
amiga, a ilusão de civilidade é um alívio. Hoje, à brutalidade de impostos, corrupção
e mediocridade produtiva acrescentam-se os “rolezinhos” dos jovens da periferia.
O que eles querem, afinal? Talvez eles gostem de apavorar. Não seria de se
estranhar. É um axioma2: para quem vive na incerteza (de seu status, do reconhecimento
dos outros, de seu lugar no mundo), apavorar é um jeito de encontrar no medo
dos outros uma confirmação de sua própria relevância. Apavoro, logo existo:
espelho-me na preocupação dos seguranças e na cara fechada dos clientes que
voltam correndo para o estacionamento. Mas apavorar é um efeito colateral. Os
jovens dos «rolezinhos» pedem sobretudo uma bola branca: a admissão ao clube. A
prova, a roupa que eles preferem e que grita para ser reconhecida como
luxo.Tudo bem, alguém perguntará, eles pedem acesso a quê? À classe
privilegiada? Ao consumo de quem tem grana? Não acredito em nada disso, aposto
que eles pedem acesso ao próprio lugar para o qual eles vão: eles pedem acesso
ao shopping. O que esse lugar tem de mágico? De desejável? Qual é seu valor
simbólico? Na nossa cultura (justamente pela quase inexistência de espaços
públicos minimamente frequentáveis, ou seja, pelo horror que a rua é para
todos, ricos e pobres), os shoppings integram a lista histórica dos refúgios.
(Contardo Calligaris, Folha
de S.Paulo, 06.02.2014, adaptado) ¹ansiógeno: que gera ansiedade
2axioma: premissa admitida universalmente como verdadeira, sem
exigência de demonstração; máxima; sentença
Questão 1 - Segundo o texto, o autor:
a) concorda com a amiga, ao ver
o shopping como um espaço público que passa a ilusão de um lugar sem
violência.
b) olha para as vitrines dos
shoppings e também tem a sensação de estar fora do país.
c) responsabiliza impostos,
produtividade medíocre e corrupção endêmica por desfazerem a imagem de
civilidade de um shopping.
d) reconhece ser uma ilusão
achar que os preços dos produtos no Brasil seriam menores do que os do
exterior.
e) aponta o preço dos produtos
daqui como um dos fatores para se perceber a ilusão efêmera que é um shopping.
Questão 2 - Ainda segundo o texto, o autor entende que:
a) os “rolezinhos” dos jovens da
periferia também são um fator contribuinte para a desilusão representada por um
shopping.
b) aterrorizar os outros seria
uma forma ineficaz de os jovens da periferia obterem a dimensão da própria
existência.
c) instaurar medo nos clientes é um modo de
enfatizar uma importância já reconhecida pela sociedade.
d) torna-se uma verdade universal o fato de os jovens da periferia não
terem status, reconhecimento e lugar no mundo.
e) os “rolezinhos” dos jovens da periferia são protestos injustos por
parte daqueles que não são excluídos da sociedade consumidora.
Questão 3 - O autor acredita que o shopping:
a) torna-se uma opção mais atraente do que as ruas horrorosas sem espaço
para pobres.
b) representa historicamente um lugar público frequentável apenas pelos
mais ricos.
c) simboliza um espaço reivindicado pelos jovens que desejam ascender à
classe alta.
d) passa a ser um refúgio para os jovens da periferia, espaço do qual
eles ainda não se sentem detentores.
e) possui um aspecto quase mágico que passa a ser um espaço público
desejável por todos.
Texto para as questões de 4 a 7:
No terceiro século do domínio português é que temos um
afluxo maior de imigrantes para além da faixa litorânea, com o descobrimento
do ouro das Gerais (...) E mesmo essa emigração faz-se largamente a despeito de
ferozes obstruções artificialmente instituídas pelo governo; os estrangeiros,
então, estavam decididamente excluídos delas (apenas eram tolerados – mal
tolerados – os súditos das nações amigas: ingleses e holandeses), bem assim
como os monges; considerados piores contraventores das determinações régias,
os padres sem emprego, os negociantes estalajadeiros, todos os indivíduos
enfim que pudessem não ir exclusivamente a serviço da insaciável avidez da
metrópole. Em 1720 pretendeu-se mesmo fazer uso de um derradeiro recurso, o da
proibição de passagens para o Brasil. Só as pessoas investidas de cargo
público poderiam embarcar com destino à colônia. Não acompanhariam esses
funcionários mais do que os criados indispensáveis. Dentre os eclesiásticos
podiam vir os bispos e missionários, bem como os religiosos que já tivessem professado
no Brasil e precisassem regressar aos seus conventos. Finalmente seria dada a
licença excepcionalmente a particulares que conseguissem justificar a alegação
de terem negócios importantes, e comprometendo-se a voltar dentro de prazo
certo.
(Sérgio Buarque de Holanda, Raízes
do Brasil)
Questão 4 Do texto,
pode-se afirmar que a política de colonização:
a) orientava-se sobretudo por
estímulos concedidos à vinda de comerciantes estrangeiros dos países amigos.
b) procurava atender às
necessidades e prioridades estabelecidas pela coroa portuguesa.
c) buscava distinguir entre os
padres de maus costumes e o clero engajado na prestação de serviços políticos.
d) obedecia a critérios
casuísticos e demonstrava repugnância pelos forasteiros, sobretudo ingleses e
holandeses..
e) tinha como único alvo
assentar aqui o conjunto de instituições e grupos sociais existentes na
metrópole.
Questão 5 - A proibição que se pretendeu impor em 1720 isentava apenas:
a) funcionários públicos, monges e comerciantes estalajadeiros.
b) detentores de cargos públicos, ingleses e membros do clero atuantes
na colônia.
c) eclesiásticos com tarefas na colônia, funcionários públicos
graduados e particulares com seus criados.
d) autoridades públicas e seus acompanhantes, padres sem emprego e
alguns negociantes de peso.
e) representantes da coroa, bispos e missionários e comerciantes sob a
condição de voltar.
Questão 6 - As medidas em relação ao clero:
a) não discriminavam seus integrantes conforme as posições ocupadas na
hierarquia eclesiástica.
b) distinguiam os padres que transgrediam as determinações da coroa
daqueles que estavam desempregados.
c) privilegiavam os
ocupantes de posições episcopais e aqueles dedicados ao trabalho realizado no
Brasil.
d) estabeleciam divisão
nítida entre os quadros do clero secular e os integrantes das ordens
religiosas.
e) davam prioridade
àqueles padres que tivessem negócios na colônia e que tivessem um nível
razoável de renda.
Questão 7 - A corrida para o interior do país por
causa do ouro se fez:
a) com apoio político
da coroa portuguesa.
b) por pressão dos
ingleses e holandeses.
c) mesmo com os
obstáculos impostos pelo governo.
d) com os estrangeiros
a serviço da metrópole.
e) com a ajuda de
monges e padres desempregados.
A escola e outras instituições – editoras, jornais etc. – “precisam” ou pensam que precisam uniformizar a língua. Se pudessem, uniformizariam também nosso pensamento. As gramáticas e dicionários não são “instituições” revolucionárias. Pelo contrário. Por exemplo, não só ensinam que “obedecer” é um verbo transitivo indireto (...), como seus exemplos também são “educativos”, do tipo “Devemos obedecer às ordens”.
(Sírio Possenti,
terramagazine.terra.com.br/blogdosírio)
QUESTÕES COM QUADRINHOS -10 TESTES COMENTADOS
Questão 8 - Segundo o texto, o autor:
a) apoia as escolas e todas as instituições que exerçam um
modo revolucionário de pensar a língua.
b) vê nas escolas, editoras e jornais a mesma postura
conservadora das gramáticas e dicionários no tocante à língua.
c) reconhece a necessidade de um cunho ideológico nas
frases usadas como exemplos gramaticais.
d) critica a escola e outras instituições por não
promoverem a uniformização da língua.
e) utiliza aspas em vocábulos e frase para indicar, em
todos os casos, uma conotação irônica.
Questão 9 - Em uma das manchetes de jornal, é
possível fazer dupla leitura. Aponte-a:
a) Árbitro que errou em
jogo no Rio denuncia ameaças de torcedores à polícia.
b) Governo suspende
venda de 111 planos de saúde de 47 operadoras.
c) Governo quer proibir
uso de máscaras e fazer apreensão de câmeras durante protestos.
d) Despesas com
habitação pressionam custo de vida da população paulistana.
e) Pequenas e médias
empresas são foco de apenas 20% dos jovens brasileiros iniciantes no mercado.
Questão 10 - A charge acima faz alusão:
a) à harmonia política
entre presidenta e políticos do Congresso.
b) à submissão da
presidenta em relação a um partido oposicionista.
c) à dificuldade de
relacionamento entre governo e partido aliado.
d) ao excesso de
autonomia nos ministérios por parte dos políticos aliados.
e) à barganha política
por meio de loteamento de cargos pelo partido da base aliada.
Questão 11 - Causada pelo vírus VHA, a hepatite A
pode ser transmitida também por meio de _____________________________ .
Segundo a norma padrão, o espaço só não poderia ser
preenchido com:
a) alimento e água contaminada
b) alimento e água contaminados
c) água e alimento contaminado
d) água e alimento contaminados
e) alimento e água contaminadas
Questão 12 - Uma das frases apresenta uma
transgressão de Regência Verbal, segundo a norma culta. Indique-a:
a) Os novos ministros do STF alegam que os crimes foram
cometidos em coautoria, o que não implica num novo delito, como formação
de quadrilha.
b) Obama prefere espionagem e veículos aéreos não
tripulados a soldados em campo.
c) Maduro assiste impotente à inflação mais alta da
América Latina - 56% no ano passado.
d) Com a falta de chuvas, seguro do governo federal assiste
financeiramente famílias que vivem só da pesca.
e) A cirurgia plástica não visa só ao rejuvenescimento,
mas também a tratamentos reparadores.
Questão 13 - Sobre a frase "A imprensa publica
o que ouve e não o que houve.", atribuída ao poeta e escritor modernista
Oswald de Andrade, assinale a afirmação incorreta:
a) critica a falta de comprovação dos fatos por parte da
imprensa.
b) subentende que a verdade da imprensa não corresponde
aos fatos.
c) estabelece um jogo de palavras com vocábulos homófonos.
d) recorre também a vocábulos parônimos.
e) faz um trocadilho constituindo a figura de linguagem
chamada paronomásia.
Questão 14 - Em todos os itens, constata-se a
figura de linguagem denominada SINESTESIA, exceto em um. Indique-o:
a) “Agora o cheiro
áspero das flores / leva-me os olhos por dentro de suas pétalas.”
(Cecília Meireles)
b) “...com os seus
grandes e belos olhos, que davam uma sensação singular de luz úmida; eu
deixei-me estar a vê-los...”
(Machado de Assis)
c) “Grifam-me sons de
cor e de perfumes, / Ferem-me os olhos turbilhões de gumes,...”
(Mário de Sá-Carneiro)
d) “Era um som feito
luz, eram volatas / Em lânguida espiral que iluminava / Brancas sonoridades de
cascatas...”
(Cruz e Sousa)
e) “Eu preparo uma
canção, / em que minha mãe se reconheça / todas as mães se reconheçam / e que
fale como dois olhos.”
(C.Drummond de Andrade)
Questão 15 - Considerado pelo narrador como “vadio-mestre”,
“vadio-tipo”, no final, Leonardo sai da prisão, é promovido a sargento de
milícias e casa-se com moça de boa condição social. Um jogo dúbio a que
Antonio Candido chamou de “dialética da malandragem”. Poderíamos estabelecer
um paralelismo temático entre esse quadro e os versos a seguir:
a) “e, para mais
m’espantar,
os maus vi sempre nadar
em mar de
contentamentos”
(Camões)
b) “Que os brasileiros
são bestas
E estarão a trabalhar
Toda a vida por manter
Maganos [malandros] de
Portugal”
(Gregório de Matos)
c) “Não: não quero
nada.
Já disse que não quero
nada.
Não me venham com
conclusões!”
(Álvaro de Campos)
d) “Eu insulto o
burguês! O burguês-níquel
o burguês-burguês!
A digestão bem-feita de
São Paulo!”
(Mário de Andrade)
e) “Amigo Doroteu,
prezado amigo,
Abre os olhos, boceja,
estende os braços
E limpa, das pestanas carregadas,
O pegajoso humor, que o
sono ajunta”
(Tomás Ant. Gonzaga)
Ora, suposto que já somos pó, e não pode deixar de ser, pois Deus o disse; perguntar-me-eis, e com muita razão, em que nos distinguimos logo os vivos dos mortos? Os mortos são pó, nós também somos pó: em que nos distinguimos uns dos outros? Distinguimo-nos os vivos dos mortos, assim como e distingue o pó do pó. Os vivos são pó levantado, os mortos são pó caído; os vivos são pó que anda, os mortos são pó que jaz: “Hic jacet”¹.
(Pe. Antônio Vieira, Sermão
da Quarta-Feira de Cinza) 1“Hic jacet”: aqui jaz
Questão 16 - Padre Vieira, maior orador sacro da língua portuguesa,
produziu mais de 200 sermões. Percebem-se no texto um tom oral ou características
do discurso falado devido:
a) ao uso intensivo da metáfora do “pó”.
b) à repetição enfática de palavras e ao uso da expressão
"ora".
c) ao desenvolvimento de um raciocínio lógico-dedutivo
sobre a condição humana.
d) ao uso de um jogo de palavras e às construções
anafóricas.
e) ao rebuscamento da linguagem e ao uso de frase em
latim.
Texto para as questões de 17 a 20:
– Travessa? –
disse eu. – Pois já não está em idade própria ao que parece. – Quantos lhe dá?
– Dezessete. – Menos um. – Dezesseis. Pois então! É uma moça. Não pôde Eugênia
encobrir a satisfação que sentia com esta minha palavra, mas emendou-se logo,
e ficou como dantes, ereta, fria e muda. Em verdade, parecia ainda mais mulher
do que era; seria criança nos seus folgares de moça: mas assim quieta,
impassível, tinha a compostura de mulher casada. Talvez essa circunstância lhe
diminuía um pouco da graça virginal. Depressa nos familiarizamos; a mãe
fazia-lhe grandes elogios, eu escutava-os de boa sombra, e ela sorria, com os
olhos fúlgidos, como se lá dentro do cérebro lhe estivesse a voar uma
borboletinha de asas de ouro e olhos de diamante...
(Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas)
Questão 17 - O comentário sobre a idade, fez com
que Eugênia tivesse uma reação inicial de pessoa:
a) escabreada b) recompensada c) ressabiada d) lisonjeada e) impassível
Questão 18 - Pode-se constatar pelo texto que
Eugênia:
a) alternava satisfação e alegria com frieza e mudez. b)
alheia a tudo, fingia ser uma mulher casada.
c) conservou-se calada, mas sua imaginação ia longe.
d) era uma mulher casada que dissimulava um ar virginal.
e) era uma moça que intelectualmente se comportava como
uma criança.
Questão 19 -De acordo com o texto, Eugênia:
a) tinha dezessete anos, mas queria encobrir sua
verdadeira idade.
b) é uma personagem que não participou do diálogo.
c) era pródiga na conversação com seus familiares.
d) sorria toda vez que o assunto se referia a sua idade.
e) fez o narrador se familiarizar rápido com a mãe.
Questão 20 - O trecho: “como se lá dentro do cérebro
lhe estivesse a voar uma borboletinha de asas de ouro e olhos de
diamante...”pode ser entendido como uma ironia ao:
a) rebuscamento barroco
b) bucolismo árcade
c) devaneio romântico
d) preciosismo parnasiano
e) inconsciente simbolista
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