PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA — ESPM — 1º Semestre de 2015
Texto para as questões de 1 a 5:
Numa
sociedade fortemente hierarquizada, onde as pessoas se ligam entre si e essas
ligações são consideradas como fundamentais (valendo mais, na verdade, do que
as leis universalizantes que governam as instituições e as coisas), as
relações entre senhores e escravos podiam se realizar com muito mais “intimidade,
confiança e consideração”. Aqui, o senhor não se sente ameaçado ou culpado por
estar submetendo um outro homem ao trabalho escravo, mas, muito pelo
contrário, ele vê o negro como seu “complemento natural”, como um “outro” que
se dedica ao trabalho duro, mas complementar às suas próprias atividades que
são as do espírito. Assim a lógica do sistema de relações sociais no Brasil é a
de que pode haver intimidade entre senhores e escravos, superiores e
inferiores, porque o mundo está realmente hierarquizado, tal qual o céu da
Igreja Católica, também repartido e totalizado em esferas, círculos, planos, todos
povoados por anjos, arcanjos, querubins, santos de vários méritos etc., sendo
tudo consolidado na Santíssima Trindade, todo e parte ao mesmo tempo; igualdade
e hierarquia dados simultaneamente. O ponto crítico de todo nosso sistema é a
sua profunda desigualdade.(...)
Neste
sistema, não há necessidade de segregar o mestiço, o mulato, o índio e o negro,
porque as hierarquias asseguram a superioridade do branco como grupo
dominante.
(Roberto da Matta, Relativizando - Uma
Introdução à Antropologia Social)
Questão 01 - Conforme o autor:
a) Numa sociedade, em
que as ligações são mais importantes do que as leis universais, não existem
hierarquias.
b) Os senhores e
escravos se estimam quando há intimidade, confiança e consideração e,
portanto, não há discriminação social.
c) Hierarquia,
intimidade, confiança e consideração não estão necessariamente em oposição.
d) Só há discriminação
social quando as leis que governam valem menos que as ligações entre as
pessoas.
e) Quando leis
universalizantes são consideradas fundamentais, então é possível haver
intimidade, confiança e consideração.
Questão 02 - Segundo o texto:
a) O escravo nunca ameaçava o senhor quando havia
intimidade, confiança e consideração.
b) As relações familiares criadas entre senhores e
escravos acabaram lançando as bases das leis universalizantes.
c) Em sistemas sociais fortemente hierarquizados, o
trabalho escravo substituía as atividades do espírito.
d) Em sociedade hierarquizada, senhores e escravos eram
percebidos naturalmente como complementares.
e) Hierarquia e complementaridade são formas naturais de
relações sociais.
Questão 03 - Depreende-se do texto que:
a) o sentimento de culpa do senhor, gerado pelo grau de
intimidade com o negro escravo, ficava escamoteado.
b) a ideia de trabalho escravo era relativizada pelas
relações existentes entre senhores e escravos.
c) a Igreja Católica possui um modelo hierárquico herdado
de um sistema escravocrata de relações.
d) dadas as relações amistosas, havia, embora de modo
parcial, igualdade entre senhores e escravos.
e) numa sociedade em que um grupo social é superior,
justifica-se manter a segregação de grupos considerados inferiores.
Questão 04 - “igualdade e hierarquia dados simultaneamente.
O ponto crítico de todo nosso sistema é a sua profunda desigualdade.” No
contexto, ao fazer essa afirmação, o autor dá a entender que:
a) caiu em contradição
nos seus postulados.
b) hierarquia e
desigualdade são antônimos.
c) hierarquia deveria
ser simultânea a desigualdade.
d) o ponto crítico da
igualdade é a desigualdade.
e) a igualdade a que se
refere é apenas aparente.
Questão 05 - O vocábulo “Aqui” no segundo
período se reporta a:
a) “relações entre
senhores e escravos” b) “sociedade
fortemente hierarquizada”
c) “leis
universalizantes” d) “instituições e
coisas” e) “trabalho duro”
Texto para as questões de 6 a 10:
O PATO SOCIAL
Amigos
que atuam no mercado editorial e na imprensa de Lisboa, externando com bom
humor a sua indignação, argumentavam: “Queremos igualdade de condições e
direitos. Se não podemos ser ‘exactos’ em nosso idioma, então vocês não podem
ter um ‘pacto’, mas, sim, um pato social”.
Avicultura
sociopolítica à parte, os lusos, a despeito de seus questionamentos, e os demais
governos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, com exceção de Angola,
já ratificaram o acordo ortográfico. O mais importante de tudo isso é entender
que as mudanças que unificaram a ortografia não alteraram a gramática e a
riqueza do português, com sua multiplicidade de expressões homônimas e
parônimas e infinitas possibilidades sintáticas para a composição das frases
e sentenças.
Ademais,
o alto grau de redundância linguística de nosso idioma permite que os textos
sejam lidos rapidamente e na diagonal, sem prejuízo de se assimilar a informação
mínima, e também facilita o mecanismo da previsibilidade (ou seja, mesmo quando
faltam letras numa palavra, o leitor consegue ler de maneira correta). Tudo
isso vai a favor do consenso nacional quanto à necessidade de estimular a
leitura.
Considerando
a adequada e rápida adaptação do Brasil e levando-se em conta que até os
portugueses já ratificaram o acordo ortográfico, são incompreensíveis as propostas
que às vezes surgem no nosso Legislativo ou na retórica de pretensos
estudiosos do tema, de se produzirem novas mudanças.
(Karine Pansa, Folha de SP, adaptado,
19.08.2014)
Questão 06 - De uma leitura atenta do texto,
pode-se afirmar que:
a) o mercado editorial e a imprensa de Lisboa defendem
uma igualdade de direitos sociopolíticos.
b) os portugueses resolveram não aderir à reforma
ortográfica da língua portuguesa.
c) o acordo ortográfico trouxe padronização da ortografia,
mas também mudanças significativas na estrutura gramatical.
d) a multiplicidade de expressões homônimas e parônimas é
que tornam complexa a língua portuguesa.
e) os lusitanos reivindicam uma paridade de mudanças
ortográficas em Portugal e no Brasil.
Questão 07 - Pode-se afirmar que segundo a autora
do texto:
a) a elevada
redundância linguística trabalha a favor da contextualização do vocábulo.
b) a supressão de uma
letra altera totalmente o significado de uma palavra.
c) o leitor possui uma
capacidade limitada de previsibilidade para uma palavra.
d) a rápida adaptação
do Brasil ao acordo ortográfico estimulou novas propostas pelo Legislativo.
e) novas mudanças
linguísticas deveriam ser encaminhadas às autoridades para estimular a leitura
no país.
Questão 08 - No trecho: "Avicultura
sociopolítica à parte, os lusos, a despeito de seus questionamentos,
...", a expressão em negrito pode ser substituída, sem prejuízo semântico,
por:
a) à custa de b) apesar de c) à procura de d) a respeito de e) no
âmbito de
Questão 09 - Na última linha, o segmento “retórica
de pretensos estudiosos do tema” possui um tom:
a) de elogio,
significando a arte de convencer de pesquisadores sábios.
b) exortativo,
significando detentores do saber que possuem o dom da oratória.
c) irônico,
significando o discurso pomposo de supostos estudiosos.
d) pejorativo,
significando esforçados estudantes com surpreendente eloquência.
e) crítico,
significando o discurso ardiloso de linguistas soberbos.
Questão 10 - Assinale o item em que o par de
vocábulos não seja exemplo de palavras parônimas, mas sim de homônimas:
a) pacto – pato b) ratificar –
retificar
c) cumprido – comprido d) são (verbo ser) – são (santo) e) descrição – discrição
c) cumprido – comprido d) são (verbo ser) – são (santo) e) descrição – discrição
Questão 11 - Assinale a opção não aceita
pelas normas de Concordância Verbal:
a) Pesquisa aponta que 92,7% dos brasileiros querem a
redução da maioridade penal.
b) Pesquisa aponta que 92,7% da população quer a redução
da maioridade penal.
c) Mesma pesquisa mostra que 49,7% se apresentam contrários
a união civil de pessoas de mesmo sexo.
d) A maioria (54,2%) se revelou também contra a aprovação
de uma lei permitindo o casamento de pessoas do mesmo sexo.
e) ONU: um terço dos alimentos produzidos no mundo são
desperdiçados anualmente.
Questão 12 -
(Folha de S.Paulo, 31.05.2014)
A charge acima é passível de ser interpretada como
ironizando:
I. A presunção do ministro, ao considerar-se possuidor de
poderes semelhantes a Cristo, quando este ressuscitou depois de três dias.
II. O modo ardiloso, além de certa arrogância, a que o
ministro recorre para, ante uma provável condenação ética, “desaparecer” e
“reaparecer” politicamente num curto espaço de tempo.
III. A falácia do discurso político, o qual subentende
repetidas promessas e planos, ante um grupo de jornalistas ávidos por mudanças.
a) apenas a I está correta. b) apenas a II está correta.
c) I e II corretas. d) I e III corretas. e) todas estão corretas.
Questão 13 - Assinale o item em que ocorreu uma concordância
não gramatical, ou seja, uma concordância com a ideia:
a) Penso que todos
acreditamos que o futuro está nas mãos das nossas crianças, dos nossos jovens.
b) Criminalidade e
violência não se combatem com prisão, afirma pesquisadora da UFABC.
c) Os Estados Unidos
preparam opções militares para pressionar o Estado islâmico na Síria.
d) Analistas avaliam
que corrupção eleitoral e despreparo da população ainda são obstáculos para o
voto facultativo.
e) A inadimplência nas
operações bancárias das pessoas físicas subiu 6,6% em julho.
Texto para as questões 14 e 15:
(...) era
o Leonardo Pataca. Chamavam assim a uma rotunda e gordíssima personagem de
cabelos brancos e carão avermelhado, que era o decano da corporação, o mais
antigo dos meirinhos(¹) que viviam nesse tempo. (...) Fora Leonardo
algibebe(²) em Lisboa, sua pátria; aborreceu-se porém do negócio, e viera ao
Brasil. Aqui chegando, não se sabe por proteção de quem, alcançou o emprego de
que o vemos empossado, e que exercia, como dissemos, desde tempos remotos.
(Memórias de um Sargento de Milícias, de
Manuel Antonio de Almeida) ¹meirinho = funcionário da justiça. ²algibebe
= vendedor de roupas baratas; mascate.
Questão 14 - No trecho acima, podem ser detectados
elementos característicos que fazem com que a obra em questão se afaste dos
padrões românticos. Assinale o item que NÃO seria responsável por esse
afastamento:
a) descrição física não idealizada da personagem.
b) uso de apelido incorporado ao nome.
c) passado não digno de um herói tradicional.
d) cargo conseguido não por conquistas, mas por
privilégios.
e) ser o mais antigo dos meirinhos que viviam nesse
tempo.
Questão 15 - Na frase: “Fora Leonardo algibebe(²) em Lisboa, sua
pátria;...”, a forma verbal em negrito pode ser substituída, sem prejuízo de
sentido, por:
a) tinha ido b) tinha sido c) seria d) foi e) iria
– O
homem – notou Lentz a sorrir com ar de triunfo – há de sempre destruir a vida
para criar a vida. E depois, que alma tem esta árvore? E que tivesse... Nós a
eliminaríamos para nos expandirmos.
E
Milkau disse com a calma da resignação:
–
Compreendo bem que é ainda a nossa contingência essa necessidade de ferir a
Terra, de arrancar do seu seio pela força e pela violência a nossa alimentação;
mas virá o dia em que o homem, adaptando-se ao meio cósmico por uma
extraordinária longevidade da espécie, receberá a força orgânica da sua própria
e pacífica harmonia com o ambiente, como sucede com os vegetais; e então
dispensará para subsistir o sacrifício dos animais e das plantas. Por ora nos
conformaremos com este momento de transição... Sinto dolorosamente que,
atacando a Terra, ofendo a fonte da nossa própria vida, e firo menos o que há
de material nela do que o seu prestígio religioso e imortal na alma humana...
(Graça Aranha, Canaã)
Questão 16 - No trecho acima, duas personagens
alemãs expõem suas posições filosóficas antagônicas a respeito do mundo e do
homem. No fragmento discutem a necessidade ou não do corte das árvores.
Assinale a afirmação NÃO condizente:
a) Enquanto Lentz tem
espírito agressivo, destruidor, Milkau é humanista, sensível.
b) Lentz defende a “lei
do mais forte”, justificando que para haver vida é preciso haver morte.
c) Milkau se mostra
reticente sobre uma futura integração entre homem e natureza.
d) Há uma visão
antecipatória de que agredir o Planeta significa agredir o próprio homem.
e) Enquanto Lentz se
mostra mais soberbo, Milkau tem uma postura mais humilde.
Questão 17 Do léxico de Cruz e Sousa, especialmente
o dos primeiros livros, já se disse que, além da presença explicável de termos
litúrgicos, traía a obsessão do branco, fator comum a tantas de suas
metáforas (...) Ao que se pode acrescer a não menor frequência de objetos
luminosos ou translúcidos. (Alfredo Bosi, História Concisa da Literatura Brasileira)
Os versos que confirmam de modo mais preciso as
características apontadas no texto são:
a) Ó Formas alvas,
brancas. Formas claras
De luares, de neves,
de neblinas!...
Ó Formas vagas,
fluidas, cristalinas...
Incensos dos
turíbulos das aras... (“Antífona”)
b) Para as Estrelas
de cristais gelados
As ânsias e os
desejos vão subindo,
Galgando azuis e
siderais noivados
De nuvens brancas a
amplidão vestindo. (“Siderações”)
c) Nesse lábio
mordente e convulsivo,
Ri, ri risadas de
expressão violenta
O Amor, trágico e
triste, e passa, lenta,
A morte, o espasmo
gélido, aflitivo... (“Lésbia”)
d) Alma! Que tu não
chores e não gemas,
Teu amor voltou
agora.
Ei-lo que chega das
mansões extremas,
Lá onde a loucura
mora! (“Ressurreição”)
e) As minhas carnes
se dilaceraram
E vão, das llusões
que flamejaram,
Com o próprio sangue
fecundando as terras...(“Clamando”)
Texto para as questões de 18 a 20:
Sou
homem de tristes palavras. De que era que eu tinha tanta, tanta culpa? Se o meu
pai, sempre fazendo ausência: e o rio-rio-rio — o rio — pondo perpétuo. Eu
sofria já o começo da velhice — esta vida era só o demoramento. Eu mesmo
tinha achaques, ânsias, cá de baixo, cansaços, perrenguice de reumatismo. E
ele? Por quê? Devia de padecer demais. De tão idoso, não ia, mais dia menos
dia, fraquejar do vigor, deixar que a canoa emborcasse, ou que bubuiasse sem
pulso, na levada do rio, para se despenhar horas abaixo, em tororoma e no
tombo da cachoeira, brava, com o fervimento e morte. Apertava o coração. Ele
estava lá, sem a minha tranquilidade. Sou o culpado do que nem sei, de dor em
aberto, no meu foro. Soubesse — se as coisas fossem outras. E fui tomando
idéia.
(ROSA, João Guimarães. “A Terceira Margem do Rio”, Primeiras
estórias, Nova Fronteira, 2005)
Questão 18 - O personagem sente-se:
a) humilhado pela atitude vigorosa do pai.
b) solitário, por ser muito idoso.
c) obstinado, à procura do pai.
d) obcecado pela ideia da morte próxima.
e) culpado, embora não consiga identificar sua falta.
Questão 19 - Segundo o texto, o personagem:
a) divaga sobre as
palavras tristes.
b) teme pela vida de
seu pai, dadas as doenças.
c) crê que a verdadeira
razão de tudo é a sua idade avançada.
d) talvez quisesse
transmitir a própria tranquilidade ao pai.
e) desvia sua atenção
para o rio, a fim de esquecer a ausência do pai.
Questão 20 - No trecho acima, só NÃO pode ser
constatado(a)(s):
a) narrador-personagem
em primeira pessoa.
b) tom de oralidade com
longas orações subordinadas.
c) linguagem elíptica.
d) neologismos.
e) repetição enfática das
palavras.
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