INSPER – Prova de
Análise Verbal – 2009 – 1º Semestre
A invasão do politicamente
correto
Qual a melhor maneira de se dirigir aos negros,
homossexuais e idosos? Como não ofendê-los? Quais palavras usar e quais
repudiar? Há dez anos, perguntas como essas dificilmente povoariam a mente dos brasileiros.
Hoje, dúvidas assim são comuns. Essa mudança de comportamento, que reflete
diretamente em nossa maneira de falar, deve-se ao Movimento do Politicamente
Correto. Nascido na militância política pelos direitos civis, nos Estados
Unidos, na década de 70, ele ganhou força nas universidades americanas nos anos
80 e desembarcou no Brasil pouco mais de dez anos depois. Prega que alguns
termos sejam banidos do vocabulário para evitar manifestações preconceituosas
de gênero, idade, raça, orientação sexual, condição física e social. A mania
vem sendo incorporada pela sociedade, mas ferve o sangue de intelectuais,
escritores e músicos cuja ferramenta de trabalho é justamente a palavra. O
professor de linguística da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
(PUC-SP), Bruno Dallare, considera o PC (como é chamado o movimento)
autoritário, arbitrário e cerceador. “Ele provoca efeito contrário ao que
defende”, diz. “Ao seguir regras, a pessoa perde a naturalidade e se distancia
do interlocutor.” Além disso, os termos, em alguns casos, transcendem o bom
senso. As expressões “terceira idade” e “melhor idade”, criadas por técnicos da
Empresa Brasileira de Turismo (Embratur), para nomear programas de viagem
destinados aos idosos, têm como objetivo mascarar a velhice. Trata-se de uma jogada
de marketing – o termo, mais positivo que velho, ajudaria a atrair este
público. Agora, já há profissionais do setor de turismo utilizando a expressão
“suave idade”, como se esta realmente fosse a fase mais suave da vida.
“Não entendo por que ‘velho’ é politicamente
incorreto”, diz o escritor Rubem Alves, do alto de seus 77 anos. “Já imaginaram
se Ernest Hemingway tivesse dado ao seu livro o nome de O idoso e o mar (o nome
é O velho e o mar)?”, questiona. O Ministério do Turismo cunhou “melhor idade”
depois que a expressão “terceira idade” foi registrada e eles perderam o
direito de utilizá-la. “Não acho o termo bom, mas foi o melhor que encontramos”,
diz Maria Flor, do Ministério do Turismo.
As expressões difundidas pelos politicamente
corretos estão presentes, principalmente, na militância gay e no movimento
negro. A Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais
(ABGLT) editou uma cartilha para educadores e outra para comunicadores, em que
sugere quais palavras devem ser usadas. Exemplo disso é a troca de
“homossexualismo” por “homossexualidade”. O argumento é forte. Em 1996, a
Organização Mundial da Saúde (OMS) retirou o homossexualismo da lista de
doenças. Por isso, o sufixo “ismo” (que remete a doenças) não teria mais
sentido. O movimento negro afirma que eles não querem ser chamados de
“neguinho” e “preto”. Preferem afrodescendentes – uma tradução, um pouco torta,
do termo usado nos Estados Unidos pelos PCs, afro-americans. Grande parte da
linguagem politicamente correta brasileira é inspirada na americana. Mas ela
também nasce aqui. “Muitos termos e expressões são criados, mas somente alguns
são aceitos pela mídia e passados para a frente”, diz Dallare.
Até mesmo as escolas de ensino infantil são berço
dessas manifestações. Há dez anos educadores alteram a letra de canções de roda
consagradas. Clássicos como “Atirei o pau no gato”, “O cravo e a rosa” e “Boi
da cara preta” foram considerados inadequados. O primeiro, por exemplo, é tido
como agressivo e “pouco amigo” dos animais. Os outros dois são tachados,
respectivamente, de “desumano” e “racista”. Segundo Claudia Razuk, coordenadora
de uma das unidades do Colégio Itatiaia, em São Paulo, o objetivo é, desde
cedo, ensinar à criança a maneira correta de agir. “A escola existe para isso”,
afirma. Recentemente, a própria educadora mudou a letra de uma canção, que
considerava pessimista, para uma versão mais cor-de-rosa.
Em 2005, a Secretaria Especial dos Direitos
Humanos, do governo federal, editou a Cartilha do Politicamente Correto. E foi
bombardeada de críticas – acusada de cercear a liberdade de expressão e
criticada por seus “exageros”. Termos como “peão”, “comunista” e “funcionário
público” eram desaconselhados. A obra foi engavetada, mas deixou uma lição. Com
o uso de palavras politicamente corretas ou não, o fundamental é ter bom senso.
(Isto é, 5/9/2008)
1. Segundo o texto, é
correto afirmar que o autor:
(a) defende que cabe à escola minimizar os preconceitos, ensinando a
linguagem politicamente correta.
(b) considera que a linguagem politicamente correta enfraquece a luta
contra o racismo e o preconceito.
(c) sugere que o movimento politicamente correto mascara a realidade e
torna a linguagem artificial.
(d) contesta a ideia de que o emprego de expressões eufemísticas, como
“melhor idade”, tem, na verdade, propósito comercial.
(e) corrobora as ideias dos educadores que alteraram letras de tradicionais
canções infantis que propagam a intolerância.
2. Em “... o sufixo ‘ismo’
(que remete a doenças)...”, mostra-se o papel desse elemento na produção de
efeitos de sentido. Nas alternativas abaixo, o sufixo “ismo” tem sentido
pejorativo, o que confirma o comentário do autor, EXCETO em:
(a) Com o bairrismo entre paulistas e cariocas, o futebol de outros
estados sempre ficou de lado e, algumas vezes, tem pouco destaque,
principalmente no noticiário.
(b) Cresce a oferta de produtos que contêm componentes que atuam sobre o
metabolismo, reduzindo risco de doenças como o câncer.
(c) Fanatismo religioso ou convicções ideológicas rígidas são os vírus
mais poderosos da cegueira social.
(d) O técnico apontou como um dos problemas de seu time, na etapa final,
o excesso de preciosismo de alguns jogadores.
(e) Depois de mais de meio século de isolacionismo, o Japão mostra que a
China não é o país a fazer opções estratégicas que determinarão o futuro da
Ásia.
3. Em “...ganhou força nas
universidades americanas nos anos 80 e desembarcou no Brasil pouco mais de dez anos
depois”, o trecho em destaque é um exemplo da figura de linguagem chamada de
(a) silepse (b) metonímia (c) catacrese (d) sinestesia (e) anáfora
Utilize o texto abaixo para
responder aos testes de 4 a 7.
ÁRIES (21 mar. a 20 abr.)
Lunação em signo complementar destaca importância das relações em sua
vida nas próximas semanas. Cuide de sua rede social, mostre-se atencioso com as
pessoas. Seu sucesso é resultado disso também e agora essa questão tem
importância suprema. Cultive o tato.
(Folha de S. Paulo, “Ilustrada”, Astrologia, Barbara Abramo, 29 set.
2008.)
4. Sobre o texto, pode-se
afirmar que:
(a) a ausência de subordinação torna o texto mais ágil e mais
compreensível para o leitor.
(b) o uso exclusivo de coordenação tende a torná-lo telegráfico.
(c) o uso dos verbos no imperativo impossibilita o emprego da
subordinação.
(d) a subordinação nele existente visa a facilitar a ordenação das
orações.
(e) o uso do imperativo pode ser substituído pelo futuro do presente.
5. Em “Seu sucesso é
resultado disso também e agora essa questão tem importância suprema.”, os
termos “disso” e “essa”
(a) referem-se a algo que ainda vai ser explicitado no texto.
(b) referem-se aos termos citados anteriormente no texto, “sua rede
social” e “atencioso com as pessoas”.
(c) referem-se a algo que está próximo ao emissor do texto.
(d) poderiam ser substituídos por “aquilo” e “aquela”, sem prejuízo de
sentido para o texto.
(e) poderiam ser substituídos por “isto” e “aquilo”, sem prejuízo de
sentido para o texto.
6. Se as formas verbais
“cuide”, “mostre-se” e “cultive” fossem empregadas na segunda pessoa do
singular, teríamos:
(a) cuidas, mostras-te, cultivas.
(b) cuida, mostra-te, cultiva.
(c) cuidai, mostrai-vos, cultivai.
(d) cuida, mostra-se, cultiva.
(e) cuides, mostres-te, cultives.
7. “Lunação”, “atencioso” e
“cultivo” surgem pelos mesmos processos de formação de palavras existentes,
respectivamente, em:
(a) cidadão, preconceituoso, jantar.
(b) automóvel, inchaço, luta.
(c) rejeição, anoitecer, desgaste.
(d) burocracia, atraso, atenção.
(e) gatinho, cabeçudo, debate.
8. Compare estes períodos:
I – Os investidores que temiam ser vítimas da crise global financeira
abandonaram o
mercado de ações.
II – Os investidores, que temiam ser vítimas da crise global financeira,
abandonaram o mercado de ações.
A respeito do emprego de vírgulas, é correto afirmar:
(a) Em I, a ausência de vírgulas cria o pressuposto de que ainda há
pessoas investindo na Bolsa de Valores.
(b) Em II, a presença de vírgulas indica que somente alguns investidores
temiam ser vítimas da crise financeira.
(c) A análise dos períodos permite afirmar que as vírgulas têm apenas a
função de demarcar pausas na leitura.
(d) Em I, subentende-se que todos os investidores deixaram de aplicar
seu dinheiro no mercado de ações.
(e) Em II, as vírgulas foram usadas para destacar a ideia de restrição,
presente na oração subordinada adjetiva.
9. Da leitura da tira é
possível depreender que
_
(Nani, Vereda Tropical, Editora Record)
(a) considerando-se a regência do verbo “combater”, pode-se constatar
que, na verdade, não é possível empregar a crase.
(b) há, na última fala, a clara intenção de apresentar um jogo de
palavras, fazendo um trocadilho com as palavras “crase” e “crise”.
(c) não ocorrerá crase apenas se o verbo “combater” for empregado como
intransitivo, ou seja, se ele não exigir complemento verbal.
(d) haverá crase se a “sombra” representar o modo como será combatido,
isto é, com função de adjunto adverbial.
(e) a última fala é uma explicação de que, nesse caso, a crase é
facultativa, preservando-se o mesmo sentido.
10. A leitura da charge
permite inferir que:
(Luís Fernando Veríssimo, O Estado de São Paulo, 27/07/2008)
(a) Na fala do avô, está implícita a idéia de que ele admite seu
completo desconhecimento da área jurídica.
(b) O avô tenta disfarçar, por meio de suas respostas, seu
desconhecimento sobre a origem etimológica da expressão “habeas corpus”.
(c) A resposta deixa pressuposta a idéia de que, na opinião do avô, o
assunto em questão não deveria ser do interesse de uma criança.
(d) A fala do avô deve ser compreendida como uma crítica explícita aos
políticos de modo geral.
(e) O comentário do avô, no segundo quadrinho, contém uma crítica às
iniqüidades permitidas pelo judiciário.
11. Analise o emprego do
verbo “fazer” nos excertos a seguir:
I - Seria excessivo dizer que hoje já não se fazem bons filmes, mas não
é excessivo dizer que já não se fazem filmes como antigamente.
(Boris Fausto, Folha de São Paulo, 28 de maio de 2006)
II – “Eu tinha apenas dezessete anos
No dia em que saí de casa
E não fazem mais de quatro semanas que eu estou na estrada”
(Primeira canção da estrada, Sá e Guarabyra).
III - Uma coisa é patente: não fazem mais espelhos como antigamente.
Indique V (verdadeiro) ou F (falso) em cada uma das alternativas a
seguir:
( ) Nos três excertos, o sujeito de “fazem” tem a mesma classificação: é
indeterminado.
( ) Em I, o verbo “fazer” está na voz passiva sintética, e o sujeito é
simples.
( ) Em I, ocorre uma falha de concordância verbal, uma vez que o índice
de indeterminação do sujeito “se” exige verbo no singular.
( ) Em II, ocorre oração sem sujeito, por isso, o verbo não poderia ser
flexionado no plural.
( ) Em III, seria obrigatória a inclusão do índice de indeterminação do
sujeito.
A sequência correta é:
(a) V – F – V – F – V
(b) F – F – V – V – F
(c) F – V – F – V – F
(d) V – F – V – F – F
(e) F – V – F – V – V
Utilize o texto abaixo para
responder aos testes de 12 a 14.
O enfermeiro
Resmungou ainda muito tempo. Às onze horas passou
pelo sono. Enquanto ele dormia, saquei um livro do bolso, um velho romance de
d'Arlincourt, traduzido, que lá achei, e pus-me a lê-lo, no mesmo quarto, a
pequena distância da cama; tinha de acordá-lo à meia-noite para lhe dar o
remédio. Ou fosse de cansaço, ou do livro, antes de chegar ao fim da segunda
página adormeci também. Acordei aos gritos do coronel, e levantei-me estremunhado.
Ele, que parecia delirar, continuou nos mesmos gritos, e acabou por lançar mão da
moringa e arremessá-la contra mim. Não tive tempo de desviar-me; a moringa
bateu-me na face esquerda, e tal foi a dor que não vi mais nada; atirei-me ao
doente, pus-lhe as mãos ao pescoço, lutamos, e esganei-o. Quando percebi que o
doente expirava, recuei aterrado, e dei um grito; mas ninguém me ouviu. Voltei
à cama, agitei-o para chamá-lo à vida, era tarde; arrebentara o aneurisma, e o
coronel morreu. Passei à sala contígua, e durante duas horas não ousei voltar
ao quarto. Não posso mesmo dizer tudo o que passei, durante esse tempo. Era um
atordoamento, um delírio vago e estúpido. Parecia-me que as paredes tinham
vultos; escutava umas vozes surdas. Os gritos da vítima, antes da luta e
durante a luta, continuavam a repercutir dentro de mim, e o ar, para onde quer
que me voltasse, aparecia recortado de convulsões. Não creia que esteja fazendo
imagens nem estilo; digo-lhe que eu ouvia distintamente umas vozes que me
bradavam: assassino! assassino!
(...)
Antes do alvorecer curei a contusão da face. Só
então ousei voltar ao quarto. Recuei duas vezes, mas era preciso e entrei;
ainda assim, não cheguei logo à cama. Tremiam-me as pernas, o coração batia-me;
cheguei a pensar na fuga; mas era confessar o crime, e, ao contrário, urgia
fazer desaparecer os vestígios dele. Fui até a cama; vi o cadáver, com os olhos
arregalados e a boca aberta, como deixando passar a eterna palavra dos séculos:
"Caim, que fizeste de teu irmão?" Vi no pescoço o sinal das minhas
unhas; abotoei alto a camisa e cheguei ao queixo a ponta do lençol. Em seguida,
chamei um escravo, disse-lhe que o coronel amanhecera morto; mandei recado ao
vigário e ao médico.
A primeira ideia foi retirar-me logo cedo, a
pretexto de ter meu irmão doente, e, na verdade, recebera carta dele, alguns
dias antes, dizendo-me que se sentia mal. Mas adverti que a retirada imediata
poderia fazer despertar suspeitas, e fiquei. Eu mesmo amortalhei o cadáver, com
o auxílio de um preto velho e míope. Não saí da sala mortuária; tinha medo de
que descobrissem alguma coisa. Queria ver no rosto dos outros se desconfiavam;
mas não ousava fitar ninguém.
(Machado de Assis, Contos)
12. A respeito do fragmento
desse clássico conto de Machado de Assis, assinale a alternativa correta.
(a) Notam-se as características marcantes das obras naturalistas, em que
são comuns personagens dominados pelos instintos.
(b) Assim como em “D. Casmurro”, o narrador-personagem deixa-se conduzir
por impulsos que infringem a moral e a ética.
(c) Nesse conto, Machado de Assis recorre aos clichês do Romantismo ao
abordar temas como a morte e a loucura.
(d) Exploram-se, nessa narrativa, os limites entre a realidade e a
imaginação, o ser e o parecer.
(e) O narrador constrói seu relato a partir de uma série de dubiedades e
variações de ponto de vista que colocam em xeque a sua própria identidade.
13. No quarto parágrafo, a
frase “Caim, que fizeste de teu irmão?”, revela que o enfermeiro
(a) é um homem religioso e logo inicia os rituais funerários, pois teme
que o coronel
não “descanse em paz”.
(b) considerava seu paciente como um irmão, dedicando-se a ele, apesar
da fatalidade da morte ocorrida.
(c) relaciona o episódio narrado com a passagem bíblica para atribuir a
culpa ao coronel.
(d) fica enlouquecido e, em seu delírio, pensa estar diante de Deus, no
juízo final.
(e) é dominado pelo drama de consciência e pelo medo de ser descoberto e
punido pelo
crime.
14. Leia as afirmações
abaixo e identifique a(s) correta(s), de acordo com o texto.
I – Em “Tremiam-me as pernas”, ocorre ênclise porque, segundo a norma culta,
não se iniciam frases com pronome oblíquo átono.
II – No trecho “... urgia fazer desaparecer os vestígios dele.”, o
pronome destacado refere-se ao cadáver.
III – Em “Queria ver no rosto dos outros se desconfiavam”, o “se” é um
pronome reflexivo.
(a) Apenas I. (b) Apenas II. (c) Apenas III. (d) I e II. (e) I e III.
Utilize o texto abaixo para
responder ao teste 15.
Esperança
Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
— ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na
calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não
esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...
(Quintana, Mário. Nova Antologia Poética. São Paulo: Globo, 1998, p.
118.)
15. Na passagem “É preciso
dizer-lhes tudo de novo!”, a oração em negrito exerce a mesma função sintática
que
(a) “E ela pensa que (...) Atira-se...”
(b) “Vive uma louca chamada Esperança...”
(c) “Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada...”
(d) “Ela lhes dirá bem devagarinho...”
(e) “O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...”
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