13 de dezembro
Passei de carro pela Esplanada e
vi a multidão. Estranhei aquilo. O motorista me lembrou: ""Hoje é 13
de dezembro, Dia de Santa Luzia. A igreja dela está cheia, ela protege os olhos
da gente".
Agradeci a informação, mas fiquei
inquieto. Bolas, o 13 de dezembro tinha alguma coisa a ver comigo e nada com
santa Luzia e sua eficácia nas doenças que ainda não tenho. O que seria?
Aniversário de um amigo? Uma data
inconfessável, que tivesse marcado um relacionamento para o bom ou para o pior?
Não lembrava de nada de importante naquele dia, mas ele piscava dentro de mim. E as horas se passaram iluminadas pelo intermitente piscar da luzinha vermelha dentro de mim. 13 de dezembro! Preciso tomar um desses tonificantes da memória, vivo em parte dela e não posso ter brancos assim, um dia importante e não me lembro por quê.
Não lembrava de nada de importante naquele dia, mas ele piscava dentro de mim. E as horas se passaram iluminadas pelo intermitente piscar da luzinha vermelha dentro de mim. 13 de dezembro! Preciso tomar um desses tonificantes da memória, vivo em parte dela e não posso ter brancos assim, um dia importante e não me lembro por quê.
Somente à noite, quando não era
mais 13 de dezembro, ao fechar o livro que estava lendo, de repente a luz parou
de piscar e iluminou com nitidez a cena noturna: eu chegando no prédio em que
morava, no Leme, a Kombi que saiu dos fundos da garagem, o homem que se
aproximou e me avisou que o comandante do 1º Exército queria falar comigo.
Eram 11 horas da noite, estranhei
aquele convite, nada tinha a falar com o general Sarmento e não acreditava que
ele tivesse alguma coisa a falar comigo.
Mas o homem insistiu. E outro homem que saíra da Kombi já entrava dentro do meu carro, com uma pequena metralhadora. Naquela mesma hora, a mesma cena se repetia pelo Brasil afora, o governo baixara o AI-5, eu nem ouvira o decreto lido no rádio. Num motel da Barra, eu estivera à toa na vida, e meu amor me chamara e eu não vira a banda passar.
Mas o homem insistiu. E outro homem que saíra da Kombi já entrava dentro do meu carro, com uma pequena metralhadora. Naquela mesma hora, a mesma cena se repetia pelo Brasil afora, o governo baixara o AI-5, eu nem ouvira o decreto lido no rádio. Num motel da Barra, eu estivera à toa na vida, e meu amor me chamara e eu não vira a banda passar.
Tantos anos depois, ninguém me
chama nem me convida para falar com o comandante do 1º Exército. O país talvez
tenha melhorado, mas eu certamente piorei.
(Carlos Heitor Cony, Folha de S. Paulo, 16/12/2001)
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