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quinta-feira, 29 de março de 2018

INSPER – Prova de Análise Verbal – 2009 – 2º Semestre

INSPER – Prova de Análise Verbal – 2009 – 2º Semestre


Utilize o texto abaixo para responder aos testes de 1 a 5.

Palavras que ferem, palavras que salvam

"Posso ajudar?" Eis duas palavrinhas que nos soam mais que familiares. Entra-se numa loja e lá vem: "Posso ajudar?". Está desencadeado um processo durante o qual não mais conseguiremos nos livrar da prestimosa oferta. Ao entrar numa loja, o ser humano necessita de um tempo de contemplação. Precisa se acostumar ao novo ambiente, testar a nova luminosidade, respirar com calma o novo ar. Sobretudo, necessita de solidão para, por meio de um diálogo consigo mesmo, distinguir entre os objetos expostos aquele que mais de perto fala à sua necessidade, ao seu gosto ou ao seu desejo. A turma do "posso ajudar" não deixa. Mesmo que se diga "Não, obrigado; primeiro quero examinar o que há na loja", ela só aparentemente entregará os pontos. Ficará por perto, olhando de esguelha, como policial desconfiado. Onde a situação atinge proporção mais dramática é nas livrarias. Livraria é por excelência lugar que convida ao exame solitário das mesas e das prateleiras. É lugar para passar lentamente os olhos sobre as capas, apanhar e sentir nas mãos um ou outro volume, abrir um ou outro para testar um parágrafo. Um jornal certa vez avaliou como critério de qualidade das livrarias a rapidez com que o atendente se apresentava ao freguês. Clamoroso equívoco. Boa é a livraria em que o atendente só se apresenta quando o freguês o convoca. As melhores, sabiamente, dispensam o "posso ajudar". As mais mal administradas, desconhecedoras da natureza de seu ramo de negócio, insistem nele.
Ainda se fossem outras as palavrinhas – "Posso servi-lo? Precisa de alguma informação?" Não; o escolhido é o "posso ajudar", traduzido direto do jargão dos atendentes americanos ("May I help you?"). A má tradução das expressões comerciais americanas já cometeu uma devastação no idioma ao propagar o doentio surto de gerúndios ("Vou estar providenciando", "Posso estar examinando") que, do telemarketing, contaminou outros setores da linguagem corrente. O "posso ajudar" é caso parecido. Tal qual soa em português, mais merecia respostas como: "Pode, sim. Meu carro está com o pneu furado. Você pode trocá-lo?". Ou: "Está quase na hora de buscar meu filho na escola. Você faz isso por mim? Assim me dedico às compras com mais sossego".
Pode haver algo mais irritante do que o "posso ajudar"? Pode. É o "é só aguardar". Este é próprio dos lugares em que se é obrigado a esperar para ser atendido – o banco, o INSS, o hospital, o cartório, o Detran, a delegacia da Polícia Federal em que se vai buscar o passaporte. Ou bem há uma mocinha distribuindo senhas ou um mocinho organizando a fila. Chega-se, a mocinha dá a senha, o mocinho aponta o lugar na fila, e tanto a mocinha quanto o mocinho dirão em seguida: "Agora é só aguardar". Só? Só mesmo? O que vocês estão dizendo é que o mais difícil, que foi apanhar essa senha ou ouvir a instrução sobre em qual fila entrar – ações que não me custaram mais que alguns segundos –, já passou? Agora é só gozar as delícias desta sala de espera, mais apinhada do que a Faixa de Gaza? Ou apreciar as maravilhas desta fila, comprida como a Muralha da China? Um traço característico da turma do "é só aguardar" é que ela nunca cometerá a descortesia de dizer "é só esperar". Seus chefes lhes ensinaram que é mais delicado, menos penoso, "aguardar" do que "esperar". É um pouco como quando se diz que fulano "faleceu", em vez de dizer que "morreu". A crença geral é que quem falece morre menos do que quem morre. No mínimo, morre de modo menos drástico e acachapante.
• • •
Há outras ocasiões em que o uso inábil da língua vem em nosso socorro. Exemplos: "Foi movido contra você um processo nº 01239/2009 por danos morais, conforme a Lei nº 9.099, na segunda vara penal. Caso não compareça no lugar especificado no arquivo em anexo poderá implicar em chamada de segunda instância e/ou recolhimento da sociedade".
"Todos os clientes MasterCard, devem recadastrar o seu cartão em 72 horas. Este procedimento está sendo ocorrido mundialmente. Caso nosso sistema não reconhecer o recadastramento, ele bloqueia o cartão, isto é, ficando impossibilitado de novas compras. Clique no link abaixo e recadastre".
Quem frequenta a internet sabe do que se trata: e-mails de golpistas, ladrões de senhas. Quando não oferecem outros indícios, eles se denunciam pelo incontornável costume de estropiar o idioma. Que bom que a escola brasileira é tão ruim.

(Roberto Pompeu de Toledo. Veja, 25 de março de 2009)

1. Segundo o texto, é correto afirmar que o autor:

(a) encara que as supostas gentilezas contidas nas expressões “Posso ajudar?” e “É só aguardar” são fruto de treinamento inadequado por parte das repartições públicas.
(b) propõe que lojistas dispensem os funcionários a fim de que os clientes possam contemplar, com tranquilidade, os produtos expostos.
(c) pretende debochar dos brasileiros que frequentam escolas de má qualidade e não conseguem aplicar golpes na rede quando revelam desconhecimento da língua.
(d) considera que o uso de certos jargões incomoda, porque, embora pareçam gentis, eles revelam má qualidade na prestação de serviços.
(e) critica o uso excessivo da Internet, porque além de contaminar a linguagem, ela cria um ambiente favorável a golpes.

2. Considerando seus conhecimentos sobre funções de linguagem, avalie as afirmações a seguir.

I – A expressão “Posso ajudar?”, empregada por atendentes de lojas, exemplifica a função fática, cuja meta é estabelecer contato com o receptor.
II – Para compreender o enunciado “Agora é só gozar as delícias desta sala de espera, mais apinhada do que a Faixa de Gaza?”, é necessário recorrer a informações extralinguísticas, que é a principal característica da função referencial de linguagem.
III – O fato de a linguagem estar sendo usada como assunto da própria linguagem permite dizer que, nesse artigo, a função metalinguística é predominante.

Está(ão) correta(s)

(a) Apenas I. (b) Apenas II. (c) Apenas III. (d) Apenas II e III. (e) Apenas I e III.

3. No texto, Roberto Pompeu de Toledo compara o uso da expressão “Posso ajudar?” ao gerundismo, a que ele se refere como “doentio surto”. A crítica ao gerundismo, no texto, deve-se principalmente ao fato de

(a) ser o resultado de má tradução de expressões comerciais americanas.
(b) esse vício de linguagem prejudicar a compreensão da língua.
(c) ser um jargão saído do telemarketing.
(d) sugerir a ideia de prolongamento, demora no atendimento.
(e) merecer respostas grosseiras por parte de quem o ouve.

4. Em “Seus chefes lhes ensinaram que é mais delicado, menos penoso, ‘aguardar’ do que ‘esperar’”, o autor faz alusão a uma figura de pensamento chamada

(a) ironia (b) eufemismo (c) paradoxo (d) antítese (e) hipérbole

5. No fim do texto, o autor mostra que, em certos casos, inadequações linguísticas podem ser úteis, pois elas servem de indícios de golpes na Internet. Releia, no texto, as mensagens fraudulentas e analise as afirmações abaixo.

I – Na primeira mensagem citada, o uso inábil do idioma é revelado pela falta de uniformidade das pessoas do discurso, já que os pronomes e verbos ora estão na 2ª pessoa do singular, ora na 3ª.
II – Em “Caso não compareça no lugar especificado no arquivo em anexo poderá implicar em chamada de segunda instância e/ou recolhimento da sociedade”, um dos problemas gramaticais está na regência do verbo “implicar”.
III – Na segunda mensagem, há uma falha no uso do verbo “ocorrer”, que não admite voz passiva.

Está(ão) correta(s)

(a) I, II e III. (b) I e II. (c) II e III. (d) Apenas II. (e) Apenas III.

6. Analise os períodos abaixo levando em conta que o Acordo Ortográfico, em vigor a partir de 2009 no Brasil, prevê a eliminação do acento diferencial no par pára (verbo)/para (preposição).

I - Remédio para coração.
II - Quando ele para para pensar, desiste.
III - O elevador só para se o botão for acionado.
IV - Mercedes dá férias coletivas a 7.000 e para fábrica no ABC.
V - O automóvel para em frente da porta.

Os períodos que podem gerar ambiguidade são

(a) I, II e IV. (b) II, III e IV. (c) II, IV e V. (d) II e V. (e) I e IV.

7. No terceiro quadrinho, está pressuposta a ideia de que o cargo de diretor de ecologia

(a) é alvo da cobiça de outros diretores.
(b) é fruto do nepotismo.
(c) não existe naquela empresa.
(d) não goza de prestígio na empresa.
(e) requer habilidades especiais.

8. Considerando-se os elementos visuais e textuais, presentes no cartaz da campanha, assinale o que for incorreto.

(a) A imagem da gota de água que sai da torneira reforça a mensagem contida no slogan.
(b) De acordo com a norma culta, o verbo “aproveitar” deveria ser substituído por “aproveite”.
(c) A expressão “lavar as mãos” pode ser interpretada no sentido conotativo e denotativo.
(d) O verbo “ter”, no segundo período, no sentido de “haver”, é típico da linguagem coloquial.
(e) Em “abandono da Mata Atlântica” há uma ambiguidade decorrente do emprego da
expressão preposicionada.

Utilize os textos abaixo para responder aos testes de 9 a 16.

TEXTO I

“Escrever, para mim, é um ato que preenche várias finalidades. Em primeiro lugar, é uma forma de organizar o mundo, de dar sentido às coisas, através daquela progressão lógica: princípio, meio, fim. Em segundo lugar, é um grande meio de comunicação com nossos semelhantes: a palavra escrita é um território que partilhamos em silêncio, em amável cumplicidade.
Escrever é contar histórias. Cheguei à literatura por causa disto. Gostava de ouvir as histórias que meus pais, imigrantes, contavam e queria fazer como eles, contar também as minhas histórias, mas contar como os escritores que li desde pequeno (Monteiro Lobato, Érico Veríssimo, Jorge Amado) e que eu admirava. Por último, quero dizer que há, no escrever, um componente lúdico. Colocar as palavras uma ao lado da outra é um jeito de organizar o pensamento, mas é sobretudo um jogo, como aqueles jogos de armar. Tudo isso para dizer que escrever tem de ser sinônimo de prazer e emoção. Dar prazer e emoção ao leitor é a primeira tarefa do escritor.”


TEXTO II - Escrever é Triste

Escrever é triste. Impede a conjugação de tantos outros verbos. Os dedos sobre o teclado, as letras se reunindo com maior ou menor velocidade, mas com igual indiferença pelo que vão dizendo, enquanto lá fora a vida estoura não só em bombas como também em dádivas de toda natureza, inclusive a simples claridade da hora, vedada a você, que está de olho na maquininha. O mundo deixa de ser realidade quente para se reduzir a marginália, puré de palavras, reflexos no espelho (infiel) do dicionário. O que você perde em viver, escrevinhando sobre a vida. Não apenas o sol, mas tudo que ele ilumina. Tudo que se faz sem você, porque com você não é possível contar. Você esperando que os outros vivam, para depois comentá-los com a maior cara-de-pau ("com isenção de largo espectro", como diria a bula, se seus escritos fossem produtos medicinais). Selecionando os retalhos de vida dos outros, para objeto de sua divagação descompromissada. Sereno. Superior. Divino. Sim, como se fosse deus, rei proprietário do universo, que escolhe para o seu jantar de notícias um terremoto, uma revolução, um adultério grego — às vezes nem isso, porque no painel imenso você escolhe só um besouro em campanha para verrumar a madeira. Sim, senhor, que importância a sua: sentado aí, camisa aberta, sandálias, ar condicionado, cafezinho, dando sua opinião sobre a angústia, a revolta, o ridículo, a maluquice dos homens. Esquecido de que é um deles.
Ah, você participa com palavras? Sua escrita — por hipótese — transforma a cara das coisas, há capítulos da História devidos à sua maneira de ajuntar substantivos, adjetivos, verbos? Mas foram os outros, crédulos, sugestionáveis, que fizeram o acontecimento. Isso de escrever «O Capital» é uma coisa, derrubar as estruturas, na raça, é outra. E nem sequer você escreveu «O Capital». Não é todos os dias que se mete uma ideia na cabeça do próximo, por via gramatical. E a regra situa no mesmo saco escrever e abster-se. Vazio, antes e depois da operação.
Claro, você aprovou as valentes ações dos outros, sem se dar ao incômodo de praticá-las. Desaprovou as ações nefandas, e dispensou-se de corrigir-lhes os efeitos. Assim é fácil manter a consciência limpa. Eu queria ver sua consciência faiscando de limpeza é na ação, que costuma sujar os dedos e mais alguma coisa. Ao passo que, em sua protegida pessoa, eles apenas se tisnam quando é hora de mudar a fita no carretel.(...)

(Drummond de Andrade, Carlos. O Poder Ultrajovem, 1972.)

9. No texto I, pode-se inferir que

(a) um bom texto deve seguir a ordem começo, meio e fim.
(b) a narrativa oral é deficiente em oposição à escrita.
(c) a leitura de obras literárias era motivo de prazer e emoção.
(d) a narrativa de viagem é emocionante e prazerosa.
(e) a linguagem escrita é lugar exclusivamente de brincadeira e diversão.

10. A partir da leitura do texto I, pode-se inferir que

(a) a escrita é um meio de comunicação mais eficiente do que a oralidade.
(b) o texto literário tem mais predicados do que os demais tipos de texto.
(c) a leitura e a escrita são atividades sempre empreendidas em silêncio.
(d) o autor aprecia o modo como os autores citados empregam as palavras.
(e) o literato é que, por seu passado, sabe contar história.

11. A análise dos textos I e II permite afirmar que,

(a) para Drummond, ao contrário de Scliar, a literatura é uma atividade supérflua.
(b) para ambos, a atividade literária envolve a utilização eficiente dos vocábulos.
(c) Scliar incentiva uma literatura que privilegia somente texto “palatável” e engraçado.
(d) para Drummond, os textos “tristes”, embora mais degastantes, são mais úteis socialmente.
(e) segundo Scliar, Jorge Amado produziu textos mais envolventes do que Drummond.

12. Do texto II, pode-se concluir que

(a) o escritor priva-se de viver intensamente a realidade quando se dedica à escrita.
(b) Drummond sobrepõe o engajamento político ao estilo na prática da literatura.
(c) o escritor desqualifica a atividade literária por omitir fatos políticos.
(d) para Drummond, todo escritor é sempre arrogante e soberbo.
(e) Drummond critica a frivolidade da literatura.

13. Sobre o texto II, é incorreto afirmar que

(a) o escritor se vangloria do estilo, mas se omite de agir socialmente.
(b) escrever envolve sobrepor o estilo ao sentido das palavras.
(c) a atividade literária distancia o escritor da prática das questões sociais.
(d) o conhecimento gramatical não é suficiente para mudar o mundo.
(e) escrever é abster-se de outras ações.

14. Os termos grifados no texto II (“verrumar”, “nefandas” e “tisnam”) podem ser substituídos, sem prejuízo semântico para o texto, por

(a) acariciar, corajosas, incomodam
(b) furar, perversas, movem
(c) limpar, abomináveis, usam
(d) sujar, louváveis, movimentam
(e) esburacar, execráveis, sujam

15. É possível afirmar que

(a) no texto II, o afastamento de uma vida atuante por parte do escritor fica patente na passagem “Selecionando os retalhos de vida dos outros...”.
(b) no texto I, o isolamento em que vive o escritor é expresso em “...em amável cumplicidade.”
(c) no texto II, a produção escrita como uma atividade concernente à utilização do vernáculo demonstra-se nas expressões “puré de palavras” e “espelho (infiel) do dicionário”.
(d) no texto II, com “...que costuma sujar os dedos e mais alguma coisa.”, o autor faz menção à complexidade da atividade literária que requer exercício corporal intenso e integral.
(e) no texto I, a expressão “como aqueles jogos de armar” apresenta a atividade literária como um quebra-cabeças em que as palavras preenchem lacunas de acordo com as necessidades estilísticas do texto.

16. Em “...mas contar como os escritores com que me deparei que li desde pequeno (...) e de quem eu gostava que eu admirava.”, substituindo os verbos “li” e “admirava” por “deparei-me” e “gostava”, teria-se respectivamente

(a) “...mas contar como os escritores os quais me deparei desde pequeno (...) e dos que eu gostava.”
(b) “...mas contar como os escritores com que me deparei desde pequeno (...) e que eu gostava .”
(c) “...mas contar como os escritores com que me deparei desde pequeno (...) e dos quais eu gostava.”
(d) “...mas contar como os escritores que me deparei desde pequeno (...) e que eu gostava.”
(e) “...mas contar como os escritores com os quais deparei-me desde pequeno (...) e os quais eu gostava.”

17. Considere os versos deste poema:

O mundo é grande

O mundo é grande e (I) cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e (II) cabe
na cama e (III) no colchão de amar.
O amor é grande e (IV) cabe
no breve espaço de beijar.

(Carlos /Drummond de Andrade, Amar se aprende amando. Rio de Janeiro, Record)

A conjunção “e” foi empregada pelo poeta com valor aditivo

(a) Em todas as ocorrências.
(b) Apenas em I e IV.
(c) Apenas em II.
(d) Apenas em III.
(e) Apenas em II e III.

18. Não ......... mais dúvidas de que ....... haver mudanças na política econômica do país, ...... já ...... dias que o Ministro da Fazenda se reúne com seus assessores .... portas fechadas.

A alternativa que preenche corretamente as lacunas é

(a) restam, vai, porque, faz, a
(b) resta, vão, porque, fazem, à
(c) restam, vão, por que, faz, a
(d) resta, vai, porque, fazem, à
(e) restam, vai, porquê, faz, a

Utilize o anúncio publicitário abaixo para responder ao teste 19.

19. A alternativa que apresenta uma afirmação descabida é

(a) Apenas no primeiro par de frases a vírgula foi empregada para indicar pausa na leitura.
(b) No segundo par de frases, a palavra “só” é um advérbio nas duas ocorrências.
(c) No terceiro par de frases, a inclusão de vírgula implica a aceitação espontânea de algo.
(d) No quarto par de frases, a palavra “juiz” isolada por vírgulas exerce a função sintática de vocativo.
(e) No último par de frases, o advérbio “não” refere-se ao verbo “querer” apenas na primeira ocorrência.

20. Um locutor de uma rádio assim anunciou a aprovação da lei antifumo em São Paulo: “São Paulo bane cigarro em locais fechados.” A respeito dessa forma verbal, é correto afirmar:

(a) Ela não obedece às regras do padrão formal da língua, pois “banir” é um verbo defectivo, conjugado da mesma forma que “falir”.
(b) Ela obedece às regras do padrão formal, pois, embora defectivo, no modo indicativo, o verbo “banir” só não é conjugado na 1ª pessoa do singular do presente.
(c) Se o locutor optasse pelo sinônimo “proibir”, haveria alteração de sentido, pois o verbo “banir” acrescenta a ideia de ilegalidade.
(d) Embora seja de uso recorrente na linguagem coloquial, essa forma verbal não está prevista na norma culta.
(e) Por ser um verbo defectivo que não pode ser conjugado no presente do indicativo, ela deveria ser corrigida com a substituição da locução verbal “vai banir”.

21. Compare as frases:

I – Falam tanto, que ela não se concentra.
II – Falam tanto que ela não se concentra.

Coloque (V) verdadeiro ou (F) falso para as afirmações

( ) Em I, a oração subordinada deve ser compreendida como uma consequência do que foi exposto na oração principal.
( ) Em II, o advérbio “tanto” intensifica a ação mencionada na oração subordinada.
( ) Em I, a vírgula está incorretamente empregada porque a oração principal nunca pode ser separada da oração subordinada.
( ) Em II, a oração “falam tanto” pode ser equivalente, quanto ao sentido, a “comenta-se muito”.

A sequência correta é:

(a) V, V, F. V.
(b) F, V, F, F.
(c) V, F, F, V.
(d) F, V, V, F.
(e) V, V, F, F.

Utilize o texto abaixo para responder aos testes de 22 a 25.

Nova ortografia, velhos dizeres

É oficial: entrou em vigor a nova ortografia. Quer dizer: mais ou menos em vigor.
É a única do mundo legislada. Os brasileiros temos pouca intimidade com as vigorações. Há sempre um amanhã, um depois de amanhã e, graças a Deus, um Dia de São Nunca, as calendas (ver dizeres populares em extinção).
Depois de anos caitituando Angola, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Guiné-Bissau (olha o hífen!), Moçambique e Timor-Leste (eu disse que é pra olhar o hífen!), para não falar em Portugal, que andou pisando na bola (ver dizeres em extinção), o Brasil finalmente, mediante quatro decretos promulgados, assinados por presidente da república, conseguiu fazer com que uns bons 250 milhões de pessoas escrevam de forma idêntica.
Quer dizer: mais ou menos idêntica. Primeiro, porque dessas 250 milhões de pessoas apenas uns 15% são vagamente alfabetizadas. Desses 15%, pelo menos 10% é de nacionalidade portuguesa.
Mas que 15%! É para elas que se legislou. Quer dizer: mais ou menos se legislou. Há dúvidas e indecisões em massa. Principalmente nos meios alfabetizados, por assim dizer. Porque o hífen isso e o trema aquilo e o acento agudo esse e o circunflexo aquele e pororó, pão duro coisa e tal (ver dizeres populares em extinção).
De certo, sabe-se uma coisa: o decreto-lei para os hífens e seu uso, que entrou em vigor no primeiro dia de janeiro de 2009, tem até 2012, ou 2021, talvez até 3033, para ser adotado à vera (ver dizeres em extinção) entre a chamada CPLP, a digníssima Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, ou os Oito Magníficos Países de Ouro, como são conhecidos nos meios lexicográficos mundiais.
De garantido, pode-se afirmar que essa nova ortografia (quer dizer: mais ou menos um acordo, ou um decreto, ou uma lei) vai dar um dinheirão e muita gente boa vai pegar uma nota preta e sair pela aí (ver dizeres públicos em extinção), pelos países da doce língua de Camões e Paulo Coelho, montada na burra do dinheiro. (...)

(Lessa, Ivan. oglobo.globo.com/mundo/mat/2009/01/02/)

22. Com base no texto, não é correto afirmar que

(a) no trecho “...250 milhões de pessoas escrevam de forma idêntica. Quer dizer: mais ou menos idêntica.”, o autor enfatiza que, no Brasil, um país democrático, os cidadãos são livres para escreverem como querem desde que se comuniquem de forma eficiente.
(b) a falta de uniformidade no uso das regras ortográficas resulta, entre outros fatores, da desinformação e do analfabetismo funcional que ainda atinge parcela significativa da população.
(c) com a ressalva “quer dizer: mais ou menos um acordo, ou um decreto, ou uma lei”, o escritor salienta a indefinição daquilo que foi estabelecido no país acerca das mudanças na língua portuguesa.
(d) com as frases “mais ou menos em vigor” e “...temos pouca intimidade com as vigorações”, o autor ironiza a flexibilidade com que as leis são respeitadas no Brasil.
(e) As mudanças constantes da oralidade são marcadas pelas ressalvas do autor em “ver dizeres populares em extinção”.

23. “ pode-se afirmar que essa nova ortografia (...) vai dar um dinheirão...”. Tendo em vista a sua classificação morfológica, o termo grifado repete-se em:

(a) “... para não falar em Portugal, que andou pisando na bola...”
(b) “...eu disse que é pra olhar o hífen!”
(c) “...decreto-lei para os hífens e seu uso, que entrou em vigor...”
(d) “É para elas que se legislou.”
(e) “...Cale-se, que a regra deve sempre prevalecer! ”

24. Preencha a lacuna com porque, porquê, por que, por quê: “Nunca nos perguntaram _____ cometemos tamanho equívoco. Talvez _____ não quisessem ouvir a verdade. Os _____ doem às vezes.”

(a) por que, porque, porquês
(b) porque, porque, porquês
(c) por que, por que, por quês
(d) porquê, por que, porquês
(e) porque, porque, por quês

25. A mesma figura de linguagem presente em “Os brasileiros temos pouca intimidade com as vigorações.” repete-se em:

(a) “Nova ortografia, velhos dizeres.”
(b) “Brasília é uma estrela espatifada.”
(c) “O Ford quase o derrubou e ele não viu o Ford.”
(d) “Coisa curiosa é aquela gente! Divertem-se com tão pouco...”
(e) “Quer dizer: mais ou menos idêntica”.

Para responder à questão 26, considere o trecho da reportagem e o cartum abaixo.

“Charles Darwin é um paradoxo moderno. Não sob a ótica da ciência, área em que seu trabalho é plenamente aceito e celebrado como ponto de partida para um grau de conhecimento sem precedentes sobre os seres vivos. Sem a teoria da evolução, a moderna biologia, incluindo a medicina e a biotecnologia, simplesmente não faria sentido. O enigma reside na relutância, quase um mal-estar, que suas ideias causam entre um vasto contingente de pessoas, algumas delas fervorosamente religiosas, outras nem tanto.
(...) Desde o ano passado, o bordão entre os criacionistas americanos é "liberdade acadêmica". A ideia que tentam passar é que o darwinismo é apenas uma teoria, não um fato, e ainda por cima está cheio de lacunas e é carente de provas conclusivas. Sendo assim, não há por que Darwin merecer maior destaque que o criacionismo.
O argumento é de evidente má-fé. Em seu significado comum, teoria é sinônimo de hipótese, de achismo. A teoria da evolução de Darwin usa o termo em sua conotação científica. Nesse caso, a teoria é uma síntese de um vasto campo de conhecimentos formado por hipóteses que foram testadas e comprovadas por leis e fatos científicos. Ou seja, uma linha de raciocínio confirmada por evidências e experimentos. Por isso, quando é ensinado numa aula de religião, o gênesis está em local apropriado. Colocado em qualquer outro contexto, só serve para confundir os
estudantes sobre a natureza da ciência.”


26. A partir da relação entre eles, é correto afirmar:

(a) Pode-se deduzir que, embora Charles Darwin seja considerado o precursor do método científico, sua teoria apresenta características do criacionismo.
(b) Tanto o autor da reportagem quanto o cartunista deixam evidentes suas críticas à teoria da evolução de Darwin.
(c) Apenas no cartum é possível identificar que haja a defesa das constatações obtidas por meio do método científico.
(d) Os elementos visuais presentes no 2.º quadrinho do cartum confirmam o conteúdo contido no penúltimo período da reportagem.
(e) É possível inferir que as idiossincrasias da teoria darwinista são corroboradas pelos
argumentos do método criacionista.


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