INSPER – Prova de
Análise Verbal – 2009 – 2º Semestre
Utilize o texto abaixo para responder aos testes de
1 a 5.
Palavras que ferem, palavras que salvam
"Posso ajudar?" Eis duas
palavrinhas que nos soam mais que familiares. Entra-se numa loja e lá vem: "Posso
ajudar?". Está desencadeado um processo durante o qual não mais
conseguiremos nos livrar da prestimosa oferta. Ao entrar numa loja, o ser
humano necessita de um tempo de contemplação. Precisa se acostumar ao novo
ambiente, testar a nova luminosidade, respirar com calma o novo ar. Sobretudo,
necessita de solidão para, por meio de um diálogo consigo mesmo, distinguir
entre os objetos expostos aquele que mais de perto fala à sua necessidade, ao
seu gosto ou ao seu desejo. A turma do "posso ajudar" não deixa.
Mesmo que se diga "Não, obrigado; primeiro quero examinar o que há na
loja", ela só aparentemente entregará os pontos. Ficará por perto, olhando
de esguelha, como policial desconfiado. Onde a situação atinge proporção mais
dramática é nas livrarias. Livraria é por excelência lugar que convida ao exame
solitário das mesas e das prateleiras. É lugar para passar lentamente os olhos
sobre as capas, apanhar e sentir nas mãos um ou outro volume, abrir um ou outro
para testar um parágrafo. Um jornal certa vez avaliou como critério de
qualidade das livrarias a rapidez com que o atendente se apresentava ao
freguês. Clamoroso equívoco. Boa é a livraria em que o atendente só se
apresenta quando o freguês o convoca. As melhores, sabiamente, dispensam o
"posso ajudar". As mais mal administradas, desconhecedoras da
natureza de seu ramo de negócio, insistem nele.
Ainda se fossem outras as palavrinhas
– "Posso servi-lo? Precisa de alguma informação?" Não; o escolhido é
o "posso ajudar", traduzido direto do jargão dos atendentes
americanos ("May I help you?"). A má tradução das expressões
comerciais americanas já cometeu uma devastação no idioma ao propagar o doentio
surto de gerúndios ("Vou estar providenciando", "Posso estar
examinando") que, do telemarketing, contaminou outros setores da linguagem
corrente. O "posso ajudar" é caso parecido. Tal qual soa em
português, mais merecia respostas como: "Pode, sim. Meu carro está com o
pneu furado. Você pode trocá-lo?". Ou: "Está quase na hora de buscar
meu filho na escola. Você faz isso por mim? Assim me dedico às compras com mais
sossego".
Pode haver algo mais irritante do que
o "posso ajudar"? Pode. É o "é só aguardar". Este é próprio
dos lugares em que se é obrigado a esperar para ser atendido – o banco, o INSS,
o hospital, o cartório, o Detran, a delegacia da Polícia Federal em que se vai
buscar o passaporte. Ou bem há uma mocinha distribuindo senhas ou um mocinho
organizando a fila. Chega-se, a mocinha dá a senha, o mocinho aponta o lugar na
fila, e tanto a mocinha quanto o mocinho dirão em seguida: "Agora é só
aguardar". Só? Só mesmo? O que vocês estão dizendo é que o mais difícil,
que foi apanhar essa senha ou ouvir a instrução sobre em qual fila entrar –
ações que não me custaram mais que alguns segundos –, já passou? Agora é só
gozar as delícias desta sala de espera, mais apinhada do que a Faixa de Gaza?
Ou apreciar as maravilhas desta fila, comprida como a Muralha da China? Um
traço característico da turma do "é só aguardar" é que ela nunca
cometerá a descortesia de dizer "é só esperar". Seus chefes lhes
ensinaram que é mais delicado, menos penoso, "aguardar" do que
"esperar". É um pouco como quando se diz que fulano
"faleceu", em vez de dizer que "morreu". A crença geral é
que quem falece morre menos do que quem morre. No mínimo, morre de modo menos drástico
e acachapante.
• • •
Há outras ocasiões em que o uso inábil
da língua vem em nosso socorro. Exemplos: "Foi movido contra você um
processo nº 01239/2009 por danos morais, conforme a Lei nº 9.099, na segunda
vara penal. Caso não compareça no lugar especificado no arquivo em anexo poderá
implicar em chamada de segunda instância e/ou recolhimento da sociedade".
"Todos os clientes MasterCard,
devem recadastrar o seu cartão em 72 horas. Este procedimento está sendo ocorrido
mundialmente. Caso nosso sistema não reconhecer o recadastramento, ele bloqueia
o cartão, isto é, ficando impossibilitado de novas compras. Clique no link
abaixo e recadastre".
Quem frequenta a internet sabe do que
se trata: e-mails de golpistas, ladrões de senhas. Quando não oferecem outros
indícios, eles se denunciam pelo incontornável costume de estropiar o idioma.
Que bom que a escola brasileira é tão ruim.
(Roberto Pompeu de Toledo. Veja, 25 de março de
2009)
1. Segundo o texto, é correto afirmar que o autor:
(a) encara que as supostas gentilezas contidas nas expressões “Posso
ajudar?” e “É só aguardar” são fruto de treinamento inadequado por parte das
repartições públicas.
(b) propõe que lojistas dispensem os funcionários a fim de que os
clientes possam contemplar, com tranquilidade, os produtos expostos.
(c) pretende debochar dos brasileiros que frequentam escolas de má
qualidade e não conseguem aplicar golpes na rede quando revelam desconhecimento
da língua.
(d) considera que o uso de certos jargões incomoda, porque, embora
pareçam gentis, eles revelam má qualidade na prestação de serviços.
(e) critica o uso excessivo da Internet, porque além de contaminar a
linguagem, ela cria um ambiente favorável a golpes.
2. Considerando seus conhecimentos sobre funções de linguagem, avalie as
afirmações a seguir.
I – A expressão “Posso ajudar?”, empregada por atendentes de lojas,
exemplifica a função fática, cuja meta é estabelecer contato com o receptor.
II – Para compreender o enunciado “Agora é só gozar as delícias desta
sala de espera, mais apinhada do que a Faixa de Gaza?”, é necessário recorrer a
informações extralinguísticas, que é a principal característica da função
referencial de linguagem.
III – O fato de a linguagem estar sendo usada como assunto da própria
linguagem permite dizer que, nesse artigo, a função metalinguística é predominante.
Está(ão) correta(s)
(a) Apenas I. (b) Apenas II. (c) Apenas III. (d) Apenas II e III. (e)
Apenas I e III.
3. No texto, Roberto Pompeu de Toledo compara o uso da expressão “Posso
ajudar?” ao gerundismo, a que ele se refere como “doentio surto”. A crítica ao
gerundismo, no texto, deve-se principalmente ao fato de
(a) ser o resultado de má tradução de expressões comerciais americanas.
(b) esse vício de linguagem prejudicar a compreensão da língua.
(c) ser um jargão saído do telemarketing.
(d) sugerir a ideia de prolongamento, demora no atendimento.
(e) merecer respostas grosseiras por parte de quem o ouve.
4. Em “Seus chefes lhes ensinaram que é mais delicado, menos penoso,
‘aguardar’ do que ‘esperar’”, o autor faz alusão a uma figura de pensamento
chamada
(a) ironia (b) eufemismo (c) paradoxo (d) antítese (e) hipérbole
5. No fim do texto, o autor mostra que, em certos casos, inadequações
linguísticas podem ser úteis, pois elas servem de indícios de golpes na Internet.
Releia, no texto, as mensagens fraudulentas e analise as afirmações abaixo.
I – Na primeira mensagem citada, o uso inábil do idioma é revelado pela
falta de uniformidade das pessoas do discurso, já que os pronomes e verbos ora
estão na 2ª pessoa do singular, ora na 3ª.
II – Em “Caso não compareça no lugar especificado no arquivo em anexo
poderá implicar em chamada de segunda instância e/ou recolhimento da
sociedade”, um dos problemas gramaticais está na regência do verbo “implicar”.
III – Na segunda mensagem, há uma falha no uso do verbo “ocorrer”, que
não admite voz passiva.
Está(ão) correta(s)
(a) I, II e III. (b) I e II. (c) II e III. (d) Apenas II. (e) Apenas
III.
6. Analise os períodos abaixo levando em conta que o Acordo Ortográfico,
em vigor a partir de 2009 no Brasil, prevê a eliminação do acento diferencial
no par pára (verbo)/para (preposição).
I - Remédio para coração.
II - Quando ele para para pensar, desiste.
III - O elevador só para se o botão for acionado.
IV - Mercedes dá férias coletivas a 7.000 e para fábrica no ABC.
V - O automóvel para em frente da porta.
Os períodos que podem gerar ambiguidade são
(a) I, II e IV. (b) II, III e IV. (c) II, IV e V. (d) II e V. (e) I e
IV.
7. No terceiro quadrinho, está pressuposta a ideia de que o cargo de diretor
de ecologia
(a) é alvo da cobiça de outros diretores.
(b) é fruto do nepotismo.
(c) não existe naquela empresa.
(d) não goza de prestígio na empresa.
(e) requer habilidades especiais.
8. Considerando-se os elementos visuais e textuais, presentes no cartaz da
campanha, assinale o que for incorreto.
(a) A imagem da gota de água que sai da torneira reforça a mensagem
contida no slogan.
(b) De acordo com a norma culta, o verbo “aproveitar” deveria ser substituído
por “aproveite”.
(c) A expressão “lavar as mãos” pode ser interpretada no sentido conotativo
e denotativo.
(d) O verbo “ter”, no segundo período, no sentido de “haver”, é típico
da linguagem coloquial.
(e) Em “abandono da Mata Atlântica” há uma ambiguidade decorrente do
emprego da
expressão preposicionada.
Utilize os textos abaixo para responder aos testes
de 9 a 16.
TEXTO I
“Escrever, para mim, é um ato que preenche
várias finalidades. Em primeiro lugar, é uma forma de organizar o mundo, de dar
sentido às coisas, através daquela progressão lógica: princípio, meio, fim. Em
segundo lugar, é um grande meio de comunicação com nossos semelhantes: a
palavra escrita é um território que partilhamos em silêncio, em amável
cumplicidade.
Escrever é contar histórias. Cheguei à
literatura por causa disto. Gostava de ouvir as histórias que meus pais, imigrantes,
contavam e queria fazer como eles, contar também as minhas histórias, mas
contar como os escritores que li desde pequeno (Monteiro Lobato, Érico Veríssimo,
Jorge Amado) e que eu admirava. Por último, quero dizer que há, no escrever, um
componente lúdico. Colocar as palavras uma ao lado da outra é um jeito de
organizar o pensamento, mas é sobretudo um jogo, como aqueles jogos de armar.
Tudo isso para dizer que escrever tem de ser sinônimo de prazer e emoção. Dar
prazer e emoção ao leitor é a primeira tarefa do escritor.”
(Moacyr Scliar, http://www.klickescritores.com.br)
TEXTO II - Escrever é Triste
Escrever é triste. Impede a conjugação
de tantos outros verbos. Os dedos sobre o teclado, as letras se reunindo com
maior ou menor velocidade, mas com igual indiferença pelo que vão dizendo,
enquanto lá fora a vida estoura não só em bombas como também em dádivas de toda
natureza, inclusive a simples claridade da hora, vedada a você, que está de
olho na maquininha. O mundo deixa de ser realidade quente para se reduzir a marginália,
puré de palavras, reflexos no espelho (infiel) do dicionário. O que você perde
em viver, escrevinhando sobre a vida. Não apenas o sol, mas tudo que ele
ilumina. Tudo que se faz sem você, porque com você não é possível contar. Você
esperando que os outros vivam, para depois comentá-los com a maior cara-de-pau
("com isenção de largo espectro", como diria a bula, se seus escritos
fossem produtos medicinais). Selecionando os retalhos de vida dos outros, para
objeto de sua divagação descompromissada. Sereno. Superior. Divino. Sim, como
se fosse deus, rei proprietário do universo, que escolhe para o seu jantar de
notícias um terremoto, uma revolução, um adultério grego — às vezes nem isso, porque
no painel imenso você escolhe só um besouro em campanha para verrumar a
madeira. Sim, senhor, que importância a sua: sentado aí, camisa aberta,
sandálias, ar condicionado, cafezinho, dando sua opinião sobre a angústia, a
revolta, o ridículo, a maluquice dos homens. Esquecido de que é um deles.
Ah, você participa com palavras? Sua
escrita — por hipótese — transforma a cara das coisas, há capítulos da História
devidos à sua maneira de ajuntar substantivos, adjetivos, verbos? Mas foram os
outros, crédulos, sugestionáveis, que fizeram o acontecimento. Isso de escrever
«O Capital» é uma coisa, derrubar as estruturas, na raça, é outra. E nem sequer
você escreveu «O Capital». Não é todos os dias que se mete uma ideia na cabeça
do próximo, por via gramatical. E a regra situa no mesmo saco escrever e
abster-se. Vazio, antes e depois da operação.
Claro, você aprovou as valentes ações
dos outros, sem se dar ao incômodo de praticá-las. Desaprovou as ações
nefandas, e dispensou-se de corrigir-lhes os efeitos. Assim é fácil manter a
consciência limpa. Eu queria ver sua consciência faiscando de limpeza é na
ação, que costuma sujar os dedos e mais alguma coisa. Ao passo que, em sua
protegida pessoa, eles apenas se tisnam quando é hora de mudar a fita no
carretel.(...)
(Drummond de Andrade, Carlos. O Poder
Ultrajovem, 1972.)
9. No texto I, pode-se inferir que
(a) um bom texto deve seguir a ordem começo, meio e fim.
(b) a narrativa oral é deficiente em oposição à escrita.
(c) a leitura de obras literárias era motivo de prazer e emoção.
(d) a narrativa de viagem é emocionante e prazerosa.
(e) a linguagem escrita é lugar exclusivamente de brincadeira e
diversão.
10. A partir da leitura do texto I, pode-se inferir que
(a) a escrita é um meio de comunicação mais eficiente do que a
oralidade.
(b) o texto literário tem mais predicados do que os demais tipos de
texto.
(c) a leitura e a escrita são atividades sempre empreendidas em
silêncio.
(d) o autor aprecia o modo como os autores citados empregam as palavras.
(e) o literato é que, por seu passado, sabe contar história.
11. A análise dos textos I e II permite afirmar que,
(a) para Drummond, ao contrário de Scliar, a literatura é uma atividade
supérflua.
(b) para ambos, a atividade literária envolve a utilização eficiente dos
vocábulos.
(c) Scliar incentiva uma literatura que privilegia somente texto
“palatável” e engraçado.
(d) para Drummond, os textos “tristes”, embora mais degastantes, são
mais úteis socialmente.
(e) segundo Scliar, Jorge Amado produziu textos mais envolventes do que
Drummond.
12. Do texto II, pode-se concluir que
(a) o escritor priva-se de viver intensamente a realidade quando se
dedica à escrita.
(b) Drummond sobrepõe o engajamento político ao estilo na prática da
literatura.
(c) o escritor desqualifica a atividade literária por omitir fatos
políticos.
(d) para Drummond, todo escritor é sempre arrogante e soberbo.
(e) Drummond critica a frivolidade da literatura.
13. Sobre o texto II, é incorreto afirmar que
(a) o escritor se vangloria do estilo, mas se omite de agir socialmente.
(b) escrever envolve sobrepor o estilo ao sentido das palavras.
(c) a atividade literária distancia o escritor da prática das questões
sociais.
(d) o conhecimento gramatical não é suficiente para mudar o mundo.
(e) escrever é abster-se de outras ações.
14. Os termos grifados no texto II (“verrumar”, “nefandas” e “tisnam”)
podem ser substituídos, sem prejuízo semântico para o texto, por
(a) acariciar, corajosas, incomodam
(b) furar, perversas, movem
(c) limpar, abomináveis, usam
(d) sujar, louváveis, movimentam
(e) esburacar, execráveis, sujam
15. É possível afirmar que
(a) no texto II, o afastamento de uma vida atuante por parte do escritor
fica patente na passagem “Selecionando os retalhos de vida dos outros...”.
(b) no texto I, o isolamento em que vive o escritor é expresso em “...em
amável cumplicidade.”
(c) no texto II, a produção escrita como uma atividade concernente à
utilização do vernáculo demonstra-se nas expressões “puré de palavras” e
“espelho (infiel) do dicionário”.
(d) no texto II, com “...que costuma sujar os dedos e mais alguma
coisa.”, o autor faz menção à complexidade da atividade literária que requer
exercício corporal intenso e integral.
(e) no texto I, a expressão “como aqueles jogos de armar” apresenta a
atividade literária como um quebra-cabeças em que as palavras preenchem lacunas
de acordo com as necessidades estilísticas do texto.
16. Em “...mas contar como os escritores com que me deparei que li desde
pequeno (...) e de quem eu gostava que eu admirava.”, substituindo os verbos
“li” e “admirava” por “deparei-me” e “gostava”, teria-se respectivamente
(a) “...mas contar como os escritores os quais me deparei desde pequeno
(...) e dos que eu gostava.”
(b) “...mas contar como os escritores com que me deparei desde pequeno
(...) e que eu gostava .”
(c) “...mas contar como os escritores com que me deparei desde pequeno
(...) e dos quais eu gostava.”
(d) “...mas contar como os escritores que me deparei desde pequeno (...)
e que eu gostava.”
(e) “...mas contar como os escritores com os quais deparei-me desde
pequeno (...) e os quais eu gostava.”
17. Considere os versos deste poema:
O mundo é grande
O mundo é grande e (I) cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e (II) cabe
na cama e (III) no colchão de amar.
O amor é grande e (IV) cabe
no breve espaço de beijar.
(Carlos /Drummond de Andrade, Amar se aprende
amando. Rio de Janeiro, Record)
A conjunção “e” foi empregada pelo poeta com valor aditivo
(a) Em todas as ocorrências.
(b) Apenas em I e IV.
(c) Apenas em II.
(d) Apenas em III.
(e) Apenas em II e III.
18. Não ......... mais dúvidas de que ....... haver mudanças na política
econômica do país, ...... já ...... dias que o Ministro da Fazenda se reúne com
seus assessores .... portas fechadas.
A alternativa que preenche corretamente as lacunas é
(a) restam, vai, porque, faz, a
(b) resta, vão, porque, fazem, à
(c) restam, vão, por que, faz, a
(d) resta, vai, porque, fazem, à
(e) restam, vai, porquê, faz, a
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responder ao teste 19.
19. A alternativa que apresenta uma afirmação descabida é
(a) Apenas no primeiro par de frases a vírgula foi empregada para
indicar pausa na leitura.
(b) No segundo par de frases, a palavra “só” é um advérbio nas duas ocorrências.
(c) No terceiro par de frases, a inclusão de vírgula implica a aceitação
espontânea de algo.
(d) No quarto par de frases, a palavra “juiz” isolada por vírgulas
exerce a função sintática de vocativo.
(e) No último par de frases, o advérbio “não” refere-se ao verbo
“querer” apenas na primeira ocorrência.
20. Um locutor de uma rádio assim anunciou a aprovação da lei antifumo
em São Paulo: “São Paulo bane cigarro em locais
fechados.” A respeito dessa forma verbal, é
correto afirmar:
(a) Ela não obedece às regras do padrão formal da língua, pois “banir” é
um verbo defectivo, conjugado da mesma forma que “falir”.
(b) Ela obedece às regras do padrão formal, pois, embora defectivo, no
modo indicativo, o verbo “banir” só não é conjugado na 1ª pessoa do singular do
presente.
(c) Se o locutor optasse pelo sinônimo “proibir”, haveria alteração de
sentido, pois o verbo “banir” acrescenta a ideia de ilegalidade.
(d) Embora seja de uso recorrente na linguagem coloquial, essa forma
verbal não está prevista na norma culta.
(e) Por ser um verbo defectivo que não pode ser conjugado no presente do
indicativo, ela deveria ser corrigida com a substituição da locução verbal “vai
banir”.
21. Compare as frases:
I – Falam tanto, que ela não se concentra.
II – Falam tanto que ela não se concentra.
Coloque (V) verdadeiro ou (F) falso para as afirmações
( ) Em I, a oração subordinada deve ser compreendida como uma consequência
do que foi exposto na oração principal.
( ) Em II, o advérbio “tanto” intensifica a ação mencionada na oração subordinada.
( ) Em I, a vírgula está incorretamente empregada porque a oração principal
nunca pode ser separada da oração subordinada.
( ) Em II, a oração “falam tanto” pode ser equivalente, quanto ao sentido,
a “comenta-se muito”.
A sequência correta é:
(a) V, V, F. V.
(b) F, V, F, F.
(c) V, F, F, V.
(d) F, V, V, F.
(e) V, V, F, F.
Utilize o texto abaixo para responder aos testes de
22 a 25.
Nova ortografia, velhos dizeres
É oficial: entrou em vigor a nova
ortografia. Quer dizer: mais ou menos em vigor.
É a única do mundo legislada. Os
brasileiros temos pouca intimidade com as vigorações. Há sempre um amanhã, um
depois de amanhã e, graças a Deus, um Dia de São Nunca, as calendas (ver
dizeres populares em extinção).
Depois de anos caitituando Angola, São
Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Guiné-Bissau (olha o hífen!), Moçambique e
Timor-Leste (eu disse que é pra olhar o hífen!), para não falar em Portugal,
que andou pisando na bola (ver dizeres em extinção), o Brasil finalmente,
mediante quatro decretos promulgados, assinados por presidente da república,
conseguiu fazer com que uns bons 250 milhões de pessoas escrevam de forma idêntica.
Quer dizer: mais ou menos idêntica.
Primeiro, porque dessas 250 milhões de pessoas apenas uns 15% são vagamente
alfabetizadas. Desses 15%, pelo menos 10% é de nacionalidade portuguesa.
Mas que 15%! É para elas que se
legislou. Quer dizer: mais ou menos se legislou. Há dúvidas e indecisões em massa.
Principalmente nos meios alfabetizados, por assim dizer. Porque o hífen isso e
o trema aquilo e o acento agudo esse e o circunflexo aquele e pororó, pão duro
coisa e tal (ver dizeres populares em extinção).
De certo, sabe-se uma coisa: o
decreto-lei para os hífens e seu uso, que entrou em vigor no primeiro dia de
janeiro de 2009, tem até 2012, ou 2021, talvez até 3033, para ser adotado à
vera (ver dizeres em extinção) entre a chamada CPLP, a digníssima Comunidade
dos Países de Língua Portuguesa, ou os Oito Magníficos Países de Ouro, como são
conhecidos nos meios lexicográficos mundiais.
De garantido, pode-se afirmar que essa
nova ortografia (quer dizer: mais ou menos um acordo, ou um decreto, ou uma
lei) vai dar um dinheirão e muita gente boa vai pegar uma nota preta e sair
pela aí (ver dizeres públicos em extinção), pelos países da doce língua de
Camões e Paulo Coelho, montada na burra do dinheiro. (...)
(Lessa, Ivan. oglobo.globo.com/mundo/mat/2009/01/02/)
22. Com base no texto, não é correto afirmar que
(a) no trecho “...250 milhões de pessoas escrevam de forma idêntica.
Quer dizer: mais ou menos idêntica.”, o autor enfatiza que, no Brasil, um país
democrático, os cidadãos são livres para escreverem como querem desde que se
comuniquem de forma eficiente.
(b) a falta de uniformidade no uso das regras ortográficas resulta,
entre outros fatores, da desinformação e do analfabetismo funcional que ainda
atinge parcela significativa da população.
(c) com a ressalva “quer dizer: mais ou menos um acordo, ou um decreto,
ou uma lei”, o escritor salienta a indefinição daquilo que foi estabelecido no
país acerca das mudanças na língua portuguesa.
(d) com as frases “mais ou menos em vigor” e “...temos pouca intimidade
com as vigorações”, o autor ironiza a flexibilidade com que as leis são
respeitadas no Brasil.
(e) As mudanças constantes da oralidade são marcadas pelas ressalvas do
autor em “ver dizeres populares em extinção”.
23. “ pode-se afirmar que essa nova ortografia (...) vai dar um
dinheirão...”. Tendo em vista a sua classificação morfológica, o termo grifado
repete-se em:
(a) “... para não falar em Portugal, que andou pisando na bola...”
(b) “...eu disse que é pra olhar o hífen!”
(c) “...decreto-lei para os hífens e seu uso, que entrou em vigor...”
(d) “É para elas que se legislou.”
(e) “...Cale-se, que a regra deve sempre prevalecer! ”
24. Preencha a lacuna com porque, porquê, por que, por quê: “Nunca nos
perguntaram _____ cometemos tamanho equívoco. Talvez _____ não quisessem ouvir
a verdade. Os _____ doem às vezes.”
(a) por que, porque, porquês
(b) porque, porque, porquês
(c) por que, por que, por quês
(d) porquê, por que, porquês
(e) porque, porque, por quês
25. A mesma figura de linguagem presente em “Os brasileiros temos pouca
intimidade com as vigorações.” repete-se em:
(a) “Nova ortografia, velhos dizeres.”
(b) “Brasília é uma estrela espatifada.”
(c) “O Ford quase o derrubou e ele não viu o Ford.”
(d) “Coisa curiosa é aquela gente! Divertem-se com tão pouco...”
(e) “Quer dizer: mais ou menos idêntica”.
Para responder à questão 26, considere o trecho da
reportagem e o cartum abaixo.
“Charles Darwin é um paradoxo moderno.
Não sob a ótica da ciência, área em que seu trabalho é plenamente aceito e
celebrado como ponto de partida para um grau de conhecimento sem precedentes
sobre os seres vivos. Sem a teoria da evolução, a moderna biologia, incluindo a
medicina e a biotecnologia, simplesmente não faria sentido. O enigma reside na
relutância, quase um mal-estar, que suas ideias causam entre um vasto contingente
de pessoas, algumas delas fervorosamente religiosas, outras nem tanto.
(...) Desde o ano passado, o bordão
entre os criacionistas americanos é "liberdade acadêmica". A ideia
que tentam passar é que o darwinismo é apenas uma teoria, não um fato, e ainda
por cima está cheio de lacunas e é carente de provas conclusivas. Sendo assim,
não há por que Darwin merecer maior destaque que o criacionismo.
O argumento é de evidente má-fé. Em
seu significado comum, teoria é sinônimo de hipótese, de achismo. A teoria da
evolução de Darwin usa o termo em sua conotação científica. Nesse caso, a
teoria é uma síntese de um vasto campo de conhecimentos formado por hipóteses
que foram testadas e comprovadas por leis e fatos científicos. Ou seja, uma
linha de raciocínio confirmada por evidências e experimentos. Por isso, quando
é ensinado numa aula de religião, o gênesis está em local apropriado. Colocado
em qualquer outro contexto, só serve para confundir os
estudantes sobre a natureza da ciência.”
(Veja, 11 de fevereiro de 2009) (http://lusodinos.blogspot.com/2008/12/mtodo-cientfico-vs-cri
26. A partir da relação entre eles, é correto afirmar:
(a) Pode-se deduzir que, embora Charles Darwin seja considerado o
precursor do método científico, sua teoria apresenta características do criacionismo.
(b) Tanto o autor da reportagem quanto o cartunista deixam evidentes
suas críticas à teoria da evolução de Darwin.
(c) Apenas no cartum é possível identificar que haja a defesa das
constatações obtidas por meio do método científico.
(d) Os elementos visuais presentes no 2.º quadrinho do cartum confirmam
o conteúdo contido no penúltimo período da reportagem.
(e) É possível inferir que as idiossincrasias da teoria darwinista são
corroboradas pelos
argumentos do método criacionista.
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