INSPER – Prova de
Análise Verbal – 2010 – 1º Semestre
É tudo Brasil
Vanusa, a musa do
iê-iê-iê, anda sendo massacrada por ter cantado em público o hino nacional
errando tudo: melodia, harmonia, ritmo e letra. O fato, já velho de meses, se
deu numa cerimônia da Assembleia Legislativa de São Paulo. Mas só agora, via
YouTube, o país, pasmo, o está assistindo.
Na semana
passada, Sasha, 11 anos, filha de Xuxa, também foi para o castigo por escrever
no Twitter uma mensagem dizendo que estava filmando e ia fazer "uma sena
com a cobra" – ela queria dizer "cena". E, há poucos dias, a
apresentadora (e bióloga em disponibilidade) Ana Maria Braga, ao comentar uma
receita de bolo em seu programa de TV, louvou a castanha-do-pará como uma
delícia da "fauna brasileira".
Seria fácil
listar essas ratas produzidas por três (perdão, ouvintes) ícones da cultura e
vergastar a indigência mental em que vive o Brasil. Ou acreditar nas
justificativas oferecidas para dois dos casos. Segundo seu agente, Vanusa teria
se atrapalhado com a música por estar sob o efeito de um remédio para
labirintite. E, segundo Xuxa, Sasha não sabe escrever direito em português
porque foi alfabetizada em inglês.
Pois ouso pensar
diferente. Vanusa, farta de ouvir o hino nacional tocado compulsoriamente antes
de cada competição esportiva em São Paulo, queria apenas fugir da patriotada e
da cafonice. Daí tentou emprestar ao hino um caráter quase jazzístico,
quebrando o ritmo, embaralhando a letra e alterando a melodia. E, quando ia partir
para o "scat", foi cortada sem piedade pelo locutor do evento.
Quanto à menina
Sasha, seu erro foi insignificante para alguém que, admitido pela própria mãe,
é analfabeta em sua língua. E, interpretando um possível raciocínio de Ana
Maria Braga, e daí se a castanha-do-pará vem da
flora ou da fauna? "É tudo Brasil, não?".
Sim. É tudo Brasil.
(Ruy Castro, Folha de São Paulo, 05/09/2009)
1. Considere as afirmações:
I – Do ponto de vista da gramática normativa, há um
erro de regência em “... o está assistindo”, uma vez que, no sentido de “ver”,
o verbo “assistir” é transitivo indireto.
II – O advérbio “compulsoriamente”, empregado no
quarto parágrafo, denota circunstância de tempo.
III – A locução adjetiva presente no aposto que
qualifica a cantora Vanusa – chamada de “musa do iê-iê-iê” – tem origem
onomatopaica.
Está(ão) correta(s):
(a) Apenas I e II. (b) Apenas I e III. (c) Apenas
II e III. (d) Apenas I. (e) I, II e III.
2. A alternativa que apresenta uma impropriedade
vocabular semelhante à cometida por Ana Maria Braga é:
(a) O deputado pretendia renunciar para evitar que
seu mandato fosse caçado.
(b) A secretaria de Relações Institucionais deverá
ser o elo de ligação do Estado com os demais poderes da República.
(c) A ingestão contínua de bebida alcoólica provoca
asfixia nos neurônios.
(d) Assaltante manteu mulher refém, durante 5
horas, no ABC.
(e) Quando os problemas acabarem, a normalidade
voltará.
3. Considerando-se o contexto em que foram usados,
identifique a alternativa que melhor preserva o sentido original dos termos
grifados no trecho abaixo.
“Seria fácil listar essas ratas produzidas por três
(perdão, ouvintes) ícones da cultura e vergastar a indigência mental em que
vive o Brasil”
(a) paladinos, exaltar, penúria.
(b) heróis, repreender, incivilidade.
(c) símbolos, criticar, degenerescência.
(d) arautos, aviltar, preguiça.
(e) ídolos,
humilhar, opulência.
Para responder à
questão 4, considere a tirinha e o poema abaixo.
Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.
Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.
Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é,
Sentir, sinta quem lê!
4. Coloque V (verdadeiro) ou F (falso) para as
afirmações que seguem.
( ) A tira explora a intertextualidade de modo
jocoso, uma vez que transporta o(s) poeta(s) para um contexto prosaico atual,
não relacionado aos temas da poesia de Fernando Pessoa.
( ) Os versos de Fernando Pessoa fazem alusão a um
jogo de máscaras que também pode ser identificado na tirinha de Custódio.
( ) Nos versos, é possível identificar os traços
que marcaram um dos heterônimos de Fernando Pessoa, Alberto Caeiro, o poeta da
“dor do sentir”.
( ) Tanto na tira quanto no poema nota-se a
presença da metalinguagem como recurso estilístico.
A sequência correta é:
(a) V, V, F, V. (b) F, V, F, V. (c) F, F, V, V. (d)
V, V, F, F. (e) F, V, F, F.
5. Compare estes períodos:
I – É consensual que as poucas leis brasileiras
sobre crimes ambientais não funcionam.
II – É consensual que poucas leis brasileiras sobre
crimes ambientais não funcionam.
A alternativa que as analisa corretamente é:
(a) A presença do artigo definido, na frase I,
permite inferir que a afirmação contém uma crítica à eficiência das leis
ambientais.
(b) Na frase II, a ausência de artigo representa um
erro gramatical, pois pronomes indefinidos exigem palavras que os determinem.
(c) A comparação das frases é um indício de que,
apesar de atuarem como elementos coesivos, os artigos servem apenas para ligar
palavras.
(d) O emprego do artigo na frase I representa um
elogio à legislação brasileira que atua no combate aos crimes ambientais.
(e) Com ou sem artigo, as frases revelam que o
governo brasileiro não é capaz de atuar na defesa do meio ambiente.
Utilize o texto abaixo para responder aos testes 6
e 7.
Foi às 23 horas,
56 minutos e 20 segundos (horário de Brasília) da fria noite de 20 de julho de
1969 que o homem pisou a Lua pela primeira vez. Há 40 anos, portanto. E pisou
com o pé esquerdo. Não vai aqui nenhuma superstição, é que de fato foi esse o
pé que o astronauta americano Neil Armstrong conseguiu pôr em primeiro lugar no
poroso e irregular solo lunar, após descer a escada metálica do módulo
(batizado de Águia) da Apollo 11. Armstrong era um homenzarrão de quase 100
quilos. Naquele momento, sem a gravidade da Terra, começou a andar em leves
saltos e experimentou em seu corpo a sensação de pesar feito uma criança de 15
quilos. Nosso planeta conquistara a Lua.
A ciência
espacial, dali para a frente, nunca mais seria a mesma – e seu desenvolvimento
chegou ao inimaginável. Na verdade, deve-se à Lua – tal foi a tecnologia que se
teve de criar para alcançá-la – um legado fantástico não somente nesse setor,
mas em diversas áreas científicas. Também esse é um precioso ganho da conquista
do nosso satélite natural. No que se relaciona diretamente ao espaço, hoje se
sabe, por exemplo, que existe água em Marte e as sondas que lá estiveram devem
um tributo à quarentona Apollo 11 – e, se lá há água, é bem provável que tenha
havido vida ou, quem sabe, ainda existam formas de vida bacterianas em
condições de sobrevivência em ambientes extremos.
6. A respeito das formas verbais do texto, é
correto afirmar:
(a) Em “Nosso planeta conquistara a Lua”, o verbo
poderia ser substituído, sem alteração de sentido, por “tinha conquistado”.
(b) O verbo “ser”, em “nunca mais seria a mesma”,
expressa uma hipótese que não pode ser confirmada.
(c) O verbo “haver”, no último período, é impessoal
na primeira ocorrência e, auxiliar na segunda.
(d) Em “no que se relaciona diretamente ao espaço”,
o verbo está na voz passiva sintética.
(e) O verbo “existir”, em “ainda existam formas de
vida bacteriana” deveria estar no singular, concordando com o sujeito “ainda”.
7. Considere as afirmações:
I – O emprego dos aumentativos “homenzarrão” e
“quarentona”, no contexto em que foram empregados, apresentam sentido
depreciativo.
II – Em “... um legado fantástico não somente nesse
setor, mas em diversas áreas científicas”, a conjunção “mas” introduz ideia de
oposição àquilo que foi mencionado anteriormente.
III – A anteposição do adjetivo em “... da fria
noite de 20 de julho de 1969” revela uma conotação de afetividade,
intensificando a importância da data histórica.
Está(ão) correta(s):
(a) Apenas I e II. (b) Apenas I e III. (c) Apenas
II e III. (d) Apenas I. (e) I, II e III.
Utilize a tirinha abaixo para responder aos testes
8 e 9.
8. Da leitura da tira, pode-se depreender que
(a) Na opinião das duas meninas, a felicidade futura
independe de fatores financeiros.
(b) O comportamento da personagem Mafalda, nos
quadrinhos, sugere que ela defende ideias anarquistas.
(c) No último quadrinho, a fala de Mafalda indica
que ela realmente se arrependeu de ter agredido a amiga.
(d) A pergunta da amiga, presente no segundo quadrinho,
contesta uma visão comercial sobre projetos de vida.
(e) O humor da tira decorre da discordância das garotas
sobre valores humanos e bens de consumo.
9. Assinale a alternativa correta.
(a) No primeiro quadrinho, “muitos” e “muita” são,
respectivamente, pronome indefinido e advérbio de intensidade.
(b) A mistura de pronomes de 2ª e de 3ª pessoa, presente
no segundo quadrinho, é uma marca típica da linguagem coloquial.
(c) A conjunção “se” (segundo quadrinho) denota
ideia de finalidade em relação à oração anterior.
(d) Se estivesse na 2º pessoa do singular, o verbo
“experimentar” (terceiro quadrinho) seria alterado para “experimente”.
(e) Na segunda ocorrência do verbo “ter”, no último
quadrinho, o acento gráfico
diferencial foi abolido após o Acordo Ortográfico.
10. Assinale a alternativa que preenche
corretamente as lacunas dos enunciados a seguir.
Respondeu,
num tom seco e ..........., que era atualmente um especialista em crueldades da
existência.
Após
quase oito anos de guerra no Afeganistão, nota-se o ......................... do
grupo radical islâmico Taleban.
Merecimento
e tempo de serviço determinam a ................de quem atua em órgãos públicos
da administração direta.
A
..............é que o presidente sancione hoje o projeto da reforma eleitoral.
(a) pretensioso, recrudecimento, ascensão, expectativa.
(b) pretencioso, recrudecimento, ascensão, espectativa.
(c) pretencioso, recrudescimento, ascenção, espectativa.
(d) pretensioso, recrudescimento, ascensão, expectativa.
(e) pretencioso, recrudescimento, ascenção, expectativa.
11. Sabe-se que, na fala e na escrita, a escolha de
palavras ou expressões inapropriadas, além de afetar o sentido do enunciado,
pode depreciar a imagem do enunciador que comete a gafe. Foi o que aconteceu
com o presidente Lula num dos encontros do G-20, ao comentar sobre a crise global:
"Esta certamente talvez seja uma das maiores crises que já
enfrentamos".
Uma correção adequada para a frase é:
(a) Certamente esta talvez seja a maior crise que já
enfrentamos.
(b) Esta certamente seja uma das maiores crises já
enfrentadas pelo país.
(c) Talvez esta é uma das maiores crises a qual enfrentamos.
(d) Esta talvez seja uma das maiores crises que já
enfrentamos.
(e) Uma das maiores crises de que enfrentamos é
esta: com certeza.
Utilize o texto abaixo para responder
ao teste 12.
Os
problemas envolvendo concordância talvez sejam o mais evidente exemplo
brasileiro de que um idioma é, acima de tudo, fato social: mesmo quando
linguisticamente o "erro" não contraria a índole da língua, mesmo se há
evidências de que o brasileiro cancela a regra em sua fala, é alto o peso social
no modo como os falantes encaram o problema.
Para
Maria Helena de Moura Neves, do Mackenzie e da Unesp de Araraquara, muito do
que se diz sobre concordância em cartilhas e manuais é posto só em termos de
regras a ser obedecidas. (...)
Com
deslizes de concordância não parece haver distinção de classe e nem seria
preciso puxar a memória para lembrar José Sarney, presidente do Senado, em uma
de suas defesas no episódio dos atos secretos, nomeações e gastos na calada da
noite, sem assinatura oficial. "Não há atos nenhum que não estão na
rede", emendou o senador. Um escorregão gramatical de uma figura pública
ganha relevo, muitas vezes desproporcional ao tropeço. Mas equívoco como o de
Sarney, escancarado em jornais de grande circulação, ilustra como são maleáveis
as regras de concordância na fala, em relação às impostas pela escrita.
(Revista Língua, setembro de 2009)
12. Analise as afirmações abaixo.
I – Especialistas em linguagem defendem
que é necessário promover mudanças nas gramáticas em relação às regras de
concordância.
II – O deslize cometido pelo presidente
do senado é um claro exemplo de que as elites estão mais expostas aos desvios
de concordância.
III – O teor do estudo da concordância,
nas gramáticas, é prescritivo, sem que haja espaço para a observação das
variantes linguísticas.
De acordo com o texto, está correto o
que se afirma em:
(a) I, II e III. (b) Apenas I. (c)
Apenas II e III. (d) Apenas II. (e) Apenas III.
Utilize o texto para responder ao teste
13.
Paraná ataca o estrangeirismo
Termos
estrangeiros na linguagem cotidiana desvalorizam a língua portuguesa e aumentam
a exclusão social? O governo do Paraná acha que sim. Aprovado em primeira
votação, em 13 de julho, pelos deputados estaduais, o projeto de lei 16.177
obriga a tradução de estrangeirismos em propagandas paranaenses. Ela deve ter o
mesmo destaque dos termos estrangeiros usados. O descumprimento significa multa
de R$ 5 mil, duplicada com nova infração.
Se
passar pela segunda votação, a medida será sancionada este ano pelo governador
Roberto Requião (PMDB), cuja defesa é cristalina: um termo gringo é excludente
e afronta a Constituição, que define o português como idioma oficial e a
soberania como um fundamento da República.
A
iniciativa não se iguala - em alcance e ambição - ao adormecido mas vivo
projeto de lei de Aldo Rebelo (PCdoB-SP), que prevê a abolição do
estrangeirismo no país. E lembra a já esquecida ação ajuizada pelo procurador
Matheus Magnani, de Guarulhos (SP), que em 2006 queria exigir tradução do
inglês usado em vitrines paulistas.
A
Comissão de Constituição e Justiça da Câmara aprovou em dezembro de 2007 o
projeto de Rebelo, que impõe a tradução, em igual destaque, de termos gringos
em publicidade ou informes comerciais, e expurga o inglês dos documentos da
administração pública. O projeto, aprovado pelo Senado, vai a plenário na
Câmara, mas sem data para ser apreciado.
Em
anúncio ou vitrine, textos em outros idiomas são dirigidos a quem domina o
código ou o tem como sinal de status (modernidade, no caso do inglês;
elegância, do francês; saber imemorial, do latim, vide Harry Potter). Pelo
valor que assumem, muitas expressões atropelam termos nacionais até mais
precisos. E tome upgrade (expansão), meeting (encontro), budget (orçamento),
turn over (rotatividade), 50% off (metade do preço). O mercado, no entanto,
pode ser um regulador de linguagem: um pequeno comércio afugentaria a freguesia
com tabuletas anunciando sale, termo talvez palatável ao freguês classe média
alta de um shopping. Numa espécie de "neoliberalismo da linguagem",
não consta que o mercado use idioma que o faça perder dinheiro.
http://revistalingua.uol.com.br/textos.asp?codigo=11832
13. Considerando as ideias veiculadas no texto
acima, pode-se concluir que o autor
(a) reivindica agilidade na aprovação de projetos
de lei que visam ao combate ao uso de estrangeirismos na língua portuguesa.
(b) condena o uso de termos estrangeiros em
anúncios publicitários, meios de comunicação, documentos oficiais, letreiros de
lojas e restaurantes.
(c) considera que o projeto de lei proposto pelos
deputados paranaenses é ineficiente, já que os donos de estabelecimentos
comerciais encontrariam dificuldades em usar a linguagem adequada à sua
clientela.
(d) encara que a forte presença de estrangeirismos
na linguagem cotidiana representa uma invasão que compromete o idioma e a
identidade cultural.
(e) tem como objetivo principal informar os
leitores, por isso não explicita sua opinião a respeito das diversas tentativas
dos governantes de legislarem sobre usos de linguagem.
Utilize o texto abaixo para responder aos testes 14
a 16.
Morenos, negros e pardos
O IBGE vive se
saindo com cada uma. Acompanho-o há anos, de longe, torcendo para saber o que
anda tramando, ou desvendando. Semana passada, o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística, para dar seu nome completo, divulgou uma porção de
dados que me dão mais saudades do Brasil do que água de coco ou pastel de
queijo. De cara, o Instituto veio logo de alisamento japonês: cresce o número
de pessoas que se declaram pardas.
Cresceu em 1,3
ponto percentual entre 2007 e 2008. É muito pardo. De repente, assim sem mais
nem menos. No mesmo período foram registradas reduções nos índices de pessoas
que se declaram pretas. Entre estas, houve uma queda de 0,7 ponto percentual.
Não chega a ser um exagero, mas dá para abrir inquérito para saber que fim
levaram. Os que se afirmam brancos também decresceram. Uma queda de 0,8 ponto
percentual. Os pardos estão comandando as ações. Com tudo e pouco prosas.
Pretos (não é negro que se diz, hein, IBGE?) e brancos estão perdendo sua
posição no ranking multicor nacional.
Pardo para mim
quer dizer muito pouco. Me lembro de papel pardo, com que a gente fazia capa
para proteger de nossas porcalhadas mesmo nossos cadernos de colégio. Era uma
cor fosca que variava do amarelo ao marrom escuro, como quer o Houaiss, pai dos
burros e das reformas ortográficas. O Houaiss, ao listar acepções para
"pardo" beira o politicamente incorreto. Ofensivo mesmo, eu diria.
Diz que pardo é "um branco sujo, escurecido". (...)
Parda era a tez
de pessoas (não sei qual o plural de tez) em noticiário policial. Tinha nota de
falecimento ou agressão e lá vinha: "Fulano de Tal, aparentando uns 30
anos, tez parda...", Et cetera e tal. Pardo também era um tipo de arroz.
Dele se retirava a casca, mas não se polia. Arroz pardo. Eu preferia branco e
fofo. Pardos eram os mulatos. Mulatos e mulatas. Pardos e pardas. Nunca,
jamais, nos sambas e marchas. "O teu cabelo não nega, parda, porque és
parda na cor..." Tentem cantar. Não dá mesmo. Confere? Pense numa outra musiquinha.
Com parda no meio. Não tem. Não conheço uma única em nosso cancioneiro que
tenha pardo no título, no meio, onde quiserem. Eram, repito, mulatos e mulatas.
Não entendo,
pois, essa pontuação percentual a favor da designação "parda" ou
"pardo". É negro mesmo. Ou preto, como prefere o IBGE. Tudo. Menos
afro-brasileiro, espero ardentemente, dentro de minha pele morena e sob meus
cabelos (já foram cãs) brancos. Teve uma época, aqui no Hemisfério Norte, em
que eu também já fui pardo como vocês. Isso é uma história longa e chata e que
hoje não estou com a menor vontade de contar.
(Lessa, Ivan.
http://g1.globo.com/Noticias/PopArte/25/09/09)
14. De acordo com o texto, é correto afirmar:
(a) O preconceito contra os negros pode ser
constatado até mesmo entre os eruditos da língua.
(b) A designação “pardo” é ofensiva e deverá ser
evitada pelo IBGE.
(c) O número de pardos cresceu pela recusa dos
indivíduos em se identificarem como negros.
(d) O escritor do texto também é pardo como a
maioria dos brasileiros atestada pelo IBGE.
(e) A designação “negro” é pejorativa e deveria ser
evitada pelo IBGE.
15. “De cara, o Instituto veio logo de alisamento
japonês: cresce o número de pessoas que se declaram pardas.” . Admite a mesma
função sintática do termo grifado a seguinte alternativa:
(a) Limpar, para o bruto (era cor-de-rosa), já era
uma luta.
(b) "O teu cabelo não nega, parda, porque és
parda na cor..."
(c) Eram, repito, mulatos e mulatas.
(d) Teve uma época, aqui no Hemisfério Norte, em
que eu também já fui pardo como vocês.
(e) Era uma cor fosca que variava do amarelo ao
marrom escuro, como quer o Houaiss, pai dos burros e das reformas ortográficas.
16. “Me lembro de papel pardo, com o qual a gente
fazia capa para proteger de nossas porcalhadas mesmo nossos cadernos de
colégio.” Se a expressão “a gente fazia” for substituída por “fazia as vezes
de”, o período ficaria:
(a) “Me lembro de papel pardo, que fazia as vezes
de capa para proteger de nossas porcalhadas mesmo nossos cadernos de colégio.”
(b) “Me lembro de papel pardo, a qual fazia as
vezes de capa para proteger de nossas porcalhadas mesmo nossos cadernos de
colégio.”
(c) “Me lembro de papel pardo, do qual fazia as
vezes de capa para proteger de nossas porcalhadas mesmo nossos cadernos de
colégio.”
(d) “Me lembro de papel pardo, de que fazia as
vezes de capa para proteger de nossas porcalhadas mesmo nossos cadernos de
colégio.”
(e) “Me lembro de papel pardo, por qual fazia as
vezes de capa para proteger de nossas porcalhadas mesmo nossos cadernos de
colégio.”
Utilize o texto abaixo para responder aos testes 17
a 19.
A UM AUSENTE
Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.
Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?
Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.
Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.
(Drummond de Andrade, Carlos)
17. Assinale a alternativa correta:
(a) A morte do amigo, natural e súbita, pode ser
inferida pelos versos “Antecipaste a hora” e “o não previsto nas leis da
amizade e da natureza”.
(b) Dos versos “Teu ponteiro enlouqueceu” e “
Antecipaste a hora”, pode-se inferir que o amigo suicidou-se.
(c) De “o ato que não ousamos nem sabemos ousar”
pode-se inferir que, diferentemente do que ocorre com o eu-lírico, o amigo
agora ausente não temia a morte.
(d) A ausência enunciada no título do poema fica
patente no verso “modulando sílabas conhecidas e banais”.
(e) Fica evidente em “Teu ponteiro enlouqueceu,
enlouquecendo nossas horas.” que a morte do amigo eraprevista pelos que o
amavam.
18. “...nem nos deixaste sequer o direito de
indagar/ porque o fizeste, porque te foste.” O termo pode ser substituído sem
prejuízo de sentido para o poema por:
(a) por que (b) uma vez que (c) quando (d) como (e)
quem
19. “...tenho razão de te acusar./ Houve um pacto
implícito que rompeste/ e sem te despedires foste embora.” Substituindo os
termos grifados pela terceira pessoa do singular, ter-se-ia:
(a) “...tenho razão de lhe acusar./ Houve um pacto
implícito que rompeu/ e sem se despedir foi embora.”
(b) “...tenho razão de vos acusar./ Houve um pacto
implícito que rompestes/ e sem vos despedirdes fostes embora.”
(c) “...tenho razão de o acusar./ Houve um pacto
implícito que rompeu/ e sem se despedires foi embora.”
(d) “...tenho razão de acusá-lo./ Houve um pacto
implícito que rompeu/ e sem se despedir foi embora.”
(e) “...tenho razão de lhe acusar./ Houve um pacto
implícito que rompeste/ e sem te despedires foste embora.”
Utilize o cartum e o texto abaixo para responder
aos testes 20 a 22.
(escoladeanimais.com/blog/2007/04/cartum.htm)
Conteúdo próprio para tirar força do YouTube
No final de
março, foi lançado mundialmente o www.southparkstudios.com. Elaborado pelos
criadores do desenho "South Park", Matt Stone e Trey Parker, o site
permite que se assista às 12 temporadas da animação - por streaming e de graça.
Ainda não existe algo desse calibre no Brasil, mas o pessoal já está se
preparando. A Rede Record possui o site "Mundo Record"
(www.mundorecord.com.br), que exibe os principais programas da emissora.
Novelas são disponibilizadas 25 horas após serem exibidas na TV.
A Globo Vídeos
(video.globo.com) também coloca no ar grande parte da programação que vai para
a TV. Mas, para ter acesso a esse conteúdo, é preciso ser assinante da
Globo.com - na Record é tudo liberado. Procurado pelo reportagem, o site global
não se manifestou. "Mundo
Record", assim como a "Globo Vídeos", não exibe seus
telejornais, folhetins e atrações em uma tacada só - um vídeo de 50 minutos,
por exemplo. Tudo é "picotado" para ganhar o tal "tempo de
internet". (...)
DUAS TELEVISÕES -
O YouTube é o grande responsável pela popularização dos vídeos online, afinal
dá para achar tudo nele - conteúdo legal e ilegal. Segundo dados do
Nielsen/NetRatings, o serviço tem 8,6 milhões de usuários domiciliares no
Brasil. De acordo também com dados do próprio Google, a cada minuto dez horas
de vídeo são colocadas no site. Então como concorrer com esse gigante? A
resposta: conteúdo próprio para a web. Multishow e MTV têm, hoje, seriados -
importados e brasileiros - que são transmitidos apenas em seus sites. O ESPN
360 (www.espn.com.br/360), canal de vídeos da ESPN Brasil, também vem ganhando
material próprio. Na Olimpíada de Pequim o site terá um videorrepórter especial
para o evento. É como se, aos poucos, as emissoras começassem a criar duas TVs
diferentes: a tradicional e a da internet.
"Cada vez
mais vemos que dá para fazer uma MTV própria na rede sem depender da própria
MTV", explica Zico Goes, diretor de programação da emissora.
Para Goes, outro
fato que aos poucos vai se relevando é que a MTV está ganhando dois públicos
distintos: aquele que só vê o Overdrive (serviço online de vídeos da emissora)
e o que só acompanha o canal pela própria televisão tradicional.
Outra tendência,
que já acontece muito, é os canais colocarem em seus sites algo que ficou de
fora da TV. "É pegar o material bruto que foi ao ar e readaptá-lo para a
web. Pode ser desde os melhores momentos de um programa ou cenas de bastidores
dele", diz Daniela Mignani, gerente de marketing do
Multishow."Chamamos isso de conteúdo de degustação." A ESPN usa desse
mesmo recurso em seus principais programas diários, como o noticiário
SportsCenter, que vai ao ar à noite. Algumas horas depois, já de manhãzinha, é possível
ver, editado, o "best of" do jornal esportivo no canal online 360.
A produção de
material próprio para a rede ainda não é popular. Segundo Goes, os videoclipes
correspondem a 40% da audiência do Overdrive. No ESPN 360, na Terra TV e na
UOLTV, as reportagens são os campeões de visitas.
(http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo_virtual/2008/05/28)
20. Relacionando o texto com o cartum, assinale a
alternativa correta.
(a) Cada vez mais, a programação própria da rede
televisiva vem ganhando espaço na internet.
(b) A qualidade da programação própria das redes
televisivas abertas é inferior
àquela disponibilizada pelos canais a cabo.
(c) Com a ascensão do Youtube, a produção do
material próprio para a internet popularizou-se nos últimos anos.
(d) Para atender à grande demanda de usuários que
acessam a internet, a programação das emissoras de tevê vem sendo “picotada”.
(e) A qualidade da programação das emissoras de
tevê não tem melhorado a despeito de sua disponibilidade na internet.
21. A distinção entre a veiculação de imagens pela
internet e pelas redes televisivas
reside
(a) exclusivamente no tipo de programa que pode ser
transmitido pelas duas, de acordo com a demanda do público interessado.
(b) no tempo e no conteúdo que pode ser transmitido
pelas duas, de acordo com o interesse do público que as utilizam.
(c) no fato de o conteúdo da internet ser
selecionado previamente pelos assinantes dos provedores.
(d) no fato de as redes televisivas abertas não
disporem de tecnologia suficiente para a transmissão dos conteúdos veiculados
na internet.
(e) no fato de que a transmissão do conteúdo
televisivo na internet é inviável devido ao tempo requerido na rede virtual.
22. Levando em consideração as normas da língua, ao
transformar-se o discurso direto abaixo em indireto, ter-se-ia:
"Cada vez mais vemos que dá para fazer uma MTV
própria na rede sem depender da própria MTV", explica Zico Goes, diretor
de programação da emissora.
(a) Zico Goes, diretor de programação da emissora
explica que cada vez mais vêem que dá para fazer uma MTV própria na rede sem
depender da própria MTV.
(b) Zico Goes, diretor de programação da emissora,
explica que cada vez mais vemos que dá para fazer uma MTV própria na rede sem
depender da própria MTV.
(c) Zico Goes, diretor de programação da emissora,
explica que cada vez mais vêem que dá para fazer uma MTV própria na rede sem
depender da própria MTV.
(d) "Cada vez mais vêem que dá para fazer uma
MTV própria na rede sem depender da própria MTV", explica Zico Goes,
diretor de programação da emissora.
(e) Zico Goes, diretor de programação da emissora
que “cada vez mais vêem que dá para fazer uma MTV própria na rede sem depender
da própria MTV", explica.
Utilize o texto abaixo para responder ao teste 23.
Muito cedo para decidir
Gandhi se casou
menino. Foi casado menino. O contrato, foram os grandes que assinaram. Os dois
nem sabiam direito o que estava acontecendo, ainda não haviam completado 10
anos de idade, estavam interessados em brincar. Ninguém era culpado: todo mundo
estava sendo levado de roldão pelas engrenagens dessa máquina chamada
sociedade, que tudo ignora sobre a felicidade e vai moendo as pessoas nos seus
dentes. Os dois passaram o resto da vida se arrastando, pesos enormes, cada um
fazendo a infelicidade do outro.
Vocês dirão que
felizmente esse costume nunca existiu entre nós: obrigar crianças que nada
sabem a entrar por caminhos nos quais terão de andar pelo resto da vida é coisa
muito cruel e... burra!
(Alves, Rubem. Estórias de quem gosta de ensinar.
São Paulo: Ars Poética, 1995.)
23. Considerando as normas da língua e o sentido do
texto, sobre “Foi casado menino”, pode-se afirmar:
(a) que o verbo “casar-se” não admite voz passiva;
a forma “foi casado” denota que a obrigatoriedade da ação verbal recai sobre
Gandhi.
(b) que ela é a forma passiva do verbo “casar-se”,
empregado no pretérito-perfeito do indicativo no período anterior.
(c) que denota o fato de Gandhi ter sido casado em
sua infância e juventude, mas não desfrutar mais de tal condição.
(d) que é uma forma apassivada do verbo
intransitivo “casar”.
(e) que ela tem como sua correspondente na forma
sintética o “se casou” do período anterior.
24. “Nunca deixou sequer a esperança de um dia
revê-lo.” na voz passiva ficaria:
(a) Nunca deixara sequer a esperança de um dia
revê-lo.
(b) Nunca foi deixado sequer a esperança de um dia
revê-lo.
(c) Nunca se deixou sequer a esperança de um dia
revê-lo.
(d) Nunca deixaram a esperança de um dia revê-lo.
(e) Nunca se deixaram a esperança de um dia
revê-lo.
25. Em “Naquele momento, tínhamos precisão de que
eles estivessem ali.”, a oração grifada equivale sintaticamente ao termo:
(a) Sempre careci de sua ajuda.
(b) Senti necessidade de falar-lhes.
(c) Pediu a nossa presença todo o tempo.
(d) Era necessária a sua permanência no recinto.
(e) Nunca o quis por perto.
26. Quando o ____, diga-lhe que _____ com o caráter
que _____.
(a) ver, continue, possui
(b) vir, continue, possue
(c) ver, continui, possui
(d) vir, continui, possui
(e) vir, continue,
possui
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