INSPER – Prova de
Análise Verbal – 2010 – 2º Semestre
Utilize o texto a seguir para responder aos testes
1 a 4.
Óbito do Autor
Algum tempo hesitei se devia abrir
estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o
meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo
nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira
é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem
a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e
mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no introito, mas no
cabo; diferença radical entre este livro e o Pentateuco.
Dito isto, expirei às duas horas da
tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de
Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro,
possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze
amigos. Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios. Acresce que
chovia — peneirava — uma chuvinha miúda, triste e constante, tão constante e
tão triste, que levou um daqueles fiéis da última hora a intercalar esta
engenhosa ideia no discurso que proferiu à beira de minha cova: — “Vós, que o
conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer comigo que a natureza parece estar
chorando a perda irreparável de um dos mais belos caracteres que tem honrado a
humanidade. Este ar sombrio, estas gotas do céu, aquelas nuvens escuras que
cobrem o azul como um crepe funéreo, tudo isso é a dor crua e má que lhe rói à
natureza as mais íntimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao nosso
ilustre finado.”
Bom e fiel amigo! Não, não me arrependo
das vinte apólices que lhe deixei. E foi assim que cheguei à cláusula dos meus
dias; foi assim que me encaminhei para o undiscovered country de Hamlet, sem as ânsias nem as dúvidas do moço
príncipe, mas pausado e trôpego, como quem se retira tarde do espetáculo. Tarde
e aborrecido. Viram-me ir umas nove ou dez pessoas, entre elas três senhoras,
minha irmã Sabina, casada com o Cotrim, — a filha, um lírio-do-vale, — e...
Tenham paciência! daqui a pouco lhes direi quem era a terceira senhora.
Contentem-se de saber que essa anônima, ainda que não parenta, padeceu mais do que
as parentas. É verdade, padeceu mais. Não digo que se carpisse, não digo que se
deixasse rolar pelo chão, convulsa. Nem o meu óbito era coisa altamente
dramática... Um solteirão que expira aos sessenta e quatro anos, não parece que
reúna em si todos os elementos de uma tragédia. E dado que sim, o que menos
convinha a essa anônima era aparentá-lo. De pé, à cabeceira da cama, com os
olhos estúpidos, a boca entreaberta, a triste senhora mal podia crer na minha
extinção.
\— Morto! morto! dizia consigo.
(Machado de Assis. Memórias Póstumas de Brás
Cubas. Em http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto.
Acesso em 22/04/2010.)
1. Das palavras abaixo, a única que destoa das
demais quanto ao campo semântico é
(a) introito (b) cabo (c) princípio (d) começo (e)
incipiência
2. Em “E foi assim que cheguei à cláusula dos meus
dias ...”, o termo grifado foi empregado com o mesmo sentido em
(a) Aceitou a tarefa com a cláusula de lhe pagarem
antecipadamente.
(b) De gramática, só o confundiam as cláusulas
adverbiais.
(c) Na música medieval, as cláusulas recebiam
atenção especial.
(d) Antes de chegar à cláusula do seu discurso,
todos o aplaudiram.
(e) Uma das cláusulas do contrato era absurda.
3. O tom jocoso dado ao relato do sepultamento fica
evidente em
(a) “Dito isto, expirei às duas horas da tarde de
uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi.”
(b) “Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e
prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao
cemitério por onze amigos.”
(c) “...uma chuvinha miúda, triste e constante, tão
constante e tão triste, que levou um daqueles fiéis da última hora a intercalar
esta engenhosa ideia no discurso que proferiu à beira de minha cova...”
(d) “ Contentem-se de saber que essa anônima, ainda
que não parenta, padeceu mais do que as parentas.”
(e) “Moisés, que também contou a sua morte, não a
pôs no introito, mas no cabo; diferença radical entre este livro e o Pentateuco.”
4. Lendo o discurso “Vós, que o conhecestes,
meus senhores, vós podeis dizer comigo que a natureza parece estar chorando a perda
irreparável de um dos mais belos caracteres que tem honrado a humanidade. Este
ar sombrio, estas gotas do céu, aquelas nuvens escuras que cobrem o azul como
um crepe funéreo, tudo isso é a dor crua e má que lhe rói à natureza as mais
íntimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao nosso ilustre finado.”,
é correto afirmar que
(a) se emprega a segunda pessoa do plural para
distanciar hierarquicamente o orador dos seus interlocutores.
(b) a inadequação do seu tom à situação
evidencia-se no emprego de figuras, como prosopopeia e metáfora.
(c) se tem uma descrição objetiva do cenário em que
transcorreu o sepultamento.
(d) o seu grau de formalidade denota o grau de
relevância do homenageado junto aos presentes.
(e) intensifica o caráter melancólico que o
narrador quer dar ao relato.
Utilize o texto a seguir para responder aos testes
5 a 7:
"Nós estamos num estado comparável
somente à Grécia: mesma pobreza, mesma indignidade política, mesma trapalhada
econômica, mesmo abaixamento de caracteres, mesma decadência de espírito. Nos livros
estrangeiros, nas revistas quando se fala num país caótico e que pela sua
decadência progressiva, poderá ...vir a ser riscado do mapa da Europa, citam-se
a par, a Grécia e Portugal".
(Queirós, Eça. As Farpas. 1872.)
5. A figura presente no primeiro período se repete
em
(a) “A vida, não sei realmente se ela vale alguma
coisa.”
(b) “Sou um mulato nato no sentido lato/ mulato
democrático do litoral.”
(c) "(...) Vozes veladas, veludosas vozes, /
Volúpias dos violões, vozes veladas / Vagam nos velhos vórtices velozes / Dos
ventos, vivas, vãs, vulcanizadas."
(d) “ Amor é um fogo que arde sem se ver;/ É ferida
que dói e não se sente;/ É um contentamento descontente;/ É dor que desatina
sem doer”
(e) "Da morte o manto lutuoso vos cobre a
todos."
6. Corretamente pontuado, o período abaixo ficaria
“Nos livros estrangeiros, nas revistas quando se
fala num país caótico e que pela sua decadência progressiva, poderá ...vir a
ser riscado do mapa da Europa, citam-se a par, a Grécia e Portugal".
(a) “Nos livros estrangeiros, nas revistas quando
se fala num país caótico, e que pela sua decadência progressiva poderá ...vir a
ser riscado do mapa da Europa, citam-se a par, a Grécia e Portugal".
(b) “Nos livros estrangeiros, nas revistas, quando
se fala num país caótico e, que pela sua decadência progressiva, poderá ...vir
a ser riscado do mapa da Europa citam-se a par, a Grécia e Portugal".
(c) “Nos livros estrangeiros, nas revistas, quando
se fala num país caótico e que, pela sua decadência progressiva, poderá ...vir
a ser riscado do mapa da Europa, citam-se a par a Grécia e Portugal".
(d) “Nos livros estrangeiros, nas revistas quando
se fala num país caótico, e que pela sua decadência progressiva, poderá ...vir
a ser riscado do mapa da Europa, citam-se a par, a Grécia e Portugal".
(e) “Nos livros estrangeiros, nas revistas quando
se fala num país caótico e que pela sua decadência progressiva poderá ...vir a
ser riscado do mapa da Europa, citam-se a par, a Grécia e Portugal".
7. Em “Nós estamos num estado comparável somente à
Grécia”, o termo grifado exerce a função de
(a) predicativo do sujeito
(b) complemento nominal
(c) adjunto adnominal
(d) aposto
(e) adjunto adverbial
Utilize o texto e a charge abaixo para responder
aos testes 8 a 13.
CENÁRIO: A moderna tragédia grega não tem Homero
Situação da Grécia gera efeito dominó sobre outros
países europeus
A economia global tem as suas
idiossincrasias e, por causa delas, precisa conviver com as contraindicações de
um mercado compartilhado. Nas últimas duas semanas, o mundo vem assistindo,
apreensivo, ao que se pode chamar de moderna tragédia grega: a crise resultante
de seu altíssimo déficit público. A situação é responsável pela onda de
expectativa quanto às consequências da falência da Grécia. O receio geral é de
mais um efeito dominó sobre outros países. No começo da fila, estão Portugal,
Espanha, Itália e Irlanda. Na ponta final, toda a Zona do Euro.
Com um cenário destes, o descanso
dominical não poderia mesmo ser respeitado. Sem esperar a segunda-feira, o
ministro de Finanças, George Papaconstantinou, confirmou, ontem, que o país vai
adotar medidas para cortar 30 bilhões em déficit do orçamento até 2013. A
despeito do que dizem os gregos, nos inúmeros protestos que fizeram pelas ruas
de Atenas e na greve geral anunciada para depois de amanhã, o governo vai
seguir a cartilha da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Assim, recebeu o “sim” para o pacote com a ajuda de 146 bilhões de euros que os
fundos internacionais reservaram para resolver o problema. Estão previstos
enormes sacrifícios como aumento de impostos e redução de salários.
Cifras e contrariedades à parte, dois
pontos são cruciais na análise da situação. O primeiro é a mecânica da crise. O
Estado gasta mais do que arrecada. Como um cidadão que não consegue pagar todas
as suas contas no final do mês e vai rolando esses débitos para a próxima vez
que receber o mesmo salário. Esse jogo de empurra segue até o momento em que a
bola de neve está tão grande que não é mais possível vencê-la sem uma mudança.
É exatamente isso que ocorre com a economia grega hoje. Para vencer a crise,
será preciso gastar menos nas despesas do Estado, reduzir os salários dos
funcionários públicos e fazer dinheiro com privatizações. E ganhar mais. Com a
elevação dos impostos, a receita grega também aumentará.
A segunda questão importante diz
respeito à natureza da economia da Grécia, que reflete toda a Europa: grande
participação do Estado, dono de 40% do PIB nacional, Wellfare State, o que significa demandas atendidas
e bem-estar social, além de uma relação consciente com o consumo. Bem diferente
de Brasil, Estados Unidos ou Japão, onde a força motriz da economia é o ato de
ir às compras. Para sair da crise, os gregos precisam acelerar o ritmo de seu
crescimento – o que, aliás, vem sendo feito desde que entraram para a União Europeia,
para atender à condição de menor assimetria entre o país e o resto do bloco.
Mas crescer como e baseado no quê? A
opção econômica europeia do pós-guerra foi baseada no atendimento das
necessidades sociais dos cidadãos. Cada habitante do Velho Mundo tem ao seu
dispor serviços de saúde, educação, moradia, segurança e, caso necessitem,
programas de renda. E vale mencionar um agravante: como traço cultural, os
europeus não trocam sua TV 29 polegadas por uma LCD, se a antiga não estiver
quebrada. Portanto, o giro da roda é sempre mais lento, por lá. Esse é o grande
desafio da sobrevivência da União Europeia que, apesar de suas características
e dificuldades, ainda está credenciada para dividir a hegemonia da globalização
com quem mais estiver qualificado. E sem precisar de um novo Homero.
(Cavalcante, Ana Cristina. http://www.investne.com.br/Colunas, 03/05/2010.)
(http://www.jornalacidade.com.br/charges/2010/05/12/casamento-grego.html)
8. Lendo o texto, pode-se afirmar que a charge:
I. Critica o desperdício dos gregos em época de
crise.
II. Satiriza um velho costume grego, tendo em vista
o problema econômico enfrentado pelo país.
III. Perde o sentido, se não se considerar o
momento econômico de sua produção.
Está(ão) correta(s) apenas
(a) I e II. (b) I e III. (c) II e III. (d) II. (e)
I.
9. Em “A economia global tem as suas
idiossincrasias e, por causa delas, precisa conviver com as contraindicações de
um mercado compartilhado.”, o termo grifado pode ser substituído, sem
alterar o sentido da expressão, por
(a) os seus problemas.
(b) as suas peculiaridades.
(c) os seus obstáculos.
(d) as suas falhas.
(e) os seus entraves.
10. De acordo com o texto, analise as seguintes
afirmações sobre a crise econômica na Grécia.
I. Ela se deve aos gastos excessivos do país em
comparação com a sua arrecadação.
II. Os gastos mensais dos cidadãos gregos excedem
os valores de seus salários.
III. Dentre as tentativas de solucionar o problema,
está a privatização de bens públicos.
IV. Medidas para frear o seu alastramento deverão
afetar o bolso dos cidadãos gregos.
Indicando verdadeira por V e falsa
por F, as afirmações I, II, III e IV são, respectivamente
(a) F, V, F, F. (b) V, V, F, F. (c) F, F, V, V. (d)
V, F, V, F. (e) V, F, V, V.
11. Com base nos dois últimos parágrafos, é INCORRETO
afirmar que
(a) a população grega, à semelhança de toda a
Europa, resiste ao consumo desnecessário.
(b) o crescimento da economia grega depende de uma
mudança nos hábitos da população do país.
(c) os países europeus privilegiam atender as
necessidades sociais do cidadão em detrimento do consumo excessivo.
(d) como consequência de seus hábitos, os países da
Europa consomem menos do que o Brasil.
(e) por meio da genialidade de Homero, a Grécia
venceu os problemas como este na Antiguidade.
12. Se em “...como traço cultural, os europeus
não trocam sua TV 29 polegadas por uma LCD, se a antiga não estiver quebrada.”,
o termo grifado “se” fosse substituído por uma conjunção de valor
causal, ter-se-ia
(a) ...como traço cultural, os europeus só trocam
sua TV 29 polegadas por uma LCD, caso a antiga esteja quebrada.”
(b) “...como traço cultural, os europeus só trocam
sua TV 29 polegadas por uma LCD, quando a antiga estiver quebrada.”
(c) “...como traço cultural, os europeus só trocam
sua TV 29 polegadas por uma LCD, porque a antiga está quebrada.”
(d) “...como traço cultural, os europeus não trocam
sua TV 29 polegadas por uma LCD, apesar de a antiga estar quebrada.”
(e) “...como traço cultural, os europeus não trocam
sua TV 29 polegadas por uma LCD, sem que a antiga esteja quebrada.”
13. No período “... nos inúmeros protestos que
fizeram pelas ruas de Atenas...”, a oração grifada tem a mesma função
sintática que a destacada em
(a) “...o ministro de Finanças, George
Papaconstantinou, confirmou, ontem, que o país vai adotar medidas para cortar
30 bilhões em déficit do orçamento até 2013.”
(b) “...vai rolando esses débitos para a próxima
vez que receber o mesmo salário.”
(c) “... a bola de neve está tão grande que não é
mais possível vencê-la sem uma mudança.”
(d) “Para vencer a crise, será preciso gastar menos
nas despesas do Estado...”
(e) “Para sair da crise, os gregos precisam
acelerar o ritmo de seu crescimento...”
14. Nos períodos abaixo, está presente o acento
grave, indicador de crase. Somente em um deles, porém, o acento foi empregado
corretamente. Identifique-o.
(a) Santos perde por 3 à 2, mas garante o 18.º
título paulista.
(b) Vendedor que avisou policial à cavalo sobre
veículo suspeito não se considera herói.
(c) Cientistas japoneses ensinam robô à lavar louça
e à fazer outras tarefas domésticas.
(d) Detento solicita à justiça autorização para
fazer curso à distância em universidade.
(e) PM é baleado no pé ao reagir à assalto no
subúrbio carioca.
Utilize os textos a seguir para responder ao teste
15.
TEXTO I TEXTO II
(Folha de São Paulo, Equilíbrio, 08/04/2010)
(Ilari, Rodolfo. Introdução ao estudo do léxico
– brincando com as palavras, São Paulo, Contexto, 2002, p. 153.)
15. Coloque V (verdadeiro) ou F (falso) para as
afirmações que seguem.
( ) Se compreendida como uma locução adjetiva, a
expressão “sem remédio” (presente no Texto I) poderia ser substituída, sem
alteração de sentido, pelo adjetivo “inevitável”.
( ) No Texto II, a preposição “contra” estabelece a
ligação entre as atividades normais de uma farmácia e a possibilidade anunciada
de usá-la para fazer pagamentos.
( ) Em sentido literal, a expressão “sem remédio”
(Texto I) tem caráter adverbial, já que modifica o substantivo, indicando
circunstância de modo.
( ) Em ambos os textos, ocorre uma ambiguidade
decorrente do caráter polissêmico do substantivo “remédio”.
A sequência correta é
(a) V, F, F, V.
(b) F, V, V, F.
(c) V, V, F, F.
(d) F, V, V, V.
(e) V, V, F, V.
Utilize a tirinha a seguir para responder ao teste
16.
(Folha de São Paulo, 23/01/2010.)
16. Analise estas afirmações:
I O humor da tira decorre do emprego da segunda
pessoa – na linguagem contemporânea, usada em contextos restritos – sugerindo
um traço de sacralidade para as falas cerimoniosas das traças em situações que são
banais.
II O modo como falam as personagens traças na tira
é um indicador de que elas podem ser qualificadas como sábias e cultas, já que
empregam verbos e pronomes de acordo com a formalidade exigida pela gramática
normativa.
III A opção pelo uso da segunda pessoa do plural
tem o objetivo de representar um registro típico da linguagem regional.
Está(ão) correta(s)
(a) Apenas I. (b) Apenas I e II. (c) Apenas I e
III. (d) Apenas II. (e) I, II e III.
Utilize o excerto a seguir para responder aos
testes 17 e 18.
Assistir às "gostosas" do
"Big Brother Brasil" foi uma das justificativas de um juiz do Rio
para dar ganho de causa a um homem que ficou meses sem poder ver televisão. O
juiz Cláudio Ferreira Rodrigues, 39, titular da Vara Cível de Campos dos
Goytacazes (278 km do Rio), justificou sua sentença dizendo que procura
"ser sempre o mais informal possível". Ao determinar o pagamento de
indenização de R$ 6.000 por defeito em um aparelho de TV, o juiz afirmou na
sentença: "Na vida moderna, não há como negar que um aparelho televisor,
presente na quase totalidade dos lares, é considerado bem essencial. Sem ele,
como o autor poderia assistir às gostosas do ´Big
Brother'?".
(Folha de São Paulo, 03/02/ 2009.)
17. A respeito do pronome presente em “justificou
sua sentença”, é correto afirmar que
(a) instaura o pressuposto de que a escolha lexical
do juiz é incompatível com a linguagem jurídica.
(b) é um anafórico que estabelece a coesão textual
ao retomar a palavra “juiz”.
(c) cria uma ambiguidade, já que pode se referir
tanto ao juiz quanto ao homem que ganhou a causa.
(d) é uma marca de oralidade que só pode empregada
na linguagem coloquial.
(e) pode ser substituído, sem alteração de sentido,
pelo possessivo “tua”.
18. Em “... foi uma das justificativas de um juiz
do Rio...”, o termo destacado equivale sintaticamente ao termo
(a) “...dar ganho de causa...”
(b) “... determinar o pagamento de indenização...”
(c) “... defeito em um aparelho de TV...”
(d) “... negar que um aparelho televisor...”
(e) “... assistir às gostosas”
Utilize o texto a seguir para responder ao teste
19.
(Guia da Folha, Especial Livros,
30/04/2010.)
19. Assinale a alternativa que melhor explica o
processo de formação do neologismo “surrealice” e seus efeitos de sentido.
(a) O termo contém um efeito de ironia baseado no
processo de derivação parassintética que sugere, nesse contexto, a ideia de
algo que vai além da realidade.
(b) O termo “surrealice” foi empregado em sentido
conotativo, já que “surreal”, nesse contexto, remete à ideia de algo fantasioso
e ilógico.
(c) O recurso expressivo do termo resulta de uma
dupla possibilidade do processo de formação desse neologismo: composição ou
derivação.
(d) No contexto em que foi empregado, esse
neologismo cria uma referência depreciativa à obra de Lewis Carrol, já que o
sufixo “-ice”, associado ao radical, sugere vulgarização.
(e) Trata-se de um caso de derivação imprópria, já
que o adjetivo “surrealice” foi empregado, nesse contexto, como substantivo
abstrato.
Utilize o texto abaixo para responder aos testes 20
e 21.
“Menas: o certo do errado, o errado do certo” no
Museu da Língua Portuguesa
O Museu da Língua Portuguesa inaugurou
no dia 16 de março “Menas: o certo do errado, o errado do certo”. O próprio
título da exposição é uma provocação (...). A mostra deve ocupar 450 m2 do
Museu da Língua Portuguesa e conta com sete instalações, parte delas interativa,
e fica em cartaz até junho, sem data fixa para terminar.
http://catracalivre.folha.uol.com.br/2010/02/em-marco-%E2%80%9Cmenas%E2%80%9D-no-museu-da-lingua-portuguesa/
20. Nas alternativas abaixo, encontram-se
afirmações que buscam explicar o título da exposição. NÃO É CORRETO afirmar
que
(a) para os gramáticos “puristas”, o erro de
concordância nominal, presente no título da exposição, é uma afronta ao “bom
português”.
(b) embora a norma padrão prescreva que os
advérbios sejam invariáveis, a flexão de gênero na palavra “menas” é frequente
em registros linguísticos populares.
(c) com a intenção de desmistificar a noção
simplista do “certo” e do “errado” no idioma, o título da exposição revela que
o português está sujeito a variações linguísticas.
(d) a gafe linguística, presente no título da
exposição, reforça a ideia de que as formas populares e seus erros obedecem a
uma lógica do falante.
(e) como a palavra “menas” não existe, os curadores
da exposição criaram um título contraditório que faz apologia ao “vale-tudo” na
língua.
21. Analise estes períodos:
I Os documentos que seguem anexo devem esclarecer
as dúvidas dos contribuintes.
II Saiu publicado no jornal uma relação de bens
confiscados.
III A funcionária da Receita Federal ficou meia
desconfiada de que houvesse fraude.
Utiliza(m) a mesma lógica de concordância nominal
empregada no título da exposição do Museu da Língua Portuguesa o(s) período(s)
(a) I, II e III. (b) Apenas I. (c) Apenas II. (d)
Apenas III. (e) Apenas I e II.
Utilize a tirinha a seguir para responder ao teste
22.
(O Estado de São Paulo, 04/04/2010.)
22. Da leitura da tira, pode-se depreender que a
fala da personagem revela
(a) sua astúcia em relacionar investimentos na
Bolsa de Valores e crise financeira mundial.
(b) seu desconhecimento sobre estratégias de
marketing de livrarias.
(c) uma ideia preconceituosa sobre os profissionais
que trabalham no mercado financeiro.
(d) uma concepção de que economistas sejam
incapazes de utilizar explicações compreensíveis.
(e) um profundo pessimismo em relação aos rumos da
economia mundial.
Utilize o texto abaixo para responder aos testes 23
a 25.
O blá-blá-blá das empresas
O que você entende da frase "tal
colaborador foi desligado"? Antes de pensar que um consultor de sua empresa
se mostra desatento ou que um colega que tem contrato temporário foi dispensado
de um projeto, experimente trocar a palavra “colaborador” por “funcionário” e
“desligado” por “demitido”. Captou a mensagem? Cada vez mais, palavras usadas
no discurso das companhias – seja no trato com o funcionário, cliente ou
fornecedor – vêm sendo substituídas por outras, capazes de amenizar o que
realmente significam.
Apontada por especialistas em recursos
humanos (RH) como uma ferramenta aplicada para manter um bom clima
organizacional, esse vocabulário também é entendido como um reflexo da falta de
transparência, gerando imprecisão. Resumo da ópera: se você faz, bem, mil
coisas diferentes ao mesmo tempo no trabalho, não adianta reclamar que está
"sobrecarregado". A empresa provavelmente gosta e considera você um
funcionário "multifuncional".
(O Globo, 29/07/2009.)
23. Depreende-se do texto que a linguagem
corporativa
(a) vale-se de expressões eufemísticas com o
objetivo de atenuar situações da rotina profissional.
(b) faz uso de clichês para assegurar a manutenção
das relações hierárquicas dentro das empresas.
(c) emprega a chamada linguagem “politicamente
correta” como forma de manipulação dos funcionários.
(d) inclui bordões a fim de valorizar os
funcionários e colaboradores multifuncionais.
(e) passou a ser adotada nas grandes companhias com
o propósito de otimizar a gestão das empresas.
24. No texto, predomina a seguinte função de
linguagem
(a) apelativa, em que se exploram os jogos de
palavras de duplo sentido, comuns na empresas.
(b) metalinguística, que consiste em usar o código
como objeto de análise do texto.
(c) fática, empregada para expressar ideias de
forma claramente evasiva.
(d) referencial, uma vez que busca efeitos de
objetividade por meio da conotação.
(e) emotiva, marcada pela subjetividade, dando
vazão aos sentimentos expressos nas empresas.
25. O pronome de tratamento “você”, tal como foi
usado no texto
(a) é uma marca da linguagem coloquial e refere-se
genericamente a qualquer pessoa, não apenas àquela que esteja lendo o texto.
(b) é uma forma desrespeitosa de se dirigir ao
leitor, já que cria uma falsa relação de intimidade.
(c) refere-se exclusivamente aos funcionários que
trabalham em companhias que tenham aderido ao fato mencionado no texto.
(d) pode ser substituído, sem que haja qualquer
alteração no efeito de sentido do texto, por “tu”.
(e) revela que o texto tem como público-alvo os
adolescentes que ainda irão ingressar no mercado de trabalho.
Utilize o texto a seguir para responder ao teste
26.
Marília de Dirceu
Enquanto pasta, alegre, o manso
gado,
minha bela Marília, nos sentemos
À sombra deste cedro levantado.
Um pouco meditemos
Na regular beleza,
Que em tudo quanto vive nos
descobre
A sábia Natureza.
Atende como aquela vaca preta
O novilhinho seu dos mais separa,
E o lambe, enquanto chupa a lisa
teta.
Atende mais, ó cara,
Como a ruiva cadela
Suporta que lhe morda o filho o
corpo,
E salte em cima dela.
Repara, como cheia de ternura
Entre as asas ao filho essa ave
aquenta,
Como aquela esgravata a terra dura,
E os seus assim sustenta;
Como se encoleriza,
E salta sem receio a todo o vulto,
Que junto deles pisa.
Que gosto não terá a esposa amante,
Quando der ao filhinho o peito
brando,
E refletir então no seu semblante!
Quando, Marília, quando
Disser consigo: "É esta
"De teu querido pai a mesma barba,
"A mesma boca, e testa."
Que gosto não terá a mãe, que toca,
Quando o tem nos seus braços, c'o
dedinho
Nas faces graciosas, e na boca
Do inocente filhinho!
Quando, Marília bela,
O tenro infante já com risos mudos
Começa a conhecê-la!
Que prazer não terão os pais ao
verem
Com as mães um dos filhos
abraçados;
Jogar outros luta, outros correrem
Nos cordeiros montados!
Que estado de ventura!
Que até naquilo, que de peso serve,
Inspira Amor, doçura.
(GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu. In:
Proença Filho, Domício. Org. A poesia dos inconfidentes. Rio de Janeiro,
Nova Aguilar, 1996, p. 605.)
26. É correto afirmar sobre esses versos
(a) O cenário bucólico e pastoril, típico dos
poemas árcades, contrasta com a seleção de palavras de baixo calão como “vaca”,
“teta” e “cadela”.
(b) Inspirado nos clássicos greco-latinos e
renascentistas, o poeta recorre a uma linguagem rebuscada e extravagante para
valorizar a técnica barroca.
(c) Embora tenha a estrutura de um diálogo, os
versos devem ser interpretados como um monólogo no qual o poeta reflete sobre a
sabedoria da natureza, tomada como modelo de equilíbrio.
(d) O eu-lírico expressa seu ufanismo, pois
idealiza a pátria e sua amada, Marília, de forma a antecipar os ideais do
Romantismo.
(e) O poeta envolve sua amada numa
atmosfera onírica para enfatizar a transfiguração do amor.
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