Fatec – Prova de Língua Portuguesa – 2º Semestre – 2018
Leia o texto para responder às
questões de números 50 a 53.
13 de maio
...Nas prisões os negros eram os bodes espiatorios. [....]
Continua chovendo. E eu tenho só feijão e sal. A chuva está
forte. Mesmo assim, mandei os meninos para a escola. Estou escrevendo até
passar a chuva, para eu ir lá no senhor Manuel vender os ferros. Com o dinheiro
dos ferros vou comprar arroz e linguiça. A chuva passou um pouco. Vou sair.
...Eu tenho tanto dó dos meus filhos. Quando eles vê as
coisas de comer eles brada:
– Viva a mamãe!
A manifestação agrada-me. Mas eu já perdi o habito de
sorrir. Dez minutos depois eles querem mais comida. Eu mandei o João pedir um
pouquinho de gordura a Dona Ida. Ela não tinha. Mandei-lhe um bilhete assim:
– “Dona Ida peço-te se pode me arranjar um pouco de gordura,
para eu fazer uma sopa para os meninos. Hoje choveu e eu não pude ir catar
papel. Agradeço. Carolina.”
...Choveu, esfriou. É o inverno que chega. E no inverno a
gente come mais. A Vera começou pedir comida. E eu não tinha. Era a reprise do
espetaculo. Eu estava com dois cruzeiros. Pretendia comprar um pouco de farinha
para fazer um virado. Fui pedir um pouco de banha a Dona Alice. Ela deu-me a
banha e arroz. Era 9 horas da noite quando comemos.
E assim no dia 13 de maio de 1958 eu lutava contra a escravatura atual – a fome!
29 de maio [....]
MARIA DE JESUS, Carolina. Quarto de Despejo: Diário de uma favelada. São Paulo: Editora Ática, 2017. Adaptado.
Questão 50 - O texto foi retirado do livro Quarto de Despejo, diário escrito por Carolina Maria de Jesus, moradora da favela do Canindé, em São Paulo, na década de 1950. A edição reproduz fielmente os manuscritos originais.
Analisando
a linguagem apresentada no trecho, conclui-se corretamente que
(A) a autora não apresenta reflexão crítica sobre suas experiências por desconhecer a variedade culta do português.
(B) o fato de a autora não utilizar a variedade culta se deve ao gênero do texto, uma vez que diários não são escritos visando à publicação.
(C) os problemas de ortografia, como em “espiatorio”, e de concordância, como em “quando eles vê”, ocorrem por predominar no texto o sentido denotativo.
(D) o texto é predominantemente conotativo, o que se nota por expressões como “hoje amanheceu chovendo” e “a chuva passou”.
(E) o texto aborda, de forma crítica e empregando linguagem informal, temas relevantes à sociedade, como fome e pobreza.
Questão 51 – Assinale a alternativa que, de acordo com o contexto, apresenta a figura de linguagem metáfora.
(A) Dona Ida peço-te se pode arranjar um pouco de gordura, para eu fazer uma sopa para os meninos.
(B) E assim no dia 13 de maio de 1958 eu lutava contra a escravatura atual – a fome!
(C) Mesmo assim, mandei os meninos para a escola.
(D) Dez minutos depois eles querem mais comida.
(E) Hoje choveu e eu não pude ir catar papel.
Questão 52 -Considere a charge.
<https://tinyurl.com/y9y5og93> Acesso em: 09.03.2018. Original colorido.
Comparando a charge ao texto de Carolina Maria de Jesus, conclui-se corretamente que ambos se relacionam à temática
(A) do subemprego, a exemplo das passagens “com o dinheiro dos ferros vou comprar arroz e linguiça” e “eu não pude ir catar papel”.
(B) do racismo, a exemplo da passagem “Estou escrevendo até passar a chuva, para eu ir lá no senhor Manuel vender os ferros”.
(C) da solidariedade, a exemplo da passagem “eu mandei o João pedir um pouquinho de gordura a Dona Ida”.
(D) da violência urbana, a exemplo da passagem “A manifestação agrada-me. Mas eu já perdi o hábito de sorrir”.
(E) da adversidade climática, a exemplo da passagem “...Choveu, esfriou. É o inverno que chega”.
Questão 53 -Assinale a alternativa em que o trecho do diário foi reescrito, mantendo-se as correlações semânticas originais e respeitando-se a variedade culta da língua portuguesa.
(A) Hoje amanheceu chovendo por ser um dia simpático para mim, posto que é o dia da Abolição quando comemoramos a libertação dos escravos.
(B) Eu tenho tanto dó dos meus filhos, pois, quando eles veem as coisas para comer, eles bradam: “Viva a mamãe”.
(C) Como continua chovendo, eu só tenho feijão e sal. A chuva está forte, logo, mandei os meninos para a escola.
(D) Estou escrevendo mesmo que passe a chuva, depois disso eu irei ao senhor Manuel vender ferros.
(E) A manifestação me agrada, desde que eu já perdera o hábito de sorrir.
Questão 54 -Leia um trecho do poema A Flor e a Náusea.
Melancolias, mercadorias, espreitam-me.
Devo seguir até o enjoo?
Posso, sem armas, revoltar-me?
Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas,
alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.
[....]
Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.
Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.
Sento-me no chão da capital do país às cinco horas
da tarde
E lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas
em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo
e o ódio.
ANDRADE, C. D. Antologia Poética. Rio de Janeiro. José Olympio, 1978.
A partir da leitura do trecho de A Flor e a Náusea, poema do modernista Carlos Drummond de Andrade, assinale a alternativa em que o conceito é adequado à temática apresentada nos versos.
(A) Disciplina: obediência às regras, aos superiores, aos regulamentos, postura que é defendida pelo eu lírico.
(B) Dissimulação: ocultação, por um indivíduo, de suas verdadeiras intenções, uma vez que o eu lírico tenta esconder sua reação diante do surgimento da flor.
(C) Esperança: sentimento vivido pelo eu lírico, pois ele vê como possíveis a confiança em algo promissor e a realização de mudanças.
(D) Nostalgia: melancolia profunda causada pelo distanciamento entre o eu lírico e sua terra natal.
(E) Resignação: submissão à vontade do destino, postura adotada pelo eu lírico que se mostra alienado e indiferente.
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