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terça-feira, 8 de maio de 2018

Fatec – 2018 – 1º Semestre – Prova de Língua Portuguesa

Fatec – Prova de Língua Portuguesa – 1º Semestre – 2018

Leia o texto para responder às questões de números 50 a 52.

Palavras: uma questão de estilo

A construção de um bom texto depende da criatividade de quem o escreve.
Veja como o uso das palavras exerce um papel importante nesse contexto.

João Ribeiro, eminente gramático e profundo conhecedor da língua portuguesa, disse certa vez, em entrevista que deu ao jornalista carioca João do Rio (O Momento Literário), que o estilo seria, antes de tudo, “a ideia precisa e exata na sua forma exata e precisa”. De fato, não são poucos os que acreditam que o estilo depende, basicamente, da conjunção precisa entre forma e fundo, ideia em si mesma legítima, embora se saiba que até mesmo o que se considera erro, lacuna, falha ou desvio pode ser, no limite, considerado… uma questão de estilo. Falar em estilo na língua portuguesa remete-nos, imediatamente, a certa escala de valores que não apenas as frases, as orações e os períodos contêm, mas que também as palavras, isoladamente ou não, possuem. Assim, da mesma maneira que temos, no que compete à gramática da língua, as categorias essenciais (substantivos, verbos, adjetivos), auxiliares (artigos, preposições) e determinantes (advérbios, numerais), nas quais os vocábulos se subdividem, em termos de estilo essas categorias são também fundamentais para que possamos apreender a língua não em sua estrutura morfossintática, mas em sua configuração estilística. Uma frase como “Aires não pensava nada, mas percebeu que os outros pensavam alguma cousa”, retirada do romance Memorial de Aires, de Machado de Assis, é reveladora não apenas pelo sentido que ela tem para a economia do romance, mas também em razão do peso que os verbos possuem no período, ora pelo jogo de oposições entre singular e plural (pensava / pensavam); ora pela dicotomia entre afirmação e negação (pensava / não pensavam); ora pela mediação, entre os dois vocábulos, realizada pelo verbo percebeu (pensava / percebeu / pensavam); ora ainda pelo contraste entre dois tempos verbais, o pretérito imperfeito (pensava / pensavam) e o perfeito (percebeu). Tudo isso se torna significativo, literariamente falando, para a narrativa e, mais do que um traço morfossintático, é um traço estilístico marcante na escala de valores a que aqui nos referimos e que pode, ainda, ter uma natureza sinestésica, estando ligada a determinados sentidos humanos. Por exemplo, é muito comum associarmos determinadas palavras a determinados sentidos, criando assim – no âmbito da percepção estilística – imagens visuais, auditivas, táteis, olfativas ou gustativas.

<https://tinyurl.com/y7wzrn8k> Acesso em: 07.11.2017. Adaptado.

Questão 50 - Assinale a afirmação correta a respeito das ideias presentes no texto.

(A) O autor que busque um estilo narrativo marcante deve preterir a conjunção precisa entre forma e fundo.
(B) A compreensão e a análise do estilo de um autor devem se restringir ao estudo da palavra como unidade isolada no texto.
(C) As características que definem o que é estilo, para João Ribeiro, são a exposição de ideias de forma prolixa e a ausência de incorreções gramaticais.
(D) O estilo transcende as conceituações morfossintáticas, pois as palavras não são consideradas apenas individualmente, mas em seu papel no conjunto do texto.
(E) O emprego das normas gramaticais para a construção de um bom texto é uma questão de estilo, por isso a informalidade da linguagem é inadmissível.

Questão 51 - O autor menciona Memorial de Aires, de Machado de Assis, com o intuito de

(A) destacar a preferência de Machado de Assis por um estilo calcado na linguagem informal, popular.
(B) revelar, pela frase do narrador, que o Conselheiro Aires mantinha-se indiferente às circunstâncias que o cercavam.
(C) demonstrar, por meio da análise de um trecho da obra machadiana, que a ausência de coesão entre forma e fundo não compromete o estilo.
(D) evidenciar como Machado de Assis articula recursos morfossintáticos de modo a construir, não somente a narrativa, mas também o próprio estilo.
(E) elucidar a oposição entre a concepção gramatical tradicionalista e a linguagem machadiana, caracterizada pelo desprendimento formal do autor.

Questão 52 - O texto faz referência à sinestesia, um recurso semântico capaz de tornar o texto mais expressivo. Assinale a alternativa que apresenta um exemplo da figura de linguagem conhecida como sinestesia.

(A) O toque de suas mãos era frio como a neve.
(B) Suas palavras eram amargas e frias.
(C) Caía lá fora a neve fria.
(D) O inverno sem você é glacial.
(E) O frio contava as histórias de tempos passados.

Questão 53 - Memorial de Aires é o último romance escrito por Machado de Assis, tendo sido publicado em 1908, ano da morte do autor. Obra de caráter autobiográfico, apresenta-se como diversas entradas em uma espécie de diário, em que a relação com a velhice, as dificuldades dos relacionamentos amorosos e a futilidade da elite brasileira no final do século XIX são retratadas por meio de um série de episódios que se intercalam.
O trecho a seguir foi retirado do prefácio Advertência, que introduz a obra.

Quem me leu Esaú e Jacó talvez reconheça estas palavras do prefácio: “Nos lazeres do ofício escrevia o Memorial, que, apesar das páginas mortas ou escuras, apenas daria (e talvez dê) para matar o tempo da barca de Petrópolis”.
Referia-me ao Conselheiro Aires. Tratando-se agora de imprimir o Memorial, achou-se que a parte relativa a uns dois anos (1888-1889), se for decotada de algumas circunstâncias, anedotas, descrições e reflexões, — pode dar uma narração seguida, que talvez interesse, apesar da forma de diário que tem. Não houve pachorra de a redigir à maneira daquela outra, — nem pachorra, nem habilidade. Vai como estava, mas desbastada e estreita, conservando só o que liga o mesmo assunto. O resto aparecerá um dia, se aparecer algum dia.

ASSIS, Machado de. Memorial de Aires. In:______. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986. p. 1096.

Com base na leitura dos textos e nas obras de Machado de Assis, é correto afirmar que

(A) Memorial de Aires e O Alienista são obras de crítica social, mas não trazem a visão irônica da sociedade que é comum à produção machadiana.
(B) Quincas Borba e Memorial de Aires narram a trajetória de protagonistas que, apesar das imposições sociais, conseguem atingir seus objetivos.
(C) Memórias Póstumas de Brás Cubas e Memorial de Aires apresentam um narrador em terceira pessoa que relata os fatos tendo limitado conhecimento da história e dos detalhes da trama.
(D) Iaiá Garcia e Memorial de Aires apresentam características claramente identificadas com o movimento Realista, compondo, com Memórias Póstumas de Brás Cubas, a chamada Trilogia Realista.
(E) Dom Casmurro e Memorial de Aires seguem a tradição do romance psicológico, debruçando-se nos motivos íntimos por trás das escolhas e das ações e reações das personagens.

Questão 54 - Na frase de Machado de Assis citada no texto (“Aires não pensava nada, mas percebeu que os outros pensavam alguma cousa”), a relação entre os tempos verbais, embora contrastante, é coerente.
Assinale a alternativa que também apresenta a correta relação entre os tempos verbais.

(A) O pesquisador leu a obra completa de Clarice Lispector para que pudesse identificar as marcas de estilo da escritora.
(B) O pesquisador lia a obra completa de Clarice Lispector para que terá podido identificar as marcas de estilo da escritora.
(C) O pesquisador lê a obra completa de Clarice Lispector para que pudera identificar as marcas de estilo da escritora.
(D) O pesquisador lerá a obra completa de Clarice Lispector para que tivesse podido identificar as marcas de estilo da escritora.
(E) O pesquisador leria a obra completa de Clarice Lispector para que tenha podido identificar as marcas de estilo da escritora.

GABARITO

50 – D   51 – D   52 – B   53 – E   54 – A


Leia também:


Fatec 2004 – 1º Semestre – Prova de Língua Portuguesa


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