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quinta-feira, 1 de setembro de 2011

ÁLVARES DE AZEVEDO

ÁLVARES DE AZEVEDO

- Nasceu em São Paulo, em 1831, e faleceu também em São Paulo, em 1852.
- Teve uma vida desregrada e boêmia, vindo a falecer de tuberculose com apenas 20 anos.
- Escreveu poesia, prosa e teatro. 
- Representante da 2º geração do Romantismo brasileiro, a chamada poesia ultrarromântica ou byroniana (em referência ao poeta inglês Lord Byron) ou ainda poesia do mal do século: melancolia profunda, ânsia de morrer, sentido trágico da vida.
- Mistura em sua poesia ternura e perversidade, idealização e sensualidade.
- Tom sarcástico, certo satanismo, culto da noite e dos ambientes soturnos.
- Idealização da mulher amada como um ser pálido e próximo da morte.
- Poesia lírica angustiada e melancólica; ânsia profunda de amor.

Obras: Lira dos vinte anos; Poema do frade; o conde Lopo; Noie na taverna; O livro de Fra Gondicário; Macário.


Soneto

Pálida à luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!

Era a virgem do mar! na escuma fria
Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre as nuvens d’alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia!

Era mais bela! o seio palpitando...
Negros olhos as pálpebras abrindo...
Formas nuas no leito resvalando...

Não te rias de mim, meu anjo lindo!
Por ti – as noites eu velei chorando,
Por ti – nos sonhos morrerei sorrindo!

(Álvares de Azevedo)

Por que mentias?

Por que mentias leviana e bela?

Se minha face pálida sentias
Queimada pela febre?... e se minha vida
tu vias desmaiar... por que mentias?

Acordei de ilusão! a sós morrendo
Sinto na mocidade as agonias.
Por tua causa desespero e morro...
Leviana sem dó, por que mentias?

Sabe Deus se te amei! sabem as noites
Essa dor que alentei, que tu nutrias!
Sabe esse pobre coração que treme
Que a esperança perdeu porque mentias!

Vê minha palidez: a febre lenta
Esse fogo das pálpebras sombrias...
Pousa a mão no meu peito! Eu morro! Eu morro
Leviana sem dó, por que mentias?

(...)

E quem dirá, meu Deus! que a lira d'alma
Ali não tem um som - nem de falsete!
E, sob a imagem de aparente fogo,
É frio o coração como um sorvete!

(Álvares de Azevedo) 

Por mim?

Teus negros olhos uma vez fitando

Senti que luz mais branda os acendia,
Pálida de langor, eu vi, te olhando,
Mulher do meu amor, meu serafim,
Esse amor que em teus olhos refletia...
Talvez! - era por mim?

Pendeste, suspirando, a face pura,

Morreu nos lábios teus um ai perdido...
Tão ébrio de paixão e de ventura!
Mulher de meu amor, meu serafim,
Por quem era o suspiro amortecido?
Suspiravas por mim?...

Mas... eu sei!... ai de mim? Eu vi na dança

Um olhar que em teus olhos se fitava...
Ouvi outro suspiro... d'esperança!
Mulher do meu amor, meu serafim,
Teu olhar, teu suspiro que matava...
Oh! não eram por mim. 

(Álvares de Azevedo) 


Amor 


Quand la mort est si belle, Il est doux de mourir. 

 Victor Hugo

Amemos! Quero de amor
Viver no teu coração!
Sofrer e amar essa dor
Que desmaia de paixão!
Na tu'alma, em teus encantos
E na tua palidez
E nos teus ardentes prantos
Suspirar de languidez!
Quero em teus lábio beber
Os teus amores do céu,
Quero em teu seio morrer
No enlevo do seio teu!
Quero viver d'esperança,
Quero tremer e sentir!
Na tua cheirosa trança
Quero sonhar e dormir!
Vem, anjo, minha donzela,
Minha'alma, meu coração!
Que noite, que noite bela!
Como é doce a viração!
E entre os suspiros do vento
Da noite ao mole frescor,
Quero viver um momento,
Morrer contigo de amor!


(Álvares de Azevedo)

O lenço dela

Quando, a primeira vez, da minha terra
Deixei as noites de amoroso encanto,
A minha doce amante suspirando
Volveu-me os olhos úmidos de pranto.

Um romance cantou de despedida,
Mas a saudade amortecia o canto!
Lágrimas enxugou nos olhos belos...
E deu-me o lenço que molhava o pranto.

Quantos anos, contudo, já passaram!
Não olvido porém amor tão santo!
Guardo ainda num cofre perfumado
O lenço dela que molhava o pranto...

Nunca mais a encontrei na minha vida,
Eu contudo, meu Deus, amava-a tanto!
Oh! quando eu morra estendam no meu rosto
O lenço que eu banhei também de pranto!


(Álvares de Azevedo)

Ah! vem! amemos! vivamos!
O enlevo do amor bebamos
Nos perfumes do sertão!
Ah! virgem, se tu quiseras
Ser a flor das primaveras
Que tenho no coração!...

(Álvares de Azevedo)


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