FUVEST 2004 – 1º FASE – PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA
01 - Observe, ao lado, esta gravura de Escher:
Na
linguagem verbal, exemplos de aproveitamento de recursos equivalentes aos da
gravura de Escher encontram-se, com frequência,
a)
nos jornais, quando o repórter registra uma ocorrência que lhe parece
extremamente intrigante.
b)
nos textos publicitários, quando se comparam dois produtos que têm a mesma utilidade.
c)
na prosa científica, quando o autor descreve com isenção e distanciamento a
experiência de que trata.
d)
na literatura, quando o escritor se vale das palavras para expor procedimentos
construtivos do discurso.
e)
nos manuais de instrução, quando se organiza com clareza uma determinada
seqüência de operações.
Texto
para as questões de 2 a 8
Uma
flor, o Quincas Borba. Nunca em minha infância, nunca em toda a minha vida,
achei um menino mais gracioso, inventivo e travesso. Era a flor, e não já da
escola, senão de toda a cidade. A mãe, viúva, com alguma cousa de seu, adorava
o filho e trazia-o amimado, asseado, enfeitado, com um vistoso pajem atrás, um pajem
que nos deixava gazear a escola, ir caçar ninhos de pássaros, ou perseguir
lagartixas nos morros do Livramento e da Conceição, ou simplesmente arruar, à
toa, como dous peraltas sem emprego. E de imperador! Era um gosto ver o Quincas
Borba fazer de imperador nas festas do Espírito Santo. De resto, nos nossos
jogos pueris, ele escolhia sempre um papel de rei, ministro, general, uma
supremacia, qualquer que fosse. Tinha garbo o traquinas, e gravidade, certa
magnificência nas atitudes, nos meneios. Quem diria que... Suspendamos a pena;
não adiantemos os sucessos. Vamos de um salto a 1822, data da nossa
independência política, e do meu primeiro cativeiro pessoal.
(Machado
de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas)
02 - A busca de “uma supremacia, qualquer que fosse”, que neste trecho caracteriza o
comportamento de Quincas Borba, tem como equivalente, na trajetória de Brás
Cubas,
a)
o projeto de tornar-se um grande dramaturgo.
b)
a ideia fixa da invenção do emplastro.
c)
a elaboração da filosofia do Humanitismo.
d)
a ambição de obter o título de marquês.
e)
a obsessão de conquistar Eugênia.
03 - Considere as seguintes afirmações:
I.
Excesso de complacência e falta de limites assinalam não só a infância de Brás
Cubas e a de Quincas Borba, referidas no excerto, mas também a de Leonardo
(filho), das Memórias de um sargento de milícias.
II.
Uma formação escolar licenciosa e indisciplinada, tal como a relatada no
excerto, responde, em grande parte, pelas características de Brás Cubas,
Leonardo (filho) e Macunaíma,
personagens tipicamente malandras de nossa literatura.
III.
A educação caracterizada pelo desregramento e pelo excesso de mimo, indicada no
excerto, também é objeto de crítica em Libertinagem, de Manuel Bandeira, e
Primeiras estórias,
de Guimarães Rosa.
Está
correto apenas o que se afirma em
a)
I. b) II. c) III.
d) I e II. e) II e III.
04 - É correto afirmar que as festas do Espírito Santo, referidas no excerto,
comparecem também em passagens significativas de
a)
Memórias de um sargento de milícias, onde contribuem para caracterizar uma
religiosidade de superfície, menos afeita ao sentido íntimo das cerimônias do
que ao seu colorido e pompa exterior.
b)
O primo Basílio, tornando evidentes, assim, as origensibéricas das festas
religiosas populares do Rio de Janeiro do século XIX.
c)
Macunaíma, onde colaboram para evidenciar o sincretismo luso-afro-ameríndio que
caracteriza a religiosidade típica do brasileiro.
d)
Primeiras estórias, cujos contos realizam uma ampla representação das
tendências mágico-religiosas que caracterizam o catolicismo popular brasileiro.
e)
A hora da estrela, onde servem para reforçar o contraste entre a experiência
rural-popular de Macabéa e sua experiência de abandono na metrópole moderna.
05 - Embora pertença à modalidade escrita da língua, este texto apresenta marcas de
oralidade, que têm finalidades estilísticas. Dos procedimentos verificados no
texto e indicados abaixo, o único que constitui marca típica da modalidade
escrita é:
a)
uso de frase elíptica em “Uma flor, o Quincas Borba”.
b)
repetição de palavras como “nunca” e “pajem”.
c)
interrupção da frase em “Quem diria que...”.
d)
emprego de frase nominal, como em “E de imperador!”
e)
uso das formas imperativas “suspendamos” e “não adiantemos”.
06 - A enumeração de substantivos expressa gradação ascendente em
a)
“menino mais gracioso, inventivo e travesso”.
b)
“trazia-o amimado, asseado, enfeitado”.
c)
“gazear a escola, ir caçar ninhos de pássaros, ou perseguir lagartixas”.
d)
“papel de rei, ministro, general”.
e)
“tinha garbo (...), e gravidade, certa magnificência”.
7 - Em “Era a flor, e não já da escola, senão de toda a cidade.”, a palavra
assinalada pode ser substituída, sem que haja alteração de sentido, por:
a)
mas sim. b)
de outro modo. c)
exceto. d)
portanto. e)
ou.
08 - Na frase “(...) data da nossa independência política, e do meu primeiro
cativeiro pessoal”, ocorre o mesmo recurso expressivo de natureza semântica que
em:
a)
Meu coração/ Não sei por que/ Bate feliz, quando te vê.
b)
Há tanta vida lá fora,/ Aqui dentro, sempre,/ Como uma onda no mar.
c)
Brasil, meu Brasil brasileiro,/ Meu mulato inzoneiro,/ Vou cantar-te nos meus
versos.
d)
Se lembra da fogueira,/ Se lembra dos balões,/ Se lembra dos luares, dos
sertões?
e)
Meu bem querer/ É segredo, é sagrado,/ Está sacramentado/ Em meu coração.
09
CONTRA A MARÉ
A
tribo dos que preferem ficar à margem da corrida dos bits e bytes não é
minguada. Mas são os renitentes que fazem a tecnologia ficar mais fácil. Nesta
nota jornalística, a expressão “contra a maré” liga-se, quanto ao sentido que
ela aí assume, à palavra
a)
tribo. b)
minguada. c)
renitentes. d)
tecnologia. e)
fácil.
Texto
para as questões de 10 a 14
Olhar
para o céu noturno é quase um privilégio em nossa atribulada e iluminada vida
moderna. (...) Companhias de turismo deveriam criar “excursões noturnas”, em
que grupos de pessoas são transportados até pontos estratégicos para serem
instruídos por um astrônomo sobre as maravilhas do céu noturno. Seria o nascimento
do “turismo astronômico”, que complementaria perfeitamente o novo turismo
ecológico. E por que não?
Turismo
astronômico ou não, talvez a primeira impressão ao observarmos o céu noturno
seja uma enorme sensação de paz, de permanência, de profunda ausência de
movimento, fora um eventual avião ou mesmo um satélite distante (uma estrela
que se move!). Vemos incontáveis estrelas, emitindo sua radiação
eletromagnética, perfeitamente indiferentes às atribulações humanas.
Essa
visão pacata dos céus é completamente diferente da visão de um astrofísico
moderno. As inocentes estrelas são verdadeiras fornalhas nucleares, produzindo
uma quantidade enorme de energia a cada segundo. A morte de uma estrela modesta
como o Sol, por exemplo, virá acompanhada de uma explosão que chegará até a
nossa vizinhança, transformando tudo o que encontrar pela frente em poeira
cósmica. (O leitor não precisa se preocupar muito. O Sol ainda produzirá
energia “docilmente” por mais uns 5 bilhões de anos.)
(Marcelo
Gleiser, Retalhos cósmicos)
10 - O autor considera a possibilidade de se olhar para o céu noturno a partir de
duas distintas perspectivas, que se evidenciam no confronto das expressões:
a)
“maravilhas do céu noturno” / “sensação de paz”.
b)
“instruídos por um astrônomo” / “visão de um astrofísico”.
c)
“radiação eletromagnética” / “quantidade enorme de energia”.
d)
“poeira cósmica” / “visão de um astrofísico”.
e)
“ausência de movimento” / “fornalhas nucleares”.
11 - Considere as seguintes afirmações:
I.
Na primeira frase do texto, os termos “atribulada” e “iluminada” caracterizam
dois aspectos contraditórios e inconciliáveis do que o autor chama de “vida
moderna”.
II.
No segundo parágrafo, o sentido da expressão “perfeitamente indiferentes às
atribulações humanas” indica que já se desfez aquela “primeira impressão” e
desapareceu a “sensação de paz”.
III.
No terceiro parágrafo, a expressão “estrela modesta”, referente ao Sol, implica
uma avaliação que vai além das impressões ou sensações de um observador comum.
Está
correto apenas o que se afirma em
a)
I. b) II. c) III.
d) I e II. e) II e III.
12 - De acordo com o texto, as estrelas
a)
são consideradas “maravilhas do céu noturno“ pelos observadores leigos, mas não
pelos astrônomos.
b)
possibilitam uma “visão pacata dos céus“, impressão que pode ser desfeita pelas
instruções de um astrônomo.
c)
produzem, no observador leigo, um efeito encantatório, em razão de serem “verdadeiras
fornalhas nucleares“.
d)
promovem um espetáculo noturno tão grandioso, que os moradores das cidades
modernas se sentem privilegiados.
e)
confundem-se, por vezes, com um avião ou um satélite, por se movimentarem do
mesmo modo que estes.
13 - Transpondo-se corretamente para a voz ativa a oração “para serem instruídos por
um astrônomo (...)”, obtém-se:
a)
para que sejam instruídos por um astrônomo (...).
b)
para um astrônomo os instruírem (...).
c)
para que um astrônomo lhes instruíssem (...).
d)
para um astrônomo instruí-los (...).
e)
para que fossem instruídos por um astrônomo (...).
14 - Na frase “O Sol ainda produzirá energia (...)”, o advérbio ainda tem o mesmo
sentido que em:
a)
Ainda lutando, nada conseguirá.
b)
Há ainda outras pessoas envolvidas no caso.
c)
Ainda há cinco minutos ela estava aqui.
d)
Um dia ele voltará, e ela estará ainda à sua espera.
e)
Sei que ainda serás rico.
Texto
para as questões de 15 a 17
O
OLHAR TAMBÉM PRECISA APRENDER A ENXERGAR
Há
uma historinha adorável, contada por Eduardo Galeano, escritor uruguaio, que
diz que um pai, morador lá do interior do país, levou seu filho até a beira do
mar. O menino nunca tinha visto aquela massa de água infinita. Os dois pararam
sobre um morro. O menino, segurando a mão do pai, disse a ele: “Pai, me ajuda a
olhar”. Pode parecer uma espécie de fantasia, mas deve ser a exata verdade,
representando a sensação de faltarem não só palavras mas também capacidade para
entender o que é que estava se passando ali.
Agora
imagine o que se passa quando qualquer um de nós pára diante de uma grande obra
de arte visual: como olhar para aquilo e construir seu sentido na nossa
percepção? Só com auxílio mesmo. Não quer dizer que a gente não se emocione
apenas
por ser exposto a um clássico absoluto, um Picasso ou um Niemeyer ou um
Caravaggio. Quer dizer apenas que a gente pode ver melhor se entender a lógica
da criação.
(Luís
Augusto Fischer, Folha de S. Paulo)
15 - Relacionando a história contada pelo escritor uruguaio com “o que se passa
quando qualquer um de nós pára diante de uma grande obra de arte”, o autor do
texto defende a ideia de que
a)
o belo natural e o belo artístico provocam distintas reações de nossa
percepção.
b)
a educação do olhar leva a uma percepção compreensiva das coisas belas.
c)
o belo artístico é tanto mais intenso quanto mais espelhe o belo natural.
d)
a lógica da criação artística é a mesma que rege o funcionamento da natureza.
e)
a educação do olhar devolve ao adulto a espontaneidade da percepção das
crianças.
16 - Analisando-se a construção do texto, verifica-se que
a)
há paralelismo de ideias entre os dois parágrafos, como, por exemplo, o que
ocorre entre a frase do menino e a frase “Só com auxílio mesmo”.
b)
a expressão “espécie de fantasia”, no primeiro parágrafo, é retomada e
traduzida em “lógica da criação”, no segundo parágrafo.
c)
a expressão “Agora imagine” tem como função assinalar a inteira independência
do segundo parágrafo em relação ao primeiro.
d)
a afirmação contida no título restringe-se aos casos dos artistas mencionados
no final do texto.
e)
as ocorrências da expressão “a gente” constituem traços da impessoalidade e da
objetividade que marcam a linguagem do texto.
17 - A frase “Não quer dizer que a gente não se emocione apenas por ser exposto a um
clássico absoluto” é pouco clara. Mantendo-se a coerência com a linha de
argumentação do texto, uma frase mais clara seria: “Não quer dizer que
a)
algum de nós se emocione pelo simples fato de estar diante de uma obra
clássica”.
b)
a primeira aparição de um clássico absoluto venha logo a nos emocionar”.
c)
nos emocionemos já na primeira reação diante de um clássico indiscutível”.
d)
o simples contato com um clássico absoluto não possa nos emocionar”.
e)
tão-somente em nossa relação com um clássico absoluto deixemos de nos
emocionar”.
18 - Tendo em vista as diferenças entre O primo Basílio e Memórias póstumas de Brás
Cubas, conclui-se corretamente que esses romances podem ser classificados
igualmente como realistas apenas na medida em que ambos
a)
aplicam, na sua elaboração, os princípios teóricos da Escola Realista, criada
na França por Émile Zola.
b)
se constituem como romances de tese, procurando demonstrar cientificamente seus
pontos de vista sobre a sociedade.
c)
se opõem às idealizações românticas e observam de modo crítico a sociedade e os
interesses individuais.
d)
operam uma crítica cerrada das leituras romanescas, que consideram responsáveis
pelas falhas da educação da mulher.
e)
têm como objetivos principais criticar as mazelas da sociedade e propor
soluções para erradicá-las.
Texto
para a questão 19
ORAÇÃO
A TERESINHA DO MENINO JESUS
Perdi
o jeito de sofrer.
Ora
essa.
Não
sinto mais aquele gosto cabotino da tristeza.
Quero
alegria! Me dá alegria,
Santa
Teresa!
Santa
Teresa não, Teresinha...
Teresinha...
Teresinha...
Teresinha
do Menino Jesus.
(...)
(Manuel
Bandeira, Libertinagem)
19 - Sobre este trecho do poema, só NÃO é correto afirmar o que está em:
a)
Ao preferir Teresinha a Santa Teresa, o eu-lírico manifesta um desejo de maior
intimidade com o sagrado, traduzida, por exemplo, no diminutivo e na omissão da
palavra “Santa”.
b)
O feitio de oração que caracteriza estes versos não é caso único em
Libertinagem nem é raro na poesia de Bandeira.
c)
Embora com feitio de oração, estes versos utilizam principalmente a variedade
coloquial da linguagem.
d)
Em “do Menino Jesus”, qualificativo de Teresinha, pode-se reconhecer um eco da
predileção de Bandeira pelo tema da infância, recorrente em Libertinagem e no
conjunto de sua poesia.
e)
Apesar de seu feitio de oração, estes versos manifestam intenção desrespeitosa
e mesmo sacrílega em relação à religião estabelecida.
20 - Identifique a afirmação correta sobre A hora da estrela, de Clarice Lispector:
a)
A força da temática social, centrada na miséria brasileira, afasta do livro as
preocupações com a linguagem, freqüentes em outros escritores da mesma geração.
b)
Se o discurso do narrador critica principalmente a própria literatura, as falas
de Macabéa exprimem sobretudo as críticas da personagem às injustiças sociais.
c)
O narrador retarda bastante o início da narração da história de Macabéa,
vinculando esse adiamento a um autoquestionamento radical.
d)
Os sofrimentos da migrante nordestina são realçados, no livro, pelo contraste
entre suas desventuras na cidade grande e suas lembranças de uma infância
pobre, mas
vivida
no aconchego familiar.
e)
O estilo do livro é caracterizado, principalmente, pela oposição de duas
variedades linguísticas: linguagem culta, literária, em contraste com um grande
número de expressões regionais nordestinas.
GABARITO
11 – C 12 – B 13 –D 14 – D 15 – B 16 – A 17 – D 18 – C 19 – E 20 –C
Leia também:
FUVEST 2017 – 1º Fase – PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA
FUVEST 2016 – 1º Fase – PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA
FUVEST 2015 – 1º Fase – PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA
FUVEST 2017 – 1º Fase – PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA
FUVEST 2016 – 1º Fase – PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA
FUVEST 2015 – 1º Fase – PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA
FUVEST 2013 – 1º Fase – PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA
Conheça as apostilas de gramática do blog Veredas da Língua. Clique em uma das imagens abaixo e saiba como adquiri-las.
ATENÇÃO: Além das apostilas, o aluno recebe também, GRATUITAMENTE, o programa em Powerpoint: 500 TEMAS DE REDAÇÃO
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário