O chefe da nação morreu
Mãe,
O chefe da nação morreu e não declararam luto oficial, as bandeiras não ficaram a meio-pau e os governos estrangeiros não vieram ao funeral.
O chefe da nação morreu e as rádios não mudaram sua programação habitual, continuaram tocando animados bailes de carnaval.
O chefe da nação morreu e os
jornais não publicaram sua biografia, não saíram edições extraordinárias e nem
escreveram editoriais destacando as qualidades do grande homem, grande
patriota, grande chefe e amantíssimo pai.
O chefe da nação morreu e as
escolas não suspenderam suas aulas, as fábricas não paralisaram suas máquinas e
os bancos e repartições públicas funcionaram normalmente.
O chefe da nação morreu e a
seleção nacional sequer respeitou um minuto de silêncio antes da partida
sensacional.
O chefe da nação morreu, mas as
igrejas não repicaram seus sinos, os padres não vestiram seus paramentos roxos
e nenhuma missa foi celebrada em sufrágio de sua alma imortal.
O chefe da nação morreu e
deputado algum, vereador nenhum pediu que o novo aeroporto, aquela pracinha, o
grande estádio de futebol, eternizassem seu nome para todo o sempre.
Perdoai-os não, cacique Apoena.
Eles sabem o que fazem.
(Henfil, in “Cartas da mãe”, 1980)
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