Prova
de Língua e Literatura em Língua Portuguesa – Cásper Líbero – 2011
Leia o texto a seguir e
responda às questões de 1 a 6:
A Independência (que tem seu ponto de partida na
transferência da corte portuguesa em 1808)
assinala a estruturação do Estado Brasileiro, o que determina, com a
configuração da nova individualidade nacional que o Brasil passava a
apresentar, a grande e variada série de consequências que derivam da inclusão
no próprio país e sobre a base exclusiva de nacionais, do seu centro político,
administrativo e social. A inspiração, orientação e direção do conjunto da vida
brasileira se farão daí por diante a partir de seu próprio interior onde se localizarão
seus estímulos e impulsos, o que torna possível definir, propor e realizar as
aspirações e interesses propriamente nacionais. Do ponto de vista estritamente econômico,
destaquemos unicamente o que a estruturação do Estado nacional representaria
como fator de ampliação das despesas públicas, com reflexo imediato nas
particulares; e portanto de ativação de vida econômica e financeira, aumento da
renda nacional e do consumo que isso representa. O efeito conjugado desses fatores
resultará, em consequência da brusca transformação ocorrida, no profundo desequilíbrio
financeiro e nas crises que caracterizam a vida do Império até meados do
século. E constitui circunstância que influi poderosamente no sentido de
estimular a integração nacional da economia brasileira. Isso será tanto mais
sensível e de efeitos mais amplos, que acresce um fator de ordem
político-administrativa a atuar no mesmo sentido. Até a Independência, as
capitanias brasileiras, depois províncias e hoje Estados, se achavam dispersas
e cada qual muito mais ligada à metrópole portuguesa que às demais. A
administração sediada no Rio de Janeiro era de fato, no que respeita ao
conjunto da colônia, puramente nominal, e sua jurisdição não ia realmente além
da intitulada capital e sede do Vice-reinado e das capitanias meridionais. A
transferência da corte torna o Rio de Janeiro efetivamente em centro e capital
do país que se articulará assim num todo único. Essa situação se consolidará com
a efetivação da Independência e a formação do Estado nacional brasileiro, que constituem
assim a definitiva integração territorial do país antes disperso e interligado unicamente
através e por via da metrópole.
De maior proporção ainda, no que respeita à transformação
da antiga colônia em coletividade nacional integrada e organizada, são estes primeiros passos
decisivos da incorporação efetiva da massa trabalhadora à sociedade brasileira
que consistem na supressão do tráfico africano (1850) e seus corolários naturais: o estímulo à imigração
europeia de trabalhadores destinados a suprir a falta de mão-de-obra provocada
pela supressão daquele tráfico, e a abolição da escravidão (1888). (Caio Prado
Júnior. A revolução brasileira.)
1. Assinale a alternativa
que identifica corretamente o assunto-tema do texto:
a. A ação do Estado na
coordenação dos recursos econômicos do Brasil Império.
b. Os investimentos regionais
na estrutura econômica nacional.
c. A formação política e
econômica do Estado Brasileiro.
d. O papel do Estado no
desenvolvimento do Brasil.
e. A Independência do
Brasil e a unidade nacional.
2. Assinale a alternativa
que apresenta corretamente o desenvolvimento das ideias expostas no texto, de
forma consecutiva:
a. O papel da
Independência na constituição do Estado e da Nação./Os desmandos financeiros de
um Estado perdulário./ A centralização política e administrativa exercida pela
capital do país./ A disparidade entre o trabalho escravo e o trabalho livre.
b. A importância da
transferência da corte portuguesa para o Rio de Janeiro./A atuação econômica do
Estado e o desequilíbrio financeiro./ O papel das capitanias hereditárias na formação
da Nação./ O impacto do trabalho livre na formação da Nação.
c. O papel da
individualidade na constituição do Estado e da Nação./O aumento da dívida púbica
e suas consequências políticas./ A centralização política e administrativa
exercida pela capital do País./ A importância da imigração.
d. A formação das
aspirações e dos interesses nacionais./ A atuação econômica do Estado e seu
indesejado desequilíbrio financeiro./ As dificuldades administrativas pelas
quais passou a capital do país./ As consequências da supressão do tráfico de
escravos.
e. O papel da
Independência na constituição do Estado e da Nação./A ativação econômica do Estado
e suas consequências./ A centralização política e administrativa exercida pela
capital do país./ O papel do trabalho livre na formação da Nação.
3. “Isso será tanto mais sensível e de efeitos mais amplos, que
acresce um fator de ordem político-administrativa a atuar no mesmo
sentido.”
Assinale a alternativa
que indica o valor semântico da conjunção assinalada:
a. Causa. b. Consequência. c. Condição. d. Finalidade. e. Concessão.
4. “... são estes primeiros passos decisivos da incorporação efetiva da massa trabalhadora
à sociedade brasileira que consistem na supressão do tráfico africano (1850) e
seus corolários naturais...”.
Assinale a alternativa
correta quanto à classificação gramatical da forma “estes” e seu valor
semântico:
a. Pronome demonstrativo
empregado para indicar ao leitor o que se vai mencionar (o estímulo à imigração
europeia de trabalhadores e a abolição da escravidão).
b. Pronome indefinido
capaz de particularizar o ser expresso pelo substantivo (passos), distinguindo-os
dos outros substantivos do texto, por seu acentuado valor intensivo.
c. Pronome demonstrativo
empregado para indicar ao leitor o que já foi mencionado (a transformação da
antiga colônia em coletividade nacional integrada e organizada).
d. Pronome indefinido
que indica a totalidade das partes (a transformação da antiga colônia em
coletividade nacional integrada e organizada, o estímulo à imigração europeia
de trabalhadores e a abolição da escravidão).
e. Pronome relativo que
assume um duplo papel no período por representar um determinado antecedente (a
transformação da antiga colônia em coletividade nacional integrada e organizada)
e servir de elo subordinante da oração que se inicia a partir dele (os
primeiros passos que consistem...)
5. Assinale a alternativa
que apresenta o significado da palavra “corolários”, conforme ela é empregada
no texto:
a. Eventos. b. Razões. c. Causas. d. Pétalas. e. Consequências.
6. Relacionando as ideias
apresentadas no texto à leitura de Memórias de um
sargento de milícias, é correto afirmar que o romance de Manuel Antonio
de Almeida:
a. Suprime as camadas
básicas (os escravos), pois a narrativa está centrada em personagens que
representam as camadas populares que anonimamente participaram da formação da identidade
nacional.
b. Omite as camadas
dirigentes (o vice-rei, a nobreza, os ministros...), criticando a corrupção econômica
e moral em que elas se meteram desde sempre.
c. Explora o par
ordem/desordem, no que diz respeito à formação econômica do Brasil Império, às
voltas com o aumento da renda nacional e do desequilíbrio financeiro da
população de modo geral.
d. Faz uso expressivo da
ausência do elemento escravo na narrativa, procurando o autor retratar o mundo sui generis do
trabalho no Brasil urbano da primeira metade do século XIX.
e. Retrata afetivamente
a participação das classes dirigentes na formação da Nação, objetivando o autor
retratar a ascensão da pequena burguesia nos primeiros anos do século XIX.
17. Sobre Auto
da barca do inferno, de Gil Vicente, é correto afirmar que:
a. A peça apresenta uma
impagável visão satírica de fundo pagão, já que empreende um ataque violento às
mazelas de todas as classes sociais, desde o homem do campo até o rei e o Papa.
b. A peça trata de forma
figurada do dilema do homem entre as forças do bem e as solicitações sedutoras
do mal, apresentando as misérias da vida, por meio de personagens que, às
voltas com sua pequenez, estão presas às realidades terrenas.
c. Na peça, o autor
associa o teatro religioso ao teatro de crítica social, reabilitando o próprio
mistério medieval, sem deixar de explorar conteúdos alegóricos e romanescos.
d. A estrutura interna
da peça é bastante complexa, exigindo um alto poder na descrição dos tipos e na
sucessão dos quadros, à maneira das novelas de cavalaria ou, mais modernamente,
do teatro de revista.
e. A galeria dos tipos
humanos que desfilam na peça é riquíssima e o inventário de seus vícios, incontável.
A trama ridiculariza, sobretudo, a imperícia dos médicos, as práticas da
feitiçaria, a ostentação dos nobres e o relaxamento dos costumes do clero.
18. Sobre Memórias
de um sargento de milícias, de Manuel Antonio de Almeida, é
correto afirmar que:
a. O realismo do autor
não é do tipo documental, que resvalaria no folclórico ou no pitoresco. Antes,
é um tipo de realismo por meio do qual ele intui certos princípios constitutivos
da sociedade brasileira da época.
b. A obra é narrada em
3ª pessoa por um narrador-personagem que varia com desenvoltura o ponto de
vista, trazendo-o de Leonardo Pai a Leonardo Filho, deste ao Compadre ou à
Comadre, depois à Cigana e assim por diante, de maneira a estabelecer uma visão
dinâmica da matéria narrada.
c. O vocabulário do
romance é acentuadamente licencioso e de tal modo caricatural que o elemento
irregular se desfaz em humor chulo, como no episódio do padre surpreendido em
trajes menores no quarto da Cigana.
d. Os quadros, as
figuras, os diálogos e o enredo do romance são tratados com os recursos típicos
do Romantismo, denunciando um contraste flagrante com a realidade cotidiana
vivida pela sociedade do Brasil colonial.
e. Trata-se de uma
crônica do Rio de Janeiro, da segunda metade do século XIX. Uma crônica das ruas,
dos costumes populares, das superstições e crendices, dos tipos e das festas de
outrora, dos simpáticos vadios dos velhos tempos e dos mexericos do Brasil pré-republicano.
19. Sobre Os
da minha rua, de
Ondjaki, é correto afirmar que:
a. Trata-se de uma reunião de contos cuja temática está voltada aos bairros pobres de Luanda, vistos a partir da perspectiva da deliciosa fala de seus habitantes. A simplicidade é o atrativo suficiente nesses saborosos “causos” e seu esforço de recriação da linguagem oral.
b. Trata-se de uma
reportagem autobiográfica por meio da qual o autor resolve contar suas
experiências no continente africano. É um fluxo narrativo que mistura
lembranças da infância, o registro do dia a dia em Angola e a descrição dos
horrores da guerra de independência.
c. Trata-se de um
romance construído a partir de um monólogo interior da personagem principal, alter ego do
autor, durante sua vida em Luanda. É um testemunho inesquecível sobre a
colonização portuguesa em Angola, no qual as reflexões sobre a infância se
entrelaçam às lembranças da guerra.
d. Trata-se de uma
reunião de pequenos ensaios que mostram um outro lado da literatura de
expressão portuguesa. Não apenas as experiências de oralidade e africanização
da língua, mas também uma visão cética e perspicaz que não poupa nada ou
ninguém, que ri de tudo e de todos e, assim, lança um novo olhar sobre a
realidade angolana.
e. Trata-se de uma
reunião de crônicas, que oscilam entre os registros escrito e oral, por meio
das quais o autor reconstrói o universo de sua infância e o correr da vida em
Luanda: a escola e os professores, brincadeiras e descobertas, festas em casa
dos amigos – matéria esta tecida pelos fios da memória, do afeto e da
identidade.
35. Assinale a
alternativa que caracteriza corretamente os versos do poema Os
sapos, que
integra a coletânea 50 poemas escolhidos pelo autor, de Manuel Bandeira, apresentados
a seguir:
(...)
O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: – “Meu cancioneiro
É bem martelado.
Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.
O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
Vai por cinquenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A fôrmas a forma.
Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes
poéticas...”
(...)
a. A poesia de evasão,
em Bandeira, nasce da fadiga do poeta diante das pressões da vida comum. A
saída, então, é encontrar refúgio em um mundo de realidades bem diferentes das que
são oferecidas pela vida cotidiana, deixando-se levar pelo embalo da fantasia.
b. Uma vez que não
dominava perfeitamente a métrica – característica comum a todos os modernistas
–, Bandeira optou por fazer do verso livre sua plataforma estética para, a
partir daí, criticar a poesia tradicional, renegando as formas fixas.
c. A poesia satírica de
Bandeira aponta para uma preocupação excessiva com os elementos alegóricos de
fundo espiritual, que interferem no jogo do nonsense com o propósito de disfarçar
o ataque à hipocrisia.
d. A poesia de Bandeira
opta pelo caminho do humor com o intuito de tentar resgatar o universo de sua
infância, criando, assim, uma espécie de obsessão por essa fase de sua vida.
e. Bem-humorado, o poeta
parodia a “Profissão de fé” (de Olavo Bilac), hostiliza a eloquência oca e o
desaparecimento da poesia, investindo contra o estado de penúria a que a haviam
reduzido.
36. Assinale a
alternativa que apresenta corretamente a análise crítica do poema Arte
de amar,
extraído da coletânea 50 poemas escolhidos pelo autor, de Manuel Bandeira,
apresentado a seguir:
Se queres sentir a
felicidade de amar, esquece a tua alma,
A alma é que estraga o
amor.
Só em Deus ela pode
encontrar satisfação,
Não noutra alma.
Só em Deus – ou fora do
mundo.
As almas são
incomunicáveis.
Deixa o teu corpo
entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se
entendem, mas as almas não.
a. Atente-se, por
exemplo, nesta lindíssima metáfora, atrevida metonímia em que o poeta, com um
golpe de mestre, fundindo os dois termos de comparação, de modo a se
interpenetrarem no absoluto, estabelece paradoxalmente uma relação nova, sutil,
imprevista, absurda, de efeito a causa, de agente a paciente, entre o objeto e
a sensação do objeto. (Onestaldo de Pennafort).
b. Trata-se de um
melancólico que ama a solidão, o lamento, as confissões. Trata-se de um triste
que, se acaso chega a ouvir a voz da alegria, é sempre como “uma voz de fora”,
que vem até ele e acorda muitas notas adormecidas, mas que não o consegue empolgar
e dominar muito tempo. (Octavio de Faria).
c. Em horas mais
sombrias, entretanto, se não chega a traduzir o sentimento da vida declinamente
e a resignação ao mau destino, que são sugeridos, de preferência, por
analogias, representa claramente a própria transitoriedade e a fugacidade da existência.
(Sérgio Buarque de Holanda).
d. Nesse poema se opera
um corte, sem maiores cerimônias, separando matéria e espírito. A tônica
insiste fortemente na ideia de amor como ato físico, relação em que a
instintiva sabedoria do corpo dispensa interferências de outra ordem, pois estas
servem apenas para atrapalhar um fato que tem tudo para ser agradável, desde que
não procure justificativa transcendental, razões de ordem superior. (José
Carlos Garbuglio).
e. Nesses versos já
vibra o propósito do poeta de fugir às paragens etéreas e intemporais e firmar pé
na realidade cotidiana, desvencilhar-se dos olhos livrescos que o impediam de
mirar a verdade diária e, armado de olhos novos, e novos ouvidos, aprender a
ver e a escutar. (Ledo Ivo).
37. Empregada desde a
Antiguidade, a alegoria foi com frequência cultivada na Idade Média
cavaleiro-cristã, a exemplo do Auto da barca do inferno, de Gil Vicente. Tomando
por base essa peça, é correto afirmar que o emprego do discurso alegórico
constitui:
a. O ato de pensar e de
conferir nome às coisas, ao deflagrar a palavra que denomina o objeto ou o
pensamento que organiza a sucessão de palavras.
b. Um discurso
apresentado com um sentido próprio e que serve de comparação para tornar
inteligível um outro sentido que não é expresso.
c. Uma manifestação
evocativa, mágica ou mística que, por convenção arbitrária, representa ou
designa uma realidade complexa.
d. Uma crítica das
instituições ou pessoas por meio da qual se censuram os males da sociedade ou
dos indivíduos.
e. Um confronto entre
dois ou mais seres de naturezas diferentes, a fim de ressaltar um deles por
elevado grau de abstração.
45. Sobre Laços
de família, de
Clarice Lispector, é correto afirmar que:
a. A ação básica da
personagem do conto Amor é a
de desprender-se da realidade e mergulhar em uma outra, com a subsequente e
inevitável volta ao curso normal da trivialidade, mas já sob o estigma da
mudança propiciada pela vivência paradoxal do melhor e do pior.
b. O exercício de
linguagem proposto no conto Uma galinha serve de instrumento
para atingir o segredo da personagem-título e revelá-lo. Assim, especulando
sobre o pior e o melhor da condição humana, a autora trata verdadeiramente da
agonia de um animal.
c. As personagens do
conto Feliz aniversário entram no território do imaginário e defrontam-se com
a fantasia e a invenção de si mesmas, do outro e do mundo, zona extraordinária
em que experimentam a verdade sem sair da experiência do cotidiano.
d. A personagem do conto
O búfalo tenta
escapar dos laços institucionalizados que cerceiam a manifestação de uma
identidade mais autêntica, desejando encontrar a felicidade na livre expressão
do amor.
e. No conto A imitação da rosa, há um acentuado pendor para as elucubrações de
ordem teológica, filosófica e metafísica, nascidas do tema e das personagens
bíblicas, que a autora usa dissimuladamente.
46. Ainda sobre Laços
de família, de
Clarice Lispector, é correto afirmar que:
a. A protagonista do
conto Devaneio e embriaguez de uma rapariga passa pela mesma experiência de êxtase
sagrado vivida por Ana, do conto Amor, no Jardim Botânico.
b. A construção da
identidade do adolescente que protagoniza o conto Começos de uma fortuna faz-se mediante uma transgressão
dolorosa.
c. O conto A menor mulher do mundo trata do modo pelo qual a notícia da
descoberta é recebida pelos outros seres da cidade e da intensa crueldade da
narradora, que reage diante da matéria narrada, acrescentando pitadas sadicamente
irônicas ao liricamente sublime.
d. No conto O crime do professor de Matemática, o protagonista quer extravasar seu
ódio em relação à mulher que ama e que o rejeitou, atingindo o ponto pior de
uma doença dentro de si.
e. No conto Mistério em São Cristóvão, a questão da identidade social da
família desenha-se a partir da patética figura de um grupo de mascarados.
47. Tomando por base a
seguinte afirmação de Antonio Candido: “O cunho especial [das Memórias
de um sargento de milícias] consiste numa certa ausência de juízo
moral e na aceitação risonha do homem como ele é”, é correto afirmar que o
humor explorado por Manuel Antonio de Almeida é do tipo:
a. Absurdo, uma vez que
o narrador do romance constantemente afirma o contrário daquilo em que está
pensando ou que está sentindo.
b. Grotesco, já que os
personagens são retratados pela ótica do desvario ou da loucura.
c. Satírico, uma vez que
o narrador censura ou ridiculariza os costumes, as instituições e as ideias em
estilo irônico e mordaz.
d. Burlesco, já que o
narrador constantemente exagera no emprego de processos grosseiros, como as
incongruências, os equívocos, os enganos e as situações ridículas.
e. Engenhoso, por conta
do brilho intelectual e inventivo que o narrador emprega na aguda observação
dos costumes.
48. Sobre Dois
irmãos, de
Milton Hatoum, é correto afirmar que:
a. A narrativa situa-se
no centro mais importante do Norte do país, encravado no meio da floresta
amazônica, explorando os estereótipos que dizem respeito, sobretudo, à cultura indígena,
cuja aura de exotismo integra-se organicamente ao amplo painel traçado da cultura
libanesa presente na região.
b. Há, no romance, a
Manaus real e seu duplo, e a Manaus imaginária, dentro da qual se encontra a
colônia libanesa. Desses territórios fecundos o autor extrai sua matéria, observando
a convivência entre imigrantes, estrangeiros e nativos – que só conseguem estabelecer
entre si relações de estranhamento.
c. O tema da narrativa é
o da família de imigrantes que não consegue adaptar-se a uma outra cultura,
estabelecendo com ela um jogo de dominação em que se alternam o lugar e o não-lugar
da própria identidade.
d. O autor critica o
romance como gênero, ao praticar um regionalismo às avessas, que consiste em
misturar elementos nacionais, com outros advindos de matrizes narrativas de
inspiração europeia e oriental, tudo filtrado por um olhar que contém
horizontes perdidos num outro tempo.
e. A cidade de Manaus
surge no romance como um espaço sociocultural formado por estratos humanos que
se cruzam e misturam-se: o elemento indígena, o imigrante estrangeiro, o
migrante de outras regiões do país. Cenário perfeito para ser fecundado pela
fantasia narrativa do autor.
49. Sobre o foco
narrativo do romance Dois irmãos, de Milton Hatoum, é
correto afirmar que:
a. O narrador não detém
nenhum poder sobre a matéria narrada, esforçando-se por recuperar os dados da
memória ou reconstruindo-a pela via da imaginação, para apontar, assim, os caminhos
da fabulação romanesca.
b. O narrador em
terceira pessoa garante uma visão objetivada e “aprovada” dos acontecimentos:
não se trata de alucinações. Entretanto, a linguagem sóbria e ordenada usada
por esse narrador submete o protagonista a uma atmosfera de alienação: ele
mesmo desconhece sua origem.
c. O narrador do romance
estiliza uma conduta própria às classes dominadas. Como é o filho ilegítimo de
uma indígena com o filho do patrão, sua atuação é voluntariamente inoportuna e
sem credibilidade.
d. A construção
narrativa é sustentada por um eixo composto de dois elementos: o anúncio e o
segredo. Assim, durante todo o relato, mantém-se a atenção do leitor por meio
de indícios aqui e ali disseminados pelo narrador, cuja identidade a princípio
se desconhece e que vai introduzindo novas chaves ou prenunciando um desenlace
sempre adiado.
e. A evocação e a
dramatização do que já aconteceu sustentam o eixo narrativo, cuja tônica é a
interação entre o passado e o presente, com vista a transformar o futuro. Desse
modo, por meio das intervenções nostálgicas do narrador, o passado está sempre
fornecendo a chave para que o narrador-personagem possa transformar o que está
por vir.
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