Prova
de Língua Portuguesa – FEI – 2011 - 1º semestre
Leia atentamente o fragmento abaixo de Memórias
Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis:
―Virgília? Mas então era a mesma
senhora que alguns anos depois?... A mesma; era justamente a senhora que em
1869 devia assistir aos meus últimos dias, e que antes, muito antes, teve larga
parte nas minhas mais íntimas sensações. Naquele tempo contava apenas uns
quinze ou dezesseis anos; era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça, e,
com certeza, a mais voluntariosa. Não digo que já lhe coubesse a primazia da
beleza, entre as mocinhas do tempo, porque isto não é romance em que o autor
sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas; mas também não
digo que lhe maculasse o rosto nenhuma sarda ou espinha, não. Era bonita,
fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno,
que o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação. Era
isto Virgília, e era clara, muito clara, faceira, ignorante, pueril, cheia de
uns ímpetos misteriosos; muita preguiça e alguma devoção – devoção, ou talvez
medo; creio que medo.
Aí tem o leitor, em poucas linhas, o
retrato físico e moral da pessoa que devia influir mais tarde na minha vida;
era aquilo com dezesseis anos. Tu que me lês, se ainda fores viva quando estas
páginas vierem à luz – tu que me lês, Virgília amada, não reparas na diferença
entre a linguagem de hoje e a que primeiro empreguei quando te vi? Crê que era
tão sincero então como agora; a morte não me tornou rabugento, nem injusto.
– Mas – dirás tu –, como é que podes
assim discernir a verdade daquele tempo, e exprimi-la depois de tantos anos?
Ah! Indiscreta! Ah! Ignorantona! Mas
é isso mesmo que nos faz senhores da terra, é esse poder de restaurar o passado,
para tocar a instabilidade das nossas impressões e a vaidade dos nossos afetos.
Deixa lá dizer Pascal que o homem é um caniço pensante. Não; é uma errata
pensante, isso sim. Cada estação da vida é uma edição, que corrige a anterior,
e que será corrigida também, até a edição definitiva, que o editor dá de graça
aos vermes."
1ª
Questão. É correto afirmar que, no trecho acima, o narrador:
(A) faz um autorretrato seu através de referências a
Virgília.
(B) pinta um retrato físico e moral de Virgília.
(C) aborda apenas os aspectos morais de Virgília.
(D) pinta um elogioso retrato físico e moral de
Virgília.
(E)
narra seu envolvimento amoroso com Virgília.
2ª
Questão. Sobre o foco narrativo, o ponto de vista a partir do qual a história é
contada corresponde à:
(A) primeira pessoa do singular.
(B) primeira pessoa do plural.
(C) terceira pessoa do plural.
(D) terceira pessoa do singular.
(E)
segunda pessoa do singular.
3ª
Questão. Na história da literatura brasileira, Memórias Póstumas de Brás Cubas
é estudada dentro do:
(A) Romantismo. (B) Modernismo. (C) Barroco. (D)
Naturalismo. (E) Realismo.
4ª
Questão. Em "a senhora que em 1869 devia assistir aos meus últimos dias"
(linha 2), o verbo "assistir" acompanhado da preposição "a"
(em "aos") adquire o sentido de "ver, observar". Tal uso
caracteriza, segundo a gramática normativa da língua portuguesa, um caso de:
(A) concordância verbo-nominal.
(B) verbo defectivo.
(C) uso indevido da preposição.
(D) regência verbal.
(E)
estilo.
5ª
Questão. A leitura atenta do fragmento confirma uma característica importante
da obra, a qual pode ser descrita como:
(A) ironização das relações sociais e dos tipos
representados na narrativa.
(B) idealização das personagens femininas e pessimismo
com relação à humanidade.
(C) privilégio concedido à subjetividade das
personagens e a seus problemas sentimentais.
(D) tendência de apreciar positivamente a natureza
humana, ressaltando as relações amistosas e fraternas mantidas entre os
personagens.
(E)
denúncia das injustiças sociais.
6ª
Questão. Sobre o romance, sabe-se que:
(A) a história é contada de modo tradicional por um
narrador que se autodenomina narrador-testemunha.
(B) a história não é convencional, pois é contada de
modo linear por um narrador que se autodenomina narrador-testemunha.
(C) a história não é convencional, não é contada de
modo linear e apresenta narrador que se autodenomina "defunto autor".
(D) a história, apesar de convencional e de ser
contada de modo linear, é contada por um narrador que se autodenomina "defunto
autor".
(E)
não há a construção do narrador, já que o autor se autodenomina "defunto-autor".
7ª
Questão. Observe o seguinte trecho: "Naquele tempo contava apenas
uns quinze ou dezesseis anos; era talvez a mais atrevida criatura da nossa
raça, e, com certeza, a mais voluntariosa. Não digo que já lhe
coubesse a primazia da beleza, entre as mocinhas do tempo" (linhas 3-6).
Os tempos verbais do indicativo em destaque são, respectivamente:
(A) presente e pretérito imperfeito.
(B) pretérito perfeito e pretérito imperfeito.
(C) pretérito imperfeito e pretérito imperfeito.
(D) pretérito perfeito e presente.
(E)
pretérito imperfeito e presente.
8ª Questão. Quanto ao narrador do excerto, é correto
afirmar que:
(A) ele apresenta os fatos de forma neutra e
imparcial.
(B) ele se dirige diretamente a Virgília, como se
estivesse conversando com ela, mas evita dirigir-se da mesma forma aos
leitores.
(C) ele não se dirige diretamente a Virgília,
dirigindo-se apenas aos leitores do livro.
(D) ele se dirige diretamente a Virgília e aos
potenciais leitores de sua obra.
(E)
ele evita qualquer interpelação direta a Virgília e aos leitores do livro.
9ª
Questão. Observe o trecho: "Era isto Virgília, e era clara, muito clara,
faceira, ignorante, pueril, cheia de uns ímpetos misteriosos; muita preguiça e
alguma devoção – devoção, ou talvez medo" (linhas 9-11). Assinale a
alternativa correta:
(A) trata-se de frase verbal.
(B) trata-se de frase nominal.
(C) trata-se de frase verbo-nominal.
(D) o trecho em questão não é uma frase.
(E)
o trecho em questão não apresenta orações.
10ª
Questão. A fim de caracterizar Virgília, o narrador emprega alguns adjetivos
românticos para depois contradizê-los. Tal procedimento é esclarecido por sua
oposição ao movimento estético precedente, que se afirma também na frase:
(A) "Mas então era a mesma senhora que alguns
anos depois..." (linha 1).
(B) "Aí tem o leitor, em poucas linhas, o retrato
físico e moral da pessoa que devia influir mais tarde na minha vida"
(linhas 1-2).
(C) "Não digo que já lhe coubesse a primazia da
beleza, entre as mocinhas do tempo, porque isto não é romance, em que o autor
sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas" (linhas
5-7).
(D) "Crê que era tão sincero então como agora; a
morte não me tornou rabugento, nem injusto." (linhas 15-16).
(E) "–
Mas, dirás tu, como é que podes assim discernir a verdade daquele tempo, e
exprimi-la depois de tantos anos?" (linhas 17-18).
11ª
Questão. Em: "mas também não digo que lhe maculasse o rosto
nenhuma sarda ou espinha, não" (linhas 7-8), o termo em destaque pode ser
substituído sem prejuízo do sentido por:
(A) preservasse. (B) tornasse jovial. (C) iluminasse. (D) manchasse. (E)
lustrasse.
12ª Questão. Em "Não digo" (linha 5),
verifica-se a presença de:
(A) sujeito simples. (B) sujeito indeterminado. (C) oração sem sujeito.
(D) sujeito composto. (E)
sujeito elíptico ou oculto.
13ª
Questão. É exemplo de discurso direto:
(A) "– Mas, dirás tu, como é que podes assim
discernir a verdade daquele tempo, e exprimi-la depois de tantos anos?"
(linhas 17-18).
(B) "Naquele tempo contava apenas uns quinze ou
dezesseis anos" (linhas 3-4).
(C) "Virgília?" (linha 1).
(D) "Mas então era a mesma senhora que alguns
anos depois...?" (linha 1).
(E) "Deixa
lá dizer Pascal que o homem é um caniço pensante" (linha 21).
14ª
Questão. A personagem feminina:
(A) é representada de modo impressionista.
(B) está construída segundo os modismos da época.
(C) é vista como desprovida de vontade própria.
(D) contradiz a tendência da época de idealização da
mulher.
(E)
não tem importância para o fragmento transcrito.
15ª
Questão. Em: "Aí tem o leitor, em poucas linhas, o retrato físico e moral
da pessoa que devia influir mais tarde na minha vida"
(linhas 12-13), o termo em destaque se classifica como:
(A) conjunção subordinativa. (B) conjunção coordenativa. (C) pronome relativo.
(D) conjunção integrante. (E)
pronome de tratamento.
16ª
Questão. Considerando o período em que o livro foi escrito, pode-se afirmar
que:
(A) as estruturas sintáticas não convencionais
conferem agilidade ao texto, o que o aproxima da linguagem oral.
(B) trata-se de texto extremamente complexo, com
predominância de períodos subordinados e preciosismos linguísticos.
(C) é um texto com características barrocas, as quais
determinam a predominância de uma linguagem rebuscada.
(D) predomina um tom marcadamente lírico.
(E)
há abundância de figuras de linguagem, de vocábulos eruditos e as estruturas
sintáticas são rigorosamente convencionais.
17ª Questão. Respeitando o contexto, a frase "a
edição definitiva, que o editor dá de graça aos vermes" (linha 23) permite
inferir:
(A) o otimismo do narrador e sua perspectiva
materialista da vida.
(B) o pessimismo do narrador e sua perspectiva
materialista da vida.
(C) o ceticismo e o empenho do narrador em valorizar a
vida.
(D) a generosidade daquele que o narrador chama de "editor".
(E)
a afirmação da espiritualidade do narrador.
18ª
Questão. Respeitando o contexto, a frase "Não; é uma errata pensante, isso
sim" (linhas 21-22) sugere que:
(A) os homens pensam de modo coerente e coeso,
mantendo uma evidente lógica e progressão de ideias a respeito do mundo e de si
mesmos.
(B) a razão humana muitas vezes é determinada pelos
interesses e sentimentos momentâneos do homem, de modo que suas ideias mudam
com o passar do tempo.
(C) o homem desenvolve suas reflexões no sentido de
buscar a construção do progresso social e econômico, como afirmavam as teorias
evolucionistas em voga na época.
(D) como queria o Iluminismo, o homem deve refletir a
partir dos seus sentimentos mais íntimos, desprezando o contexto em que está
inserido.
(E)
a razão não interfere na vida prática dos homens.
19ª
Questão. Em "Cada estação da vida é uma edição" (linha
22), o termo em destaque é exemplo de:
(A) prosopopeia. (B) personificação. (C) metáfora. (D) onomatopeia. (E)
antítese.
20ª
Questão. Em "Ah! Indiscreta! Ah! Ignorantona! Mas é isso mesmo que nos faz
senhores da terra, é esse poder de restaurar o passado, para tocar a
instabilidade das nossas impressões e a vaidade dos nossos afetos" (linhas
19-21), o narrador aponta para:
(A) a existência de uma Realidade única e verdadeira.
(B) o fato de que todos os homens experimentam a
Realidade do mesmo modo, independentemente das circunstâncias.
(C) a possibilidade de alcançar um conhecimento
preciso e imparcial da realidade.
(D) a impossibilidade de os homens reinterpretarem o
passado à luz do presente.
(E)
a conclusão de que a construção da História depende daqueles que a interpretam
e do contexto em que se inserem.
Leia também:
Prova de Língua Portuguesa – FEI – 2010 - 2º semestre
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