Prova
de Língua Portuguesa – FEI – 2011 - 2º semestre
O Fim do Mundo - Cecília Meireles
A primeira vez que ouvi falar no fim do mundo, o mundo para mim não tinha nenhum sentido, ainda; de modo que não me interessava nem o seu começo nem o seu fim. Lembro-me, porém, vagamente, de umas mulheres nervosas que choravam, meio desgrenhadas, e aludiam a um cometa que andava pelo céu, responsável pelo acontecimento que elas tanto temiam.
Nada disso se entendia comigo: o mundo era delas, o cometa era para elas: nós, crianças, existíamos apenas para brincar com as flores da goiabeira e as cores do tapete.
Mas, uma noite, levantaram-me da cama, enrolada num lençol, e, estremunhada, levaram-me à janela para me apresentarem à força ao temível cometa. Aquilo que até então não me interessava nada, que nem vencia a preguiça dos meus olhos pareceu-me, de repente, maravilhoso. Era um pavão branco, pousado no ar, por cima dos telhados? Era uma noiva, que caminhava pela noite, sozinha, ao encontro da sua festa?
Gostei muito do cometa. Devia sempre haver um cometa no céu, como há lua, sol, estrelas. Por que as pessoas andavam tão apavoradas? A mim não me causava medo nenhum.
Ora, o cometa desapareceu, aqueles que choravam enxugaram os olhos, o mundo não se acabou, talvez eu tenha ficado um pouco triste - mas que importância tem a tristeza das crianças?
Passou-se muito tempo. Aprendi muitas coisas, entre as quais o suposto sentido do mundo. Não duvido de que o mundo tenha sentido. Deve ter mesmo muitos, inúmeros, pois em redor de mim as pessoas mais ilustres e sabedoras fazem cada coisa que bem se vê haver um sentido do mundo peculiar a cada um.
Dizem que o mundo termina em fevereiro próximo. Ninguém fala em cometa, e é pena, porque eu gostaria de tornar a ver um cometa, para verificar se a lembrança que conservo dessa imagem do céu é verdadeira ou inventada pelo sono dos meus olhos naquela noite já muito antiga.
O mundo vai acabar, e certamente saberemos qual era o seu verdadeiro sentido. Se valeu a pena que uns trabalhassem tanto e outros tão pouco. Por que fomos tão sinceros ou tão hipócritas, tão falsos e tão leais. Por que pensamos tanto em nós mesmos ou só nos outros. Por que fizemos voto de pobreza ou assaltamos os cofres públicos - além dos particulares. Por que mentimos tanto, com palavras tão judiciosas.
Tudo isso saberemos e muito mais do que cabe enumerar numa crônica.
Se o fim do mundo for mesmo em fevereiro, convém pensarmos desde já se utilizamos este dom de viver da maneira mais digna.
Em muitos pontos da terra há pessoas, neste momento, pedindo a Deus - dono de todos os mundos - que trate com benignidade as criaturas que se preparam para encerrar a sua carreira mortal. Há mesmo alguns místicos - segundo leio - que, na Índia, lançam flores ao fogo, num rito de adoração.
Enquanto isso, os planetas assumem os lugares que lhes competem, na ordem do universo, neste universo de enigmas a que estamos ligados e no qual por vezes nos arrogamos posições que não temos - insignificantes que somos, na tremenda grandiosidade total.
Ainda há uns dias a reflexão e o arrependimento: por que não os utilizaremos?
Se o fim do mundo não for em fevereiro, todos teremos fim, em qualquer mês...
1ª
Questão. O texto acima é exemplo de:
(A)
poesia (B) conto (C) romance (D) crônica (E) artigo
2ª
Questão. “O fim do mundo” é escrito prioritariamente na:
(A)
terceira pessoa do singular.
(B)
primeira pessoa do singular.
(C)
primeira pessoa do plural.
(D)
segunda pessoa do singular.
(E)
terceira pessoa do plural.
3ª
Questão. Em “Lembro-me, porém, vagamente, de umas mulheres nervosas” (linha
03), o conectivo em destaque estabelece uma relação de:
(A)
oposição (B) explicação (C) conclusão (D) soma (E) alternância
4ª
Questão. A prosa intimista do texto não inibe as reflexões da autora sobre o
tema central, que pode ser identificado com:
(A)
os profetas que anunciam o fim do mundo.
(B)
a utopia e a melancolia inerentes à existência humana.
(C)
a reflexão sobre o sentido do mundo e da vida.
(D)
a angústia e o medo diante da morte.
(E)
a dissolução das crenças no fim do mundo.
5ª Questão. Na rememoração da infância, há:
(A)
distanciamento crítico (B)
desilusão (C)
confusão (D)
medo (E)
saudosismo
6ª
Questão. Cecília Meireles é uma escritora do período literário conhecido por:
(A)
Classicismo (B)
Realismo (C)
Romantismo (D)
Modernismo (E)
Simbolismo
7ª
Questão. Na primeira parte do texto, o olhar da criança para o mundo dos
adultos é caracterizado por:
(A)
intimidade (B) afeto (C) incompreensão (D) admiração (E) agressividade
8ª
Questão. O olhar da autora sobre a realidade a aproxima de escritores:
(A)
irônicos, como Machado de Assis.
(B)
líricos, como Carlos Drummond de Andrade.
(C)
sarcásticos, como Oswald de Andrade.
(D)
preciosistas, como Olavo Bilac.
(E)
inovadores, como Guimarães Rosa.
9ª
Questão. Cecília Meireles se impôs no cenário nacional prioritariamente como:
(A)
poetisa (B) cronista (C) romancista (D) contista (E) crítica literária
10ª
Questão. O final do terceiro parágrafo é exemplo de:
(A)
discurso direto.
(B)
diálogo.
(C)
discurso direto e indireto.
(D)
discurso onisciente.
(E)
discurso indireto livre.
11ª
Questão. Observe atentamente a construção do texto analisado e assinale a
alternativa correta:
(A)
Os parágrafos são longos e complexos.
(B)
Os parágrafos são curtos, o vocabulário simples e a linguagem é ágil.
(C)
O linguagem é bastante sofisticada devido à intrincada organização sintática do
texto.
(D)
Os vocábulos de uso cotidiano se contrapõem aos extensos períodos.
(E)
Os parágrafos curtos dificultam a interpretação do texto.
12ª
Questão. No penúltimo parágrafo, o uso dos adjetivos é fundamental para:
(A)
sugerir o ritmo acelerado dos acontecimentos nos tempos modernos.
(B)
indicar o modo pelo qual as coisas aconteciam antigamente.
(C)
questionar os hábitos dos antigos.
(D)
opor a importância que o ser humano pensa ter à importância que atribui ao
universo.
(E)
afirmar a preponderância do ser humano sobre a natureza.
13ª
Questão. Em “o mundo não se acabou” (linhas 17-18), lê-se um exemplo de:
(A)
voz ativa (B)
voz passiva (C)
voz passiva analítica (D)
voz recíproca (E)
voz reflexiva
14ª
Questão. Em “Por que mentimos tanto, com palavras tão judiciosas” (linha 32), o termo em destaque pode
ser substituído por:
(A)
difamatórias, agressivas.
(B)
incriminadoras, acusadoras.
(C)
ajuizadas, sensatas.
(D)
imprudentes, descuidadas.
(E)
requintadas, apuradas.
15ª
Questão. A leitura completa do texto sugere que a autora:
(A)
não se mostra confiante na possibilidade dos homens repensarem suas atitudes no
mundo, mas tem esperança de que, com algum esforço, isso possa acontecer.
(B)
observa com ironia as orações dirigidas a Deus diante do anúncio do fim do
mundo, pois crê que tais pedidos sejam falsos e superficiais.
(C)
tem um olhar cético sobre o homem, pois não acredita em sua habilidade de
refletir sobre o mundo e mudar suas atitudes.
(D)
é pessimista sobre a realidade de modo geral, já que ela crê que o mundo
acabará devido a guerras ou desastres naturais.
(E)
olha com indiferença para a humanidade, pois não espera nada dela.
16ª
Questão. Em “Dizem que o mundo termina em fevereiro próximo” (linha 24), há
exemplo de:
(A)
sujeito indeterminado
(B)
sujeito oculto
(C)
sujeito simples
(D)
sujeito composto
(E)
sujeito inexistente
17ª
Questão. A leitura atenta do texto permite inferir que:
(A)
há elogio à postura contemplativa do homem diante do mundo.
(B)
há uma espécie de chamamento ao leitor, para que ele se torne mais consciente
sobre as suas ações no mundo.
(C)
trata-se de um alerta para que o ser humano recicle seu lixo.
(D)
o misticismo pode conduzir o homem a assumir consciência história.
(E)
há elogio à consciência histórica que o ser humano demonstra possuir.
18ª
Questão. A oração em destaque em “Ora, o cometa desapareceu, aqueles que
choravam enxugaram os olhos, o mundo não se acabou” (linhas 17-18) é exemplo de
oração subordinada:
(A)
adjetiva explicativa
(B)
adverbial causal
(C)
adverbial comparativa
(D)
adverbial
(E) adjetiva restritiva
19ª
Questão. Em “Gostei muito do cometa” (linha 14), sintaticamente, o termo em
destaque é classificado como:
(A)
adjunto adverbial (B)
objeto direto (C)
objeto indireto (D)
sujeito (E)
adjunto adnominal
20ª
Questão. O verbo em destaque na oração “Não duvido de que o mundo tenha
sentido” (linha 21) encontra-se:
(A)
no presente do indicativo
(B)
no pretérito perfeito do indicativo
(C)
no futuro do subjuntivo
(D)
no presente do subjuntivo
(E) no pretérito do subjuntivo
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