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quinta-feira, 30 de junho de 2016

Texto: "Conversa de viajante" — Stanislaw Ponte-Preta

Conversa de viajante

            É muito interessante a mania que têm certas pessoas de comentar episódios que viveram em viagens, com   descrições de lugares e coisas, na base de “imagine você que...”. Muito interessante também é o ar superior que cavalheiros, menos providos de espírito pouquinha coisa, costumam ostentar depois que estiveram na Europa ou nos Estados Unidos (antigamente até Buenos Aires dava direito à empáfia). Aliás, em relação a viajantes, ocorrem episódios que, contando, ninguém acredita. 
"The flower seller". Louis-Marie de Schryver.
            O camarada que tinha acabado de chegar de Paris e – por sinal – com certa humildade, estava sentado numa poltrona, durante a festinha, quando a dona da casa veio apresentá-lo a um cavalheiro gordote, de bigodinho empinado, que logo se sentou a seu lado e começou a “boquejar” (como diz o Grande Otelo): 
            - Quer dizer que está vindo de Paris, hem? – arriscou. 
            O que tinha vindo fez um ar modesto: - É!!! 
            - Naturalmente o amigo não se furtou ao prazer de ir visitar o Palácio de Versalhes. 
            - Não. Não estive em Versalhes. Era muito longe do hotel onde me hospedei. 
            - Mas o amigo cometeu a temeridade de não ficar no Plaza Athénée? 
            O que não ficara no Plaza Athénée deu uma desculpa, explicou que o seu hotel fora reservado pela Cia. onde trabalha e, por isso, não tivera escolha. 
            - Bem – concordou o gordinho -, o Plaza realmente é um pouco caro, mas é muito central e há outros hotéis mais modestos que ficam perto do Plaza. – E depois de acender um cigarro, lascou: - Passeou pelo Bois? 
            - Passei pelo Bois uma vez, de táxi. 
            - Mas meu amigo vai me desculpar a franqueza; o amigo bobeou. Não há nada mais lindo do que um passeio a pé pelo Bois de Boulogne, ao cair da tarde. E não há nada mais parisiense também. 
            - É... eu já tinha ouvido falar nisso. Mas havia outras coisas a fazer. 
            - Claro... Claro... Há coisas mais importantes, principalmente no setor das artes – e sem tomar o menor fôlego: - Visitou o Louvre?... 
            - Visitei. 
            - Viu a Gioconda?
            Não. O recém-chegado não tinha visto a Gioconda. No dia em que esteve no Louvre, a Gioconda não estava em exposição. 
            - Mas o senhor prevaricou - disse o gordinho, quase zangado. – A Gioconda só está em exposição as quintas e sábados e ir ao Louvre noutros dias é negar a si mesmo uma comunhão maior com as artes. Passou uma senhora, cumprimentou o ex-viajante e, mal ela foi em frente, nova pergunta do cara: 
            - E a comida de Paris, hem amigo? Você jantava naqueles bistrozinhos de Saint-Germain? Ou preferia os restaurantes típicos de montmartre? Há um bistrô que fica numa transversal da Rue de... 
            Mas não pôde acabar de esclarecer qual era a rua, porque o interrogado foi logo afirmando que jantara quase sempre no hotel. E sua paciência se esgotou quando o chato quis saber que tal achara as mulheres do Lido. 
            - Eu não fui ao Lido também. O senhor compreende. Eu estive em Paris a serviço e sou um homem de poucas posses. Quase não tinha tempo para me distrair. De mais a mais, lá é tudo muito caro. 
            - Caríssimo – confirmou o gordinho, sem se mancar. 
      - O senhor, naturalmente, esteve lá a passeio e pôde fazer essas coisas todas – aventou, como quem se desculpa. 
            Foi aí que o gordinho botou a mãozinha rechonchuda sobre o peito e exclamou: - Eu??? Mas eu nunca estive em Paris! 

(Stanislaw Ponte-Preta, in "O melhor de Stanislaw")

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"Rita"— Rubem Braga  

“A primeira só” — Marina Colasanti
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2 comentários:

  1. Vai entender... Para que tantas perguntas, se nunca foi a Paris.

    Adore!

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  2. Oi Mauricio, estive em Paris e não fui ao Louvre, nem ao Montmartre, nem ao Saint-Germain, não fui ao Lido ver as mulheres e não fotografei nada. Tem mais: a minha máquina fotográfica era uma olympus Trip(penso que era esse o nome) e depois de ver um monte de gente com máquinas com zoom, poderosíssimas, fiquei com vergonha de tirar a minha Olympus do bolso. Hoje prefiro New Orleans a Paris. E agora tenho uma máquina muito boa. Não tão poderosa, mas muito boa.

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