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segunda-feira, 1 de maio de 2017

Prova de Língua e Literatura em Língua Portuguesa – Cásper Líbero – 2015

Prova de Língua e Literatura em Língua Portuguesa – Cásper Líbero – 2015

BLOCO A – PESO 4

Leia o texto a seguir e responda às questões de 1 a 6:

Desiguais até na crise

O abismo entre ricos e pobres continua a crescer, aponta estudo

Em um mundo angustiado pela crise econômica, aprendemos que de março de 2009 a março de 2014, exatamente o período considerado mais crítico, depois da bancarrota do Lehman Brothers, o número de bilionários do planeta dobrou: eram 793 no começo do furacão e agora somam 1.645. Os 85 mais ricos entre eles, no mesmo período, incrementaram seus capitais em 668 milhões de dólares a cada dia e sua renda equivale àquela de metade da população mundial, 3,5 bilhões de outros seres humanos. Os dados constam, entre outras “pérolas”, do recente estudo sobre a desigualdade no mundo, publicado pela Oxfam, rede internacional de 19 ONGs que combatem a pobreza. Na sequência da divulgação do relatório, originalmente chamado Even it up: time to end extreme inequality (“Equilibrando o jogo: é hora de acabar com a desigualdade extrema”, em tradução livre) foi lançada a campanha mundial de sensibilização “Equilibre o jogo”.
Crise é um termo utilizado no mundo inteiro para descrever situações diferentes, mas com um denominador comum, a desaceleração do crescimento das economias, que em média superava os 4% anuais na década passada e hoje sofre para chegar perto dos 3,5%. Para resolver os problemas provocados por esse recuo e retomar o ritmo anterior, os defensores do atual sistema econômico-financeiro indicam caminho único, a ampliação do espaço da iniciativa privada em detrimento do setor público, com corolário de cortes nos gastos sociais e intensificação da produtividade no trabalho. Em outras palavras, salários mais baixos para criar produtos mais baratos. Essa receita, baseada numa visão brutalmente quantitativa do bem-estar da humanidade e sem nenhuma atenção à equilibrada convivência social, é rotundamente recusada pela Oxfam. Com riqueza de informações e análises, a desigualdade é descrita sob diversos aspectos, e o estudo chega à conclusão de que essa praga contemporânea não só é contrária a uma ética humanista, mas também a causa fundamental da crise econômica em curso.
O primeiro mito que o relatório se encarrega de derrubar é aquele que considera natural a desigualdade entre os seres humanos. Melhor se concentrar na redução da pobreza, afirmaram os liberais a partir da Revolução Industrial, pois a compaixão é a única maneira de mitigar a lei natural que inevitavelmente produz as diferenças. Mas a desigualdade excessiva tem comprometido o combate à pobreza, apesar dos bons resultados conseguidos nesse campo até o início dos anos 80 do século passado. O abismo entre ricos e pobres nas últimas três décadas, demonstra a pesquisa, tem clara correlação com a baixa mobilidade social. Em outros termos, nos países em que o fenômeno é mais acentuado, quem nasce rico fica rico, quem nasce pobre não tem outra alternativa além de permanecer pobre. A esperança de uma vida melhor, na evolução entre pais e filhos, é banida do horizonte de bilhões de seres humanos. Com raras exceções, a desigualdade tem aumentado em todos os países do mundo. Caso particularmente emblemático, a Oxfam calcula que até na África do Sul a desigualdade é hoje maior do que no período do Apartheid. Com base em dados de 2013, 7 de cada 10 habitantes do mundo vivem em países em que a desigualdade econômica é maior do que há 30 anos.
O enriquecimento desmedido de um número restrito de indivíduos, a depender dos países, encolheu ou limitou o crescimento da classe média, comprometendo a sua capacidade de gasto e, em última análise, o motor do crescimento mundial. Desde 1990, a participação do trabalho na composição do PIB mundial é constantemente decrescente. O ataque ao valor e à dignidade do trabalho é particularmente acentuado nos países mais pobres, mas também ocorre nas nações ricas. Por consequência, o PIB mundial é composto por uma porcentagem crescente do capital, que se autoalimenta cada vez mais da especulação financeira.
As 150 páginas da pesquisa, com amplíssima bibliografia, demonstram que a desigualdade extrema também está associada à violência. A América Latina, a região mais desigual do mundo do ponto de vista econômico, reúne 41 das cidades mais violentas do planeta e registrou 1 milhão de assassinatos entre 2000 e 2010.

Países desiguais são lugares perigosos para viver, e a insegurança afeta tanto ricos quanto pobres. (...) (Claudio Bernabucci, Carta Capital n. 825, ano XX, 12 de novembro de 2014, p. 46-47).

1. Pode-se afirmar que no texto o autor aborda:

a. A política global, apoiando-se em indicadores de um relatório internacional divulgado
recentemente que orienta as nações a combaterem a desigualdade econômica e social no
mundo.
b. A desigualdade social na África e na América Latina, não somente utilizando-se de indicadores de um relatório internacional divulgado recentemente, como também fazendo uso de outros dados sobre a crise econômica global vivida entre 2009 e 2014.
c. A economia global, fazendo uso de indicadores de um relatório internacional divulgado recentemente que aponta para o crescimento da desigualdade econômica e social no mundo.
d. Ética e cidadania, baseando-se em um relatório internacional divulgado recentemente,
apresenta uma série de reflexões filosóficas sobre a natureza predatória do homem.
e. A política e a economia globais, servindo-se, dentre outras fontes, de um relatório internacional divulgado recentemente para tratar das consequências da desigualdade social em todo o mundo.

2. Segundo o texto, para os que defendem o atual sistema econômico-financeiro, a
única saída aponta para

a. o incremento das atividades ligadas à iniciativa privada, os cortes nos gastos sociais e o aumento da produtividade no trabalho.
b. o rebaixamento dos salários no setor público, os cortes nos gastos sociais e a colocação no mercado de produtos mais baratos.
c. o aumento da participação da iniciativa privada, a redução do bem-estar da humanidade e o desequilíbrio da convivência social.
d. o crescimento das economias mundiais de 3,5% para 4%, a redução dos benefícios sociais e a colocação no mercado de produtos mais baratos.
e. a deterioração do setor público, a redução nos salários e nos gastos sociais e o aumento da produtividade no trabalho.

3. Assinale a opção que apresenta corretamente, de acordo com o texto, duas consequências que a desigualdade econômica extrema pode provocar.

a. Rebaixamento no poder de compra da classe média e decréscimo do PIB mundial.
b. Ataques ao valor e à dignidade do trabalho e aumento da especulação financeira.
c. Baixa mobilidade social e violência.
d. Rebaixamento da esperança em uma vida melhor e insegurança.
e. Encolhimento da classe média e decréscimo do trabalho na composição do PIB mundial.

4. Assinale a opção que apresenta corretamente o significado do verbo “mitigar” em “... a compaixão é a única maneira de mitigar a lei natural que inevitavelmente
produz as diferenças”.

a. Anular. b. Combater. c. Aniquilar. d. Atenuar. e. Investigar.

5. A vírgula em “Países desiguais são lugares perigosos para viver, e a insegurança afeta tanto ricos quanto pobres” foi usada para separar

a. as orações coordenadas, que têm sujeitos diferentes.
b. a oração subordinada adjetiva explicativa.
c. a oração intercalada.
d. o aposto.
e. as orações coordenadas assindéticas.

6. Em “...o estudo chega à conclusão de que essa praga contemporânea não só é contrária a uma ética humanista, mas também a causa fundamental da crise econômica em curso”, a expressão “não só... mas também” tem valor de:

a. Oposição. b. Proporção. c. Concessão. d. Comparação. e. Adição.

7. Sobre o tema da viagem em Viagens na minha terra, de Almeida Garrett, é correto afirmar que:

a. Constitui uma espécie de alegoria dos profundos e delirantes mecanismos de funcionamento da alma do narrador. Como se fosse uma vivência alternativa à qual ele tivesse sido conduzido pelo movimento oscilatório de sua personalidade.
b. Implica não somente uma visita alegórica aos valores e glórias lusitanos, mas também uma espécie de pretexto para a discussão de ideias sobre indivíduo, povo, história, política, cultura, valores morais, costumes, mitos, tradições, poesia, artes, progresso e passado.
c. Obedece a um padrão onírico, com um encanto especial pela natureza do sonho, em que convivem personagens históricos de épocas completamente distintas, mas todos vinculados à bela tradição do passado.
d. Sugere alcançar a mais perigosa de todas as terras: o passado glorioso que não volta mais. Para chegar de fato a esse destino, o narrador terá de recorrer a todas as qualidades que constroem um verdadeiro herói: a coragem, a prudência, a astúcia e a paciência.
e. Nunca corresponde a um movimento meramente geográfico ou físico. Viajando em direção ao inconsciente do ser humano, o narrador descobre um caráter limitado, mesquinho, ocioso, vulgar, insensível, interesseiro e volúvel.

8. Assinale a opção que apresenta corretamente a análise crítica de Viagens na minha terra, de Almeida Garrett:

a. “Nesse mundo textual em que as personagens são reduzidas a tipos e em que a ironia se exerce tão poderosamente no sentido de impedir a identificação sentimental, altera-se, em relação ao paradigma romântico, a própria forma de leitura, centrando-se o interesse agora no mundo paralelo dos sonhos da personagem, na evocação sensória dos vários ambientes em que decorre a narrativa, na caracterização de personagens que, do ponto de vista da intriga, tem pouca ou nenhuma importância actancial”. (Paulo Franchetti).
b. “A tensão essência/aparência transparece na narrativa através da utilização de um recurso bastante comum no autor: a ironia. Por meio dela, afirmamos o contrário do que realmente queremos dizer – o que indica que, quase sempre precisamos contar com o auxílio do contexto para compreender um mecanismo irônico. O narrador utiliza-se da ironia para revelar verdades subterrâneas, que a sociedade em que transita insiste em reprimir. Mas acaba revelando mesmo sua relação hipócrita com essa sociedade”. (Fernando Marcílio Lopes Couto).
c. “Uma dessas regras, em plano que não o da moral, codificou que a narrativa folhetinesca, em plena expansão por causa do surgimento dos jornais, devia ser entrecortada, carregada de surpresas, de reviravoltas, de ganchos e de suspense como forma de escravizar ou de – vá lá um verbo menos grosso e mais atual – fidelizar o leitor. Nesta perspectiva, ia-se avolumando, passo a passo, a complicação narrativa como recurso de saturação de expectativas até que se precipitavam um desenlace, de preferência bombástico, e uma farta distribuição de recompensas e de punições”. (Antonio Dimas).
d. “Convertida em fábula, a intriga do livro parece simplista. Todavia, reconduzida ao texto, a estória apresenta-se antes como observação de paixões do que apenas como romance sentimental. O texto investiga tanto a razão quanto os sentimentos, assim como a sensibilidade, a sensação e os sentidos. A densidade artística do livro associa-se ainda à engenhosa fragmentação do tempo narrativo”. (Ivan Teixeira).
e. “O que se vê, e se verá a seguir no romance, é o conflito entre o sujeito que sente pulsar em si instintos e inclinações, dos mais nobres aos mais básicos, para imediatamente perceber a constrição do mundo social e natural, que, segundo a voga do tempo, impunha-se ao homem, imbatível”. (Pedro Meira Monteiro).

9. Sobre A cidade e as serras, de Eça de Queirós, é correto afirmar que:

a. O modelo do romance de tese é levado adiante pelo narrador com o intuito de lançar
uma interrogação moral sobre a sociedade contemporânea. O foco desloca-se para o
comportamento dos proprietários de terras e moradores de uma região serrana, onde passa a habitar o protagonista.
b. A cidade de Paris oferece o cenário ideal para a primeira parte da narrativa, que capta a geografia da cidade-luz e seus problemas urbanísticos advindos da modernização acelerada que remodelou as fachadas e os traçados das ruas.
c. Por meio de seu discurso ordenado e lógico, o narrador procura resolver sua angústia existencial. Depois de persuadir a si, quer persuadir os outros de sua verdade, incorrendo entretanto em duas falácias: do ponto de vista jurídico, peca por basear a persuasão no verossímil; do ponto de vista moral, por sustentar suas justificativas pelo provável.
d. O romance desenvolve um estudo de temperamentos em que os dados psicológicos, fisiológicos e sociológicos se combinam, conferindo maior densidade às figuras humanas, sejam elas moradoras da cidade grande, sejam habitantes do campo.
e. Jacinto é o protagonista que empreende uma busca, que inicia a narrativa ansiando pela totalidade e a encerra usufruindo da obtenção do possível; que se lança em direção ao conhecimento e termina premiado pela aquisição da experiência.

10. Assinale a opção que apresenta corretamente a análise crítica de A cidade e as
serras, de Eça de Queirós.

a. “A paixão da personagem dessa história, que começa sendo o conhecimento e o poder, termina por ser a contemplação da ‘verdade’. Ou melhor, a contemplação de uma verdade, a verdade da ‘natureza’, que permite o término da demanda de Jacinto, com a conquista do objeto do seu desejo: o findar da inquietação que o caracterizava desde o princípio da história narrada”. (Paulo Franchetti).
b. “Se por um lado, temos como protagonistas os herdeiros de uma aristocracia rural, mandatária e poderosa, por outro são estes os que melhor personificam a tradição do não trabalho e a eleição do ócio como modo de existência. Eça de Queirós dá vida a personagens masculinos desprovidos de capacidade produtiva, incapazes de transformar a fisionomia de um país carente de urgentes transformações”. (Monica Figueiredo).
c. “O narrador conduz o leitor aos bastidores da ficção, levantando questões de método e escancarando os procedimentos da escrita. Ao mesmo tempo que rompe com as convenções do ilusionismo ficcional, mostrando o que há por trás das linhas vistas, faz dessa quebra matéria para a construção de um novo tipo de pacto com nós, leitores”. (Hélio Guimarães).
d. “Um livro movido pela paixão da nomeada seria assim um livro que toma a vida como acidente e, ao mesmo tempo, mantém com ela uma relação necessária e essencial: ao mesmo tempo ficção e autobiografia, romance e memórias, reconfiguração da vida pelo romanesco e mobilização do romanesco para continuação da vida depois da morte”. (Abel Barros Baptista).
e. “As personagens do livro são, na maioria, tipos. As personagens típicas, bem como as
alegóricas, costumam ser esquemáticas, superficiais. Na medida em que se configuram como representações de ideias ou tipos sociais, tendem a não apresentar traços profundos ou atitudes surpreendentes. (...) Como tais, muitas dessas personagens são concebidas como instrumentos de crítica a uma sociedade de valores superficiais”. (Marise Hansen).

11. Sobre os contos que integram a coletânea Papéis avulsos, de Machado de Assis, é correto afirmar que:

a. “A chinela turca” trata de um tipo genuinamente brasileiro – o indivíduo provinciano que tem verdadeira adoração pelos folhetins que chegam da Europa –, deslocando o foco de tensão narrativa da observação do indivíduo para a análise da sociedade.
b. O problema fundamental de “Dona Benedita” é o da identidade, tratado não somente pela proposição da pergunta “quem sou eu ou o que sou eu?” como também pela análise dos limites que há entre razão e loucura.
c. “O espelho” trata do vácuo interior ou da existência questionável da alma humana, construindo uma espécie de alegoria moderna das divisões da personalidade e da relatividade do ser.
d. O problema que conduz a narrativa de “O anel de Polícrates” é o da relação entre fato real e fato imaginado, levando o protagonista Xavier a duvidar do que realmente lhe aconteceu.
e. “A sereníssima república” aborda a força da publicidade, um tema bastante em voga na época em que foi escrito, quando o poder dos anúncios invadia as páginas dos grandes jornais.

12. Sobre Os melhores contos, de João Antônio, é correto afirmar que:

a. Neles, é possível distinguir um fio de sentimentalismo que vai atravessando cada texto, quer o narrador trate do amor, das pequenas coisas do dia a dia, do mundo da malandragem.
b. Vê-se neles uma espécie de neutralidade estratégica, que faz o real sobressair, sobretudo porque os textos são escritos em uma prosa dura, reduzida às frases mínimas, adequada para representar a força da vida.
c. O escritor trata suas criaturas com uma ironia feroz, mas que deixa entrever uma funda ternura, cuja expressão acaba envolvendo o leitor, fazendo com que se apaguem os traços de perpétua revolta contra a sociedade e em seu lugar surja uma tentativa de compreender os homens que a integram.
d. As histórias são narradas a partir da voz dos próprios personagens, que não protagonizam os acontecimentos, mas são observadores privilegiados de um mundo que lhes é tão estranho, habitado por prostitutas, bandidos e bêbados.
e. Seus personagens são seres inicialmente condenados à solidão e ao isolamento; suas relações rompem-se ao final das narrativas, quando eles estabelecem algum tipo de contato com o Outro, e passam a usufruir, então, de algum tipo de solidariedade.

BLOCO B – PESO 3

18. Assinale a opção que apresenta corretamente um excerto de O alienista, de Machado de Assis, que faz referência a um episódio da Revolução Francesa.

a. “Ao cabo de sete dias expiraram as festas públicas; Itaguaí tinha finalmente uma casa de Orates”.
b. “Não era um repto, um ato intencional; mas todos o interpretaram dessa maneira, e a vila respirou com a esperança de que o alienista dentro de vinte e quatro horas estaria a ferros, e destruído o terrível cárcere”.
c. “Daí as aclamações públicas, a imensa gente que atulhava as ruas, as flâmulas, as flores e damascos às janelas.”
d. “Uma vez, por exemplo, compôs uma ode à queda do marquês de Pombal, em que dizia que esse ministro era o ‘dragão aspérrimo do Nada’, esmagado pelas ‘garras vingadoras do Todo’”.
e. “– Deus engendrou um ovo, o ovo engendrou a espada, a espada engendrou Davi, Davi engendrou a púrpura, a púrpura engendrou o duque, o duque engendrou o marquês, o marquês engendrou o conde, que sou eu.”

19. Assinale a opção que apresenta corretamente a análise crítica de Capitães da areia, de Jorge Amado.

a. “O realismo do escritor não é orgânico nem espontâneo. É crítico. O ‘herói’ é sempre um problema: não aceita o mundo, nem os outros, nem a si mesmo. Sofrendo pelas distâncias que o separam da placenta familiar ou grupal, introjeta o conflito numa conduta de extrema dureza, que é a sua única máscara possível”. (Alfredo Bosi).
b. “O romance reafirma as qualidades que o escritor atribui aos filhos de nosso país – coragem, capacidade de extrair força da adversidade, imaginação vigorosa. Ele sugere ainda que elas não são apenas uma conquista, mas algo que já existe naturalmente em nós. (...) Torna-se mais forte ainda, aqui, o otimismo com que o escritor vê o Brasil, quase sempre, é verdade, temperado pela violência”. (José Castello).
c. “A indeterminação semântica ou a duplicidade que rege o texto encontra eco na concepção do cenário, dos personagens e na caracterização do herói principal, projeta-se também na trama narrativa, cujo enunciado segue uma orientação dupla”. (Gilda de Mello e Souza).
d. “Em lugar da família restrita, unida por laços de sangue, e perturbada pelo contato com estranhos, vemos uma destas moléculas algo soltas e contingentes, que se podem chamar uma parentela, em que ao sabor das circunstâncias e das conveniências se associam os laços de sangue, o compadrio e os favores trocados”. (Roberto Schwarz).
e. “O escritor parece divertir-se e, todavia, comover-se com seus mitos, tanto quanto o menino com seus brinquedos e o primitivo com suas superstições ao considerá-los objetos reais dentro do reino em que vivem, o sobrenatural. Tal como eles, com alegria e unção, o poeta ultrapassa os limites da realidade em seus patos (pathos) criadores”. (Henrique Lisboa).

20. Sobre Tropicália, de Marcelo Machado, é correto afirmar que:

a. O Tropicalismo constituiu uma manifestação cultural coesa e articulada em torno de ideais políticos que procuravam combater a ditadura militar instalada no Brasil em 1964.
b. O movimento tropicalista estendeu-se para além da promulgação do AI-5, em 1968, sendo levado para a Inglaterra com bastante êxito por Caetano Veloso e Gilberto Gil, que se exilaram naquele país.
c. Os tropicalistas retomaram alguns pilares da vanguarda concretista da década de 1950, sobretudo o aspecto visual dos poemas – o que os levou a serem anunciados como criadores neoconcretistas.
d. Para além da música, o Tropicalismo compreendeu criações em diversas áreas artísticas, como o teatro do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC-UNE), as instalações do artista plástico Hélio Oiticica e o cinema de Glauber Rocha e de Rogério Sganzerla, por exemplo.
e. Para os tropicalistas, a cultura brasileira era produto de uma mistura – a chamada “geleia geral” –, que não poderia ser resolvida na base de uma síntese coerente e definitiva. Assim, conviviam nas criações tropicalistas a música internacional e as raízes brasileiras, a vanguarda e o kitsch, o acústico e o elétrico.

21. Assinale a opção que apresenta corretamente a análise crítica de Toda poesia, de Paulo Leminski:
a. “O poeta, como se fosse parnasiano até os limites do delírio, substituiu a realidade social pela realidade imaginária da arte pura, desprezando a multidão e fazendo da poesia uma arma da reação, um narcótico dos intelectuais”. (Otto Maria Carpeaux).
b. “Mas a sensualidade exaltada (na linguagem) e reprimida, que se manifesta na lírica pelo acirramento e pela conciliação dos contrários, explode na poesia erótica, ou erótico-irônica, de outro modo”. (José Miguel Wisnik).
c. “É então que o poeta desgarrado e erradio, abandonado à própria sorte num mundo hostil, reencontra as imagens caras da infância, os cheiros, as cores, as ruas, os quintais de sua cidade natal: a cidade imaginária, fruto do desejo e do trabalho, que o homem carrega intacta na memória frente à catástrofe”. (Davi Arrigucci Jr.)
d. “Sua trajetória trouxe à luz as fraturas de toda vanguarda pós-68. O poeta tentou criar não só uma escrita, mas uma antropologia poética pela qual a aposta no acaso e nas técnicas ultramodernas de comunicação não inibisse o apelo a uma utopia comunitária”. (Alfredo Bosi).
e. “Entre o tema lamentoso (que pode fazer de uma canção do exílio uma canção sobre o exílio, isto é, conformista e perpetuadora da distância) e a altiva ‘ausência’ de tema (que só pode se reduzir ao tema-linguagem), o poeta prefere optar pela consciência presente e crítica do passado”. (Alcides Villaça).

22. Poema 1

o bicho alfabeto
tem vinte e três patas
ou quase
por onde ele passa
nascem palavras
e frases
com frases
se fazem asas
palavras
o vento leve
o bicho alfabeto
passa
fica o que não se escreve

Poema 2

operação de vista
De uma noite, vim.
Para uma noite, vamos,
uma rosa de Guimarães
nos ramos de Graciliano.
Finnegans Wake à direita
un coup de dés à esquerda
que coisa pode ser feita
que não seja pura perda?

Poema 3

Um bom poema
leva anos
cinco jogando bola,
mais cinco estudando sânscrito,
seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha,
sete levando porrada,
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade,
dez trocando de assunto,
uma eternidade, eu e você,
caminhando junto

Os três poemas de Paulo Leminski reproduzidos acima apresentam um forte conteúdo:

a. Metafísico. b. Sinestésico. c. Metalinguístico. d. Paradoxal. e. Metonímico.

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