Prova de Língua e
Literatura em Língua Portuguesa – Cásper Líbero – 2015
Leia o texto a seguir e responda às questões de 1 a 6:
Desiguais até na crise
O abismo entre ricos e pobres continua a crescer, aponta estudo
Em um mundo angustiado pela crise econômica,
aprendemos que de março de 2009 a março de 2014, exatamente o período
considerado mais crítico, depois da bancarrota do Lehman Brothers, o número de
bilionários do planeta dobrou: eram 793 no começo do furacão e agora somam
1.645. Os 85 mais ricos entre eles, no mesmo período, incrementaram seus
capitais em 668 milhões de dólares a cada dia e sua renda equivale àquela de
metade da população mundial, 3,5 bilhões de outros seres humanos. Os dados
constam, entre outras “pérolas”, do recente estudo sobre a desigualdade no
mundo, publicado pela Oxfam, rede internacional de 19 ONGs que combatem a
pobreza. Na sequência da divulgação do relatório, originalmente chamado Even
it up: time to end extreme inequality (“Equilibrando o jogo: é hora de
acabar com a desigualdade extrema”, em tradução livre) foi lançada a campanha
mundial de sensibilização “Equilibre o jogo”.
Crise é um termo utilizado no mundo inteiro para
descrever situações diferentes, mas com um denominador comum, a desaceleração
do crescimento das economias, que em média superava os 4% anuais na década
passada e hoje sofre para chegar perto dos 3,5%. Para resolver os problemas
provocados por esse recuo e retomar o ritmo anterior, os defensores do atual
sistema econômico-financeiro indicam caminho único, a ampliação do espaço da
iniciativa privada em detrimento do setor público, com corolário de cortes nos
gastos sociais e intensificação da produtividade no trabalho. Em outras
palavras, salários mais baixos para criar produtos mais baratos. Essa receita,
baseada numa visão brutalmente quantitativa do bem-estar da humanidade e sem
nenhuma atenção à equilibrada convivência social, é rotundamente recusada pela
Oxfam. Com riqueza de informações e análises, a desigualdade é descrita sob
diversos aspectos, e o estudo chega à conclusão de que essa praga contemporânea
não só é contrária a uma ética humanista, mas também a causa fundamental da
crise econômica em curso.
O primeiro mito que o relatório se encarrega de
derrubar é aquele que considera natural a desigualdade entre os seres humanos.
Melhor se concentrar na redução da pobreza, afirmaram os liberais a partir da
Revolução Industrial, pois a compaixão é a única maneira de mitigar a lei
natural que inevitavelmente produz as diferenças. Mas a desigualdade excessiva
tem comprometido o combate à pobreza, apesar dos bons resultados conseguidos
nesse campo até o início dos anos 80 do século passado. O abismo entre ricos e
pobres nas últimas três décadas, demonstra a pesquisa, tem clara correlação com
a baixa mobilidade social. Em outros termos, nos países em que o fenômeno é
mais acentuado, quem nasce rico fica rico, quem nasce pobre não tem outra
alternativa além de permanecer pobre. A esperança de uma vida melhor, na evolução
entre pais e filhos, é banida do horizonte de bilhões de seres humanos. Com
raras exceções, a desigualdade tem aumentado em todos os países do mundo. Caso particularmente
emblemático, a Oxfam calcula que até na África do Sul a desigualdade é hoje
maior do que no período do Apartheid. Com base em dados de 2013, 7 de
cada 10 habitantes do mundo vivem em países em que a desigualdade econômica é
maior do que há 30 anos.
O enriquecimento desmedido de um número restrito de
indivíduos, a depender dos países, encolheu ou limitou o crescimento da classe
média, comprometendo a sua capacidade de gasto e, em última análise, o motor do
crescimento mundial. Desde 1990, a participação do trabalho na composição do
PIB mundial é constantemente decrescente. O ataque ao valor e à dignidade do
trabalho é particularmente acentuado nos países mais pobres, mas também ocorre
nas nações ricas. Por consequência, o PIB mundial é composto por uma
porcentagem crescente do capital, que se autoalimenta cada vez mais da
especulação financeira.
As 150 páginas da pesquisa, com amplíssima
bibliografia, demonstram que a desigualdade extrema também está associada à
violência. A América Latina, a região mais desigual do mundo do ponto de vista
econômico, reúne 41 das cidades mais violentas do planeta e registrou 1 milhão
de assassinatos entre 2000 e 2010.
Países desiguais são lugares perigosos para viver, e a insegurança afeta
tanto ricos quanto pobres. (...) (Claudio
Bernabucci, Carta Capital n. 825, ano XX, 12 de novembro de 2014, p.
46-47).
1. Pode-se afirmar que no texto o autor aborda:
a. A política global, apoiando-se em indicadores de um relatório
internacional divulgado
recentemente que orienta as nações a combaterem a desigualdade econômica
e social no
mundo.
b. A desigualdade social na África e na América Latina, não somente
utilizando-se de indicadores de um relatório internacional divulgado
recentemente, como também fazendo uso de outros dados sobre a crise econômica
global vivida entre 2009 e 2014.
c. A economia global, fazendo uso de indicadores de um relatório
internacional divulgado recentemente que aponta para o crescimento da
desigualdade econômica e social no mundo.
d. Ética e cidadania, baseando-se em um relatório internacional
divulgado recentemente,
apresenta uma série de reflexões filosóficas sobre a natureza predatória
do homem.
e. A política e a economia globais, servindo-se, dentre outras fontes,
de um relatório internacional divulgado recentemente para tratar das
consequências da desigualdade social em todo o mundo.
2. Segundo o texto, para os que defendem o atual sistema
econômico-financeiro, a
única saída aponta para
a. o incremento das atividades ligadas à iniciativa privada, os cortes
nos gastos sociais e o aumento da produtividade no trabalho.
b. o rebaixamento dos salários no setor público, os cortes nos gastos
sociais e a colocação no mercado de produtos mais baratos.
c. o aumento da participação da iniciativa privada, a redução do
bem-estar da humanidade e o desequilíbrio da convivência social.
d. o crescimento das economias mundiais de 3,5% para 4%, a redução dos
benefícios sociais e a colocação no mercado de produtos mais baratos.
e. a deterioração do setor público, a redução nos salários e nos gastos
sociais e o aumento da produtividade no trabalho.
3. Assinale a opção que apresenta corretamente, de acordo com o texto,
duas consequências que a desigualdade econômica extrema pode provocar.
a. Rebaixamento no poder de compra da classe média e decréscimo do PIB
mundial.
b. Ataques ao valor e à dignidade do trabalho e aumento da especulação
financeira.
c. Baixa mobilidade social e violência.
d. Rebaixamento da esperança em uma vida melhor e insegurança.
e. Encolhimento da classe média e decréscimo do trabalho na composição
do PIB mundial.
4. Assinale a opção que apresenta corretamente o significado do verbo
“mitigar” em “... a compaixão é a única maneira de mitigar a lei natural que
inevitavelmente
produz as diferenças”.
a. Anular. b. Combater. c. Aniquilar. d. Atenuar. e. Investigar.
5. A vírgula em “Países desiguais são lugares perigosos para viver, e a
insegurança afeta tanto ricos quanto pobres” foi usada para separar
a. as orações coordenadas, que têm sujeitos diferentes.
b. a oração subordinada adjetiva explicativa.
c. a oração intercalada.
d. o aposto.
e. as orações coordenadas assindéticas.
6. Em “...o estudo chega à conclusão de que essa praga contemporânea não
só é contrária a uma ética humanista, mas também a causa fundamental da crise econômica
em curso”, a expressão “não só... mas também” tem valor de:
a. Oposição. b. Proporção. c. Concessão. d. Comparação. e. Adição.
7. Sobre o tema da viagem em Viagens na minha terra, de Almeida
Garrett, é correto afirmar que:
a. Constitui uma espécie de alegoria dos profundos e delirantes
mecanismos de funcionamento da alma do narrador. Como se fosse uma vivência
alternativa à qual ele tivesse sido conduzido pelo movimento oscilatório de sua
personalidade.
b. Implica não somente uma visita alegórica aos valores e glórias
lusitanos, mas também uma espécie de pretexto para a discussão de ideias sobre
indivíduo, povo, história, política, cultura, valores morais, costumes, mitos,
tradições, poesia, artes, progresso e passado.
c. Obedece a um padrão onírico, com um encanto especial pela natureza do
sonho, em que convivem personagens históricos de épocas completamente
distintas, mas todos vinculados à bela tradição do passado.
d. Sugere alcançar a mais perigosa de todas as terras: o passado
glorioso que não volta mais. Para chegar de fato a esse destino, o narrador
terá de recorrer a todas as qualidades que constroem um verdadeiro herói: a
coragem, a prudência, a astúcia e a paciência.
e. Nunca corresponde a um movimento meramente geográfico ou físico.
Viajando em direção ao inconsciente do ser humano, o narrador descobre um
caráter limitado, mesquinho, ocioso, vulgar, insensível, interesseiro e
volúvel.
8. Assinale a opção que apresenta corretamente a análise crítica de Viagens
na minha terra, de Almeida Garrett:
a. “Nesse mundo textual em que as personagens são reduzidas a tipos e em
que a ironia se exerce tão poderosamente no sentido de impedir a identificação
sentimental, altera-se, em relação ao paradigma romântico, a própria forma de
leitura, centrando-se o interesse agora no mundo paralelo dos sonhos da
personagem, na evocação sensória dos vários ambientes em que decorre a
narrativa, na caracterização de personagens que, do ponto de vista da intriga,
tem pouca ou nenhuma importância actancial”. (Paulo Franchetti).
b. “A tensão essência/aparência transparece na narrativa através da
utilização de um recurso bastante comum no autor: a ironia. Por meio dela,
afirmamos o contrário do que realmente queremos dizer – o que indica que, quase
sempre precisamos contar com o auxílio do contexto para compreender um
mecanismo irônico. O narrador utiliza-se da ironia para revelar verdades subterrâneas,
que a sociedade em que transita insiste em reprimir. Mas acaba revelando mesmo
sua relação hipócrita com essa sociedade”. (Fernando Marcílio Lopes Couto).
c. “Uma dessas regras, em plano que não o da moral, codificou que a
narrativa folhetinesca, em plena expansão por causa do surgimento dos jornais,
devia ser entrecortada, carregada de surpresas, de reviravoltas, de ganchos e
de suspense como forma de escravizar ou de – vá lá um verbo menos grosso e mais
atual – fidelizar o leitor. Nesta perspectiva, ia-se avolumando, passo a passo,
a complicação narrativa como recurso de saturação de expectativas até que se
precipitavam um desenlace, de preferência bombástico, e uma farta distribuição
de recompensas e de punições”. (Antonio Dimas).
d. “Convertida em fábula, a intriga do livro parece simplista. Todavia,
reconduzida ao texto, a estória apresenta-se antes como observação de paixões
do que apenas como romance sentimental. O texto investiga tanto a razão quanto
os sentimentos, assim como a sensibilidade, a sensação e os sentidos. A
densidade artística do livro associa-se ainda à engenhosa fragmentação do tempo
narrativo”. (Ivan Teixeira).
e. “O que se vê, e se verá a seguir no romance, é o conflito entre o
sujeito que sente pulsar em si instintos e inclinações, dos mais nobres aos
mais básicos, para imediatamente perceber a constrição do mundo social e
natural, que, segundo a voga do tempo, impunha-se ao homem, imbatível”. (Pedro
Meira Monteiro).
9. Sobre A cidade e as serras, de Eça de Queirós, é correto
afirmar que:
a. O modelo do romance de tese é levado adiante pelo narrador com o
intuito de lançar
uma interrogação moral sobre a sociedade contemporânea. O foco
desloca-se para o
comportamento dos proprietários de terras e moradores de uma região
serrana, onde passa a habitar o protagonista.
b. A cidade de Paris oferece o cenário ideal para a primeira parte da
narrativa, que capta a geografia da cidade-luz e seus problemas urbanísticos
advindos da modernização acelerada que remodelou as fachadas e os traçados das
ruas.
c. Por meio de seu discurso ordenado e lógico, o narrador procura
resolver sua angústia existencial. Depois de persuadir a si, quer persuadir os
outros de sua verdade, incorrendo entretanto em duas falácias: do ponto de
vista jurídico, peca por basear a persuasão no verossímil; do ponto de vista
moral, por sustentar suas justificativas pelo provável.
d. O romance desenvolve um estudo de temperamentos em que os dados
psicológicos, fisiológicos e sociológicos se combinam, conferindo maior
densidade às figuras humanas, sejam elas moradoras da cidade grande, sejam
habitantes do campo.
e. Jacinto é o protagonista que empreende uma busca, que inicia a
narrativa ansiando pela totalidade e a encerra usufruindo da obtenção do
possível; que se lança em direção ao conhecimento e termina premiado pela
aquisição da experiência.
10. Assinale a opção que apresenta corretamente a análise crítica de A
cidade e as
serras, de Eça de Queirós.
a. “A paixão da personagem dessa história, que começa sendo o
conhecimento e o poder, termina por ser a contemplação da ‘verdade’. Ou melhor,
a contemplação de uma verdade, a verdade da ‘natureza’, que permite o término
da demanda de Jacinto, com a conquista do objeto do seu desejo: o findar da
inquietação que o caracterizava desde o princípio da história narrada”. (Paulo
Franchetti).
b. “Se por um lado, temos como protagonistas os herdeiros de uma
aristocracia rural, mandatária e poderosa, por outro são estes os que melhor
personificam a tradição do não trabalho e a eleição do ócio como modo de
existência. Eça de Queirós dá vida a personagens masculinos desprovidos de
capacidade produtiva, incapazes de transformar a fisionomia de um país carente
de urgentes transformações”. (Monica Figueiredo).
c. “O narrador conduz o leitor aos bastidores da ficção, levantando
questões de método e escancarando os procedimentos da escrita. Ao mesmo tempo
que rompe com as convenções do ilusionismo ficcional, mostrando o que há por
trás das linhas vistas, faz dessa quebra matéria para a construção de um novo tipo
de pacto com nós, leitores”. (Hélio Guimarães).
d. “Um livro movido pela paixão da nomeada seria assim um livro que toma
a vida como acidente e, ao mesmo tempo, mantém com ela uma relação necessária e
essencial: ao mesmo tempo ficção e autobiografia, romance e memórias,
reconfiguração da vida pelo romanesco e mobilização do romanesco para
continuação da vida depois da morte”. (Abel Barros Baptista).
e. “As personagens do livro são, na maioria, tipos. As personagens típicas,
bem como as
alegóricas, costumam ser esquemáticas, superficiais. Na medida em que se
configuram como representações de ideias ou tipos sociais, tendem a não
apresentar traços profundos ou atitudes surpreendentes. (...) Como tais, muitas
dessas personagens são concebidas como instrumentos de crítica a uma sociedade
de valores superficiais”. (Marise Hansen).
11. Sobre os contos que integram a coletânea Papéis avulsos, de
Machado de Assis, é correto afirmar que:
a. “A chinela turca” trata de um tipo genuinamente brasileiro – o
indivíduo provinciano que tem verdadeira adoração pelos folhetins que chegam da
Europa –, deslocando o foco de tensão narrativa da observação do indivíduo para
a análise da sociedade.
b. O problema fundamental de “Dona Benedita” é o da identidade, tratado
não somente pela proposição da pergunta “quem sou eu ou o que sou eu?” como
também pela análise dos limites que há entre razão e loucura.
c. “O espelho” trata do vácuo interior ou da existência questionável da
alma humana, construindo uma espécie de alegoria moderna das divisões da
personalidade e da relatividade do ser.
d. O problema que conduz a narrativa de “O anel de Polícrates” é o da
relação entre fato real e fato imaginado, levando o protagonista Xavier a
duvidar do que realmente lhe aconteceu.
e. “A sereníssima república” aborda a força da publicidade, um tema
bastante em voga na época em que foi escrito, quando o poder dos anúncios
invadia as páginas dos grandes jornais.
12. Sobre Os melhores contos, de João Antônio, é correto afirmar
que:
a. Neles, é possível distinguir um fio de sentimentalismo que vai
atravessando cada texto, quer o narrador trate do amor, das pequenas coisas do
dia a dia, do mundo da malandragem.
b. Vê-se neles uma espécie de neutralidade estratégica, que faz o real
sobressair, sobretudo porque os textos são escritos em uma prosa dura, reduzida
às frases mínimas, adequada para representar a força da vida.
c. O escritor trata suas criaturas com uma ironia feroz, mas que deixa
entrever uma funda ternura, cuja expressão acaba envolvendo o leitor, fazendo
com que se apaguem os traços de perpétua revolta contra a sociedade e em seu
lugar surja uma tentativa de compreender os homens que a integram.
d. As histórias são narradas a partir da voz dos próprios personagens,
que não protagonizam os acontecimentos, mas são observadores privilegiados de
um mundo que lhes é tão estranho, habitado por prostitutas, bandidos e bêbados.
e. Seus personagens são seres inicialmente condenados à solidão e ao
isolamento; suas relações rompem-se ao final das narrativas, quando eles
estabelecem algum tipo de contato com o Outro, e passam a usufruir, então, de
algum tipo de solidariedade.
BLOCO B – PESO 3
18. Assinale a opção que apresenta corretamente um excerto de O
alienista, de Machado de Assis, que faz referência a um episódio da
Revolução Francesa.
a. “Ao cabo de sete dias expiraram as festas públicas; Itaguaí tinha
finalmente uma casa de Orates”.
b. “Não era um repto, um ato intencional; mas todos o interpretaram
dessa maneira, e a vila respirou com a esperança de que o alienista dentro de
vinte e quatro horas estaria a ferros, e destruído o terrível cárcere”.
c. “Daí as aclamações públicas, a imensa gente que atulhava as ruas, as
flâmulas, as flores e damascos às janelas.”
d. “Uma vez, por exemplo, compôs uma ode à queda do marquês de Pombal,
em que dizia que esse ministro era o ‘dragão aspérrimo do Nada’, esmagado pelas
‘garras vingadoras do Todo’”.
e. “– Deus engendrou um ovo, o ovo engendrou a espada, a espada
engendrou Davi, Davi engendrou a púrpura, a púrpura engendrou o duque, o duque
engendrou o marquês, o marquês engendrou o conde, que sou eu.”
19. Assinale a opção que apresenta corretamente a análise crítica de Capitães
da areia, de Jorge Amado.
a. “O realismo do escritor não é orgânico nem espontâneo. É crítico. O
‘herói’ é sempre um problema: não aceita o mundo, nem os outros, nem a si
mesmo. Sofrendo pelas distâncias que o separam da placenta familiar ou grupal,
introjeta o conflito numa conduta de extrema dureza, que é a sua única máscara
possível”. (Alfredo Bosi).
b. “O romance reafirma as qualidades que o escritor atribui aos filhos
de nosso país – coragem, capacidade de extrair força da adversidade, imaginação
vigorosa. Ele sugere ainda que elas não são apenas uma conquista, mas algo que
já existe naturalmente em nós. (...) Torna-se mais forte ainda, aqui, o
otimismo com que o escritor vê o Brasil, quase sempre, é verdade, temperado
pela violência”. (José Castello).
c. “A indeterminação semântica ou a duplicidade que rege o texto
encontra eco na concepção do cenário, dos personagens e na caracterização do
herói principal, projeta-se também na trama narrativa, cujo enunciado segue uma
orientação dupla”. (Gilda de Mello e Souza).
d. “Em lugar da família restrita, unida por laços de sangue, e
perturbada pelo contato com estranhos, vemos uma destas moléculas algo soltas e
contingentes, que se podem chamar uma parentela, em que ao sabor das
circunstâncias e das conveniências se associam os laços de sangue, o compadrio
e os favores trocados”. (Roberto Schwarz).
e. “O escritor parece divertir-se e, todavia, comover-se com seus mitos,
tanto quanto o menino com seus brinquedos e o primitivo com suas superstições
ao considerá-los objetos reais dentro do reino em que vivem, o sobrenatural.
Tal como eles, com alegria e unção, o poeta ultrapassa os limites da realidade
em seus patos (pathos) criadores”. (Henrique Lisboa).
20. Sobre Tropicália, de Marcelo Machado, é correto afirmar que:
a. O Tropicalismo constituiu uma manifestação cultural coesa e
articulada em torno de ideais políticos que procuravam combater a ditadura
militar instalada no Brasil em 1964.
b. O movimento tropicalista estendeu-se para além da promulgação do
AI-5, em 1968, sendo levado para a Inglaterra com bastante êxito por Caetano
Veloso e Gilberto Gil, que se exilaram naquele país.
c. Os tropicalistas retomaram alguns pilares da vanguarda concretista da
década de 1950, sobretudo o aspecto visual dos poemas – o que os levou a serem
anunciados como criadores neoconcretistas.
d. Para além da música, o Tropicalismo compreendeu criações em diversas
áreas artísticas, como o teatro do Centro Popular de Cultura da União Nacional
dos Estudantes (CPC-UNE), as instalações do artista plástico Hélio Oiticica e o
cinema de Glauber Rocha e de Rogério Sganzerla, por exemplo.
e. Para os tropicalistas, a cultura brasileira era produto de uma
mistura – a chamada “geleia geral” –, que não poderia ser resolvida na base de
uma síntese coerente e definitiva. Assim, conviviam nas criações tropicalistas
a música internacional e as raízes brasileiras, a vanguarda e o kitsch, o
acústico e o elétrico.
21. Assinale a opção que apresenta corretamente a análise crítica de Toda
poesia, de Paulo Leminski:
a. “O poeta, como se fosse parnasiano até os limites do delírio,
substituiu a realidade social pela realidade imaginária da arte pura,
desprezando a multidão e fazendo da poesia uma arma da reação, um narcótico dos
intelectuais”. (Otto Maria Carpeaux).
b. “Mas a sensualidade exaltada (na linguagem) e reprimida, que se
manifesta na lírica pelo acirramento e pela conciliação dos contrários, explode
na poesia erótica, ou erótico-irônica, de outro modo”. (José Miguel Wisnik).
c. “É então que o poeta desgarrado e erradio, abandonado à própria sorte
num mundo hostil, reencontra as imagens caras da infância, os cheiros, as
cores, as ruas, os quintais de sua cidade natal: a cidade imaginária, fruto do
desejo e do trabalho, que o homem carrega intacta na memória frente à
catástrofe”. (Davi Arrigucci Jr.)
d. “Sua trajetória trouxe à luz as fraturas de toda vanguarda pós-68. O
poeta tentou criar não só uma escrita, mas uma antropologia poética pela qual a
aposta no acaso e nas técnicas ultramodernas de comunicação não inibisse o
apelo a uma utopia comunitária”. (Alfredo Bosi).
e. “Entre o tema lamentoso (que pode fazer de uma canção do exílio uma
canção sobre o exílio, isto é, conformista e perpetuadora da distância) e a
altiva ‘ausência’ de tema (que só pode se reduzir ao tema-linguagem), o poeta
prefere optar pela consciência presente e crítica do passado”. (Alcides
Villaça).
22. Poema 1
o bicho alfabeto
tem vinte e três patas
ou quase
por onde ele passa
nascem palavras
e frases
com frases
se fazem asas
palavras
o vento leve
o bicho alfabeto
passa
fica o que não se escreve
Poema 2
operação de vista
De uma noite, vim.
Para uma noite, vamos,
uma rosa de Guimarães
nos ramos de Graciliano.
Finnegans Wake à direita
un coup de dés à esquerda
que coisa pode ser feita
que não seja pura perda?
Poema 3
Um bom poema
leva anos
cinco jogando bola,
mais cinco estudando sânscrito,
seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha,
sete levando porrada,
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade,
dez trocando de assunto,
uma eternidade, eu e você,
caminhando junto
Os três poemas de Paulo Leminski reproduzidos acima apresentam um forte
conteúdo:
a. Metafísico. b. Sinestésico. c. Metalinguístico. d. Paradoxal. e. Metonímico.
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Prova de Língua e Literatura em Língua Portuguesa – Cásper Líbero – 2010
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