TEMA DE REDAÇÃO – PUC-RIO
– 2018 – 1º Semestre
REDAÇÃO
Produza
um texto dissertativo-argumentativo — com cerca de 25 linhas e título
sugestivo —, em que você mostre como uma ou mais mulheres (sugerimos entre
uma e cinco) conhecidas — cientistas, artistas, empresárias, ativistas, líderes
comunitárias, personalidades históricas ou mesmo personagens da mitologia ou da
ficção, além de heroínas (reais ou imaginárias), entre outras — afetaram ou
afetam a sociedade (e por quê).
Abaixo,
apenas para ajudá-lo a pensar no desenvolvimento de sua redação, reproduzimos
fragmentos de dois artigos acerca de figuras de nosso universo de referências.
Carolina
Maria de Jesus
A
história de Carolina Maria de Jesus é uma história de lutas que lembra a de
muitas mulheres na favela. Filha de mãe solteira, negra e pobre, trabalhou na
roça em Sacramento, cidade onde nasceu, no interior de Minas Gerais. A vida
difícil obrigou mãe e filha a migrarem para cidades maiores até que Carolina
chegou a São Paulo. Ali, começou trabalhando como doméstica, mas ficou grávida
de seu primeiro filho. Como, na época, não havia direitos trabalhistas, ficou desempregada
e não viu alternativa senão ir morar na favela e ganhar a vida como catadora de
papel. Teve ainda mais dois filhos — todos de pais diferentes —, e acabou tendo
que ser mãe e pai do José, do João e da Vera Eunice. Viveu 12 anos na favela do
Canindé, que ela chamava de “o quarto de despejo da cidade de São Paulo”: tudo
quanto a sociedade paulistana queria jogar no lixo — roupas usadas e móveis
velhos, assim como pessoas pobres, negras, nordestinas que ali viviam
marginalizadas e em precárias condições — ia parar lá. Carolina, que havia
cursado apenas dois anos de ensino básico quando ainda criança, tinha o hábito
de ler. Lia tudo o que encontrava no lixo e separava alguns papéis em que
poderia registrar sua história. Foi assim que começou a escrever “Quarto de
Despejo: diário de uma favelada”, livro publicado em 1960. Isso ocorreu porque
Carolina mostrou seus escritos ao jornalista Audálio Dantas, em 1958, quando
ele fazia uma visita à favela do Canindé para escrever uma matéria de jornal.
Durante dois anos, o jornalista trabalhou para conseguir a publicação do livro
de Carolina. “Quarto de Despejo” foi um sucesso na medida em que constituiu uma
denúncia que os governantes e a elite — não só a paulistana, mas a brasileira —
não podiam ignorar: a vida miserável daquelas mulheres batalhadoras e
“invisíveis”. A prefeitura extinguiu a favela do Canindé. Carolina ficou rica
com a venda de seus livros, mas, sem jeito para administrar seus bens, perdeu
quase tudo e morreu em 1977, aos 63 anos, pobre, num pequeno sítio do interior de
São Paulo. Canindé não existe mais, nem Carolina, mas muitas são as favelas no
Brasil e muitas são as mulheres pobres, sem pai, mães solteiras, que batalham,
lutam diariamente pelo direito à vida e pelo direito à história, que Carolina de
Jesus ajudou a contar.
Texto
adaptado do jornal “O Cidadão” (06/03/2014).
Disponível
em: <http://jornalocidadao.net/centenario-de-carolina-maria-de-jesus>.
Acesso em: 14 ago. 2017.
Mulher
Maravilha
Criada
por William Moulton Marston, em 1941, no meio da Segunda Guerra Mundial, a
primeira super-heroína norte-americana, reaparece, em 2017, em grande produção
cinematográfica. O filme narra a trajetória de Diana — filha do deus grego Zeus
com uma amazona — e seu percurso até tornar-se a Mulher Maravilha, atualização
da deusa romana Diana Caçadora, que, entre os gregos, era chamada de Ártemis.
Para
proteger sua filha, Zeus criou uma ilha paradisíaca, escondida por uma neblina,
onde a menina cresceu com as demais amazonas, a salvo da ira do deus Ares, que
invejava as guerreiras e queria destruir a humanidade. A deusa, criada por uma
mãe superprotetora, que lhe negava informações importantes sobre o mundo além
da ilha e sobre ela mesma, acreditava na possibilidade da paz, caso Ares fosse
eliminado. A queda de um avião, com o piloto e espião americano Steve Trevor a
bordo, quebra a invisibilidade da ilha. Ao resgatar o jovem, Diana fica sabendo
que há uma guerra em curso, longe de seu lar, e sente um chamado para cumprir o
que considerava sua missão: derrotar Ares.
A saída
da ilha, tão temida pela mãe da moça, que escondia dela a identidade do pai e
sua condição de deusa, é a metáfora para a iniciação da heroína. Frente à
advertência da mãe de que, se ela partisse, poderia nunca mais voltar, Diana
reage com a frase psicanalítica: “Quem serei eu se ficar? ” Diana segue seu
caminho, deixando a ingênua e protegida deusa-menina para trás, a fim de
encontrar, em meio aos horrores de uma guerra, a valente mulher que irá se
tornar. [...] Além da força, das habilidades no manejo da espada e no
desempenho da luta, sobressai, em Diana, a compaixão. Ao chegar a uma Europa
devastada, sente-se arrasada com a miséria humana. A crença na paz e num mundo
só de luz a ser alcançado pela derrota de Ares será a ilusão que deverá abandonar
para poder se tornar a Mulher Maravilha.
É um
filme sobre a jornada do Eu, mas é claro que o fato de esse sujeito ser uma
mulher faz toda a diferença. Ela desperta a admiração dos meninos, não apenas
pela beleza, mas pela garra, pela força, pela lealdade. A personagem mostra que
não há limites para as mulheres e que isso não deve ser motivo de temor e, sim,
de admiração. [...]
Em
tempo de guerra como o nosso, a Mulher Maravilha nos obriga a enfrentar o Ares
que habita em cada um de nós, pois, diferentemente do que pensamos, “o inferno
não são os outros”. E essa foi a desilusão de Diana: a culpa não era de um
único deus (seu irmão) e, sim, da humanidade. Mata-se um Ares hoje; nasce outro
amanhã. Tomada por essa desilusão — entretanto movida por compaixão e por amor
(como uma força divina) —, resolve ficar e lutar diariamente, assumindo que a
humanidade ainda vale a pena. E dessa desilusão, e dessa decisão, nasce uma
heroína.
Texto
adaptado de artigo de Adriana Maria de Abreu Barbosa. In: “Revista Cotoxó”, ano
VII, número LXXII, Jequié (Bahia), julho de 2017, p. 10.
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