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segunda-feira, 17 de junho de 2019

TEMA DE REDAÇÃO – PUC-RIO – 2018 – 1º Semestre

TEMA DE REDAÇÃO – PUC-RIO – 2018 – 1º Semestre


REDAÇÃO

Produza um texto dissertativo-argumentativo — com cerca de 25 linhas e título sugestivo —, em que você mostre como uma ou mais mulheres (sugerimos entre uma e cinco) conhecidas — cientistas, artistas, empresárias, ativistas, líderes comunitárias, personalidades históricas ou mesmo personagens da mitologia ou da ficção, além de heroínas (reais ou imaginárias), entre outras — afetaram ou afetam a sociedade (e por quê).
Abaixo, apenas para ajudá-lo a pensar no desenvolvimento de sua redação, reproduzimos fragmentos de dois artigos acerca de figuras de nosso universo de referências.

Carolina Maria de Jesus

A história de Carolina Maria de Jesus é uma história de lutas que lembra a de muitas mulheres na favela. Filha de mãe solteira, negra e pobre, trabalhou na roça em Sacramento, cidade onde nasceu, no interior de Minas Gerais. A vida difícil obrigou mãe e filha a migrarem para cidades maiores até que Carolina chegou a São Paulo. Ali, começou trabalhando como doméstica, mas ficou grávida de seu primeiro filho. Como, na época, não havia direitos trabalhistas, ficou desempregada e não viu alternativa senão ir morar na favela e ganhar a vida como catadora de papel. Teve ainda mais dois filhos — todos de pais diferentes —, e acabou tendo que ser mãe e pai do José, do João e da Vera Eunice. Viveu 12 anos na favela do Canindé, que ela chamava de “o quarto de despejo da cidade de São Paulo”: tudo quanto a sociedade paulistana queria jogar no lixo — roupas usadas e móveis velhos, assim como pessoas pobres, negras, nordestinas que ali viviam marginalizadas e em precárias condições — ia parar lá. Carolina, que havia cursado apenas dois anos de ensino básico quando ainda criança, tinha o hábito de ler. Lia tudo o que encontrava no lixo e separava alguns papéis em que poderia registrar sua história. Foi assim que começou a escrever “Quarto de Despejo: diário de uma favelada”, livro publicado em 1960. Isso ocorreu porque Carolina mostrou seus escritos ao jornalista Audálio Dantas, em 1958, quando ele fazia uma visita à favela do Canindé para escrever uma matéria de jornal. Durante dois anos, o jornalista trabalhou para conseguir a publicação do livro de Carolina. “Quarto de Despejo” foi um sucesso na medida em que constituiu uma denúncia que os governantes e a elite — não só a paulistana, mas a brasileira — não podiam ignorar: a vida miserável daquelas mulheres batalhadoras e “invisíveis”. A prefeitura extinguiu a favela do Canindé. Carolina ficou rica com a venda de seus livros, mas, sem jeito para administrar seus bens, perdeu quase tudo e morreu em 1977, aos 63 anos, pobre, num pequeno sítio do interior de São Paulo. Canindé não existe mais, nem Carolina, mas muitas são as favelas no Brasil e muitas são as mulheres pobres, sem pai, mães solteiras, que batalham, lutam diariamente pelo direito à vida e pelo direito à história, que Carolina de Jesus ajudou a contar.

Texto adaptado do jornal “O Cidadão” (06/03/2014).
Disponível em: <http://jornalocidadao.net/centenario-de-carolina-maria-de-jesus>. Acesso em: 14 ago. 2017.

Mulher Maravilha

Criada por William Moulton Marston, em 1941, no meio da Segunda Guerra Mundial, a primeira super-heroína norte-americana, reaparece, em 2017, em grande produção cinematográfica. O filme narra a trajetória de Diana — filha do deus grego Zeus com uma amazona — e seu percurso até tornar-se a Mulher Maravilha, atualização da deusa romana Diana Caçadora, que, entre os gregos, era chamada de Ártemis.
Para proteger sua filha, Zeus criou uma ilha paradisíaca, escondida por uma neblina, onde a menina cresceu com as demais amazonas, a salvo da ira do deus Ares, que invejava as guerreiras e queria destruir a humanidade. A deusa, criada por uma mãe superprotetora, que lhe negava informações importantes sobre o mundo além da ilha e sobre ela mesma, acreditava na possibilidade da paz, caso Ares fosse eliminado. A queda de um avião, com o piloto e espião americano Steve Trevor a bordo, quebra a invisibilidade da ilha. Ao resgatar o jovem, Diana fica sabendo que há uma guerra em curso, longe de seu lar, e sente um chamado para cumprir o que considerava sua missão: derrotar Ares.
A saída da ilha, tão temida pela mãe da moça, que escondia dela a identidade do pai e sua condição de deusa, é a metáfora para a iniciação da heroína. Frente à advertência da mãe de que, se ela partisse, poderia nunca mais voltar, Diana reage com a frase psicanalítica: “Quem serei eu se ficar? ” Diana segue seu caminho, deixando a ingênua e protegida deusa-menina para trás, a fim de encontrar, em meio aos horrores de uma guerra, a valente mulher que irá se tornar. [...] Além da força, das habilidades no manejo da espada e no desempenho da luta, sobressai, em Diana, a compaixão. Ao chegar a uma Europa devastada, sente-se arrasada com a miséria humana. A crença na paz e num mundo só de luz a ser alcançado pela derrota de Ares será a ilusão que deverá abandonar para poder se tornar a Mulher Maravilha.
É um filme sobre a jornada do Eu, mas é claro que o fato de esse sujeito ser uma mulher faz toda a diferença. Ela desperta a admiração dos meninos, não apenas pela beleza, mas pela garra, pela força, pela lealdade. A personagem mostra que não há limites para as mulheres e que isso não deve ser motivo de temor e, sim, de admiração. [...]
Em tempo de guerra como o nosso, a Mulher Maravilha nos obriga a enfrentar o Ares que habita em cada um de nós, pois, diferentemente do que pensamos, “o inferno não são os outros”. E essa foi a desilusão de Diana: a culpa não era de um único deus (seu irmão) e, sim, da humanidade. Mata-se um Ares hoje; nasce outro amanhã. Tomada por essa desilusão — entretanto movida por compaixão e por amor (como uma força divina) —, resolve ficar e lutar diariamente, assumindo que a humanidade ainda vale a pena. E dessa desilusão, e dessa decisão, nasce uma heroína.

Texto adaptado de artigo de Adriana Maria de Abreu Barbosa. In: “Revista Cotoxó”, ano VII, número LXXII, Jequié (Bahia), julho de 2017, p. 10.

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