TEMA DE REDAÇÃO – PUC-RIO – 2012 – 1º Semestre
Os textos abaixo são fragmentos de cartas, escritas
por profissionais reconhecidos nas suas áreas de atuação, endereçadas a jovens
que aspiravam fazer a mesma escolha profissional que seus conselheiros.
Esses trechos têm o objetivo de contribuir para a sua
reflexão. Leia-os com atenção, analise o grau de relevância do que é afirmado e
procure confrontar sua percepção e experiência com o que dizem os textos.
Produza, então, um texto
dissertativo-argumentativo, com título sugestivo, no qual você expresse –
de forma clara, coerente e bem fundamentada – o que formaria a bagagem
essencial de um futuro profissional da área em que você deseja atuar.
Em cerca de 25 linhas, você deverá contextualizar o
tema, localizar/identificar a área de atuação escolhida, discutir posições e
manifestar o seu ponto de vista. Serão valorizadas a pertinência e a
originalidade de seus argumentos.
Alguns dos textos de reflexão – assim como os demais
constantes desta prova – podem ser reproduzidos, em parte, na sua redação, mas
em forma de DISCURSO INDIRETO ou de PARÁFRASE, com as devidas
fontes mencionadas na redação.
NÃO ASSINE.
Texto 1 - Carta a um jovem poeta - Rainer Maria
Rilke
[...] Procure entrar em si mesmo. Investigue o motivo
que o manda escrever; examine se estende suas raízes pelos recantos mais
profundos de sua alma; confesse a si mesmo: morreria, se lhe fosse vedado
escrever? Isto acima de tudo: pergunte a si mesmo na hora mais tranquila de sua
noite: “Sou mesmo forçado a escrever?” Escave dentro de si uma resposta
profunda. Se for afirmativa, se puder contestar aquela pergunta severa por um
forte e simples “sou”, então construa a sua vida de acordo com esta
necessidade. [...] Evite, de início, as formas usais e demasiado comuns: são
essas as mais difíceis, pois precisa-se de uma força grande e amadurecida para
se produzir algo de pessoal num domínio em que sobram tradições boas, algumas
brilhantes. Eis por que deve fugir dos motivos gerais para aqueles que a sua
própria existência cotidiana lhe oferece; relate suas mágoas e seus desejos,
seus pensamentos passageiros, sua fé em qualquer beleza — relate tudo isto com
íntima e humilde sinceridade. Utilize, para se exprimir, as coisas do seu
ambiente, as imagens dos seus sonhos e os objetos de sua lembrança. Se a
própria existência cotidiana lhe parecer pobre, não a acuse. Acuse a si mesmo, diga consigo que não é
bastante poeta para extrair as suas riquezas. [...] Nada a poderia perturbar
mais do que olhar para fora e aguardar de fora respostas a perguntas a que
talvez somente seu sentimento mais íntimo possa responder na hora mais
silenciosa.
Texto 2 - Carta a um jovem chef - Laurent Suaudeau
Este livro é fruto do que vi e aprendi com meus
mestres, e também do que aperfeiçoei em quase 30 anos de manejo de panelas. O
que sei tento repassar aos jovens que frequentam a minha cozinha e a minha
escola e que sonham com um grande futuro na profissão. Não tenho todas as
respostas. [...] acho que, para ser cozinheiro, é fundamental que a pessoa
goste de comer e de cozinhar. E que tenha o dom, pois a nossa profissão tem
algo de sacerdotal, pela necessidade de aprendizagem, pelo fato de você
precisar conquistar os postos na hierarquia de uma cozinha e pela existência de
um
verdadeiro ritual de gestos, tudo regulamentado por um
determinado conceito. Você pode até me perguntar se, hoje em dia, é realmente
necessária a formação rigorosa de um cozinheiro para ele ser bem sucedido.
Apesar de o comportamento de certos colegas dar a impressão de que bastam
criatividade e algum pragmatismo, acredito, com firmeza, que a disciplina e os
conhecimentos são imprescindíveis. O bom cozinheiro está sempre se colocando
questões, pois nunca julga ter alcançado a perfeição. [...] Quando se escolhe
uma profissão, normalmente, a gente busca algo que ajude a ganhar a vida e
também permita a realização pessoal. Mas isso não acontece da noite para o dia.
Para se tornar um chef conhecido o aprendiz tem um longo caminho a
percorrer. [...] todos os chefs que conseguiram destaque são pessoas com
um grau de humildade muito elevado em sua postura e no respeito à ordem
estabelecida na cozinha. São pessoas que querem aprender, que fazem perguntas,
que observam caladas, mas com inteligência. Por outro lado, você vê pessoas
extremamente talentosas, que não conseguem se enquadrar na equipe. Muitos acham
que sabem tudo e aí se complicam.
Trecho adaptado de SUAUDEAU, Laurent. Cartas a um jovem
chef: caminhos no mundo da cozinha. Rio de Janeiro, Elsevier, 2007.
Texto 3 - Carta a um jovem advogado - José Nivaldo
Cordeiro
[...] é muito difícil para os jovens discernir entre
o erro e o acerto, a verdade e a mentira, o justo e o injusto. [...] Na verdade,
é preciso mudar, pois a cada fase da existência alcançamos graus superiores de
consciência que frequentemente negam as antigas convicções. Isso é uma
normalidade, é o processo de educação humana em ação. Não se pode exigir que um
jovem na faixa dos vinte anos tenha a maturidade e a experiência de alguém com
o dobro da sua idade. A cada momento a sua consciência se amplia. Quando mudar,
então? Quando sua convicção interior lhe recomendar que mude. Não há outro
juiz. [...] Se esses conhecimentos poderão ser digeridos e transformados em
saber, é uma questão em aberto, que varia de indivíduo para indivíduo. [...] O
erro é não mudar. Aqueles que têm compromisso com a Verdade precisam mudar
permanentemente, pois conquistar graus elevados de consciência não é algo que
se faça de um golpe só, é um processo contínuo que a cada instante exige o
abandono das verdades parciais antigas. Ninguém chega à Verdade sem passar
pelas dores do longo aprendizado. É isso que torna uma criança um ser humano
adulto e senhor do seu próprio destino, no pleno exercício de sua liberdade.
Mude e será um indivíduo pleno.
Texto 4 - Carta a um jovem jornalista - Alberto
Dines
O que é indispensável para mudar o mundo a partir do
jornalismo? Uma pequena caixa de ferramentas e nela um apetrecho essencial: o
conhecimento da história. Não me refiro à história da humanidade, que é
disciplina obrigatória para todos os que fazem parte dela. A história que você
deve, obrigatoriamente, conhecer é a história do jornalismo, como o jornalismo
vem mudando o mundo antes mesmo de chamar-se jornalismo. Gutenberg é o herói de
uma legião de pensadores, autores, visionários, tradutores, artistas,
gravadores, papeleiros, impressores, livreiros, todos beneficiários diretos das
suas inovações. Quem soube registrar, organizar, atualizar, hierarquizar e
periodizar a formidável massa de informações produzidas desde então foi uma
categoria de doidos: os jornalistas. Jovem ou velho jornalista, você é um
operário da história. Um historiador com o pé no acelerador. Portanto,
questione, remexa, desencave o passado do seu ofício. Depois, devidamente
instrumentado e consciente, goze plenamente todas as delícias dos gadgets de
Steve Jobs.
In DINES, Alberto. Carta a um jovem jornalista. In: Revista
da ESPM. São Paulo, v. 17, ed. 5, set/out. 2010
Texto 5 - Carta a um jovem fotógrafo - Bob Wolfenson
A fotografia é antes de tudo meu ofício, o que
tecnicamente sei fazer, mas é também um vetor das minhas ideias, minha forma de
comunicação com o mundo. [...] Como em qualquer área de atuação, há uma
obsessão para rapidamente se alcançar o sucesso – um dos dramas de nossa época.
No entanto, é preciso lembrar que nada acontece dentro de um esquema
pré-arranjado ou de uma fórmula, porque o sucesso advém de um conjunto de
fatores, inclusive da sorte, mas principalmente de uma forma particular de ver
as coisas (a ótica). [...] Gosto mesmo é de pensar e esquematizar um projeto,
um conceito – seja ele encomendado ou da minha cabeça, comercial ou não. Gosto
do movimento, da pressão de realizar, dos prazos curtos, da preparação, da
atividade, do burburinho das pessoas à minha volta, da parceria com elas, no
estúdio ou nas locações. Gosto de ver meu trabalho publicado e contextualizado
em assuntos que não se encerram em uma única imagem. O instante fotográfico
para mim é uma passagem. [...] Porém, minha ligação com o trabalho é o amor
pela realização, pela encenação; é uma conexão com a minha época, a tensão com
ela e a representação dela; e, subjacente a isso, é uma busca pela eternidade.
Talvez por esse motivo tenha escolhido a fotografia como profissão, por seu
caráter intrínseco de posteridade.
Adaptado de WOLFENSON, Bob. Cartas a um jovem fotógrafo: o
mundo através das lentes. Rio de Janeiro, Elsevier.
Leia também:
TEMA DE REDAÇÃO – PUC-RIO – 2007 – 1º Semestre
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