Prova de Língua Portuguesa – UERJ
– 2012
1ª EXAME
Questão 01 –Na tira
do cartunista argentino Quino, utilizam-se recursos gráficos que lembram o
cinema. A associação com a linguagem artística do cinema, que lida com o
movimento e com o instrumento da câmera, é garantida pelo procedimento do
cartunista demonstrado a seguir:
(A) ressaltar o trabalho com a vassoura para sugerir ação
(B) ampliar a imagem da mulher para indicar aproximação
(C) destacar a figura da cadeira para indiciar sua
importância
(D) apresentar a sombra dos personagens para sugerir
veracidade
Questão 02 –A tira
traz um efeito de surpresa ao final, produzido pela cena inusitada de uma
pessoa sentada no ar, como se isso fosse possível. Esse efeito de surpresa se
intensifica pelo fato de o último quadrinho contrastar com o seguinte aspecto
da própria tira:
(A) exposição parcial do cotidiano familiar (B) sugestão gradual de atitudes imprevisíveis
(C) apresentação sequencial de ações rotineiras (D) referência indireta à solidão dos personagens
O chá, os fantasmas, os ventos encanados...
Nasci no tempo dos ventos encanados, quando, para
evitar compromissos, a “gente bem” dizia estar com enxaqueca, palavra horrível
mas desculpa distinta. Ter enxaqueca não era para todos, mas só para essas
senhoras que tomavam chá com o dedo mindinho espichado. Quando eu via aquilo,
ficava a pensar sozinho comigo (menino, naqueles tempos, não dava opinião) por
que é que elas não usavam, para cúmulo da elegância, um laçarote azul no
dedo...
Também se falava misteriosamente em “moléstias de
senhoras” nos anúncios farmacêuticos que eu lia. Era decerto uma coisa
privativa das senhoras, como as enxaquecas, pois as criadas, essas, não tinham
tempo para isso. Mas, em compensação, me assustavam deliciosamente com
histórias de assombrações. Nunca me apareceu nenhuma.
Pelo visto, era isso: nunca consegui comunicar-me com
este nem com o outro mundo. A não ser através d’ O tico-tico e da poesia de
Camões, do qual até hoje me assombra este verso único: “Que o menor mal de tudo
seja a morte!” Pois a verdadeira poesia sempre foi um meio de comunicação com
este e com o outro mundo.
MÁRIO QUINTANA Mario Quintana: poesia completa. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 2005.
Questão 03 –O texto
de Mário Quintana se baseia em duas oposições: “gente bem” versus “criadas” e
“este mundo” versus “o outro mundo”. “O outro mundo” é representado, no texto,
por alguns elementos evocados pelo narrador. A expressão que melhor identifica
tais elementos é:
(A) ventos encanados (B) moléstias de senhoras
(C) anúncios farmacêuticos (D) histórias de assombrações
Questão 04 –Além da
comparação entre papéis sociais, há no texto outra comparação, implícita, que
indica uma compreensão do narrador acerca de comportamentos na sociedade. Essa
comparação implícita está em:
(A) menino, naqueles tempos, não dava opinião (l. 4)
(B) Também se falava misteriosamente em “moléstias de
senhoras” (l. 6)
(C) Nunca me apareceu nenhuma. (l. 9)
(D) até hoje me assombra este verso único: (l. 11-12)
Questão 05 –A não ser
através d’ O tico-tico e da poesia de Camões, (l. 10-11) A expressão em
destaque torna a frase que ela introduz uma ressalva em relação ao que está
enunciado anteriormente. Essa ressalva evidencia que as leituras do poeta lhe
davam a seguinte possibilidade:
(A) rever suas crenças arraigadas (B) interagir com universos diferentes
(C) superar uma alienação do presente (D) compreender a idealização da morte
Questão 06 –O
segundo parágrafo do texto revela mais claramente a compreensão do menino
acerca daquela sociedade de papéis bem definidos, a partir da situação
econômica de cada um. O par de vocábulos, presentes no texto, que remete à
divisão entre grupos sociais, tal como caracterizada pelo narrador, é:
(A) chá – fantasmas (B) elegância – laçarote (C) privativa – verdadeira (D) encanados – espichado
Questão 07 –Ter
enxaqueca não era para todos, (l. 2) Considerando que a afirmação acima não
pode ser verdadeira, conclui-se que ela é feita para expressar outro sentido,
menos literal. O sentido expresso pela afirmação, no texto, pode ser definido
como:
(A) metonímico (B) hiperbólico (C) metafórico (D) irônico
Memórias do cárcere
Resolvo-me a contar, depois de muita hesitação, casos
passados há dez anos − e, antes de começar, digo os motivos por que silenciei e
por que me decido. Não conservo notas: algumas que tomei foram inutilizadas, e
assim, com o decorrer do tempo, ia-me parecendo cada vez mais difícil, quase
impossível, redigir esta narrativa. Além disso, julgando a matéria superior às
minhas forças, esperei que outros mais aptos se ocupassem dela. Não vai aqui
falsa modéstia, como adiante se verá. Também me afligiu a ideia de jogar no
papel criaturas vivas, sem disfarces, com os nomes que têm no registro civil.
Repugnava-me deformá-las, dar-lhes pseudônimo, fazer do livro uma espécie de
romance; mas teria eu o direito de utilizá-las em história presumivelmente
verdadeira? Que diriam elas se se vissem impressas, realizando atos esquecidos,
repetindo palavras contestáveis e obliteradas? (...)
O receio de cometer indiscrição exibindo em público
pessoas que tiveram comigo convivência forçada já não me apoquenta. Muitos
desses antigos companheiros distanciaram-se, apagaramse. Outros permaneceram junto
a mim, ou vão reaparecendo ao cabo de longa ausência, alteramse, completam-se,
avivam recordações meio confusas − e não vejo inconveniência em mostrá-los.
(...)
E aqui chego à última objeção que me impus. Não
resguardei os apontamentos obtidos em largos dias e meses de observação: num
momento de aperto fui obrigado a atirá-los na água. Certamente me irão fazer
falta, mas terá sido uma perda irreparável? Quase me inclino a supor que foi bom
privar-me desse material. Se ele existisse, ver-me-ia propenso a consultá-lo a
cada instante, mortificar-me-ia por dizer com rigor a hora exata de uma
partida, quantas demoradas tristezas se aqueciam ao sol pálido, em manhã de
bruma, a cor das folhas que tombavam das árvores, num pátio branco, a forma dos
montes verdes, tintos de luz, frases autênticas, gestos, gritos, gemidos. Mas
que significa isso? Essas coisas verdadeiras podem não ser verossímeis. E se
esmoreceram, deixá-las no esquecimento: valiam pouco, pelo menos imagino que
valiam pouco. Outras, porém, conservaram-se, cresceram, associaram-se, e é
inevitável mencioná- las. Afirmarei que sejam absolutamente exatas? Leviandade.
(...) Nesta reconstituição de fatos velhos, neste esmiuçamento, exponho o que
notei, o que julgo ter notado. Outros devem possuir lembranças diversas. Não as
contesto, mas espero que não recusem as minhas: conjugam-se, completam-se e me
dão hoje impressão de realidade. Formamos um grupo muito complexo, que se
desagregou. De repente nos surge a necessidade urgente de recompô-lo. Define-se
o ambiente, as figuras se delineiam, vacilantes, ganham relevo, a ação começa.
Com esforço desesperado arrancamos de cenas confusas alguns fragmentos. Dúvidas
terríveis nos assaltam. De que modo reagiram os caracteres em determinadas
circunstâncias? O ato que nos ocorre, nítido, irrecusável, terá sido realmente
praticado? Não será incongruência? Certo a vida é cheia de incongruências, mas
estaremos seguros de não nos havermos enganado? Nessas vacilações dolorosas, às
vezes necessitamos confirmação, apelamos para reminiscências alheias,
convencemo-nos de que a minúcia discrepante não é ilusão. Difícil é sabermos a
causa dela, desenterrarmos pacientemente as condições que a determinaram. Como
isso variava em excesso, era natural que variássemos também, apresentássemos
falhas. Fiz o possível por entender aqueles homens, penetrar-lhes na alma,
sentir as suas dores, admirar-lhes a relativa grandeza, enxergar nos seus
defeitos a sombra dos meus defeitos. Foram apenas bons propósitos: devo ter-me
revelado com frequência egoísta e mesquinho. E esse desabrochar de sentimentos
maus era a pior tortura que nos podiam infligir naquele ano terrível.
GRACILIANO RAMOS Memórias do cárcere. Rio de Janeiro:
Record, 2002.
Questão 08 – Memórias
do cárcere, do romancista Graciliano Ramos, contam as desventuras do autor
enquanto foi preso político no Presídio da Ilha Grande, em 1936. Apesar de ser
um livro autobiográfico, o autor expõe, logo na abertura, as dificuldades de
reconstrução da memória. A consciência de Graciliano Ramos em relação ao
caráter parcialmente ficcional das suas memórias está evidenciada no seguinte
trecho:
(A) Resolvo-me a contar, depois de muita hesitação, (l. 1)
(B) Também me afligiu a ideia de jogar no papel criaturas
vivas, (l. 6)
(C) Outros devem possuir lembranças diversas. (l. 26-27)
(D) conjugam-se, completam-se e me dão hoje impressão de
realidade. (l. 27-28)
Questão 09 – As
palavras classificadas como advérbios agregam noções diversas aos termos a que
se ligam na frase, demarcando posições, relativizando ou reforçando sentidos,
por exemplo. O advérbio destacado é empregado para relativizar o sentido da
palavra a que se refere em:
(A) utilizá-las em história presumivelmente verdadeira?
(l. 8-9)
(B) Certamente me irão fazer falta, (l. 17)
(C) Afirmarei que sejam absolutamente exatas? (l. 25)
(D) desenterrarmos pacientemente as condições que a
determinaram. (l. 36-37)
Questão 10 – Graciliano
Ramos busca dar uma explicação mais objetiva ao leitor sobre os motivos que
justificam seu relato. Entretanto, já nesta explicação, o autor lança mão de
recursos da linguagem figurada, frequentes no discurso literário. O fragmento
do texto que melhor exemplifica o uso de linguagem figurada é:
(A) dar-lhes pseudônimo, fazer do livro uma espécie de
romance; (l. 7-8)
(B) Outros permaneceram junto a mim, ou vão reaparecendo
(l. 13)
(C) quantas demoradas tristezas se aqueciam ao sol pálido,
(l. 19-20)
(D) às vezes necessitamos confirmação, apelamos para
reminiscências alheias, (l. 34-35)
Questão 11 – Não
resguardei os apontamentos obtidos em largos dias e meses de observação: num
momento de aperto fui obrigado a atirá-los na água. (l. 15-16) O fragmento
acima poderia ser reescrito com a inserção de um conectivo no início do trecho
sublinhado. Esse conectivo, que garantiria o mesmo sentido básico do fragmento,
está indicado em:
(A) porque (B) embora (C) contudo (D) portanto
Questão 12 – Em sua
reflexão acerca das possibilidades de recompor a memória para escrever o livro,
o narrador utiliza um procedimento de construção textual que contribui para a
expressão de suas inquietudes. Tal procedimento pode ser identificado como:
(A) encadeamento de fatos passados (B) extensão de parágrafos narrativos
(C) sequência de frases interrogativas (D) construção de diálogos presumidos
Questão 13 – Nesta
reconstituição de fatos velhos, neste esmiuçamento, exponho o que notei, o que
julgo ter notado. (l. 25-26) O uso do verbo “julgar”, no fragmento acima,
promove uma correção do que estava dito imediatamente antes. Essa correção é
importante para o sentido geral do texto porque:
(A) questiona a validade de romancear fatos
(B) minimiza o problema de narrar a memória
(C) valoriza a necessidade de resgatar a história
(D) enfatiza a dificuldade de reproduzir a realidade
Questão 14 – Essas
coisas verdadeiras podem não ser verossímeis. (l. 22) Com a frase acima, o
escritor lembra um princípio básico da literatura: a verossimilhança − isto é,
a semelhança com a verdade − é mais importante do que a verdade mesma. A melhor
explicação para este princípio é a de que a invenção narrativa se mostra mais
convincente se:
(A) parece contar uma história real (B) quer mostrar seu caráter
ficcional
(C) busca apoiar-se em fatos conhecidos (D) tenta desvelar as contradições sociais
Questão 15 – Normalmente,
é possível omitir elementos de construção de frases sem dificultar a
compreensão do leitor, uma vez que ficam subentendidos pelo conjunto da própria
estrutura ou pela sequência em que se apresentam. O exemplo do texto em que há
omissão de elementos de construção de frases, sem prejuízo da compreensão, é:
(A) com o decorrer do tempo, ia-me parecendo cada vez mais
difícil, quase impossível, redigir esta narrativa. (l. 3-4)
(B) Se ele existisse, ver-me-ia propenso a consultá-lo a
cada instante, mortificar-me-ia por dizer com rigor a hora exata de uma
partida, (l. 18-19)
(C) Afirmarei que sejam absolutamente exatas? Leviandade.
(l. 25)
(D) Com esforço desesperado arrancamos de cenas confusas
alguns fragmentos. Dúvidas terríveis nos assaltam. (l. 30-31)
2ª EXAME
Questão 01 – Pode-se
definir “metalinguagem” como a linguagem que comenta a própria linguagem, fenômeno
presente na literatura e nas artes em geral.
O quadro A perspicácia,
do belga René Magritte, é um exemplo de metalinguagem porque:
(A) destaca a qualidade do
traço artístico (B) mostra o pintor no
momento da criação
(C) implica a valorização
da arte tradicional (D) indica a necessidade de
inspiração concreta
Questão 01 – O quadro
produz um estranhamento em relação ao que se poderia esperar de um pintor que observa
um modelo para sua obra. Esse estranhamento contribui para a reflexão
principalmente sobre o seguinte aspecto da criação artística:
(A) perfeição da obra (B) precisão da forma (C) representação do real (D) importância da técnica
Sobre a origem da poesia
A origem da poesia se
confunde com a origem da própria linguagem.
Talvez fizesse mais
sentido perguntar quando a linguagem verbal deixou de ser poesia. Ou: qual a
origem do discurso não poético, já que, restituindo laços mais íntimos entre os
signos e as coisas por eles designadas, a poesia aponta para um uso muito
primário da linguagem, que parece anterior ao perfil de sua ocorrência nas
conversas, nos jornais, nas aulas, conferências, discussões, discursos, ensaios
ou telefonemas.
Como se ela
restituísse, através de um uso específico da língua, a integridade entre nome e
coisa − que o tempo e as culturas do homem civilizado trataram de separar no
decorrer da história.
A manifestação do que
chamamos de poesia hoje nos sugere mínimos flashbacks de uma possível infância
da linguagem, antes que a representação rompesse seu cordão umbilical, gerando essas
duas metades − significante e significado.
Houve esse tempo?
Quando não havia poesia porque a poesia estava em tudo o que se dizia? Quando o
nome da coisa era algo que fazia parte dela, assim como sua cor, seu tamanho,
seu peso? Quando os laços entre os sentidos ainda não se haviam desfeito, então
música, poesia, pensamento, dança, imagem, cheiro, sabor, consistência se
conjugavam em experiências integrais, associadas a utilidades práticas,
mágicas, curativas, religiosas, sexuais, guerreiras?
Pode ser que essas
suposições tenham algo de utópico, projetado sobre um passado pré-babélico, tribal,
primitivo. Ao mesmo tempo, cada novo poema do futuro que o presente alcança
cria, com sua ocorrência, um pouco desse passado.
Lembro-me de ter lido,
certa vez, um comentário de Décio Pignatari, em que ele chamava a atenção para
o fato de, tanto em chinês como em tupi, não existir o verbo ser, enquanto
verbo de ligação. Assim, o ser das coisas ditas se manifestaria nelas próprias
(substantivos), não numa partícula verbal externa a elas, o que faria delas
línguas poéticas por natureza, mais propensas à composição analógica.
Mais perto do senso
comum, podemos atentar para como colocam os índios americanos falando, na
maioria dos filmes de cowboy − eles dizem “maçã vermelha”, “água boa”,
“cavalo veloz”; em vez de “a maçã é vermelha”, “essa água é boa”, “aquele
cavalo é veloz”. Essa forma mais sintética, telegráfica, aproxima os nomes da
própria existência − como se a fala não estivesse se referindo àquelas coisas,
e sim apresentando-as (ao mesmo tempo em que se apresenta).
No seu estado de
língua, no dicionário, as palavras intermedeiam nossa relação com as coisas, impedindo
nosso contato direto com elas. A linguagem poética inverte essa relação, pois,
vindo a se tornar, ela em si, coisa, oferece uma via de acesso sensível mais
direto entre nós e o mundo. (...)
Já perdemos a
inocência de uma linguagem plena assim. As palavras se desapegaram das coisas, assim
como os olhos se desapegaram dos ouvidos, ou como a criação se desapegou da
vida. Mas temos esses pequenos oásis − os poemas − contaminando o deserto da
referencialidade.
ARNALDO ANTUNES - www.arnaldoantunes.com.br
Questão 03 – a poesia
aponta para um uso muito primário da linguagem, que parece anterior ao perfil
de sua ocorrência nas conversas, nos jornais, nas aulas, conferências,
discussões, discursos, ensaios ou telefonemas. (l. 4-6)
A comparação entre a poesia
e outros usos da linguagem põe em destaque a seguinte característica do
discurso poético:
(A) revela-se como
expressão subjetiva (B) manifesta-se na
referência ao tempo
(C) afasta-se das
praticidades cotidianas (D) conjuga-se com
necessidades concretas
Questão 04 – Pode ser
que essas suposições tenham algo de utópico, (l. 17)
Neste fragmento, a
expressão em destaque é empregada para formar um conhecido recurso da
argumentação. Esse recurso pode ser definido como:
(A) admitir uma hipótese
para depois discuti-la
(B) retomar uma informação
para depois criticá-la
(C) relativizar um conceito
para depois descrevê-lo
(D) apresentar uma opinião
para depois sustentá-la
Questão 05 – Mais perto
do senso comum, (l. 25)
A expressão que inicia o
trecho transcrito acima introduz uma comparação em relação ao comentário
anterior, feito por Décio Pignatari. O emprego da expressão comparativa revela
que o autor considera o exemplo dos filmes de cowboy como algo que teria
a seguinte caracterização:
(A) muito complexo (B)
menos elaborado (C) pouco importante (D) bastante diferente
Questão 06 – Na coesão textual, ocorre o que se chama
catáfora quando um termo se refere a algo que ainda vai ser enunciado na frase.
Um exemplo em que o termo destacado constrói uma catáfora é:
(A) Como se ela
restituísse, (l. 7)
(B) Pode ser que essas
suposições tenham algo de utópico, (l. 17)
(C) não numa partícula
verbal externa a elas, (l. 22-23)
(D) No seu estado de
língua, no dicionário, as palavras intermedeiam (l. 30)
Questão 07 – A linguagem
poética inverte essa relação, pois, vindo a se tornar, ela em si, coisa,
oferece uma via de acesso sensível mais direto entre nós e o mundo. (l. 31-32)
O vocábulo destacado estabelece uma relação de sentido com o que está enunciado
antes. Essa relação de sentido pode ser definida como:
(A) explicação (B)
finalidade (C) conformidade (D) simultaneidade
Questão 08 – Mas temos
esses pequenos oásis − os poemas − contaminando o deserto da referencialidade. (l. 35)
Na frase acima, o emprego
das palavras “oásis” e “deserto” configura uma superposição de figuras de
linguagem, recurso frequente em textos artísticos.
As figuras de linguagem
superpostas na frase são:
(A) metáfora e antítese (B) ironia e metonímia
(C) elipse e comparação (D) personificação e hipérbole
Questão 09 – No último
parágrafo (linhas 33 a 35), o autor se refere à plenitude da linguagem poética,
fazendo, em seguida, uma descrição que corresponde à linguagem não poética, ou
seja, à linguagem referencial. Pela descrição apresentada, a linguagem
referencial teria, em sua origem, o seguinte traço fundamental:
(A) o desgaste da intuição (B) a dissolução da memória
(C) a fragmentação da
experiência (D) o enfraquecimento da
percepção
A palavra
Tanto que tenho
falado, tanto que tenho escrito − como não imaginar que, sem querer, feri alguém?
Às vezes sinto, numa pessoa que acabo de conhecer, uma hostilidade surda, ou
uma reticência de mágoas. Imprudente ofício é este, de viver em voz alta.
Às vezes, também a
gente tem o consolo de saber que alguma coisa que se disse por acaso ajudou
alguém a se reconciliar consigo mesmo ou com a sua vida de cada dia; a sonhar
um pouco, a sentir uma vontade de fazer alguma coisa boa.
Agora sei que outro
dia eu disse uma palavra que fez bem a alguém. Nunca saberei que palavra foi;
deve ter sido alguma frase espontânea e distraída que eu disse com naturalidade
porque senti no momento − e depois esqueci.
Tenho uma amiga que
certa vez ganhou um canário, e o canário não cantava. Deram-lhe receitas para
fazer o canário cantar; que falasse com ele, cantarolasse, batesse alguma coisa
ao piano; que pusesse a gaiola perto quando trabalhasse em sua máquina de
costura; que arranjasse para lhe fazer companhia, algum tempo, outro canário
cantador; até mesmo que ligasse o rádio um pouco alto durante uma transmissão
de jogo de futebol... mas o canário não cantava.
Um dia a minha amiga
estava sozinha em casa, distraída, e assobiou uma pequena frase melódica de
Beethoven − e o canário começou a cantar alegremente. Haveria alguma secreta
ligação entre a alma do velho artista morto e o pequeno pássaro cor de ouro?
Alguma coisa que eu
disse distraído − talvez palavras de algum poeta antigo − foi despertar melodias
esquecidas dentro da alma de alguém. Foi como se a gente soubesse que de
repente, num reino muito distante, uma princesa muito triste tivesse sorrido. E
isso fizesse bem ao coração do povo; iluminasse um pouco as suas pobres
choupanas e as suas remotas esperanças.
RUBEM BRAGA - PROENÇA FILHO,
Domício (org.). Pequena antologia do Braga. Rio de Janeiro: Record,
1997.
Questão 10 – Imprudente
ofício é este, de viver em voz alta. (l. 3)
O ofício a que Rubem Braga
se refere é o seu próprio, o de escritor. Para caracterizá-lo, além do adjetivo
“imprudente”, ele recorre a uma metáfora: “viver em voz alta”.
O sentido dessa metáfora,
relativa ao ofício de escrever, pode ser entendido como:
(A) superar conceitos
antigos (B) prestar atenção aos
leitores
(C) criticar prováveis
interlocutores (D) tornar públicos seus
pensamentos
Questão 11 – Alguma
coisa que eu disse distraído − talvez palavras de algum poeta antigo − foi despertar
melodias esquecidas dentro da alma de alguém. (l. 18-19)
O cronista revela que sua
fala ou escrita pode conter algo escrito por “algum poeta antigo”. Ao fazer
essa revelação, o cronista se refere ao seguinte recurso:
(A) polissemia (B) pressuposição
(C) exemplificação (D) intertextualidade
Questão 12 – O episódio do
canário traz uma contribuição importante para o sentido do texto, ao
estabelecer uma analogia entre a palavra do escritor e a música assobiada pela
amiga. A inserção desse episódio no texto reforça a seguinte ideia:
(A) a intolerância leva o
artista ao isolamento
(B) a arte atinge as
pessoas de modo inesperado
(C) a solidão é remediada
com soluções artísticas
(D) a profissão envolve o
artista em conflitos desnecessários
Questão 13 – Toda a
indagação do cronista acerca da palavra se baseia na diferença entre a
importância que ela pode ter, por um lado, para quem a escreve e, por outro,
para quem a lê. O par de vocábulos que melhor exemplifica essa diferença no
texto é:
(A) esqueci (l. 9) − feri (l. 1) (B) ofício (l. 3) − consolo (l. 4)
(C) espontânea (l. 8) − secreta (l. 16) (D) reconciliar (l. 5) − despertar (l. 18)
Questão 14 – Às vezes,
também (l. 4)
Ao estabelecer coesão entre
os dois primeiros parágrafos, a palavra “também”, nesse
contexto, expressa
determinado sentido. Considerando esse sentido, “também” poderia ser
substituído pela seguinte expressão:
(A) desse modo (B) por
outro lado (C) por conseguinte (D) em consequência
Questão 15 – O final do
texto expressa uma reflexão do escritor acerca do poder da sua escrita, a
partir da menção a uma princesa e a um povo. Essa menção sugere,
principalmente, que o escritor deseja que suas palavras tenham o poder de:
(A) desfazer as ilusões
antigas (B) permear as classes
sociais
(C) ajudar as pessoas
discriminadas (D) abolir as hierarquias
tradicionais
Leia também:
PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA - UERJ – 2010
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