Prova de Língua Portuguesa – UERJ
– 2014
Fotojornalismo
Vem perto
o dia em que soará para os escritores a hora do irreparável desastre e da
derradeira desgraça. Nós, os rabiscadores de artigos e notícias, já sentimos
que nos falta o solo debaixo dos pés… Um exército rival vem solapando os
alicerces em que até agora assentava a nossa supremacia: é o exército dos
desenhistas, dos caricaturistas e dos ilustradores. O lápis destronará a pena: ceci
tuera cela1.
O público
tem pressa. A vida de hoje, vertiginosa e febril, não admite leituras
demoradas, nem reflexões profundas. A onda humana galopa, numa espumarada
bravia, sem descanso. Quem não se apressar com ela será arrebatado, esmagado,
exterminado. O século não tem tempo a perder. A eletricidade já suprimiu as
distâncias: daqui a pouco, quando um europeu espirrar, ouvirá incontinenti2 o
“Deus te ajude” de um americano. E ainda a ciência humana há de achar o meio de
simplificar e apressar a vida por forma tal que os homens já nascerão com
dezoito anos, aptos e armados para todas as batalhas da existência.
Já
ninguém mais lê artigos. Todos os jornais abrem espaço às ilustrações copiosas,
que entram pelos olhos da gente com uma insistência assombrosa. As legendas são
curtas e incisivas: toda a explicação vem da gravura, que conta conflitos e mortes,
casos alegres e casos tristes.
É
provável que o jornal-modelo do século 20 seja um imenso animatógrafo3, por
cuja tela vasta passem reproduzidos, instantaneamente, todos os incidentes da
vida cotidiana. Direis que as ilustrações, sem palavras que as expliquem, não
poderão doutrinar as massas nem fazer uma propaganda eficaz desta ou daquela
ideia política. Puro engano. Haverá ilustradores para a sátira, ilustradores
para a piedade.
(...)
Demais, nada impede que seja anexado ao animatógrafo um gramofone de voz
tonitruosa4, encarregado de berrar ao céu e à terra o comentário, grave ou
picante, das fotografias.
E
convenhamos que, no dia em que nós, cronistas e noticiaristas, houvermos
desaparecido da cena – nem por isso se subverterá a ordem social. As palavras
são traidoras, e a fotografia é fiel.
A pena
nem sempre é ajudada pela inteligência; ao passo que a máquina fotográfica
funciona sempre sob a égide5 da soberana Verdade, a coberto das inumeráveis
ciladas da Mentira, do Equívoco e da Miopia intelectual. Vereis que não hão de
ser tão frequentes as controvérsias… (...)
Não
insistamos sobre os benefícios da grande revolução que a fotogravura vem fazer
no jornalismo. Frisemos apenas este ponto: o jornal-animatógrafo terá a
utilidade de evitar que nossas opiniões fiquem, como atualmente ficam, fixadas
e conservadas eternamente, para gáudio6 dos inimigos… Qual de vós, irmãos, não
escreve todos os dias quatro ou cinco tolices que desejariam ver apagadas ou
extintas? Mas, ai! de todos nós! Não há morte para as nossas tolices! Nas
bibliotecas e nos escritórios dos jornais, elas ficam (...) catalogadas. (...)
No
jornalismo do Rio de Janeiro, já se iniciou a revolução, que vai ser a nossa
morte e a opulência7 dos que sabem desenhar. Preparemo-nos para morrer, irmãos,
sem lamentações ridículas, aceitando resignadamente a fatalidade das coisas, e
consolando-nos uns aos outros com a cortesia de que, ao menos, não mais seremos
obrigados a escrever barbaridades…
Saudemos
a nova era da imprensa! A revolução tira-nos o pão da boca, mas deixa-nos
aliviada a consciência.
Olavo Bilac - Gazeta
de Notícias , 13/01/1901
1 ceci tuera cela − isto vai matar aquilo
2 incontinenti − sem demora
3 animatógrafo − aparelho que passa imagens sequenciais
4 tonitruosa − com o volume alto
5 égide − proteção
6 gáudio − alegria extremada
7 opulência − riqueza, grandeza
QUESTÃO 1 - Já em 1901, o escritor Olavo Bilac temia que a
imagem substituísse a escrita. No entanto, ele reconhecia aspectos positivos
dessa possível substituição.
Um desses aspectos é observado no seguinte trecho:
(A) O século não tem tempo a perder.
(B) Já ninguém mais lê artigos.
(C) aceitando resignadamente a fatalidade das coisas.
(D) não mais seremos obrigados a
escrever barbaridades...
QUESTÃO 2 - Vem perto o dia em que soará para os
escritores a hora do irreparável desastre e da derradeira desgraça.
A profecia para os escritores, anunciada na primeira frase
do texto de forma extremamente negativa, se opõe ao tom e à conclusão do texto.
Considerando esse contraste, o texto de Bilac pode ser qualificado basicamente
como:
(A) irônico (B) incoerente (C) contraditório (D)
ultrapassado
QUESTÃO 3 - O texto, apesar de escrito no início do século
XX, demonstra surpreendente atualidade, conferida sobretudo por uma semelhança
entre a vida moderna da época e a experiência contemporânea. Essa semelhança
está exemplificada na passagem apresentada em:
(A) O público tem pressa.
(B) As palavras são traidoras, e a fotografia é fiel.
(C) Não há morte para as nossas tolices!
(D) Nas bibliotecas e nos
escritórios dos jornais, elas ficam (...) catalogadas.
QUESTÃO 4 - O cinema se popularizou no Brasil depois de
esta crônica ter sido escrita. Nela, porém, o autor já antecipa o advento do
novo meio de comunicação.
Um trecho que comprova tal afirmativa é:
(A) E ainda a ciência humana há de achar o meio de
simplificar e apressar a vida
(B) toda a explicação vem da gravura, que conta conflitos
e mortes,
(C) nada impede que seja anexado ao animatógrafo um
gramofone de voz tonitruosa,
(D) a máquina fotográfica
funciona sempre sob a égide da soberana Verdade,
QUESTÃO 5 - Vereis que não hão de ser tão frequentes as
controvérsias…
A previsão de Bilac sobre a diminuição das controvérsias
ou polêmicas, por causa da vitória da imagem sobre a palavra, baseia-se em uma
pressuposição acerca da maneira de representar a realidade. Essa pressuposição
está enunciada em:
(A) o desenho critica o real e as palavras expressam
consciência
(B) a fotografia reproduz o real e as palavras provocam
distorções
(C) a imagem interpreta o real e as palavras precisam de
inteligência
(D) a fotogravura subverte o real
e as palavras tendem ao conservadorismo
Porque a realidade
é inverossímil
Escusando-me1
por repetir truísmo2 tão martelado, mas movido pelo conhecimento de que os
truísmos são parte inseparável da boa retórica narrativa, até porque a maior
parte das pessoas não sabe ler e é no fundo muito ignorante, rol no qual incluo
arbitrariamente você, repito o que tantos já dizem e vivem repetindo, como quem
usa chupetas: a realidade é, sim, muitíssimo mais inacreditável do que qualquer
ficção, pois esta requer uma certa arrumação falaciosa3, a que a maioria dá o
nome de verossimilhança. Mas ocorre precisamente o oposto. Lê-se ficção para
fortalecer a noção estúpida de que há sentido, lógica, causa e efeito lineares
e outros adereços que integrariam a vida. Lê-se ficção, ou mesmo livros de
historiadores ou jornalistas, por insegurança, porque o absurdo da vida é
insuportável para a vastidão dos
esvalidos que povoa a Terra.
João Ubaldo Ribeiro
- Diário do Farol. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002.
1 escusando-me − desculpando-me
2 truísmo − verdade trivial, lugar comum
3 falaciosa − enganosa, ilusória
QUESTÃO 6 - O título do texto soa contraditório, se a
verossimilhança for tomada como uma semelhança com o mundo real, com aquilo que
se conhece e se compreende. Essa contradição se desfaz porque, na interpretação
do autor, a ficção organiza elementos da vida, enquanto a realidade é
considerada como:
(A) linear (B) absurda (C) estúpida (D) falaciosa
QUESTÃO 7 - Para justificar a repetição de algo já
conhecido, o autor se baseia na relação que mantém com os leitores. Com base no
texto, é possível perceber que essa relação se caracteriza genericamente pela:
(A) insegurança do autor (B) imparcialidade do autor
(C) intolerância dos leitores (D) inferioridade dos leitores
QUESTÃO 8 - os truísmos são parte inseparável da boa
retórica narrativa, até porque a maior parte das pessoas não sabe ler
O narrador justifica a necessidade de truísmos pela
dificuldade de leitura da maior parte das pessoas. Encontra-se implícita no
argumento a noção de que o leitor iniciante lê melhor se:
(A) estuda autores clássicos (B) conhece técnicas literárias
(C) identifica ideias conhecidas (D) procura textos recomendados
quadrinho
Adão Iturrusgarai
Folha de São Paulo, 05/03/20 3.
QUESTÃO 9 - O sentido da charge se constrói a partir da
ambiguidade de determinado termo. O termo em questão é:
(A) fora (B) agora (C) sistema (D) protestar
QUESTÃO 10 - A disposição dos manifestantes contrasta com
a atitude do homem de terno e gravata. Essa atitude, no que diz respeito ao uso
da linguagem, caracteriza-se por:
(A) falsa indignação (B) pouca formalidade (C) clara agressividade (D) muita subjetividade
A namorada
Havia um muro alto entre nossas casas.
Difícil de mandar recado para ela.
Não havia e-mail.
O pai era uma onça.
A gente amarrava o bilhete numa pedra presa por
um cordão
E pinchava a pedra no quintal da casa dela.
Se a namorada respondesse pela mesma pedra
Era uma glória!
Mas por vezes o bilhete enganchava nos galhos da
goiabeira
E então era agonia.
No tempo do onça era assim.
Manoel de Barros - Poesia
completa . São Paulo: Leya, 20 0.
QUESTÃO 11 - Difícil de mandar recado para ela.
Não havia e-mail.
O pai era uma onça. (v. 2-4)
O primeiro verso estabelece mesma relação de sentido com
cada um dos dois outros versos. Um conectivo que expressa essa relação é:
(A) porém (B) porque (C) embora (D) portanto
QUESTÃO 12 - O pai era uma onça. (v. 4)
Nesse verso, a palavra onça está empregada em um
sentido que se define como:
(A) enfático (B) antitético (C) metafórico (D) metonímico
O tempo em que o
mundo tinha a nossa idade
Nesse
entretempo, ele nos chamava para escutarmos seus imprevistos improvisos. As
estórias dele faziam o nosso lugarzinho crescer até ficar maior que o mundo.
Nenhuma narração tinha fim, o sono lhe apagava a boca antes do desfecho. Éramos
nós que recolhíamos seu corpo dorminhoso. Não lhe deitávamos dentro da casa:
ele sempre recusara cama feita. Seu conceito era que a morte nos apanha
deitados sobre a moleza de uma esteira. Leito dele era o puro chão, lugar onde
a chuva também gosta de deitar. Nós simplesmente lhe encostávamos na parede da
casa. Ali ficava até de manhã. Lhe encontrávamos coberto de formigas. Parece
que os insectos gostavam do suor docicado do velho Taímo. Ele nem sentia o
corrupio do formigueiro em sua pele.
− Chiças:
transpiro mais que palmeira!
Proferia
tontices enquanto ia acordando. Nós lhe sacudíamos os infatigáveis bichos.
Taímo nos sacudia a nós, incomodado por lhe dedicarmos cuidados.
Meu pai
sofria de sonhos, saía pela noite de olhos transabertos. Como dormia fora, nem
dávamos conta. Minha mãe, manhã seguinte, é que nos convocava:
− Venham:
papá teve um sonho!
E nos
juntávamos, todos completos, para escutar as verdades que lhe tinham sido reveladas.
Taímo
recebia notícia do futuro por via dos antepassados. Dizia tantas previsões que
nem havia tempo de provar nenhuma. Eu me perguntava sobre a verdade daquelas
visões do velho, estorinhador como ele era.
− Nem
duvidem, avisava mamã, suspeitando-nos.
E assim
seguia nossa criancice, tempos afora. Nesses anos ainda tudo tinha sentido: a
razão deste mundo estava num outro mundo inexplicável. Os mais velhos faziam a
ponte entre esses dois mundos. (...)
Mia Couto - Terra sonâmbula. São Paulo, Cia das Letras,
2007.
QUESTÃO 13 - Este texto é uma narrativa ficcional que se
refere à própria ficção, o que caracteriza uma espécie de metalinguagem. A
metalinguagem está melhor explicitada no seguinte trecho:
(A) As estórias dele faziam o nosso lugarzinho crescer até
ficar maior que o mundo.
(B) Meu pai sofria de sonhos, saía pela noite de olhos
transabertos.
(C) E nos juntávamos, todos completos, para escutar as
verdades que lhe tinham sido reveladas.
(D) Nesses anos ainda tudo tinha
sentido:
QUESTÃO 14 - A escrita literária de Mia Couto explora
diversas camadas da linguagem: vocabulário, construções sintáticas, sonoridade.
O exemplo em que ocorre claramente exploração da sonoridade das palavras é:
(A) Nesse entretempo, ele nos chamava para escutarmos seus
imprevistos improvisos.
(B) Não lhe deitávamos dentro da casa: ele sempre recusara
cama feita.
(C) Ele nem sentia o corrupio do formigueiro em sua pele.
(D) Nós lhe sacudíamos os
infatigáveis bichos.
QUESTÃO 15 - Um elemento importante na organização do
texto é o uso de algumas personificações. Uma dessas personificações
encontra-se em:
(A) Éramos nós que recolhíamos seu corpo dorminhoso.
(B) Seu conceito era que a morte nos apanha deitados sobre
a moleza de uma esteira.
(C) Nós lhe sacudíamos os infatigáveis bichos.
(D) Os mais velhos faziam a ponte
entre esses dois mundos.
QUESTÃO 16 - Ao dizer que o pai sofria de sonhos e
não que ele sonhava, o autor altera o significado corrente do ato de sonhar.
Este novo significado sugere que o sonho tem o poder de:
(A) distrair (B) acalmar (C) informar (D) perturbar
2ª EXAME
quadrinho
QUESTÃO 1 - No diálogo das personagens da tira, há mais de
uma ocorrência de paradoxo, ou seja, uma combinação de termos ou expressões que
se contradizem.
O melhor exemplo de paradoxo presente na fala de Joana é:
(A) espaço virtual (B) só se eu falhar (C) rede
antissocial (D) opiniões sem noção
QUESTÃO 2 - Ao descrever sua criação, Joana expressa uma
opinião crítica acerca das redes sociais existentes. Essa crítica é reforçada,
nas falas da personagem, principalmente pelo uso de:
(A) frases de tom exclamativo (B) palavras de sentido negativo
(C) elementos de caracterização sucinta (D) reticências de função
complemen
Superman: 75 anos
Não era
um pássaro nem um avião. O verdadeiro Superman era um pacato contador passando férias
num resort1 ao norte de Nova York.
Joe
Shuster, um dos criadores do personagem, junto com Jerry Siegel, descansava na
colônia de férias quando encontrou Stanley Weiss, jovem de rosto quadrado e
porte atlético, que ele julgou ser a encarnação do herói. Lá mesmo, pediu para
desenhar o moço que serviria de modelo para os quadrinhos dali em diante. Só
neste ano, esses desenhos estão vindo à tona nos E.U.A., como parte das
atividades comemorativas dos 75 anos do personagem.
Embora
tenha mantido a aparência de rapagão musculoso, Superman não foi o mesmo ao
longo dos anos. Nos gibis, oscilou entre mais e menos sarado. Na TV, já foi
mais rechonchudo, até reencarnar como o púbere2 Tom Welling, da série de TV
“Smallville”.
“Desde
pequeno eu sabia que Superman não existia. Mas também sabia que meu pai era o verdadeiro
Superman”, brincou David Weiss, filho do modelo do herói, em entrevista à Folha
de São Paulo. Weiss cresceu comparando o rosto do pai ao desenho pendurado
na sala de casa.
Mas logo
Joe Shuster, que foi seu principal desenhista, acabaria cedendo espaço para
novos cartunistas, que adaptaram a figura aos fatos correntes.
“Essa
mudança é o segredo do Superman. Cada época precisa de um herói só seu, e ele
sempre pareceu ser o cara certo”, diz Larry Tye, considerado o maior estudioso
do personagem. “Nos anos 1930, ele tiraria a América da Grande Depressão. Nos anos
1940, era duro com os nazistas. Nos anos 1950, lutou contra a onda vermelha do
comunismo.”E foi mudando de cara de acordo com a função.
Invenção
dos judeus Jerry Siegel e Joe Shuster, Superman também é visto como um paralelo
da história de Moisés, a criança exilada que cresce numa terra estrangeira e
depois se apresenta como um salvador. A aparência é um misto do também
personagem bíblico Sansão, do deus grego Hércules e de acrobatas de circo. Mas
há quem atribua, até hoje, a dualidade do personagem, que se alterna entre o nerd3
indefeso, tímido e de vista fraca (como Joe Shuster) e um super-herói possante,
à origem judaica dos seus criadores.
“É o
estereótipo judeu do homem fraco, tímido e intelectual que depois se revela um
grande herói”, diz Harry Brod, autor do e-book Superman Is Jewish? (Superman
é judeu?), lançado nos E.U.A. em novembro passado. “Ele é a versão moderna de
Moisés: um bebê de Krypton enviado à Terra, que desenvolve superpoderes para
salvar o seu povo.” Segundo Brod, a analogia é tão nítida que os nazistas
chegaram a discutir a suposta relação em revistas de circulação interna do
regime. Mas, para ele, Hollywood e o tempo suavizaram o paralelo, transformando
Superman numa releitura de Jesus Cristo. “Sua figura foi se tornando mais cristã
com o tempo”, diz Brod. ”Não importa a religião. A ideia de um fracote que se
torna um herói não deixa de ser uma fantasia universal.”
Silas Martí -
Adaptado de folha.uol.com.br, 03/03/2013
1 resort − hotel com área de recreação
2 púbere − adolescente
3 nerd − pessoa muito estudiosa
QUESTÃO 3 - Não era um pássaro nem um avião.
A primeira frase do texto remete às perguntas feitas por
personagens que observavam intrigados o voo do Super-homem em suas muitas
histórias: É um pássaro? É um avião? Não! É o Superhomem! Essa primeira
frase configura um recurso da linguagem conhecido como:
(A) ironia (B) designação (C) verossimilhança (D)
intertextualidade
QUESTÃO 4 - Ao longo da reportagem, observa-se o uso de
uma linguagem informal, registro que estaria mais próximo do usado pelo leitor.
Um claro exemplo desse registro informal da linguagem está em:
(A) O verdadeiro Superman era um pacato contador passando
férias num resort ao norte de Nova York.
(B) Lá mesmo, pediu para desenhar o moço que serviria de
modelo para os quadrinhos dali em diante.
(C) Nos gibis, oscilou entre mais e menos sarado.
(D) Weiss cresceu comparando o
rosto do pai ao desenho pendurado na sala de casa.
QUESTÃO 5 - O autor do texto recorre a depoimentos e falas
de entrevistados, o que confere credibilidade à reportagem. Essa credibilidade
se deve à seguinte característica dos entrevistados:
(A) têm autoridade para tratar do assunto (B) revelam verdades para impactar o público
(C) propõem maneiras para imortalizar o herói (D) apresentam opiniões para
expor contradições
QUESTÃO 6 - “Desde pequeno eu sabia que Superman não
existia. Mas também sabia que meu pai era o verdadeiro Superman”
Essas frases foram ditas, em tom de brincadeira, pelo
filho do homem que inspirou o desenho do personagem. O tom de brincadeira é
construído sobre um elemento linguístico que pode ser considerado como:
(A) antítese (B) paródia (C) dedução (D) personificação
Os usos da casimira
inglesa
Estou lhe
escrevendo, Matilda, para lhe transmitir aquilo que a contrariedade (para não
falar indignação) me impediu de dizer de viva voz. Note, é a primeira vez que
isso acontece nos nossos 35 anos de casados, mas é primeira vez que pode também
ser a última. Não é ameaça. É constatação. Estou profundamente magoado com sua
atitude e não sei se me recuperarei.
Tudo por
causa de sua teimosia. Você insiste, contra todas as minhas ponderações, em dar
a seu pai um corte de casimira inglesa como presente de aniversário. Eu já sei
o que você vai me dizer: é seu pai, você gosta dele, quer homenageá-lo. Mas,
com casimira, Matilda. Com casimira inglesa, Matilda. Que horror, Matilda.
Raciocinemos,
Matilda. Casimira inglesa, você sabe o que é isso? A lã dos melhores ovinos,
Matilda. A tecnologia de um país que, afinal, deu ao mundo a Revolução
Industrial. O trabalho de competentes funcionários. E sobretudo tradição, a
qualidade. Esse é o tecido que está em questão, Matilda. A casimira inglesa.
(...) Isso, a casimira inglesa. Agora, seu pai.
Ele está
fazendo noventa anos. É uma idade respeitável, e não são muitos que chegam lá,
mas − quanto tempo ele pode ainda viver? (...) mesmo que ele viva dez anos,
mesmo que ele viva vinte anos, a casimira sem dúvida durará mais. Aí, depois
que o sepultarmos, depois que voltarmos do cemitério, depois que recebermos os
pêsames dos parentes, e dos amigos, e dos conhecidos, teremos de decidir o que
fazer com as coisas dele, que são poucas e sem valor − à exceção de um casaco
confeccionado com o corte de casimira que você pretende lhe dar. Você, em
lágrimas, dirá que não quer discutir o assunto, mas eu terei que insistir, até
para o seu bem, Matilda; os mortos estão mortos, os vivos precisam continuar a
viver, eu direi. Algumas
hipóteses serão levantadas. Vender? Você dirá que não; seu
pai, o velho fazendeiro, verdade que arruinado, despreza coisas como comprar e
vender, ele acha que ser lojista, como eu, é a suprema degradação. Dar? A quem?
A um pobre? Mas não, ele sempre detestou pobres, Matilda, você lembra a frase
característica de seu pai: tem que matar esses vagabundos. O casaco ficaria
pendurado em nosso roupeiro, Matilda. Ficaria pendurado muito tempo lá. A não
ser, Matilda, que seu pai dure mais tempo que o casaco. Não apenas isso é
impossível, como remete a uma outra interrogação: e o seguro de vida dele,
Matilda? E as joias de sua mãe, que ele guarda debaixo do colchão? Quanto tempo
ainda terei de esperar?
Estou
partindo Matilda. Deixo o meu endereço. Como você vê, estou indo para longe,
para uma pequena praia da Bahia. Trópico, Matilda. Lá ninguém usa casimira.
Moacyr Scliar - Contos
reunidos . São Paulo: Cia. das Letras, 1995.
QUESTÃO 7 - O conto de Moacyr Scliar adota a forma de uma
carta, gênero que tem convenções específicas. Uma das marcas que permitem
associar esse texto a uma carta é a presença de:
(A) vocativo (B) narrativa (C) confissão (D) argumentação
QUESTÃO 8 - Apesar de enunciado em primeira pessoa, o
texto inclui, implícita ou explicitamente, outras vozes. Um exemplo da presença
explícita da fala de outro personagem no texto é:
(A) Que horror, Matilda.
(B) A tecnologia de um país que, afinal, deu ao mundo a
Revolução Industrial.
(C) tem que matar esses vagabundos.
(D) Lá ninguém usa casimira.
QUESTÃO 9 - para lhe transmitir aquilo que a
contrariedade (para não falar indignação) me impediu de dizer de viva voz.
Na sequência em que se encontram, as palavras grifadas
configuram o seguinte recurso:
(A) gradação (B) enumeração (C) ambiguidade (D)
generalização
QUESTÃO 10 - Ele está fazendo noventa anos. É uma idade
respeitável, e não são muitos que chegam lá, mas − quanto tempo ele pode
ainda viver?
No contexto, a pergunta feita pelo narrador está
diretamente ligada à informação acerca da idade do pai de Matilda. No entanto,
entre a informação e a pergunta, o narrador enuncia duas ponderações que
possuem a função de:
(A) desfazer a certeza de que a fala é impensada
(B) amenizar o choque que a indagação pode trazer
(C) reiterar a ideia de que o presente é equivocado
(D) enfatizar o realismo que o
remetente quer mostrar
A invasão dos
blablablás
O planeta
é dividido entre as pessoas que falam no cinema − e as que não falam. É uma
divisão recente. Por décadas, os falantes foram minoria. E uma minoria
reprimida. Quando alguém abria a boca na sala escura, recebia logo um
shhhhhhhhhhhhh. E voltava ao estado silencioso de onde nunca deveria ter saído.
Todo pai ou mãe que honrava seu lugar de educador ensinava a seus filhos que o
cinema era um lugar de reverência. Sentados na poltrona, as luzes se apagavam, uma
música solene saía das caixas de som, as cortinas se abriam e um novo mundo
começava.
Sem sair
do lugar, vivíamos outras vidas, viajávamos por lugares desconhecidos,
chorávamos, ríamos, nos apaixonávamos. Sentados ao lado de desconhecidos,
passávamos por todos os estados de alma de uma vida inteira sem trocar uma
palavra. Comungávamos em silêncio do mesmo encantamento. (...)
Percebi
na sexta-feira que não ia ao cinema havia três meses. Não por falta de tempo,
porque trabalhar muito não é uma novidade para mim. Mas porque fui expulsa do
cinema. Devagar, aos poucos, mas expulsa. Pertenço, desde sempre, às fileiras
dos silenciosos. Anos atrás, nem imaginava que pudesse haver outro
comportamento além do silêncio absoluto no cinema. Assim como não imagino
alguém cochichando em qualquer lugar onde entramos com o compromisso de
escutar.
Não é uma
questão de estilo, de gosto. Pertence ao campo do respeito, da ética. Cinema é
a experiência da escuta de uma vida outra, que fala à nossa, mas nós não
falamos uns com os outros. No cinema, só quem fala são os atores do filme. Nós
calamos para que eles possam falar. Nossa vida cala para que outra fale.
Isso era
cinema. Agora mudou. É estarrecedor, mas os blablablás venceram. Tomaram conta das
salas de cinema. E, sem nenhuma repressão, vão expulsando a todos que entram no
cinema para assistir ao filme sem importunar ninguém. (...)
Eliane Brum - revistaepoca.globo.com,
0/08/2009
QUESTÃO 11 - O texto é centrado na expressão onomatopaica blablablá,
que normalmente se escreve no lugar de uma longa fala irrelevante. A autora, no
entanto, lhe empresta outro sentido e outra função. No texto, a expressão os
blablablás se refere àqueles que:
(A) tratam de assuntos banais (B) reprimem pessoas desatentas
(C) discutem ética de espectadores (D) falam em momento inapropriado
QUESTÃO 12 - No cinema, só quem fala são os atores do
filme. Nós calamos para que eles possam falar. Nossa vida cala para que outra
fale.
O trecho acima usa uma figura de linguagem chamada de:
(A) metáfora (B) hipérbole (C) eufemismo (D) metonímia
QUESTÃO 13 - Isso era cinema.
O verbo assume, nesta frase, o sentido específico de
indicar um estado de coisas que durava. No entanto, ele assume o sentido
específico de indicar uma mudança sem retorno na seguinte reescritura:
(A) Isso foi o cinema. (B) Isso será o cinema.
(C) Isso tem sido o cinema. (D) Isso teria sido o cinema.
Por que ler?
Certas
coisas não basta anunciar, como uma verdade que deve ser aceita por si só.
Precisamos dizer o porquê. Se queremos fazer os brasileiros lerem mais de um
livro por ano, essa trágica média nacional, precisamos de fato conquistar o seu
interesse.
Listo os
três benefícios fundamentais que a leitura pode trazer.
O
primeiro: ler nos faz mais felizes. É um caminho para o autoconhecimento, e o
exercício constante de autoconhecimento é um caminho para a felicidade. A vida,
também no plano individual, é mais intensa na busca. Os personagens de um livro
de ficção, os fatos de um livro-reportagem, as ideias de um livro científico,
interagem com os nossos sentimentos, ora refletindo-os, ora agredindo-os, e
portanto servindo de parâmetro para sabermos quem somos, seja por identidade ou
oposição.
O segundo
benefício: ler nos torna amantes melhores. Treina nossa sensibilidade para o
contato com o outro. Amores românticos, amores carnais, amores perigosos,
amores casuais, amores culpados, todos estão nos livros. A sensibilidade do
leitor encontra seu caminho. E quanto mais o nosso imaginário estiver arejado
pelas infinitas opções que as histórias escritas nos oferecem, sejam elas
factuais ou ficcionais, com mais delícia aproveitamos os bons momentos do amor,
e com mais calma enfrentamos os maus.
Por fim:
ler nos torna cidadãos melhores. Os livros propiciam ao leitor um ponto de
vista privilegiado, de onde observa conflitos de interesses. No processo, sua
consciência é estimulada a se posicionar com equilíbrio. Tendem a ganhar forma,
então, princípios de “honestidade”, “honra”, “justiça” e “generosidade”. Guiado
por estes valores, o leitor pode enfim ultrapassar as fronteiras sociais, e ver
a humanidade presente em todos os tipos, em todas as classes.
Teríamos
menos escândalos de corrupção, se lêssemos mais; construiríamos uma sociedade menos
injusta, se educássemos melhor os nossos espíritos; eu acredito nisso.
Rodrigo Lacerda - Adaptado
de rodrigolacerda.com.br.
QUESTÃO 14 - ler nos faz mais felizes. É um caminho
para o autoconhecimento, e o exercício constante de autoconhecimento é um
caminho para a felicidade.
Neste argumento, Rodrigo Lacerda formula uma premissa
geral e uma premissa particular, para relacioná-las na conclusão. Essa
estrutura caracteriza o argumento como:
(A) indutivo (B) dialético (C) dedutivo (D) comparativo
QUESTÃO 15 - Os três benefícios fundamentais da leitura
apresentados no texto são listados numa determinada ordem. Essa ordem mostra
uma organização na seguinte direção:
(A) racional para emocional (B) abstrato para concreto
(C) factual para ficcional (D) individual para social
QUESTÃO 16 - O texto do escritor Rodrigo Lacerda sugere
que, por meio da literatura, o leitor pode acompanhar perspectivas diferentes
da própria. O trecho que explicita o contato do leitor com perspectivas
distintas é:
(A) A vida, também no plano individual, é mais intensa na
busca.
(B) Os livros propiciam ao leitor um ponto de vista
privilegiado, de onde observa conflitos de interesses.
(C) Tendem a ganhar forma, então, princípios de “honestidade”,
“honra”, “justiça” e “generosidade”.
(D) construiríamos uma sociedade menos injusta, se
educássemos melhor os nossos espíritos.
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