Tema
de Redação – Unesp – 2015
Texto 1 - O Brasil era o último país do mundo ocidental a eliminar a
escravidão! Para a maioria dos parlamentares, que se tinham empenhado pela
abolição, a questão estava encerrada. Os ex-escravos foram abandonados à sua própria
sorte. Caberia a eles, daí por diante, converter sua emancipação em realidade.
Se a lei lhes garantia o status jurídico de homens livres, ela não lhes
fornecia meios para tornar sua liberdade efetiva. A igualdade jurídica não era suficiente para eliminar as enormes
distâncias sociais e os preconceitos que mais de trezentos anos de cativeiro
haviam criado. A Lei Áurea abolia a escravidão mas não seu legado. Trezentos
anos de opressão não se eliminam com uma penada. A abolição foi apenas o
primeiro passo na direção da emancipação do negro. Nem por isso deixou de ser
uma conquista, se bem que de efeito limitado.
(Emília Viotti da Costa. A abolição, 2008.)
Texto 2 - O Instituto Ethos, em parceria com outras entidades, divulgou
um estudo sobre a participação do negro nas 500 maiores empresas do país. E
lamentou, com os jornais, o fato de que 27% delas não souberam responder quantos
negros havia em cada nível funcional. Esse dado foi divulgado como indício de
que, no Brasil, existe racismo. Um paradoxo. Quase um terço das empresas
demonstra a entidades seriíssimas que “cor” ou “raça” não são filtros em seus
departamentos de RH e, exatamente por essa razão, as empresas passam a ser
suspeitas de racismo. Elas são acusadas por aquilo que as absolve. Tempos
perigosos, em que pessoas, com ótimas intenções, não percebem que talvez
estejam jogando no lixo o nosso maior patrimônio: a ausência de ódio racial.
Há toda uma gama de
historiadores sérios, dedicados e igualmente bem-intencionados, que estudam a
escravidão e se deparam com esta mesma constatação: nossa riqueza é esta, a
tolerância. Nada escamoteiam: bem documentados, mostram os horrores da
escravidão, mas atestam que, não a cor, mas a condição econômica é que explica
a manutenção de um indivíduo na pobreza. [...]. Hoje, se a maior parte dos
pobres é de negros, isso não se deve à cor da pele. Com uma melhor distribuição
de renda, a condição do negro vai melhorar acentuadamente. Porque, aqui, cor
não é uma questão.
(Ali Kamel. “Não somos racistas”. www.oglobo.com.br, 09.12.2003.)
Texto 3 - Qualquer estudo sobre o racismo no Brasil deve começar por
notar que, aqui, o racismo é um tabu. De fato, os brasileiros imaginam que
vivem numa sociedade onde não há discriminação racial. Essa é uma fonte de
orgulho nacional, e serve, no nosso confronto e comparação com outras nações,
como prova inconteste de nosso status de povo civilizado.
(Antonio Sérgio Alfredo Guimarães. Racismo e anti-racismo no Brasil,
1999. Adaptado.)
Texto 4 - Na ausência de uma política discriminatória oficial, estamos
envoltos no país de uma “boa consciência”, que nega o preconceito ou o
reconhece como mais brando. Afirma-se de modo genérico e sem questionamento uma
certa harmonia racial e joga-se para o plano pessoal os possíveis conflitos.
Essa é sem dúvida uma maneira problemática de lidar com o tema: ora ele se
torna inexistente, ora aparece na roupa de alguém outro.
É só dessa maneira que
podemos explicar os resultados de uma pesquisa realizada em 1988, em São Paulo,
na qual 97% dos entrevistados afirmaram não ter preconceito e 98% dos mesmos
entrevistados disseram conhecer outras pessoas que tinham, sim, preconceito. Ao
mesmo tempo, quando inquiridos sobre o grau de relação com aqueles que consideravam
racistas, os entrevistados apontavam com frequência parentes próximos,
namorados e amigos íntimos. Todo brasileiro parece se sentir, portanto, como
uma ilha de democracia racial, cercado de racistas por todos os lados.
(Lilia Moritz Schwarcz. Nem preto nem branco, muito pelo contrário,
2012. Adaptado.)
Com base nos textos
apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva uma redação de gênero
dissertativo,empregando a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema:
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