TEMA
DE REDAÇÃO – UNIFESP 2012
LIVRO APROVADO PELO MEC ACEITA ERROS DE
CONCORDÂNCIA
Charges como essa inspiraram-se na polêmica
instalada devido à orientação sobre variação linguística em um livro didático produzido
para a Educação de Jovens e Adultos, Por uma vida melhor, distribuído
pelo Ministério da Educação (MEC).
A passagem polêmica traz as seguintes informações:
Os livro ilustrado mais interessante estão
emprestado.
livro (masculino, singular) os (masculino, plural) ilustrado
(masculino, singular) interessante (masculino, singular) emprestado (masculino,
singular)
Você acha que o autor dessa frase se refere a um
livro ou a mais de um livro? Vejamos:
O fato de haver a palavra (plural) indica que se
trata de mais de um livro. Na variedade
popular, basta que esse primeiro termo esteja no
plural para indicar mais de um referente. Reescrevendo a frase no padrão da
norma culta, teremos:
Os livros ilustrados mais interessantes estão
emprestados.
Você pode estar se perguntando: ‘ Mas eu posso
falar ‘os livro’?”
Claro que pode. Mas fique atento porque, dependendo
da situação, você corre o risco de
ser vítima de preconceito linguístico. Muita gente
diz o que se deve e o que não se deve
falar e escrever, tomando todas as regras estabelecidas
para a norma culta como padrão
de correção de todas as formas linguísticas. O falante,
portanto, tem de ser capaz de usar a variante adequada da língua para cada ocasião.
Sírio
Possenti, professor da Unicamp, em artigo publicado no jornal O Estado de
S.Paulo, em 22.05.2011, afirmou: “O jornalismo nativo teve uma semana
infeliz. Ilustres colunistas e afamados comentaristas bateram duro em um livro,
com base na leitura de uma das páginas de um dos capítulos. Houve casos em que
nem entrevistado nem entrevistador conheciam o teor da página, mas apenas uma
nota que estava circulando (meninos, eu ouvi). Nem por isso se abstiveram de ‘analisar’.”
O professor apontou três pontos fundamentais sobre o assunto:
I. “Uma questão refere-se ao conceito de regra:
quem acha que gramática quer dizer gramática normativa toma o conceito de regra
como lei e o de lei como ordem: deve-se falar / escrever assim ou assado; as
outras formas são erradas. Mas o conceito de regra / lei, nas ciências (em
linguística, no caso), tem outro sentido: refere-se à regularidade (...). ‘Os
livro’ segue uma regra. E uma gramática é conjunto de regras, também
descritivas.”
II. “Outro problema foi responder ‘pode’ à pergunta
se se pode dizer os livro. ‘Pode’ significa possibilidade (pode chover), mas
também autorização (pode comer buchada). No livro, ‘pode’ está entre
possibilidade e autorização. Foi esta a interpretação que gerou as reações. Além
disso, comentaristas leram ‘pode’ como ‘deve’. E disseram que o livro ensina
errado, que o errado agora é certo.”
III. “A terceira passagem atacada foi a advertência
de que quem diz ‘os livro’ pode ser vítima de preconceito. Achou-se que não há
preconceito linguístico. Mas a celeuma mostra que há, e está vivíssimo. Uma
prova foi a associação da variedade popular ao risco do fim da comunicação. Li
que o português ‘correto’ é efeito da evolução (pobre Darwin!). Ouvi que a escrita
(!) separa os homens dos animais!”
Em
artigo na revista Veja, em 25.05.2011, a escritora Lya Luft disse: “O
livro e a ideia que o fundamenta começam a merecer críticas de entidades como a
Academia Brasileira de Letras e de centenas de estudiosos. Eu o vejo como o
coroamento do descaso, da omissão, da ignorância quanto à língua e de algum
laivo ideológico torto, que não consigo entender bem. Acrescenta: “Essa
variedade se chama adequação, é essencial, é natural e enriquece a língua. Mas
querer que a escola ignore que existe uma língua-padrão, que todos temos o
direito de conhecer, é nivelar por baixo, como se o menos informado fosse incapaz.
É mais uma vez discriminar quem não pôde desenvolver plenamente suas
capacidades.”
No
dia 19.05.2011, em seu Editorial, a Folha de S.Paulo publicou: “O episódio,
que faz lembrar as ferozes controvérsias gramaticais da República Velha
(1889-1930), é menos relevante em si do que pelo que reitera em termos de
mentalidade pedagógica. De algumas décadas para cá, a pretexto de promover uma
educação ‘popular’ ou ‘democrática’, muitos educadores dedicam-se a solapar
toda forma de saber implicada no repertório de conteúdos que a humanidade vem
acumulando ao longo das gerações. Em vez da revolução pedagógica que apregoam,
o resultado tem sido a implantação despercebida da lei do menor esforço nas
escolas. Estuda-se pouco e ensina-se mal. Isso – e não suscetibilidades gramaticais
– é o que deveria preocupar.”
Por
fim, veja-se a posição da Associação Brasileira de Linguística (ABRALIN): “O
livro acata orientações dos PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais) já em
andamento há mais de uma década. Outros livros didáticos também englobam a
discussão da variação linguística para ressaltar o papel e a importância da
norma culta no mundo letrado. Portanto, nunca houve a defesa de que a norma
culta não deva ser ensinada. Ao contrário, entende-se que esse é o papel da
escola, garantir o domínio da norma para o acesso efetivo aos bens culturais e
para o pleno exercício da cidadania. Esta é a única razão que justifica a existência
da disciplina de Língua Portuguesa para falantes nativos de português.”
Conclui-se o texto: “é importante esclarecer que o uso de formas linguísticas
de menor prestígio não é indício de ignorância ou de outro atributo que
queiramos impingir aos que falam desse ou daquele modo. A ignorância não está
ligada às formas de falar ou ao nível de letramento. Aliás, pudemos comprovar
isso por meio desse debate que se instaurou em relação ao ensino de língua e à
variedade linguística.”
Com
base nas informações apresentadas – e em outros conhecimentos sobre o assunto
discutido – elabore um texto dissertativo, em norma-padrão da língua, abordando
o seguinte tema:
A questão da variação linguística no
contexto da educação
Leia também:
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Tema de Redação - UFG - 2013 - 2º Semestre
Tema de Redação - UFRJ - 2011
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