TEMA DE REDAÇÃO – PUC-RIO
– 2017 – 2º Semestre
REDAÇÃO
Dentre
outras, encontramos, no “Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa”, as
seguintes acepções para a palavra trabalho:
1.
Aplicação das forças e faculdades humanas para alcançar um determinado fim.
2.
Atividade coordenada, de caráter físico e/ou intelectual, necessária à
realização de qualquer tarefa ou empreendimento.
3.
Exercício dessa atividade como ocupação, ofício, profissão etc.
4.
Trabalho remunerado ou assalariado; serviço.
5.
Econ. Atividade humana, considerada como fator de produção.
Seguindo
as instruções abaixo, produza um texto dissertativo-argumentativo – com cerca
de 25 linhas –, discorrendo sobre o que, na sua concepção, é o trabalho hoje em
dia. Seu texto deve, obrigatoriamente, RESUMIR e COMENTAR alguma parte, de,
pelo menos, um dos textos da prova, seja para concordar com ele, seja para
discordar de seu teor –, acrescentando a devida referencialização. Dê um título
criativo ao seu texto
TEXTO 1
Desde os
primeiros séculos da colonização vemos mulheres à frente de pequenos negócios.
Elas não só sustentavam suas casas, mas, ao contrário do que se acreditou por
muito tempo, eram visíveis nas cidades. Estalajadeiras que “davam de comer em
suas casas”, costureiras, tecedeiras, as que “tinham casa de vender coisas de
comer e outras mercadorias”, “mestras de ensinar moças a lavrar e cozer”, além
de taverneiras, aparecem na documentação da Inquisição em suas visitas a
Salvador e Recife.
Padeiras?
Muitas. Na Salvador do século XVIII, certa Domingas Simões Pinheiro era “juíza
das padeiras”, por ser a mais antiga da cidade. Ali, uma relação de
contribuintes do ano de 1648 traz o nome de nove mulheres donas de tavernas,
padarias e vendas. Em São Paulo, onde se plantava trigo, a Câmara Municipal
ameaçava aquelas que adulteravam o pão, misturando-lhe à massa farinha de
mandioca e de milho branco. Na mesma cidade, padeiras mantinham constante
litígio com as câmaras que controlavam o peso e o preço do pão. E elas recorriam
a greves, petições, protestos e embustes para manter seus negócios e controlar,
à sua maneira [...], o peso e o preço do pão!
DEL PRIORE,
Mary, Histórias da gente brasileira: volume I: colônia. São Paulo: Leya, 2016.
p. 99.
TEXTO 2
Revista do
Livro: Onde foi o seu primeiro emprego no Rio?
Ferreira
Gullar: Eu trabalhava no Jornal das Letras, e o João Condé, sabendo que eu
estava a perigo, perguntou se eu não queria trabalhar na revista do Instituto
de Aposentadoria dos Comerciários (IAPC), que era feita por ele. A revista era
um cabide de emprego: “não trabalhavam” lá Otto Lara Resende, Breno Accioly,
Hélio Pelegrino, Lucio Cardoso, todo mundo – só assinavam o ponto. O único que
trabalhava era eu, porque, como não tinha onde ficar, lá pelo menos eu tinha mesa,
máquina de escrever, telefone e tranquilidade total. E ainda recebia salário.
Quando criaram a sala de imprensa do IAPC, fui trabalhar lá: fazia textos sobre
seminários, leis referentes à previdência social. Depois desse período, comecei
a trabalhar na revista Manchete.
GULLAR,
Ferreira. Autobiografia Poética e outros textos. Belo Horizonte, Autêntica ed.,
2015.
TEXTO 3
“De acordo
com o último cálculo, um jovem americano com nível médio de educação espera
mudar de emprego 11 vezes durante sua vida de trabalho – e o ritmo e a
frequência da mudança deverão continuar crescendo antes que a vida de trabalho
dessa geração acabe. “Flexibilidade” é o slogan do dia, e quando aplicado ao
mercado de trabalho augura um fim do “emprego tal como o conhecemos”,
anunciando em seu lugar o advento do trabalho por contratos de curto prazo, ou
sem contratos, posições sem cobertura previdenciária, mas com cláusulas “até
nova ordem”. A vida de trabalho está saturada de incertezas.”
BAUMAN,
Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro, Zahar ed.,2001.
TEXTO 4
Rodney
Everts, como o chamarei aqui, é um jamaicano que veio para Boston quando tinha
dez anos e subiu no trabalho à maneira antiga, de aprendiz a mestre padeiro e
supervisor. Essa trajetória representa vinte anos de luta. Ele subiu por pura
determinação e merecimento...
Recebeu
bem a aposentadoria e a contratação da força de trabalho poliglota. Ele é
responsável, na verdade, pela escolha da maioria dos novos padeiros, mas também
fica furioso com a maneira como eles trabalham cegamente, embora entenda que o
baixo nível de solidariedade e qualificação não é culpa dos trabalhadores. A
maioria das pessoas que escolhe fica, no máximo, dois anos na padaria; os
jovens trabalhadores, não sindicalizados, são especialmente transitórios.
Rodney também fica furioso com a empresa por ela preferir esses trabalhadores
não sindicalizados; ele está convencido de que, se fossem mais bem pagos,
ficariam mais tempo. E fica furioso com a empresa por usar horários de
“flexitempo” como um atrativo para o trabalho de nível inferior. Everts quer
todo o pessoal junto na padaria, ao mesmo tempo, para cuidar dos problemas da
melhor maneira possível. [...]
.....................................................................................................................
Os
padeiros têm uma vívida consciência de que executam tarefas muito simples,
fazendo menos do que sabem. Um dos italianos me disse o seguinte:
- Na
minha casa, faço pão mesmo, sou um padeiro. Aqui aperto botões.
Quando
lhe perguntei por que não assistira ao seminário de Everts, respondeu:
- Não
importa. Não vou ficar fazendo isso o resto da vida [...]
....................................................................................................................
A
tecnologia na padaria é importante para essa fraca identidade com o trabalho,
mas não exatamente como se esperava. Em vez de hostis, as máquinas, nesse local
de trabalho, são planejadas para ser fáceis de usar: têm ícones visuais claros
e janelas bem organizadas, que se assemelham ás telas dos computadores
domésticos. Um vietnamita, que mal fala inglês, e que não tem um verdadeiro
entendimento da diferença entre uma baguette e um croissant, pode operá-las. Há
um motivo econômico para esses misturadores, prensas e fornos fáceis de usar:
permitem à empresa contratar trabalhadores com salários mais baixos que antes,
quando eram os trabalhadores, e não as máquinas, que detinham as qualificações
– embora hoje todos tenham qualificações técnicas formais mais elevadas.
Acabei
compreendendo que é a própria facilidade de uso da padaria que pode explicar em
parte a confusão que as pessoas sentem sobre si mesmas como padeiras. Em todas
as formas de trabalho, desde esculpir a servir refeições, as pessoas se
identificam com tarefas que as desafiam: as tarefas difíceis. Mas, nesse local
de trabalho flexível, com seus trabalhadores poliglotas sempre indo e vindo, e
ordens radicalmente diferentes a cada dia, a maquinaria é o único verdadeiro
padrão de ordem; e, por isso, tem de ser fácil para qualquer um, não importa
quem, operar. A dificuldade é contraprodutiva num regime flexível. Por um
terrível paradoxo, quando diminuímos a dificuldade e a resistência, criamos as
condições próprias para uma atitude acrítica e indiferente por parte dos
usuários.
p 81 a 85
(trechos adaptados) SENNETT, Richard. A corrosão do caráter: consequências
pessoais do trabalho no novo capitalismo. Rio de Janeiro: Record, 2009.
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