Olegário
Mariano – O Poeta das Cigarras
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Pertenceu à Academia Brasileira de Letras, sendo eleito para a cadeira 26 em
1926.
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A rigor, não pertenceu a nenhuma escola literária, embora fosse muito próximo
aos parnasianos.
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Poeta de grande popularidade em vida, com uma poesia simples e facilmente
assimilável.
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Ficou conhecido como o “Poeta das Cigarras” por retratá-las em inúmeros poemas.
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Entre seus temas preferidos figuram a cigarra, as coisas da terra, a
simplicidade, o cotidiano, o Natal, os animais, as festas populares, etc.
O
Enterro da Cigarra
As formigas levavam-na... Chovia...
Era o fim... Triste Outono fumarento...
Perto, uma fonte, em suave movimento,
Cantigas de água trêmula carpia.
As formigas levavam-na... Chovia...
Era o fim... Triste Outono fumarento...
Perto, uma fonte, em suave movimento,
Cantigas de água trêmula carpia.
Quando
eu a conheci, ela trazia
Na voz um triste e doloroso acento.
Era a, cigarra de maior talento,
Mais cantadeira desta freguesia.
Na voz um triste e doloroso acento.
Era a, cigarra de maior talento,
Mais cantadeira desta freguesia.
Passa
o cortejo entre árvores amigas...
Que tristeza nas folhas.., que tristeza
Que alegria nos olhos das formigas!
Que tristeza nas folhas.., que tristeza
Que alegria nos olhos das formigas!
Pobre
cigarra! quando te levavam,
Enquanto te chorava a Natureza,
Tuas irmãs e tua mãe cantavam...
Enquanto te chorava a Natureza,
Tuas irmãs e tua mãe cantavam...
(Olegário
Mariano)
O
Conselho das Árvores
Sofro, luz dos meus olhos, quando dizes
Que a vida não te alenta nem conforta.
Olha o exemplo das árvores felizes
Dentro da solidão da noite morta.
Sofro, luz dos meus olhos, quando dizes
Que a vida não te alenta nem conforta.
Olha o exemplo das árvores felizes
Dentro da solidão da noite morta.
Que
lhes importa a dor, que lhes importa
O drama que há no fundo das raízes?
Não sentem quando o vento os ramos corta
E as folhas leva em várias diretrizes?
O drama que há no fundo das raízes?
Não sentem quando o vento os ramos corta
E as folhas leva em várias diretrizes?
Que
lhes importa a maldição do outono
E os dedos envolventes da garoa,
Se dão sombra às taperas no abandono?!...
E os dedos envolventes da garoa,
Se dão sombra às taperas no abandono?!...
Levanta
os braços para o firmamento
E canta a vida porque a vida é boa
Mesmo esmagada pelo sofrimento.
E canta a vida porque a vida é boa
Mesmo esmagada pelo sofrimento.
(Olegário
Mariano)
A Cigarra e a Formiga
Dona
Formiga, nesta redondeza
Rústica e solitária,
É tida
Como três vezes milionária,
Possuidora de esplêndida riqueza
Que levou a juntar durante toda a vida.
Acostumou-se desde criança à luta,
Ao sol de fogo e à aventura brava.
Vivia a trabalhar heróica e resoluta
Armazenando tudo o que ganhava.
Hoje está bem, mas é geralmente malquista.
Faltam-lhe uns poucos sentimentos nobres.
É em demasia egoísta
E odeia as raparigas que são pobres.
Dona Cigarra, por exemplo, alheia
A tudo, vive como pode, à toa...
Canta os dias a fio...
Tem a garganta quase sempre cheia
E quase sempre o estômago vazio...
Entretanto, coitada! É humilde e boa.
Chega a passar misérias, mas que importa?
Só quer que a sua vida não se acabe.
Anda de porta em porta...
Se não trabalha, é só porque não sabe.
Entregou-se de vez à vida airada e quando
Se lhe fala em riqueza,
Ela responde, trêfega, cantando
Que o seu grande tesouro é a Natureza.
Ora, um dia... (chegara o inverno) a pobre
Foi ter à casa verde da vizinha
E apelou humilhada,
Para o seu grande sentimento nobre:
— “Mate-me a fome cruel que me espezinha,
quero pão e mais nada.”
Mas a irônica amiga,
Impassível, britânica, solene,
Falou assim:
— “Sou a mesma Formiga
De que falava o velho La Fontaine,
Nada esperes de mim. “
— “Tu, que fizeste na estação ardente
Quando me extenuava, estrada fora?”
— “Eu cantava” — responde-lhe a inocente.
— “Ah! Cantavas? Pois canta e dança agora!”
Deus que ouvira, entretanto,
Sentenciou da alta abóbada vazia:
Canta, Cigarra, canta que o teu canto
Será teu pão de cada dia.
Esta leda bizarra
Que o tempo não consome,
Vem aos poetas provar
Que a Cigarra
Nunca mais morreu de fome...
Morre agora é de cantar.
Rústica e solitária,
É tida
Como três vezes milionária,
Possuidora de esplêndida riqueza
Que levou a juntar durante toda a vida.
Acostumou-se desde criança à luta,
Ao sol de fogo e à aventura brava.
Vivia a trabalhar heróica e resoluta
Armazenando tudo o que ganhava.
Hoje está bem, mas é geralmente malquista.
Faltam-lhe uns poucos sentimentos nobres.
É em demasia egoísta
E odeia as raparigas que são pobres.
Dona Cigarra, por exemplo, alheia
A tudo, vive como pode, à toa...
Canta os dias a fio...
Tem a garganta quase sempre cheia
E quase sempre o estômago vazio...
Entretanto, coitada! É humilde e boa.
Chega a passar misérias, mas que importa?
Só quer que a sua vida não se acabe.
Anda de porta em porta...
Se não trabalha, é só porque não sabe.
Entregou-se de vez à vida airada e quando
Se lhe fala em riqueza,
Ela responde, trêfega, cantando
Que o seu grande tesouro é a Natureza.
Ora, um dia... (chegara o inverno) a pobre
Foi ter à casa verde da vizinha
E apelou humilhada,
Para o seu grande sentimento nobre:
— “Mate-me a fome cruel que me espezinha,
quero pão e mais nada.”
Mas a irônica amiga,
Impassível, britânica, solene,
Falou assim:
— “Sou a mesma Formiga
De que falava o velho La Fontaine,
Nada esperes de mim. “
— “Tu, que fizeste na estação ardente
Quando me extenuava, estrada fora?”
— “Eu cantava” — responde-lhe a inocente.
— “Ah! Cantavas? Pois canta e dança agora!”
Deus que ouvira, entretanto,
Sentenciou da alta abóbada vazia:
Canta, Cigarra, canta que o teu canto
Será teu pão de cada dia.
Esta leda bizarra
Que o tempo não consome,
Vem aos poetas provar
Que a Cigarra
Nunca mais morreu de fome...
Morre agora é de cantar.
(Olegário
Mariano)
Meio-dia
Meio
dia. A abrasada calmaria
No
amplo manto de fogo a mata esconde,
Na
fornalha que envolve o meio-dia
O
ouro do sol tempera o ouro da fronde.
Pesa
o silêncio sobre a frondaria…
Desponta
o rio não se sabe donde.
Só,
com a voz da mata, em agonia,
Uma
cigarra zine e outra responde…
É
o grito humano que da natureza
Sobe
ao tranquilo azul da imensidade,
Ungido
de amargura e de incerteza…
Querem
chorar as árvores sem pranto
E
as cigarras ao sol clamam piedade
Para
suas irmãs que sofrem tanto!
(Olegário
Mariano)
Ele
sonhou demais e amou demais. Cansado,
Osso e pele, da cor de antigos pergaminhos,
Olha a lança quebrada, o escudo esfacelado,
E os pés sangrando da aspereza dos espinhos.
Se a aventura o levou por todos os caminhos,
Não teve a humilhação do sonho malogrado.
Atirou-se de encontro aos moinhos e os moinhos
De asas tontas, lá estão no céu, de lado a lado...
Herói, sentiu na luta a glória do fracasso
Mas fez brotar do fundo sulco do seu passo
A flor do Ideal que deu renome ao Campeador:
Todos temos na vida uma alma igual à sua:
Um velho Sancho que nos segue pela rua
E um velho amor que não existe... Um pobre amor.
Osso e pele, da cor de antigos pergaminhos,
Olha a lança quebrada, o escudo esfacelado,
E os pés sangrando da aspereza dos espinhos.
Se a aventura o levou por todos os caminhos,
Não teve a humilhação do sonho malogrado.
Atirou-se de encontro aos moinhos e os moinhos
De asas tontas, lá estão no céu, de lado a lado...
Herói, sentiu na luta a glória do fracasso
Mas fez brotar do fundo sulco do seu passo
A flor do Ideal que deu renome ao Campeador:
Todos temos na vida uma alma igual à sua:
Um velho Sancho que nos segue pela rua
E um velho amor que não existe... Um pobre amor.
(Olegário
Mariano, in “Cantigas de Encurtar Caminho”, 1949)
Noite
Sonora
Anoiteceu.
Pelas montanhas veio
Lentamente
o crepúsculo caindo ...
O
céu, redondo e claro como um seio,
Ficou,
de lindo que era, inda mais lindo.
O
vale abriu-se em pirilampos cheio,
Luzindo
aqui, e ali tremeluzindo ...
No
regaço da treva, úmido e feio,
A
natureza adormeceu sorrindo ...
As
cigarras, na sombra, se calaram:
As
árvores no bosque farfalharam
Na
esperança de ouvi-las e de vê-las.
Caiu
de todo a noite quieta ... Agora,
O
céu parece uma árvore sonora
De
cigarras cantando nas estrelas ...
(Olegário
Mariano, in “Últimas cigarras”, 1920)
Arco-íris
Choveu
tanto esta tarde
Que
as árvores estão pingando de contentes.
As
crianças pobres, em grande alarde,
Molham
os pés nas poças reluzentes.
A
alegria da luz ainda não veio toda.
Mas
há raios de sol brincando nos rosais.
As
crianças cantam fazendo roda,
Fazendo
roda como os tangarás:
"Chuva
com sol!
Casa
a raposa com o rouxinol."
De
repente, no céu desfraldado em bandeira,
Quase
ao alcance da nossa mão,
O
Arco-da-Velha abre na tarde brasileira
A
cauda em sete cores, de pavão.
(Olegário
Mariano, in “Canto da minha terra”, 1930)
Deslumbramento
É
amor? Não sei. Esta intranquilidade,
Este
gozo na dor, esta alegria
Triste
que vem de manso e que me invade
A
alma, enchendo-a e tornando-a mais vazia;
Este
cansaço extremo, esta saudade
De
uma cousa que falta à vida ... O dia
Sem
sol, as noites ermas, a ansiedade
Que
exalta e a solidão que anestesia,
É
amor. Egoísmo de sofrer sozinho,
De
as penas esconder do humano açoite,
De
transformar as pedras do caminho
Em
carícias sutis para colhê-las
E
andar como um sonâmbulo, na noite,
Escancarando
os olhos às estrelas ...
(Olegário
Mariano, in “Canto da minha terra”, 1930)
A Cigarra
Morta
Ontem,
Cigarra, quando veio a aurora,
acordei a vibrar com a tua vinda.
A tua voz tinha, de espaço fora,
notas tão claras que eu a escuto ainda.
Glorificando a luz consoladora,
cantaste, e enfim tua cantiga é finda.
Tenho nas minhas mãos, inerte agora,
teu corpo cor de mel. Cigarra linda.
Foste feliz, porque te deram esta
garganta de ouro. Assim, de palma em palma,
passou, num sonho, a tua Vida honesta...
acordei a vibrar com a tua vinda.
A tua voz tinha, de espaço fora,
notas tão claras que eu a escuto ainda.
Glorificando a luz consoladora,
cantaste, e enfim tua cantiga é finda.
Tenho nas minhas mãos, inerte agora,
teu corpo cor de mel. Cigarra linda.
Foste feliz, porque te deram esta
garganta de ouro. Assim, de palma em palma,
passou, num sonho, a tua Vida honesta...
Vendo-te,
os meus sentidos se levantam,
esperando a cantiga de tua alma,
que as almas das Cigarras também cantam...
esperando a cantiga de tua alma,
que as almas das Cigarras também cantam...
(Olegário
Mariano, in “Últimas Cigarras”, 1920)
![]() |
"Music in the afternoon". Michael Garmash. |
Renunciar. Todo o bem que a vida trouxe,
toda a expressão do humano sofrimento.
A gente esquece assim como se fosse
um voo de andorinha em céu nevoento.
Anoiteceu de súbito. Acabou-se
tudo... A miragem do deslumbramento...
Se a vida que rolou no esquecimento
era doce, a saudade inda é mais doce.
Sofre de ânimo forte, alma intranquila!
Resume na lembrança de um momento
teu amor. Olha a noite: ele cintila.
Que o grande amor, quando a renúncia o invade
fica mais puro porque é pensamento,
fica muito maior porque é saudade.
(Olegário Mariano, in “Últimas Cigarras”, 1920)
Dezembro
é um mês religioso. Sinto
Todas as sensações que ele me empresta.
Do livro do Passado quase extinto
É um pouco de emoção que ainda me resta.
Evoca tempo idos... Desenterra
Velhas lembranças comovidamente:
Dezembro fala ao coração da Terra
E a Terra fala ao coração da gente.
Rumor lento de sinos! Por que rolas
Do alto e vais murmurando pelos valos?
Não perturbes a toada das violas
Nem o canto metálico dos galos!
Dezembro é um velho cofre de memórias,
Cheio de fantasias e de afetos.
Ai como bolem na alma as tais histórias
Que as avozinhas contam para os netos!
Hoje que faz luar e a noite é bela,
Alongando os meus olhos à distância,
Deixo-me aqui ficar nesta janela
Enquanto voa o pensamento à infância...
Há vozes, alaridos, algazarras,
Expressões de alegria, olhos de espanto:
Passam as raparigas... Falam tanto,
Que parecem um bando de cigarras.
Olho absorto... A paisagem se assemelha
Àquela que eu deixei de olhos molhados...
Entre árvores, sonhava a Casa Velha,
A Vivenda dos meus antepassados.
E ao lado a igreja humilde e luzidia,
De adro deserto e de portais franzinos,
Que ao pôr do sol, no alto da torre, abria
As gargantas de cobre dos três sinos.
Ah Dezembro! Teu hálito é tão doce
Que o sinto como um beijo em minha face,
Uma bênção que cai como se fosse
Uma existência que se renovasse.
Para mim que ando cousas relembrando
Evocas um velhinho... O luar desponta,
Há vozes... E ele passa murmurando
Lendas... Que lindas lendas ele conta.
Todas as sensações que ele me empresta.
Do livro do Passado quase extinto
É um pouco de emoção que ainda me resta.
Evoca tempo idos... Desenterra
Velhas lembranças comovidamente:
Dezembro fala ao coração da Terra
E a Terra fala ao coração da gente.
Rumor lento de sinos! Por que rolas
Do alto e vais murmurando pelos valos?
Não perturbes a toada das violas
Nem o canto metálico dos galos!
Dezembro é um velho cofre de memórias,
Cheio de fantasias e de afetos.
Ai como bolem na alma as tais histórias
Que as avozinhas contam para os netos!
Hoje que faz luar e a noite é bela,
Alongando os meus olhos à distância,
Deixo-me aqui ficar nesta janela
Enquanto voa o pensamento à infância...
Há vozes, alaridos, algazarras,
Expressões de alegria, olhos de espanto:
Passam as raparigas... Falam tanto,
Que parecem um bando de cigarras.
Olho absorto... A paisagem se assemelha
Àquela que eu deixei de olhos molhados...
Entre árvores, sonhava a Casa Velha,
A Vivenda dos meus antepassados.
E ao lado a igreja humilde e luzidia,
De adro deserto e de portais franzinos,
Que ao pôr do sol, no alto da torre, abria
As gargantas de cobre dos três sinos.
Ah Dezembro! Teu hálito é tão doce
Que o sinto como um beijo em minha face,
Uma bênção que cai como se fosse
Uma existência que se renovasse.
Para mim que ando cousas relembrando
Evocas um velhinho... O luar desponta,
Há vozes... E ele passa murmurando
Lendas... Que lindas lendas ele conta.
(Olegário
Mariano)
Amiga!
Desde criança que eu te quero!
Quantas noites pensei na tua sorte!
Teu canto é emocional porque é sincero
E exprime a Terra na expressão mais forte.
Quando chegava o inverno horrendo e fero
Varrendo o canavial do sul a norte,
Não avalias tu meu desespero
Para te conseguir salvar da morte.
Tinha a loucura de te ouvir em tudo...
Tua cantiga vaga e transitória
Para os meus nervos era de veludo.
E em casa, numa evocação perene,
Lia, de olhos em pranto, a tua história
Por um velho senhor de La Fontaine.
Quantas noites pensei na tua sorte!
Teu canto é emocional porque é sincero
E exprime a Terra na expressão mais forte.
Quando chegava o inverno horrendo e fero
Varrendo o canavial do sul a norte,
Não avalias tu meu desespero
Para te conseguir salvar da morte.
Tinha a loucura de te ouvir em tudo...
Tua cantiga vaga e transitória
Para os meus nervos era de veludo.
E em casa, numa evocação perene,
Lia, de olhos em pranto, a tua história
Por um velho senhor de La Fontaine.
(Olegário
Mariano)
Na
encruzilhada silenciosa do Destino,
Quando as estrelas se multiplicaram,
Duas sombras errantes se encontraram.
A primeira falou: — “Nasci de um beijo
De luz; sou força, vida, alma, esplendor.
Trago em mim toda a sede do Desejo,
Toda a ânsia do Universo... Eu sou o amor.
O mundo sinto exânime a meus pés...
Sou delírio... Loucura... E tu, quem és?”
— “Eu nasci de uma lágrima. Sou flama
Do teu incêndio que devora...
Vivo, dos olhos tristes de quem ama,
Para os olhos nevoentos de quem chora.
Dizem que ao mundo vim para ser boa,
Para dar do meu sangue a quem me queira.
Sou a Saudade, a tua companheira
Que punge, que consola e que perdoa...”
Na encruzilhada silenciosa do Destino,
As duas sombras comovidas se abraçaram
E de então, nunca mais se separaram.
Quando as estrelas se multiplicaram,
Duas sombras errantes se encontraram.
A primeira falou: — “Nasci de um beijo
De luz; sou força, vida, alma, esplendor.
Trago em mim toda a sede do Desejo,
Toda a ânsia do Universo... Eu sou o amor.
O mundo sinto exânime a meus pés...
Sou delírio... Loucura... E tu, quem és?”
— “Eu nasci de uma lágrima. Sou flama
Do teu incêndio que devora...
Vivo, dos olhos tristes de quem ama,
Para os olhos nevoentos de quem chora.
Dizem que ao mundo vim para ser boa,
Para dar do meu sangue a quem me queira.
Sou a Saudade, a tua companheira
Que punge, que consola e que perdoa...”
Na encruzilhada silenciosa do Destino,
As duas sombras comovidas se abraçaram
E de então, nunca mais se separaram.
(Olegário
Mariano)
Cigarra!
Levo a ouvir-te o dia inteiro.
Gosto da tua frívola cantiga,
Mas vou dar-te um conselho, rapariga:
Trata de abastecer o teu celeiro.
Trabalha, segue o exemplo da formiga,
Aí vem o inverno, as chuvas, o nevoeiro,
E tu, não tendo um pouso hospitaleiro,
Pedirás... e é bem triste ser mendiga!
E ela, ouvindo os conselhos que eu lhe dava
(Quem dá conselhos sempre se consome...)
continuava cantando... continuava...
parece que no canto ela dizia:
— Se eu deixar de cantar morro de fome...
que a cantiga é o meu pão de cada dia.
Gosto da tua frívola cantiga,
Mas vou dar-te um conselho, rapariga:
Trata de abastecer o teu celeiro.
Trabalha, segue o exemplo da formiga,
Aí vem o inverno, as chuvas, o nevoeiro,
E tu, não tendo um pouso hospitaleiro,
Pedirás... e é bem triste ser mendiga!
E ela, ouvindo os conselhos que eu lhe dava
(Quem dá conselhos sempre se consome...)
continuava cantando... continuava...
parece que no canto ela dizia:
— Se eu deixar de cantar morro de fome...
que a cantiga é o meu pão de cada dia.
(Olegário Mariano, in “Últimas Cigarras”, 1920)
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