UNESP 2012 – Prova de Língua Portuguesa – 1º
Fase
Instrução:
As questões de números 01 a 05 tomam por base um fragmento de uma crônica de
Eça de Queirós (1845-1900) escrita em junho de 1871.
Uma
campanha alegre, IX
Há
muitos anos que a política em Portugal apresenta este singular estado:
Doze
ou quinze homens, sempre os mesmos, alternadamente possuem o Poder, perdem o Poder,
reconquistam o Poder, trocam o Poder... O Poder não sai duns certos grupos, como
uma pela* que quatro crianças, aos quatro cantos de uma sala, atiram umas às
outras, pelo ar, num rumor de risos.
Quando
quatro ou cinco daqueles homens estão no Poder, esses homens são, segundo a
opinião, e os dizeres de todos os outros que lá não estão — os corruptos, os esbanjadores
da Fazenda, a ruína do País!
Os
outros, os que não estão no Poder, são, segundo a sua própria opinião e os seus
jornais — os verdadeiros liberais, os salvadores da causa pública, os amigos do
povo, e os interesses do País.
Mas,
coisa notável! — os cinco que estão no Poder fazem tudo o que podem para
continuar a ser os esbanjadores da Fazenda e a ruína do País, durante o maior
tempo possível! E os que não estão no Poder movem-se, conspiram, cansam-se, para
deixar de ser o mais depressa que puderem — os verdadeiros liberais, e os interesses
do País!
Até
que enfim caem os cinco do Poder, e os outros, os verdadeiros liberais, entram
triunfantemente na designação herdada de esbanjadores da Fazenda e ruína do País;
em tanto que os que caíram do Poder se resignam, cheios de fel e de tédio — a
vir a ser os verdadeiros liberais e os interesses do País.
Ora
como todos os ministros são tirados deste grupo de doze ou quinze indivíduos,
não há nenhum deles que não tenha sido por seu turno esbanjador da Fazenda e ruína
do País...
Não
há nenhum que não tenha sido demitido, ou obrigado a pedir a demissão, pelas
acusações mais graves e pelas votações mais hostis...
Não
há nenhum que não tenha sido julgado incapaz de dirigir as coisas públicas —
pela Imprensa, pela palavra dos oradores, pelas incriminações da opinião, pela
afirmativa constitucional do poder moderador...
E
todavia serão estes doze ou quinze indivíduos os que continuarão dirigindo o
País, neste caminho em que ele vai, feliz, abundante, rico, forte, coroado de
rosas, e num chouto** tão triunfante!
(*)
Pela: bola.
(**)
Chouto: trote miúdo.
(Eça
de Queirós. Obras. Porto: Lello & Irmão-Editores, [s.d.].)
Questão
01 - Considere
as frases com relação ao que se afirma na crônica de Eça de Queirós:
I.
Os que estão no poder não querem sair e os que não estão querem entrar.
II.
Quando um partido ético está no poder, tudo fica melhor.
III.
Os governantes são bons e éticos, mas vivem a trocar acusações infundadas.
IV.
Os políticos que estão fora do poder julgam-se os melhores eticamente para
governar.
As
frases que representam a opinião do cronista estão contidas apenas em:
(A)
I e II. (B)
I e III. (C)
I e IV. (D)
I, II e III. (E)
II, III e IV.
Questão
02 - ...
cheios de fel e de tédio...
Nesta
passagem do sexto parágrafo, o cronista se utiliza figuradamente da palavra fel
para significar
(A)
rancor. (B)
eloquência. (C)
esperança. (D)
medo. (E)
saudade.
Questão
03 - Considerando
que o último parágrafo do fragmento representa uma ironia do cronista, seu
significado contextual é:
(A)
Portugal vai muito bem, apesar de seus maus governantes.
(B)
A alternância dos grupos no poder faz bem ao país.
(C)
O país experimenta um progresso vertiginoso.
(D)
O país vai mal em todos os sentidos.
(E)
Portugal não se importa com seus políticos.
Questão
04 - Não
há nenhum que não tenha sido demitido, ou obrigado a pedir a demissão, pelas
acusações mais graves e pelas votações mais hostis...
Com
esta frase, o cronista afirma que
(A)
a atividade política está sempre sujeita a acusações descabidas.
(B)
é altamente honroso, em certos casos, demitir-se para evitar males ao estado.
(C)
a defesa de boas ideias frequentemente leva à renúncia.
(D)
os políticos honestos sofrem acusações e perseguições dos desonestos.
(E)
todos os políticos se equivalem pelos desvios da ética.
Questão
05 - Assinale
a alternativa cuja frase contém um numeral cardinal empregado como substantivo.
(A)
Há muitos anos que a política em Portugal apresenta...
(B)
Doze ou quinze homens, sempre os mesmos, alternadamente possuem o Poder...
(C)
... os cinco que estão no Poder fazem tudo o que podem para continuar...
(D)
... são tirados deste grupo de doze ou quinze indivíduos...
(E)
... aos quatro cantos de uma sala...
Instrução:
As questões de números 06 a 10 tomam por base um artigo de Don Tapscott
(1947-).
O
fim do marketing
A
empresa vende ao consumidor — com a web não é mais assim
Com
a internet se tornando onipresente, os Quatro Ps do marketing — produto, praça,
preço e promoção — não funcionam mais. O paradigma era simples e unidirecional:
as empresas vendem aos consumidores. Nós criamos produtos; fixamos preços;
definimos os locais onde vendê-los; e fazemos anúncios. Nós controlamos a
mensagem. A internet transforma todas essas atividades.
(...)
Os
produtos agora são customizados em massa, envolvem serviços e são marcados pelo
conhecimento e os gostos dos consumidores. Por meio de comunidades online, os
consumidores hoje participam do desenvolvimento do produto. Produtos estão se
tornando experiências. Estão mortas as velhas concepções industriais na definição
e marketing de produtos.
(...)
Graças
às vendas online e à nova dinâmica do mercado, os preços fixados pelo
fornecedor estão sendo cada vez mais desafiados. Hoje questionamos até o
conceito de “preço”, à medida que os consumidores ganham acesso a ferramentas que
lhes permitem determinar quanto querem pagar. Os consumidores vão oferecer
vários preços por um produto, dependendo de condições específicas. Compradores
e vendedores trocam mais informações e o preço se torna fluido. Os mercados, e
não as empresas, decidem sobre os preços de produtos e serviços.
(...)
A
empresa moderna compete em dois mundos: um físico (a praça, ou marketplace) e
um mundo digital de informação (o espaço mercadológico, ou marketspace). As
empresas não devem preocupar-se com a criação de um web site vistoso, mas sim
de uma grande comunidade online e com o capital de relacionamento. Corações, e
não olhos, são o que conta.
Dentro
de uma década, a maioria dos produtos será vendida no espaço mercadológico. Uma
nova fronteira de comércio é a marketface — a interface entre o marketplace e o
marketspace.
(...)
Publicidade,
promoção, relações públicas etc. exploram “mensagens” unidirecionais, de
um-para-muitos e de tamanho único, dirigidas a consumidores sem rosto e sem
poder. As comunidades online perturbam drasticamente esse modelo. Os
consumidores com frequência têm acesso a informações sobre os produtos, e o
poder passa para o lado deles. São eles que controlam as regras do mercado, não
você. Eles escolhem o meio e a mensagem. Em vez de receber mensagens enviadas por
profissionais de relações públicas, eles criam a “opinião pública” online.
Os
marqueteiros estão perdendo o controle, e isso é muito bom.
(Don
Tapscott. O fim do marketing. INFO, São Paulo, Editora Abril, janeiro 2011, p.
22.)
Questão
06 - A
leitura atenta deste instigante artigo de Don Tapscott revela que o tema
central de sua mensagem é:
(A)
O advento do comércio via internet subverteu as teorias tradicionais de marketing.
(B)
O comércio via internet confirma todas as teorias de publicidade e marketing vigentes.
(C)
A aplicação dos princípios tradicionais de marketing se tornou vital para o
sucesso do comércio online.
(D)
O comércio realizado em lojas físicas é ainda preferível ao realizado online.
(E)
A lei da oferta e da procura não influencia de nenhum modo o comércio via
internet.
Questão
07 - Publicidade,
promoção, relações públicas etc. exploram “mensagens” unidirecionais, de
um-para-muitos e de tamanho único, dirigidas a consumidores sem rosto e sem
poder.
Nesta
passagem do quinto parágrafo, ao empregar a expressão consumidores sem rosto e
sem poder, o autor sugere que:
(A)
nas compras via internet, o consumidor é sempre anônimo.
(B)
no sistema de marketing tradicional, pensa-se nos consumidores como massa, e não
como indivíduos personalizados.
(C)
a identidade e a opinião do consumidor não interessam a nenhum comerciante, mas
apenas as vendas.
(D)
o anonimato é o princípio fundamental de todo tipo de comércio.
(E)
o poder do consumidor é proporcional ao dinheiro que possui.
Questão
08 - São
eles que controlam as regras do mercado, não você. Eles escolhem o meio e a
mensagem. Em vez de receber mensagens enviadas por profissionais de relações
públicas, eles criam a “opinião pública” online.
Nesta
passagem do penúltimo parágrafo do texto, o autor repete por três vezes o
pronome eles, para referir-se enfaticamente aos
(A)
proprietários de lojas. (B)
veículos de comunicação.
(C)
profissionais de relações públicas. (D)
consumidores online. (E)
fabricantes dos produtos.
Questão
09 - Nós
criamos produtos; fixamos preços; definimos os locais onde
vendê-los; e fazemos anúncios. Nós controlamos a mensagem.
Nas
orações que compõem os dois períodos transcritos, os termos destacados
exercem a função de
(A)
sujeito. (B)
objeto direto. (C)
objeto indireto.
(D)
predicativo do sujeito. (E)
predicativo do objeto.
Questão
10 - Os
marqueteiros estão perdendo o controle, e isso é muito bom.
O
termo marqueteiro, presente nesta frase, foi formado em português por influência
do inglês e tem como uma de suas acepções usuais:
(A)
consumidor de mercado.
(B)
construtor de marquises de lojas.
(C)
investidor do mercado financeiro.
(D)
profissional de marketing.
(E)
empresário de supermercado.
Instrução:
As questões de números 11 a 15 tomam por base um fragmento de uma elegia de Vinicius
de Moraes (1913-1980).
Elegia
na morte de Clodoaldo Pereira da Silva Moraes, poeta e cidadão
A
morte chegou pelo interurbano em longas espirais metálicas.
Era
de madrugada. Ouvi a voz de minha mãe, viúva.
De
repente não tinha pai.
No
escuro de minha casa em Los Angeles procurei recompor tua lembrança
Depois
de tanta ausência. Fragmentos da infância
Boiaram
do mar de minhas lágrimas. Vi-me eu menino
Correndo
ao teu encontro. Na ilha noturna
Tinham-se
apenas acendido os lampiões a gás, e a clarineta
De
Augusto geralmente procrastinava a tarde.
Era
belo esperar-te, cidadão. O bondinho
Rangia
nos trilhos a muitas praias de distância...
Dizíamos:
“Ê-vem meu pai!”. Quando a curva
Se
acendia de luzes semoventes*, ah, corríamos
Corríamos
ao teu encontro. A grande coisa era chegar antes
Mas
ser marraio** em teus braços, sentir por último
Os
doces espinhos da tua barba.
Trazias
de então uma expressão indizível de fidelidade e paciência
Teu
rosto tinha os sulcos fundamentais da doçura
De
quem se deixou ser. Teus ombros possantes
Se
curvavam como ao peso da enorme poesia
Que
não realizaste. O barbante cortava teus dedos
Pesados
de mil embrulhos: carne, pão, utensílios
Para
o cotidiano (e frequentemente o binóculo
Que
vivias comprando e com que te deixavas horas inteiras
Mirando
o mar). Dize-me, meu pai
Que
viste tantos anos através do teu óculo de alcance
Que
nunca revelaste a ninguém?
Vencias
o percurso entre a amendoeira e a casa como o atleta exausto
no último lance da maratona.
Te
grimpávamos. Eras penca de filho. Jamais
Uma
palavra dura, um rosnar paterno. Entravas a casa
humilde
A
um gesto do mar. A noite se fechava
Sobre
o grupo familial como uma grande porta espessa.
Muitas
vezes te vi desejar. Desejavas. Deixavas-te olhando o
mar
Com
mirada de argonauta. Teus pequenos olhos feios
Buscavam
ilhas, outras ilhas... — as imaculadas, inacessíveis
Ilhas
do Tesouro. Querias. Querias um dia aportar
E
trazer — depositar aos pés da amada as joias fulgurantes
Do
teu amor. Sim, foste descobridor, e entre eles
Dos
mais provectos***. Muitas vezes te vi, comandante
Comandar,
batido de ventos, perdido na fosforência
De
vastos e noturnos oceanos
Sem
jamais.
Deste-nos
pobreza e amor. A mim me deste
A
suprema pobreza: o dom da poesia, e a capacidade de amar
Em
silêncio. Foste um pobre. Mendigavas nosso amor
Em
silêncio. Foste um no lado esquerdo. Mas
Teu
amor inventou. Financiaste uma lancha
Movida
a água: foi reta para o fundo. Partiste um dia
Para
um brasil além, garimpeiro sem medo e sem mácula.
Doze
luas voltaste. Tua primogênita — diz-se —
Não
te reconheceu. Trazias grandes barbas e pequenas águas-marinhas.
(Vinicius
de Moraes. Antologia poética. 11 ed. Rio de Janeiro: José Olympio Editora,
1974, p. 180-181.)
(*)
Semovente: “Que ou o que anda ou se move por si próprio.”
(**)
Marraio: “No gude e noutros jogos, palavra que dá, a quem primeiro a grita, o
direito de ser o último a jogar.”
(***)
Provecto: “Que conhece muito um assunto ou uma ciência, experiente, versado,
mestre.”
(Dicionário
Eletrônico Houaiss)
Questão
11 - Compare
o conteúdo das frases a seguir com o que o eu-poemático afirma no poema.
I.
A notícia da morte do pai chegou por telefone.
II.
O falecimento foi informado pela primogênita.
III.
A morte do pai provocou reminiscências da infância.
IV.
Apesar de não ter sido um bom pai, o filho perdoa e sente saudades.
As
frases que correspondem ao que é efetivamente expresso no poema estão contidas
apenas em
(A)
I e II. (B)
I e III. (C)
I e IV. (D)
I, II e III. (E)
II, III e IV.
Questão
12 - O
barbante cortava teus dedos / Pesados de mil embrulhos:
O
emprego da expressão mil embrulhos no verso mencionado caracteriza-se como
figura de linguagem denominada hipérbole, porque
(A)
é uma imagem exagerada, mas expressiva, do fato referido no verso.
(B)
“barbante” aparece personificado, com atitudes humanas.
(C)
ocorre uma comparação entre um fato real e um fato fictício.
(D)
o eu-poemático tenta precisar metonimicamente o que não é preciso.
(E)
há uma relação de contiguidade semântica entre “dedos” e “embrulhos”.
Questão
13 - Marque
a alternativa cujo verso contém um pleonasmo, ou seja, uma redundância de
termos com bom efeito estilístico.
(A)
De repente não tinha pai.
(B)
Rangia nos trilhos a muitas praias de distância...
(C)
Se curvavam como ao peso da enorme poesia
(D)
Sobre o grupo familial como uma grande porta espessa.
(E)
Deste-nos pobreza e amor. A mim me deste
Questão
14 - Quando
a curva / Se acendia de luzes semoventes,
Esta
imagem significa, nos versos em que surge,
(A)
o mar ao longe refletia as luzes da cidade.
(B)
o bonde se aproximava todo iluminado.
(C)
a lua despontava no horizonte, trêmula e brilhante.
(D)
as luzes dos postes se acendiam, ao anoitecer.
(E)
a curvatura do céu todo estrelado aparecia à noite.
Questão
15 - Partiste
um dia / Para um brasil além, garimpeiro sem medo e sem mácula.
O
emprego da palavra brasil com inicial minúscula, no poema de Vinicius, tem a
seguinte justificativa:
(A)
O eu-poemático se serve da inicial minúscula para menosprezar o país.
(B)
Empregar um nome próprio com inicial minúscula era comum entre os modernistas.
(C)
O eu-poemático emprega “brasil” como metáfora de “paraíso”, onde crê estar a
alma de seu pai.
(D)
O emprego da inicial maiúscula em nomes de países é facultativo.
(E)
Na acepção em que é empregada no texto, a palavra “brasil” é um substantivo
comum.
Instrução:
As questões de números 16 a 20 tomam por base fragmentos de um livro do búlgaro
Tzvetan Todorov (1939-), linguista e teórico da literatura.
A
literatura em perigo
A
análise das obras feita na escola não deveria mais ter por objetivo ilustrar os
conceitos recém-introduzidos por este ou aquele linguista, este ou aquele
teórico da literatura, quando, então, os textos são apresentados como uma
aplicação da língua e do discurso; sua tarefa deveria ser a de nos fazer ter acesso
ao sentido dessas obras — pois postulamos que esse sentido, por sua vez, nos
conduz a um conhecimento do humano, o qual importa a todos. Como já o disse,
essa ideia não é estranha a uma boa parte do próprio mundo do ensino; mas é necessário
passar das ideias à ação. Num relatório estabelecido pela Associação dos
Professores de Letras, podemos ler: “O estudo de Letras implica o estudo do
homem, sua relação consigo mesmo e com o mundo, e sua relação com os outros.” Mais
exatamente, o estudo da obra remete a círculos concêntricos cada vez mais
amplos: o dos outros escritos do mesmo autor, o da literatura nacional, o da
literatura mundial; mas seu contexto final, o mais importante de todos, nos é
efetivamente dado pela própria existência humana. Todas as grandes obras,
qualquer que seja sua origem, demandam uma reflexão dessa dimensão.
O
que devemos fazer para desdobrar o sentido de uma obra e revelar o pensamento
do artista? Todos os “métodos” são bons, desde que continuem a ser meios, em
vez de se tornarem fins em si mesmos. (...)
(...)
(...)
Sendo o objeto da literatura a própria condição humana, aquele que a lê e a
compreende se tornará não um especialista em análise literária, mas um
conhecedor do ser humano. Que melhor introdução à compreensão das paixões e dos
comportamentos humanos do que uma imersão na obra dos grandes escritores que se
dedicam a essa tarefa há milênios? E, de imediato: que melhor preparação pode
haver para todas as profissões baseadas nas relações humanas? Se entendermos assim
a literatura e orientarmos dessa maneira o seu ensino, que ajuda mais preciosa
poderia encontrar o futuro estudante de direito ou de ciências políticas, o
futuro assistente social ou psicoterapeuta, o historiador ou o sociólogo? Ter como
professores Shakespeare e Sófocles, Dostoievski e Proust não é tirar proveito
de um ensino excepcional? E não se vê que mesmo um futuro médico, para exercer
o seu ofício, teria mais a aprender com esses mesmos professores do que com os
manuais preparatórios para concurso que hoje determinam o seu destino? Assim,
os estudos literários encontrariam o seu lugar no coração das humanidades, ao
lado da história dos eventos e das ideias, todas essas disciplinas fazendo
progredir o pensamento e se alimentando tanto de obras quanto de doutrinas, tanto
de ações políticas quanto de mutações sociais, tanto da vida dos povos quanto
da de seus indivíduos.
Se
aceitarmos essa finalidade para o ensino literário, o qual não serviria mais
unicamente à reprodução dos professores de Letras, podemos facilmente chegar a
um acordo sobre o espírito que o deve conduzir: é necessário incluir as obras no
grande diálogo entre os homens, iniciado desde a noite dos tempos e do qual
cada um de nós, por mais ínfimo que seja, ainda participa. “É nessa comunicação
inesgotável, vitoriosa do
espaço e do tempo, que se afirma o alcance universal da literatura”, escrevia
Paul Bénichou. A nós, adultos, nos cabe transmitir às novas gerações essa
herança frágil, essas palavras que ajudam a viver melhor.
(Tzvetan
Todorov. A literatura em perigo. 2 ed. Trad. Caio Meira. Rio de Janeiro: DIFEL,
2009, p. 89-94.)
Questão
16 - Observe
as seguintes opiniões referentes ao ensino de literatura.
I.
O estudo de obras literárias na escola tem como objetivo fundamental ensinar os
fundamentos da Linguística.
II.
A análise das obras feita na escola deve levar o estudante a ter acesso ao
sentido dessas obras.
III.
O objetivo do ensino da literatura na escola não é formar teóricos da literatura.
IV.
De nada adianta a leitura das obras literárias sem a prévia fundamentação das
teorias literárias.
Das
quatro opiniões, as que se enquadram na argumentação manifestada por Todorov em
seu texto estão contidas apenas em:
(A)
I e II. (B)
I e III. (C)
II e III. (D)
I, II e III. (E)
II, III e IV.
Questão
17 - Ter
como professores Shakespeare e Sófocles, Dostoievski e Proust não é tirar
proveito de um ensino excepcional?
Esta
questão levantada por Todorov, no contexto do terceiro parágrafo, significa:
(A)
O conhecimento enciclopédico desses autores, manifestado em suas obras,
equivale a um verdadeiro curso universitário.
(B)
Por se tratar de autores de nacionalidades e épocas diferentes, a leitura de
suas obras traz conhecimentos importantes sobre seus respectivos países.
(C)
Esses autores escreveram com a intenção fundamental de passar ensinamentos para
seus contemporâneos e a posteridade.
(D)
A leitura das obras desses autores, que focalizam admiravelmente o homem e o
humano, seria de excepcional utilidade para os estudantes de relações humanas.
(E)
A leitura desses autores não acrescenta nada de excepcional ao ensino.
Questão
18 - Que
melhor introdução à compreensão das paixões e dos comportamentos humanos do que
uma imersão na obra dos grandes escritores que se dedicam a essa tarefa há
milênios?
Com
base no fato de que a palavra “imersão”, usada na expressão uma imersão na obra,
caracteriza uma metáfora, indique a alternativa que elimina essa metáfora sem
perda relevante de sentido:
(A)
uma imitação da obra. (B)
uma paráfrase da obra.
(C)
uma censura da obra. (D)
uma transformação da obra. (E)
uma leitura da obra.
Questão
19 - No
segundo parágrafo do fragmento apresentado, Todorov afirma que Todos os “métodos”
são bons, desde que continuem a ser meios, em vez de se tornarem fins em si
mesmos.
O
autor defende, com essa afirmação, o argumento segundo o qual o verdadeiro
valor de um método de análise literária
(A)
consiste em ser exato e perfeito, superior a todos os demais.
(B)
está em ser completo: quando terminar a análise, nada mais deve restar a
explicar.
(C)
consiste em servir de instrumento adequado à análise e interpretação da obra.
(D)
reside no fato de que, depois de aplicado, deve ser substituído por outro
melhor.
(E)
é mostrar mais suas próprias virtudes que as da obra focalizada
.
Questão
20 - Considerando
que o pronome o, usado na sequência que o deve conduzir, tem valor anafórico,
isto é, faz referência a um termo já enunciado no último parágrafo, identifique
esse termo.
(A)
Ensino literário. (B)
Professores de Letras. (C)
Acordo. (D)
Espírito. (E)
Grande diálogo.
GABARITO
1 –
C 2 – A 3 – D 4 – E 5 – C 6 – A 7 – B 8 – D
9
– B 10 – D
11 – B 12 – A 13 – E 14 – B 15 – E 16 – C 17 – D 18 – E 19 – C 20 – A
Leia também:
UNESP 2015 – 1º Fase – Prova de Língua Portuguesa
UNESP 2010 – Meio do ano – 1º Fase – Prova de Língua Portuguesa
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