Prova de Língua Portuguesa - UFG - 2008 - 1ºfase
QUESTÃO 01 - Observe a fotografia a seguir.
EDUCAR É AMAR A DOBRAR
Considerando-se as formas retratadas e a
circunstância que elas representam, o título da foto sugere que educar é
(A) viver momentos de descontração.
(B) compartilhar experiências.
(C) construir um ambiente seguro.
(D) alcançar a condição do outro.
(E) transmitir ensinamentos adequados.
Leia o texto abaixo para responder às questões de 02
a 05.
Aprenda a falar difícil
Em
minha empresa, parece que o povo, do gerente para cima, fala outro idioma. Por
que as pessoas ficam inventando expressões estranhas ou usando palavras
estrangeiras, quando é muito mais fácil falar português?
Lélio, São Caetano, SP
Para
impressionar, Lélio. As pessoas que complicam o vocabulário fazem isso com dois
propósitos bem claros. O primeiro é financeiro. “Falar abobrinha” pode ser
sinônimo de “Verbalizar cucurbitáceas”, mas a segunda turma, via de regra,
ganha mais. Você mesmo confirmou isso, ao dizer: “de gerente para cima”. O
segundo motivo é se proteger. Através dos tempos, cada profissão foi
desenvolvendo sua maneira particular de se expressar. Economista fala diferente
de advogado, que fala diferente de engenheiro, que fala diferente de psicólogo,
e todos eles falam diferente de nós.
Quanto
mais complicado uma pessoa fala, mais fácil ela poderá depois explicar: “Não
foi bem isso que eu disse”. Na prática, a coisa funciona assim. Se você tiver
uma pergunta – qualquer pergunta — e consultar alguém de Marketing, ouvirá como
resposta que é preciso “fazer um brainstorming e extrapolar os dados”.
Alguém de Recursos Humanos dirá que, “enquanto seres funcionais, temos de
vivenciar parâmetros
holísticos”. Um engenheiro opinaria que a coisa se deve
a fatores inerciais de natureza não-técnica”. E uma pessoa de Sistemas diria
que a empresa está “num processo de reformulação de conteúdo”. E assim por
diante.
Essa
foi uma grande lição que aprendi na vida corporativa. Quando tinha alguma
dúvida, perguntava a um Diretor. E aprendia uma palavra nova. Aí, ia me
informar com o Seu Anísio da Portaria. Porque ele era o único capaz de me explicar
direitinho a situação. “É, vem chumbo grosso por aí”.
Portanto,
Lélio, e para bem de sua carreira, sugiro que você comece a aprender esses “idiomas
estranhos”. Falando de maneira simples, e sendo entendido por todos, você
chegará, no máximo, a Supervisor. Adotando uma verbalização direcional
intrínseca, poderá chegar a Diretor.
GEHRINGER, Max. Sua carreira. Época, São
Paulo: Editora Globo, n. 411, 3 abr. 2006, p. 67.
QUESTÃO 02 - Na pergunta do leitor, há uma concepção de língua
portuguesa que
(A) rejeita as variações de caráter técnico-profissional,
por considerá-las desnecessárias.
(B) defende o uso da língua padrão nas atividades
profissionais, por sugerir mais status.
(C) expressa um preconceito com o falar coloquial,
por relacioná-lo às classes populares.
(D) incorpora o uso de palavras estrangeiras como
necessário à comunicação.
(E) considera as mudanças de estilo uma consequência
inevitável das diferentes personalidades.
QUESTÃO 03 - O conselho para que Lélio “adote uma verbalização
direcional intrínseca” pode ser parafraseado por:
(A) assuma uma linguagem objetiva.
(B) prefira uma retórica rebuscada.
(C) use um jargão adequado.
(D) escolha uma comunicação atraente.
(E) utilize uma fala despojada.
QUESTÃO 04 - Na elaboração da resposta, o consultor Max
Gehringer sugere que
(A) o profissional deve manter em situações
discursivas informais a mesma linguagem própria da área na qual atua.
(B) diferentes enunciados têm um mesmo significado
e sua expressão independe das características da profissão.
(C) uma mesma informação pode ser veiculada por enunciados
diferentes, dependendo do papel social exercido pelo locutor.
(D) os funcionários de uma empresa devem ser
prolixos em todas as situações que envolvam comunicação com clientes.
(E) um mesmo enunciado pode desencadear diferentes reações
no interlocutor quando proferido em espaço de trabalho.
QUESTÃO 05 - Resumindo-se os motivos apresentados no texto para explicar
a complicação do vocabulário, “falar difícil” funciona como
(A) marca de poder aquisitivo e mecanismo de
autopreservação profissional.
(B) maneira de separar funcionários e patrões e
tática de garantia da produtividade.
(C) meio para aumentar lucros e artimanha para
impedir as ideias dos concorrentes.
(D) garantia de competência técnica e recurso para
valorizar os ouvintes.
(E) indicador da competição entre funcionários e
instrumento de aproximação dos clientes.
Leia o texto abaixo para responder às questões 06
e 07.
QUESTÃO 06 - Que diferença física os cientistas acreditam ter
descoberto entre conservadores e liberais?
(A) A maior atividade do córtex cingulado anterior
no cérebro dos liberais.
(B) A flexibilidade biológica dos liberais diante
da rigidez dos conservadores.
(C) A diferente localização no cérebro das áreas
responsáveis pelo monitoramento de conflitos.
(D) O ponto de sensibilidade nervosa observada no
cérebro dos conservadores.
(E) O formato da área responsável pelo
gerenciamento de situações rotineiras no cérebro dos liberais.
QUESTÃO 07 - A referência espacial sugerida no título é
recuperada com base
(A) na posição enunciativa do leitor.
(B) nas informações não-verbais.
(C) no conteúdo do texto.
(D) nas expressões indicadoras de lugar.
(E) no espaço de circulação do texto.
Leia os textos a seguir para responder às questões
de 08 a 10.
Quer tomar bomba?
Quer tomar bomba? Pode aplicar
Mas eu não garanto se vai inchar
Efeito estufa, ação, reação
Estria no corpo, aí, vai, vacilão
Deca, winstrol, durateston, textex
A fórmula mágica pra você ficar mais sexy
Mulher, dinheiro, oportunidade
Um ciclo de winstrol e você é celebridade
Barriga estilo tanque, pura definição
Duas horas de tensão, não vacila, vai pro chão
Três, quatro, quanto mais repetição
Vai perder muito mais rápido
Então, vem, sente a pressão
MAG. Quer tomar bomba? Disponível em:
<www.vagalume.com.br>
Canção
Dá-me pétalas de rosa
Dessa boca pequenina:
Vem com teu riso, formosa!
Vem com teu beijo, divina!
Transforma num paraíso
O inferno do meu desejo...
Formosa, vem com teu riso!
Divina, vem com teu beijo!
Oh! tu, que tornas radiosa
Minh’alma, que a dor domina,
Só com teu riso, formosa,
Só com teu beijo, divina!
Tenho frio, e não diviso
Luz na treva em que me vejo:
Dá-me o clarão do teu riso!
Dá-me o fogo do teu beijo!
BILAC, Olavo. Melhores poemas. Seleção de
Marisa Lajolo. São Paulo: Global, 2003. p. 70. (Coleção Melhores poemas).
QUESTÃO 08 - No rap “Quer tomar bomba?”, a associação do
uso de “medicamentos” ao exercício físico sugere o seguinte dilema:
(A) O culto à beleza física versus o cultivo
da beleza interior.
(B) O zelo com a saúde mental versus a
preocupação com a saúde corporal.
(C) A obtenção de resultados pela força de vontade versus
o recurso à medicina desportiva.
(D) A manutenção da juventude versus a
aceitação do envelhecimento.
(E) O cuidado consigo mesmo versus o desejo
de ser atraente ao outro.
QUESTÃO 09 - No poema “Canção”, um dos recursos lingüísticos
utilizados para expressar a dependência do poeta em relação à mulher amada é
(A) a recuperação da voz feminina pela citação
direta e explícita.
(B) a oposição semântica entre termos dos universos
da razão e da espiritualidade.
(C) a construção da antítese mediante o
encadeamento de orações coordenadas.
(D) a alternância das formas verbais nos modos
indicativo e imperativo.
(E) a sequência sonora indicativa da melancolia
causada pela distância entre eles.
QUESTÃO 10 - Os textos “Quer tomar bomba?” e “Canção” pertencem
a gêneros discursivos diferentes. Contudo, apresentam semelhanças quanto à
constituição enunciativa, pois em ambos observa-se
(A) o desprezo do locutor em relação aos
questionamentos do interlocutor.
(B) a ocorrência da interação por meio da evocação
do interlocutor.
(C) o apagamento do interlocutor marcado pela
diminuição gradual de suas falas.
(D) a instauração de uma voz mediadora das falas
dos interlocutores.
(E) o confronto de pontos de vista caracterizado
pela sobreposição de vozes.
LITERATURA BRASILEIRA
QUESTÃO 11 - Leia o fragmento do poema “Ofertas de Aninha (Aos moços)”,
de Cora Coralina.
Eu sou aquela mulher
a quem o tempo
muito ensinou.
Ensinou a amar a vida.
Não desistir da luta.
Recomeçar na derrota.
Renunciar a palavras e pensamentos negativos.
Acreditar nos valores humanos.
Ser otimista.
[...]
Acredito nos moços.
Exalto sua confiança,
generosidade e idealismo.
Creio nos milagres da ciência
e na descoberta de uma profilaxia
futura dos erros e violências
do presente.
Aprendi que mais vale lutar
do que recolher dinheiro fácil.
Antes acreditar do que duvidar.
CORALINA, Cora. Melhores poemas. Seleção de
Darcy França Denófrio. São Paulo: Global, 2004. p. 132-133. (Coleção Melhores
poemas).
Somam-se a esse texto poético outros poemas, tais
como “Lembranças de Aninha (Colhe dos velhos plantadores)”, “Normas de educação”,
“Pai e filho”, “Cora Coralina, quem é você?” e “Mestra Silvina”, que são unidos
por uma temática central que trata da
(A) condição intergeracional que funciona como base
para a educação humana.
(B) situação física precária que exemplifica o
universo escolar da Cidade de Goiás.
(C) idealização dos professores antigos que
valorizavam a pedagogia humanista.
(D) crença nos avanços da ciência que cumpre o
papel de gerar bem-estar social.
(E) arte literária engajada que deve ser usada como
instrumento de ensino formal.
QUESTÃO 12 - Leia o soneto abaixo.
XXXI
Longe de ti, se escuto, porventura,
Teu nome, que uma boca indiferente
Entre outros nomes de mulher murmura,
Sobe-me o pranto aos olhos, de repente...
Tal aquele, que, mísero, a tortura
Sofre de amargo exílio, e tristemente
A linguagem natal, maviosa e pura,
Ouve falada por estranha gente...
Porque teu nome é para mim o nome
De uma pátria distante e idolatrada,
Cuja saudade ardente me consome:
E ouvi-lo é ver a eterna primavera
E a eterna luz da terra abençoada,
Onde, entre flores, teu amor me espera.
BILAC, Olavo. Melhores poemas. Seleção de
Marisa Lajolo. São Paulo: Global, 2003. p. 54. (Coleção Melhores poemas).
Olavo Bilac, mais conhecido como poeta parnasiano,
expressa traços românticos em sua obra. No soneto apresentado observa-se o
seguinte traço romântico:
(A) objetividade do eu lírico.
(B) predominância de descrição.
(C) utilização de universo mitológico.
(D) erudição do vocabulário.
(E) idealização do tema amoroso.
QUESTÃO 13 - Os contos de O leopardo é um animal delicado,
de Marina Colasanti, permitem a reconfiguração de concepções ideológicas
cristalizadas ao focalizar as relações entre homens e mulheres sob diferentes
nuanças. O conto em que é apresentada uma abordagem diferenciada dessa relação
é
(A) “Não há nada no bosque” – o cotidiano do lar é
afetado por uma ameaça externa.
(B) “Um dia, afinal” – o desgaste do relacionamento
é fator de estranhamento do cônjuge.
(C) “É a alma, não é?” – o casamento é entendido
pela esposa como aprisionamento.
(D) “As regras do jogo” – o acontecimento real é
substituído pela aventura virtual.
(E) “Como se pode amar” – a experiência amorosa é encaminhada
para uma situação trágica.
QUESTÃO 14 - A modernidade do romance brasileiro já se faz notar
na segunda fase da obra de Machado de Assis, antecipando essa tendência na
literatura brasileira. Em Memorial de Aires, uma marca dessa modernidade
é
(A) a presença recorrente do pano de fundo
histórico.
(B) a crítica social aos diversos desmandos
políticos.
(C) o retrato incisivo do cotidiano artificial
burguês.
(D) o comentário metalingüístico sobre fatos
relatados.
(E) a expressão rigorosa de ideologias antagônicas.
QUESTÃO 15 - A característica apresentada pela obra Memorial
do fim, de Haroldo Maranhão, que a enquadra em uma das tendências do
romance brasileiro contemporâneo, é a
(A) predominância de uma voz narrativa determinante
na condução do relato.
(B) representação de grupos sociais marginalizados
em uma sociedade consumista.
(C) presença do tema da violência oriunda de uma
formação social autoritária.
(D) releitura da tradição literária com a livre
representação da vida cultural brasileira.
(E) prevalência do cenário urbano com o retrato da
metrópole moderna.
QUESTÃO 16 - As narrativas O fantasma de Luis Buñel, de
Maria José Silveira, Memorial de Aires, de Machado de Assis, e Memorial
do fim, de Haroldo Maranhão, usam formas extraliterárias, tais como o
diário, o jornal, a carta, o bilhete e o roteiro. A presença desses recursos
estilísticos propicia
(A) criar o efeito do real no texto literário.
(B) ressaltar a relevância cultural dos enredos.
(C) fortalecer o empenho ideológico dos textos.
(D) inserir a literatura no âmbito vanguardista.
(E) valorizar o caráter informativo das obras.
QUESTÃO 17 - Leia os poemas de Cora Coralina e Olavo Bilac.
RIO VERMELHO
IV
Água – pedra.
Eternidades irmanadas.
Tumulto – torrente.
Estática – silenciosa.
O paciente deslizar,
o chorinho a lacrimejar
sutil, dúctil
na pedra, na terra.
Duas perenidades –
sobreviventes
no tempo.
Lado a lado – conviventes,
diferentes, juntas, separadas.
Coniventes.
Meu Rio Vermelho.
CORALINA, Cora. Melhores poemas. Seleção de
Darcy França Denófrio. São Paulo: Global, 2004. p. 319. (Coleção Melhores
poemas).
Vocabulário:
dúctil:
dócil
RIO ABAIXO
Treme o rio, a rolar, de vaga em vaga...
Quase noite. Ao sabor do curso lento
Da água, que as margens em redor alaga,
Seguimos. Curva os bambuais o vento.
Vivo há pouco, de púrpura, sangrento,
Desmaia agora o ocaso. A noite apaga
A derradeira luz do firmamento...
Rola o rio, a tremer, de vaga em vaga.
Um silêncio tristíssimo por tudo
Se espalha. Mas a lua lentamente
Surge na fímbria do horizonte mudo:
E o seu reflexo pálido, embebido
Como um gládio de prata na corrente,
Rasga o seio do rio adormecido.
BILAC, Olavo. Melhores poemas. Seleção de
Marisa Lajolo. São Paulo: Global, 2003. p. 71. (Coleção Melhores poemas).
Vocabulário:
ocaso:
pôr-do-sol
fímbria:
orla, borda
gládio:
espada
Tanto Cora Coralina, em “Rio vermelho”, quanto
Olavo Bilac, em “Rio abaixo”, poetizam assuntos semelhantes. Os dois poemas,
entretanto, diferenciam-se, respectivamente, por
(A) linguagem coloquial do primeiro e linguagem
anacrônica do segundo.
(B) caráter contido do primeiro e caráter intenso
do segundo.
(C) tonalidade satírica do primeiro e tonalidade
avaliativa do segundo.
(D) ênfase narrativista do primeiro e ênfase
descritivista do segundo.
(E) registro regionalista do primeiro e registro
universalista do segundo.
QUESTÃO 18 - A composição narrativa em Memorial de Aires,
de Machado de Assis, e em Memorial do fim, de Haroldo Maranhão, caracteriza-se
pela fragmentação do relato. Essa organização é ocasionada
(A) pelo encadeamento ordenado do tempo.
(B) pelo retrato tipificado do personagem.
(C) pelo centramento estrutural do enredo.
(D) pela articulação subjetiva do narrador.
(E) pela configuração realista do cenário.
QUESTÃO 19 - Maria José Silveira, no romance O fantasma de
Luis Buñel, com o objetivo de reproduzir o funcionamento da memória,
(A) emprega o flash-back com múltiplos
narradores, relacionando-os ao longo do enredo.
(B) explora o momento da enunciação, considerando a
ótica dos narradores.
(C) apresenta os fatos em ordem cronológica,
combinando o olhar dos narradores.
(D) mescla o passado com o presente, prevendo o
futuro dos personagens.
(E) evoca os eventos distantes, desconectando-os do
presente de cada narrador.
QUESTÃO 20 - Leia os seguintes fragmentos do romance Memorial
de Aires, de Machado de Assis.
13 de maio
Enfim, lei. Nunca fui, nem o cargo me consentia ser
propagandista da abolição, mas confesso que senti grande prazer quando soube da
votação final do Senado e da sanção da Regente. Estava na Rua do Ouvidor, onde
a agitação era grande e a alegria geral.
[...]
Ainda bem que acabamos com isto. Era tempo. Embora
queimemos todas as leis, decretos e avisos, não poderemos acabar com os atos
particulares, escrituras e inventários, nem apagar a instituição da História,
ou até da Poesia.
ASSIS, Machado de. Memorial de Aires. São
Paulo: Ática, 2007. p. 38-39. (Série Bom livro).
Os fragmentos acima retratam um episódio decisivo
da história brasileira, a Abolição da escravatura. Na ótica do narrador desse
romance, tal acontecimento é observado como
(A) uma circunstância de forte participação popular
no país.
(B) uma ocasião de correção do passado de intensa violência.
(C) uma oportunidade de superação dos resíduos
conservadores.
(D) um momento de concessão política das elites
brasileiras.
(E) um evento de revelação das contradições nacionais.www.veredasdalingua.blogspot.com.br
Leia também:
UFG - 2001 - 1º Fase - Prova de Língua Portuguesa
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