Prova de Língua Portuguesa – FEI – 2013 - 2º semestre
Leia atentamente o texto abaixo e responda a seguir:
Homem no Mar - Rubem Braga
De minha
varanda vejo, entre árvores e telhados, o mar. Não há ninguém na praia, que
resplende ao sol. O vento é nordeste, e vai tangendo, aqui e ali, no belo azul
das águas, pequenas espumas que marcham alguns segundos e morrem, como bichos
alegres e humildes; perto da terra a onda é verde.
Mas
percebo um movimento em um ponto do mar; é um homem nadando. Ele nada a uma
certa distância da praia, em braçadas pausadas e fortes; nada a favor das águas
e do vento, e as pequenas espumas que nascem e somem parecem ir mais depressa
do que ele. Justo: espumas são leves, não são feitas de nada, toda sua
substância é água e vento e luz, e o homem tem sua carne, seus ossos, seu
coração, todo seu corpo a transportar na água.
Ele usa
os músculos com uma calma energia; avança. Certamente não suspeita de que um
desconhecido o vê e o admira porque ele está nadando na praia deserta. Não sei
de onde vem essa admiração, mas encontro nesse homem uma nobreza calma,
sinto-me solidário com ele, acompanho o seu esforço solitário como se ele
estivesse cumprindo uma bela missão. Já nadou em minha presença uns trezentos
metros; antes, não sei; duas vezes o perdi de vista, quando ele passou atrás
das árvores, mas esperei com toda confiança que reaparecesse sua cabeça, e o
movimento alternado de seus braços. Mais uns cinquenta metros, e o perderei de
vista, pois um telhado a esconderá. Que ele nade bem esses cinquenta ou
sessenta metros; isto me parece importante; é
preciso que conserve a mesma batida de sua braçada, e que
eu o veja desaparecer assim como o vi aparecer, no mesmo rumo, no mesmo ritmo,
forte, lento, sereno. Será perfeito; a imagem desse homem me faz bem.
É apenas
a imagem de um homem, e eu não poderia saber sua idade, nem sua cor, nem os
traços de sua cara. Estou solidário com ele, e espero que ele esteja comigo.
Que ele atinja o telhado vermelho, e então eu poderei sair da varanda
tranquilo, pensando — "vi um homem sozinho, nadando no mar; quando o vi
ele já estava nadando; acompanhei-o com atenção durante todo o tempo, e
testemunho que ele nadou sempre com firmeza e correção; esperei que ele
atingisse um telhado vermelho, e ele o atingiu".
Agora não
sou mais responsável por ele; cumpri o meu dever, e ele cumpriu o seu.
Admiro-o. Não consigo saber em que reside, para mim, a grandeza de sua tarefa;
ele não estava fazendo nenhum gesto a favor de alguém, nem construindo algo de
útil; mas certamente fazia uma coisa bela, e a fazia de um modo puro e viril.
Não desço
para ir esperá-lo na praia e lhe apertar a mão; mas dou meu silencioso apoio,
minha atenção e minha estima a esse desconhecido, a esse nobre animal, a esse
homem, a esse correto irmão.
1ª Questão. O narrador se diz responsável pelo nadador,
segundo o contexto, porque:
(A) acredita que o sucesso da arriscada tentativa de
cruzar o mar a nado represente a promessa de um futuro mais harmonioso e
fraterno.
(B) o nadador poderia se afogar e o narrador queria evitar
um desfecho trágico para aquele dia.
(C) no Rio de Janeiro, faz-se necessária uma teia de solidariedade
para combater a violência cotidiana.
(D) torna-se cúmplice da ação desenvolvida pelo nadador, a
quem ele acompanha atentamente.
(E) quer se eximir da sua responsabilidade histórica.
2ª Questão. Em “O vento é nordeste, e vai tangendo, aqui e
ali, no belo azul das águas, pequenas espumas que marcham alguns segundos e
morrem, como bichos alegres e humildes; perto da terra a onda é verde”, há:
(A) a tentativa de apreender de modo literal a natureza na
sua força física.
(B) a busca de compor um olhar metafórico da natureza
física, cujas qualidades são reconhecidas nos seres animados.
(C) a personificação do vento e das espumas em função dos animais
presentes é um modo de reafirmar o poder da natureza.
(D) a ação de marchar, atribuída às espumas, confere um caráter
impessoal à paisagem vista pelo narrador.
(E) o reconhecimento de que a humildade é algo inerente à natureza
física e aos seres humanos.
3ª Questão. Em “É apenas a imagem de um homem” , a ocorrência
de um artigo definido e de um artigo indefinido se justifica, porque:
(A) a “imagem” é desprovida de especificidade e de importância,
assim como o “homem”.
(B) há necessidade de variar os artigos quando ocorrem em um
mesmo período.
(C) o “homem” poderia ser qualquer um, já que ele não vale
por si mesmo, mas pelo que representa para o observador por intermédio daquela “imagem”
específica.
(D) o “homem” poderia ser somente aquele, um nadador específico
e determinado, assim como a “imagem”, que adquire importância maior.
(E) a “imagem” poderia ser qualquer uma, já que não vale
por si mesma, mas pelo que o “homem” é no contexto em que se apresenta.
4ª Questão. O primeiro parágrafo é predominantemente:
(A) descritivo (B)
narrativo (C) dissertativo (D) dissertativo-argumentativo (E)
reflexivo
5ª Questão. O texto acima deve ser lido como:
(A) conto, porque apresenta todos os elementos narrativos que
lhe são próprios.
(B) crônica, pois trata de uma cena de cotidiano de modo literário.
(C) fragmento de romance, dada a sua evidente falta de sentido.
(D) literatura de cordel, porque conta histórias
populares.
(E) artigo de opinião, o que se evidencia pelo claro posicionamento
do escritor com relação a um fato cotidiano.
6ª Questão. A admiração do narrador pelo homem que vê
nadar, segundo o contexto, dá-se porque:
(A) o praticante de nado é popular e desfruta de reconhecimento
social.
(B) o homem cumpria a missão a que se tinha proposto com pureza
e virilidade.
(C) o nadador, em toda a sua virilidade, conquista
admiração dos escritores, figuras sabidamente desprovidas de virilidade.
(D) nadar é um esporte desafiador e quem o pratica é digno
de admiração.
(E) o homem se exibia em força e músculos para todos os
que o quisessem ver.
7ª Questão. Ao final do texto, há:
(A) o inesperado sentimento de fraternidade, que deriva da
identificação espontânea do observador com relação ao nadador.
(B) o intenso sentimento de hostilidade experimentando
pelo observador em relação ao nadador.
(C) o sentimento de competitividade com relação ao
nadador, sentimento que o observador procura reprimir em vão.
(D) a repressão do amor que emerge subitamente entre o observador
e o nadador.
(E) a profunda inveja que o observador sente do nadador.
8ª Questão. É correto afirmar sobre os termos em destaque
em “no mesmo rumo, no mesmo ritmo, forte, lento, sereno”:
(A) são substantivos que acrescentam informações à oração.
(B) são três advérbios, que modificam o sentido de “rumo”.
(C) ligam-se a “rumo”, qualificando-o com três atributos diferentes.
(D) os três adjetivos modificam o substantivo “ritmo”.
(E) constituem uma explicação do advérbio “no mesmo ritmo”.
9ª Questão. Refletindo no uso do verbo “nadar” e no
contexto em que acontece em “Já nadou em minha presença uns trezentos metros”,
percebe-se que se trata de um verbo:
(A) intransitivo (B) transitivo direto (C) transitivo
direto e indireto
(D) verbo de estado (E) verbo de ligação
10ª Questão. A introdução do segundo parágrafo pelo
elemento coesivo “Mas” adverte o leitor de que algo significativo na narrativa
irá mudar, dado que ele estabelece uma relação de:
(A) causalidade (B) concessão (C) explicação (D) oposição (E)
condição
11ª Questão. Os dois pontos de “Justo: espumas são leves,
não são feitas de nada, toda sua substância é água e vento e luz” significam o
mesmo que:
(A) mas (B) por isso (C) porque (D) apesar de que (E)
ainda assim
12ª Questão. O pronome pessoal do caso oblíquo de “sinto-me
solidário com ele” é exemplo de voz:
(A) passiva (B) ativa (C) passiva sintética (D) ativa
analítica (E) reflexiva
13ª Questão. Em “cumpri o meu dever, e ele cumpriu o seu”,
verifica-se a ocorrência de dois sujeitos, sintaticamente classificados como:
(A) indeterminado e simples
(B) simples e simples
(C) oculto e indeterminado
(D) oculto e elíptico
(E) oculto e simples
14ª Questão. Há duas ocorrências do verbo “estar” em “Estou
solidário com ele, e espero que ele esteja comigo”. Na primeira,
o verbo está no presente do indicativo; na segunda, o verbo está no presente de
subjuntivo. A mudança do modo verbal se faz necessária, porque:
(A) o modo indicativo coloca em dúvida o estado em que se encontra
o narrador diante do fato enunciado, enquanto o subjuntivo indica
assertivamente a atitude do nadador em relação ao fato enunciado.
(B) os verbos se relacionam a sujeitos diferentes e, por
isso, devem aparecer no contexto de modos distintos.
(C) “estou” e “esteja”, apesar de estarem em modos
diferentes, expressam as mesmas atitudes dos sujeitos em relação aos fatos
enunciados.
(D) “estou” indica assertivamente a atitude do sujeito em
relação ao fato enunciado, enquanto “esteja” indica dúvidas com relação à
atitude do nadador em relação ao fato enunciado.
(E) o modo indicativo, usado para expressar ordens, afirma
imperativamente o estado em que se encontra o sujeito diante do fato enunciado,
enquanto “esteja” evidencia
dúvidas com relação à atitude do nadador.
15ª Questão. O que garante a especificidade literária do
texto é:
(A) a caracterização do personagem.
(B) a linguagem coloquial.
(C) o trabalho da linguagem com preocupação artística.
(D) os traços autobiográficos que permeiam a narrativa.
(E) a lição de moral que o leitor pode depreender dele.
16ª Questão. No texto, verifica-se a presença de:
(A) narrador onisciente (B) narrador testemunha
(C) protagonista e antagonista (D) eu-lírico (E) eu-poemático
17ª Questão. Pelas características do texto, é possível
afirmar que Rubem Braga é contemporâneo a:
(A) Machado de Assis (B) José de Alencar
(C) Gil Vicente (D)
Arnaldo Jabor (E) Érico Veríssimo
18ª Questão. O texto está narrado em:
(A) primeira pessoa do singular. (B) terceira pessoa do singular.
(C) segunda pessoa do discurso. (D) primeira pessoa do plural. (E) terceira pessoa do plural.
19ª Questão. Em “De minha varanda vejo, entre árvores e
telhados, o mar”, há:
(A) um período composto por coordenação.
(B) um período composto por subordinação.
(C) um período simples.
(D) um período composto por coordenação e subordinação.
(E) um período simples e um período composto por coordenação.
20ª Questão. O termo destacado em “Não há ninguém na
praia, que resplende ao sol” poderia ser substituído sem perda de
sentido por:
(A) responde (B) refrata (C) inebria-se (D) esquenta (E)
brilha
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