Prova de Língua Portuguesa – FEI – 2015 - 1º semestre
PORTUGUÊS
Leia atentamente o texto “O verbo for”, de João Ubaldo
Ribeiro, e responda a seguir:
Vestibular
de verdade era no meu tempo. Já estou chegando, ou já cheguei, à altura da vida
em que tudo de bom era no meu tempo; meu e dos outros coroas. Acho inadmissível
e mesmo chocante (no sentido antigo) um coroa não ser reacionário. Somos uma
força histórica de grande valor. Se não agíssemos com o vigor necessário —
evidentemente o condizente com a nossa condição provecta —, tudo sairia fora de
controle, mais do que já está. O vestibular, é claro, jamais voltará ao que era
outrora e talvez até desapareça, mas julgo necessário falar do antigo às novas
gerações e lembrálo
às minhas coevas (ao dicionário outra vez; domingo, dia de
exercício).
O
vestibular de Direito a que me submeti, na velha Faculdade de Direito da Bahia,
tinha só quatro matérias: português, latim, francês ou inglês e sociologia,
sendo que esta não constava dos currículos do curso secundário e a gente tinha
que se virar por fora. Nada de cruzinhas, múltipla escolha ou matérias que não
interessassem diretamente à carreira. Tudo escrito tão ruybarbosianamente
quanto possível, com citações decoradas, preferivelmente. Os textos em latim
eram As Catilinárias ou a Eneida, dos quais até hoje sei o comecinho.
Havia
provas escritas e orais. A escrita já dava nervosismo, da oral muitos nunca se
recuperaram inteiramente, pela vida afora. Tirava-se o ponto (sorteava-se o
assunto) e partia-se para o martírio, insuperável por qualquer esporte radical desta
juventude de hoje. A oral de latim era particularmente espetacular, porque se
juntava uma multidão, para assistir à performance do saudoso mestre de Direito
Romano Evandro Baltazar de Silveira. Franzino, sempre de colete e olhar vulpino
(dicionário, dicionário), o mestre não perdoava. (...)
Quis o
irônico destino, uns anos mais tarde, que eu fosse professor da Escola de
Administração da Universidade Federal da Bahia e me designassem para a banca de
português, com prova oral e tudo. Eu tinha fama de professor carrasco, que até
hoje considero injustíssima, e ficava muito incomodado com aqueles rapazes e
moças pálidos e trêmulos diante de mim. Uma bela vez, chegou um sem o menor sinal
de nervosismo, muito elegante, paletó, gravata e abotoaduras vistosas. A prova
oral era bestíssima. Mandava-se o candidato ler umas dez linhas em voz alta
(sim, porque alguns não sabiam ler) e depois se perguntava o que queria dizer
uma palavra trivial ou outra, qual era o plural de outra e assim por diante.
Esse mal sabia ler, mas não perdia a pose. Não acertou a responder nada. Então,
eu, carrasco fictício, peguei no texto uma frase em que a palavra
"for" tanto podia ser do verbo "ser" quanto do verbo "ir".
Pronto,
pensei. Se ele distinguir qual é o verbo, considero-o um gênio, dou quatro, ele
passa e seja o que Deus quiser.
— Esse
"for" aí, que verbo é esse?
Ele
considerou a frase longamente, como se eu estivesse pedindo que resolvesse a
quadratura do círculo, depois ajeitou as abotoaduras e me encarou sorridente.
— Verbo
for.
— Verbo o
quê?
— Verbo
for.
—
Conjugue aí o presente do indicativo desse verbo.
— Eu
fonho, tu fões, ele fõe – recitou ele, impávido. — Nós fomos, vós fondes, eles
fõem. (...)
1ª Questão. Pode-se depreender de “Se ele distinguir qual
é o verbo, considero-o um gênio, dou quatro, ele passa e seja o que Deus
quiser” (fim do 4º parágrafo do texto):
(A) nada pode deter o desejo de uma pessoa que se dedica a
conquistar seus objetivos.
(B) conhecer bem a flexão dos verbos faz com que um aluno supere
todas as suas dificuldades.
(C) o candidato, por sua postura destemida, conseguiria superar
os obstáculos impostos pela vida.
(D) ao distinguir o verbo, o candidato evidenciaria seu profundo
conhecimento da língua.
(E) o narrador não assegura ao ensino formal a total responsabilidade
pela aprendizagem da língua pelos alunos.
2ª Questão. O comentário sobre o “irônico destino” (início
do 4º parágrafo do texto) sugere que:
(A) a experiência do aluno que se torna professor é
irônica, porque ele não dominava adequadamente o idioma.
(B) sua experiência completamente frustrante como aluno levou-o
a almejar a atividade docente.
(C) sua experiência bem-sucedida como aluno levou-o a conquistar
o seu lugar natural de professor.
(D) o destino confirmou as expectativas do aluno,
levando-o à atividade docente.
(E) o destino contradisse as expectativas do aluno, que
não se imaginava exercendo a atividade docente.
3ª Questão. O trecho “Eu tinha fama de professor carrasco,
que até hoje considero injustíssima, e ficava muito incomodado com aqueles
rapazes e moças pálidos e trêmulos diante de mim” (4º parágrafo do texto)
pressupõe uma visão da educação segundo a qual:
(A) é preciso retomar práticas educacionais que ameacem os
estudantes, a fim de que eles estudem bastante e dediquem-se a aprender os
conteúdos fundamentais.
(B) a aprendizagem deve estar baseada em relações de respeito
entre professor e alunos e não ser pautada pelo medo.
(C) cabe ao professor intimidar seus alunos, a fim de que
eles rendam o necessário.
(D) o medo sentido pelos alunos demonstra que eles têm pouco
comprometimento com os estudos.
(E) a aprendizagem deve ser construtivista.
4ª Questão. O aluno submetido à prova oral no episódio
narrado no texto é retratado como:
(A) prepotente, mas consciente das suas limitações no que
diz respeito à língua portuguesa.
(B) inseguro, mas inconsciente de sua falta de
conhecimentos linguísticos.
(C) destemido e completamente inconsciente da sua falta de
conhecimento da língua portuguesa.
(D) atrevido, porque consciente de suas competências linguísticas.
(E) humilde e consciente da necessidade de desenvolver
suas competências linguísticas.
5ª Questão. As explicações realizadas entre parênteses ao
longo do texto expressam:
(A) a impossibilidade de se realizar uma comunicação
eficiente por meio da comunicação escrita.
(B) um diálogo fictício entre leitor e autor.
(C) a consciência do escritor sobre a erudição do seu
leitor.
(D) a perda da autonomia do leitor diante da linguagem
formal.
(E) a projeção de um leitor desinteressado.
6ª Questão. Considerando o contexto, os termos arcaicos
contribuem para:
(A) menosprezar as particularidades da cultura escolar em
que o escritor se formou.
(B) ressaltar as diferenças entre a cultura escolar em que
o escritor se formou e a das novas gerações.
(C) afirmar a necessidade de renovar permanentemente a língua
em função das novas tecnologias.
(D) obrigar o leitor a reconhecer a sua ignorância com
relação à língua.
(E) evidenciar o profundo conhecimento linguístico do
autor.
7ª Questão. Um olhar atento para a linguagem empregada
pelo autor permite afirmar que o texto:
(A) dirige-se a um público erudito que reconheça os
exercícios intertextuais.
(B) é representativa da escrita do século XIX.
(C) contempla leitores de diversos níveis culturais que se
interessem pelas questões do seu tempo.
(D) requer leitores que tenham um repertório formado fundamentalmente
pelas obras clássicas.
(E) pressupõe um leitor reflexivo e que conheça a
linguagem das novas tecnologias.
8ª Questão. Segundo o texto, o conflito entre gerações é:
(A) importante, porque a tensão entre a tradição e a modernidade
impede que certos valores sejam esquecidos.
(B) irrelevante, porque os valores permanecem a despeito
das mudanças sociais.
(C) importante, para que os jovens tenham medo dos mais velhos.
(D) irrelevante, porque a modernidade inevitavelmente
destrói a tradição.
(E) um diálogo equilibrado entre tradição e modernidade.
9ª Questão. João Ubaldo Ribeiro é contemporâneo de:
(A) Machado de Assis (B) Clarice Lispector
(C) Graciliano Ramos (D)
Monteiro Lobato (E) Ariano Suassuna
10ª Questão. As marcas estilísticas e temáticas evidenciam
que o texto é:
(A) crônica (B) conto (C) romance (D) poema (E) reportagem
11ª Questão. “O verbo for” traz uma das características
marcantes da obra de João Ubaldo Ribeiro, a saber:
(A) abuso de figuras de linguagem (B) lirismo
(C) sentimentalismo (D) humor (E) pessimismo
12ª Questão. Do ponto de vista estético, é possível afirmar
que:
(A) trata-se de um texto da primeira fase do modernismo.
(B) trata-se de um texto clássico.
(C) trata-se de um texto com características barrocas.
(D) trata-se de um texto contemporâneo.
(E) trata-se de um texto vanguardista.
13ª Questão. Independente da identificação do infinitivo
do verbo, a forma “for” está flexionada no:
(A) presente do indicativo
(B) pretérito imperfeito do subjuntivo
(C) futuro do subjuntivo
(D) futuro do indicativo
(E) pretérito perfeito do indicativo
14ª Questão. Em “muitos nunca se recuperaram
inteiramente”, o termo em destaque é:
(A) pronome possessivo
(B) índice de indeterminação do sujeito
(C) pronome apassivador
(D) pronome reflexivo
(E) pronome pessoal do caso reto
15ª Questão. O termo “ruybarbosianamente”:
(A) é um adjetivo, que modifica o sujeito “tudo”.
(B) construído a partir do nome de Ruy Barbosa, é um neologismo que modifica “escrito”.
(C) é exemplo de neologismo, formado a partir da derivação por prefixação e sufixação.
(D) vem usado para intensificar a ação de “escrever”.
(E) vem usado para indicar que os vestibulares
contradiziam a escrita praticada por Ruy Barbosa.
16ª Questão. O vocábulo destacado em “evidentemente o
condizente com a nossa condição provecta” pode ser substituído,
sem prejuízo de sentido para o contexto, por:
(A) avançada em anos (B) contemporânea (C) instável (D) permanente (E) atrasada em anos
17ª Questão. O termo em destaque de “Os textos em
latim” (final do 2º parágrafo do texto) funciona como:
(A) núcleo do sujeito (B) adjunto adverbial
(C) complemento nominal (D) complemento verbal (E) adjunto adnominal
18ª Questão. O uso do futuro do pretérito em “sairia” deve-se:
(A) à construção de uma ação anterior condicional,
introduzida pela conjunção “se”.
(B) à construção de uma ação anterior afirmativa,
apresentada pelo modo imperativo.
(C) à necessidade de fazer a correlação verbal entre o
verbo “sair” e o seu complemento.
(D) à ação histórica que se desenvolverá no futuro
próximo.
(E) ao que se espera da ação realizada no passado com impactos
no presente.
19ª Questão. Respeitando o contexto em que ocorre, a
grafia do verbo em “Havia provas escritas e orais”:
(A) contraria o uso da norma culta do idioma, porque o
verbo deveria estar no plural para indicar o sujeito composto.
(B) está correta, porque o verbo se flexiona de acordo com
o sujeito “provas escritas e orais”.
(C) está correta, porque se trata de um verbo impessoal.
(D) está correta, porque o verbo “haver” segue a flexão
dos verbos regulares.
(E) está incorreta do ponto de vista gramatical e correta
do ponto de vista dos usos da linguagem.
20ª Questão. Em “Quando ele for prestar
vestibular, deverá estudar latim”, a forma infinitiva do verbo em destaque,
considerando o contexto, é:
(A) ser (B) for (C) é (D) ir (E) vamos
Leia também:
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Olá, professor, belo trabalho! Gostaria de receber o gabarito das atividades, se possível. Obrigada.
ResponderExcluirBoa tarde, gostaria de receber o gabarito do texto "o verbo for"´.
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