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segunda-feira, 7 de agosto de 2017

UNESP 2015 – 1º Fase – Prova de Língua Portuguesa

UNESP 2015 – 1º Fase – Prova de Língua Portuguesa


As questões de números 01 a 05 tomam por base uma passagem de um romance de Autran Dourado (1926-2012).

A gente Honório Cota

Quando o coronel João Capistrano Honório Cota mandou erguer o sobrado, tinha pouco mais de trinta anos. Mas já era homem sério de velho, reservado, cumpridor. Cuidava muito dos trajes, da sua aparência medida. O jaquetão de casimira inglesa, o colete de linho atravessado pela grossa corrente de ouro do relógio; a calça é que era como a de todos na cidade — de brim, a não ser em certas ocasiões (batizado, morte, casamento — então era parelho mesmo, por igual), mas sempre muito bem passada, o vinco perfeito. Dava gosto ver:
O passo vagaroso de quem não tem pressa — o mundo podia esperar por ele, o peito magro estufado, os gestos lentos, a voz pausada e grave, descia a rua da Igreja cumprimentando cerimoniosamente, nobremente, os que por ele passavam ou os que chegavam na janela muitas vezes só para vê-lo passar.
Desde longe a gente adivinhava ele vindo: alto, magro, descarnado, como uma ave pernalta de grande porte. Sendo assim tão descomunal, podia ser desajeitado: não era, dava sempre a impressão de uma grande e ponderada figura. Não jogava as pernas para os lados nem as trazia abertas, esticava-as feito medisse os passos, quebrando os joelhos em reto.
Quando montado, indo para a sua Fazenda da Pedra Menina, no cavalo branco ajaezado de couro trabalhado e prata, aí então sim era a grande, imponente figura, que enchia as vistas. Parecia um daqueles cavaleiros antigos, fugidos do Amadis de Gaula ou do Palmeirim, quando iam para a guerra armados cavaleiros.

(Ópera dos mortos, 1970.)

Questão 01 – No primeiro parágrafo, com a frase “então era parelho mesmo, por igual”, o narrador faz referência ao fato de o coronel

(A) vestir em certos eventos sociais a calça também de casimira.
(B) ser par para qualquer desafio que lhe fizessem.
(C) usar também em certas ocasiões o jaquetão de brim.
(D) usar roupas iguais às de todos na cidade.
(E) demonstrar sua humildade por meio das roupas.

Questão 02 – No terceiro parágrafo, a comparação do coronel com uma ave pernalta representa

(A) um recurso expressivo para ilustrar sua aparência e sua presença física.
(B) uma figura de retórica sem grande significado descritivo.
(C) uma imagem visual de seu temperamento amável, mas perigoso.
(D) uma imagem que busca representar sua impressionante beleza.
(E) um modo de chamar atenção para o ambiente rústico em que vivia.

Questão 03 – Em seu conjunto, a descrição do coronel sugere uma figura que

(A) exibe um temperamento tímido e fechado.
(B) manifesta desprezo por tudo à sua volta.
(C) demonstra humildade em tudo o que fazia.
(D) revela nos gestos e comportamento segurança e poder.
(E) inspira certo receio aos habitantes da cidade.

Questão 04 – No início do segundo parágrafo, por ter na frase a mesma função sintática que o vocábulo “vagaroso” com relação a “passo”, a oração “de quem não tem pressa” é considerada

(A) coordenada sindética.
(B) subordinada substantiva.
(C) subordinada adjetiva.
(D) coordenada assindética.
(E) subordinada adverbial.

Questão 05 – Analisando o último período do terceiro parágrafo, verifica-se que a palavra “feito” é empregada como

(A) advérbio. (B) verbo. (C) substantivo. (D) adjetivo. (E) conjunção.

As questões de números 06 a 10 focalizam uma passagem de um artigo de Cláudia Vassallo.

Aliadas ou concorrentes

Alguns números: nos Estados Unidos, 60% dos formados em universidades são mulheres. Metade das europeias que estão no mercado de trabalho passou por universidades. No Japão, as mulheres têm níveis semelhantes de educação, mas deixam o mercado assim que se casam e têm filhos. A tradição joga contra a economia. O governo credita parte da estagnação dos últimos anos à ausência de participação feminina no mercado de trabalho. As brasileiras avançam mais rápido na educação. Atualmente, 12% das mulheres têm diploma universitário — ante 10% dos homens. Metade das garotas de 15 entrevistadas numa pesquisa da OCDE1 disse pretender fazer carreira em engenharia e ciências — áreas especialmente promissoras. [...]
Agora, a condição de minoria vai caindo por terra e os padrões de comportamento começam a mudar. Cada vez menos mulheres estão dispostas a abdicar de sua natureza em nome da carreira. Não se trata de mudar a essência do trabalho e das obrigações que homens e mulheres têm de encarar. Não se trata de trabalhar menos ou ter menos ambição. É só uma questão de forma. É muito provável que legisladores e empresas tenham de ser mais flexíveis para abrigar mulheres de talento que não desistiram do papel de mãe. Porque, de fato, essa é a grande e única questão de gênero que importa.
Mais fortalecidas e mais preparadas, as mulheres terão um lugar ao sol nas empresas do jeito que são ou desistirão delas, porque serão capazes de ganhar dinheiro
de outra forma. Há 8,3 milhões de empresas lideradas por mulheres nos Estados Unidos — é o tipo de empreendedorismo que mais cresce no país. De acordo com um estudo da EY2, o Brasil tem 10,4 milhões de empreendedoras, o maior índice entre as 20 maiores economias. Um número crescente delas tem migrado das grandes empresas para o próprio negócio. Os fatos mostram: as empresas em todo o mundo terão, mais cedo ou mais tarde, de decidir se querem ter metade da população como aliada ou como concorrente.

(Exame, outubro de 2013.)

1 OCDE: Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico.
2 EY: Organização global com o objetivo de auxiliar seus clientes a fortalecerem seus negócios ao redor do mundo.

Questão 06 – Indique a acepção da palavra “estagnação” que melhor se enquadra no contexto do primeiro parágrafo:

(A) “ausência completa de atividade ou movimento”. (Dicionário On-line de Português)
(B) “situação em que o produto nacional não cresce à altura do potencial econômico do país”. (Houaiss)
(C) “falta de movimento, de atividade; inércia, paralisação”. (Aurélio)
(D) “estado das águas que formam charco”. (Michaelis)
(E) “estado ou situação daquilo que está estagnado, sem fluir, sem evoluir, sem progredir, sem se mover”. (Caldas Aulete)

Questão 07 – “Cada vez menos mulheres estão dispostas a abdicar de sua natureza em nome da carreira.” Considerando esse trecho, do segundo parágrafo, marque a alternativa que melhor traduz o conceito apresentado pela autora com a expressão “abdicar de sua natureza”:

(A) recusar qualquer forma de trabalho mal remunerado.
(B) renunciar à maternidade por causa do trabalho.
(C) deixar de aperfeiçoar-se na profissão.
(D) desistir de sua vocação de liderança sobre os homens.
(E) abrir mão de suas ambições no empreendedorismo.

Questão 08 – Em sua argumentação, a autora revela que a importância da presença das mulheres em atividades empresariais se deve, entre outros, a um motivo de ordem estatística:

(A) elas revelam maior sensibilidade e uma intuição aguçada para os negócios.
(B) elas representam um contingente considerável de metade da população do mundo.
(C) elas são capazes, em comparação com os homens, de acumular inúmeras tarefas.
(D) elas se formam em média com rendimento maior que os homens nas universidades.
(E) elas aumentam significativamente a produção das empresas em que atuam.

Questão 09 – Desde o título do artigo, que é retomado no último parágrafo, os argumentos da autora são motivados por um fato não referido de modo ostensivo, ou seja,

(A) a boa empresária dificilmente conseguirá se tornar uma boa mãe.
(B) as mulheres mostram melhor desempenho nas atividades domésticas.
(C) as atividades empresariais ainda são dominadas por homens.
(D) as empresas fazem grande esforço pela participação de mulheres.
(E) o mercado ainda trata as mulheres mais como consumidoras do que empreendedoras.

Questão 10 – No último parágrafo, focalizando o mercado de trabalho mundial, a autora sugere que as grandes empresas atuais

(A) correm o risco de privilegiar o mercado feminino, se começarem a ser lideradas por mulheres.
(B) não admitem, em todo o mundo, a liderança de mulheres.
(C) precisam muito da liderança de mulheres, pois estas são atualmente mais capacitadas que os homens.
(D) não precisam se preocupar com as mulheres, pois o empreendedorismo destas é um fenômeno passageiro.
(E) poderão ter de enfrentar no futuro a concorrência de empresas lideradas por mulheres.

Para responder às questões de números 11 a 15, leia o poema de Catulo da Paixão Cearense (1863-1946).

O Azulão e os tico-ticos

Do começo ao fim do dia,
um belo Azulão cantava,
e o pomar que atento ouvia
o seus trilos de harmonia,
5 cada vez mais se enflorava.

Se um tico-tico e outras aves
vaiavam sua canção...
mais doce ainda se ouvia
a flauta desse Azulão.

10 Um papagaio, surpreso
de ver o grande desprezo,
do Azulão, que os desprezava,
um dia em que ele cantava
e um bando de tico-ticos
15 numa algazarra o vaiava,
lhe perguntou: “Azulão,
olha, dize-me a razão
por que, quando estás cantando
e recebes uma vaia
20 desses garotos joviais,
tu continuas gorgeando
e cada vez canta mais?!”

Numas volatas sonoras,
o Azulão lhe respondeu:
25 “Caro Amigo! Eu prezo muito
esta garganta sublime
e esta voz maravilhosa...
este dom que Deus me deu!

Quando, há pouco, eu descantava,
30 pensando não ser ouvido
nestes matos por ninguém,
um Sabiá*, que me escutava,
num capoeirão, escondido,
gritou de lá: — meu colega,
35 bravos! Bravos... muito bem!

Pergunto agora a você:
quem foi um dia aplaudido
pelo príncipe dos cantos
de celestes harmonias,
40 (irmão de Gonçalves Dias,
um dos cantores mais ricos...)
— que caso pode fazer
das vaias dos tico-ticos?”

* Nota do editor: Simbolicamente, Rui Barbosa está representado neste Sabiá, pois foi a “Águia de Haia” um dos maiores admiradores de Catulo e prefaciador do seu livro Poemas bravios. (Poemas escolhidos, s/d.)

Questão 11 – Tomando por base a leitura do poema, verifica-se que o pomar, mencionado na primeira estrofe, é apresentado como

(A) um ser inteiramente insensível ao canto dos pássaros.
(B) morada dos tico-ticos invadida pelo Azulão.
(C) mero cenário dos acontecimentos.
(D) um ser capaz de ouvir e apreciar o canto do Azulão.
(E) recanto de uma floresta selvagem.

Questão 12 – Ante as vaias dos tico-ticos e outras aves, o Azulão torna ainda mais perfeita sua canção. Com isso, revela uma atitude de

(A) autoconfiança. (B) rancor. (C) ingenuidade. (D) ignorância. (E) revolta.

Questão 13 – Na fala do papagaio, dos versos de números 16 a 22, uma das formas verbais não apresenta, como deveria, flexão correspondente à mesma pessoa gramatical das demais. Trata-se de

(A) continuas. (B) dize. (C) canta. (D) recebes. (E) estás.
Questão 14
Questão 14 – Considerando a nota do editor, que identifica o Sabiá como Rui Barbosa, grande admirador da poesia de Catulo, os tico-ticos representam no poema

(A) os outros poetas.
(B) os adversários de Rui Barbosa.
(C) os músicos e cantores.
(D) os admiradores de Gonçalves Dias.
(E) os críticos do poeta.

Questão 15 – Se, nos versos 32 e 33, as palavras “Sabiá” e “capoeirão” fossem pronunciadas “sa-bi-á” e “ca-po-ei-rão”, tais versos quebrariam o padrão e o ritmo dos demais, pois passariam a ser

(A) heptassílabos. (B) octossílabos. (C) eneassílabos. (D) hexassílabos. (E) decassílabos.

As questões de números 16 a 20 abordam um texto de um site especializado em esportes com instruções de treinamento para a corrida olímpica dos 1 500 metros.

Corrida – Prova 1 500 metros rasos

A prova dos 1 500 metros rasos, juntamente com a da milha (1 609 metros), característica dos países anglo-saxônicos, é considerada prova tática por excelência, sendo muito importante o conhecimento do ritmo e da fórmula a ser utilizada para vencer a prova. Os especialistas nessas distâncias são considerados completos homens de luta que, após um penoso esforço para resistir ao ataque dos adversários, recorrem a todas as suas energias restantes a fim de manter a posição de destaque conseguida durante a corrida, sem ceder ao constante assédio dos seus perseguidores.
[...] Para correr essa distância em um tempo aceitável, deve-se gastar o menor tempo possível no primeiro quarto da prova, devendo-se para tanto sair na frente dos adversários, sendo essencial o completo domínio das pernas, para em seguida normalizar o ritmo da corrida. No segundo quarto, deve-se diminuir o ritmo, a fim de trabalhar forte no restante da prova, sempre procurando dosar as energias, para não correr o risco de ser surpreendido por um adversário e ficar sem condições para a luta final.
Deve ser tomado cuidado para não se deixar enganar por algum adversário de condição inferior, que normalmente finge possuir energias que realmente não tem, com o intuito de minar o bom corredor, para que o companheiro da mesma equipe possa tirar proveito da situação e vencer a prova. Assim sendo, o corredor experiente saberá manter regularmente as suas passadas, sem deixar-se levar por esse tipo de artimanha. Conhecendo o estado de suas condições pessoais, o corredor saberá se é capaz de um sprint nos 200 metros finais, que é a distância ideal para quebrar a resistência de um adversário pouco experiente.
O corredor que possui resistência e velocidade pode conduzir a corrida segundo a sua conveniência, impondo os seus próprios meios de ação. Finalmente, ao ultrapassar um adversário, deve-se fazê-lo decidida e folgadamente, procurando sempre impressioná-lo com sua ação enérgica. Também deve-se procurar manter sempre uma boa descontração muscular durante o desenvolvimento da corrida, nunca levar a cabeça para trás e encurtar as passadas para finalizar a prova.


Questão 16 – Segundo o texto, antes desse tipo de corrida, é muito importante para o atleta

(A) verificar as condições climáticas para o dia da prova.
(B) analisar seus resultados em provas de que participou recentemente.
(C) analisar as características dos principais oponentes.
(D) planejar o desempenho adequado a cada uma das partes da prova.
(E) atentar para o modo como os outros atletas farão a largada.

Questão 17 – No terceiro parágrafo, descreve-se uma “artimanha” nessa prova:

(A) simular falta de confiança em suas condições pessoais.
(B) largar bem lentamente, para disparar no meio da prova.
(C) manter regularmente as suas passadas, para não se cansar.
(D) imprimir grande velocidade, para extenuar um forte oponente.
(E) fingir que está perdendo terreno, para disparar no momento certo.

Questão 18 – Pela própria descrição da corrida no texto, verifica-se que o termo “rasos”, incluído na denominação da prova, significa, tecnicamente, que

(A) é uma corrida sem barreiras em seu curso.
(B) os atletas largam de raias diferentes e convergem para a raia interna.
(C) é proibido correr na raia externa.
(D) todos os atletas correm numa única raia.
(E) a decisão da prova só ocorre nos últimos 200 metros.

Questão 19 – Observando as seguintes passagens do texto apresentado, marque a alternativa em que as duas palavras em negrito são utilizadas como advérbios:

(A) “não correr o risco de ser surpreendido”.
(B) “finge possuir energias que realmente não tem”.
(C) “deve-se fazê-lo decidida e folgadamente”.
(D) “nunca levar a cabeça para trás”.
(E) “forte no restante da prova, sempre procurando dosar”.

Questão 20 – Ao empregar a expressão “sprint”, o autor do texto refere-se a

(A) dosar melhor a respiração.
(B) atingir grande velocidade.
(C) assumir postura vitoriosa.
(D) aumentar a extensão das passadas.
(E) impedir com o corpo ultrapassagens.

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