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quarta-feira, 16 de maio de 2018

Prova de Língua Portuguesa – Mackenzie – 2018 – 1º Semestre

Universidade Mackenzie – Vestibular 2018 – 1º Semestre – Prova de Língua Portuguesa


Grupos II - III TIPO DE PROVA: A

Texto para as questões de 01 a 06

A arqueologia não pode ser desvencilhada de seu caráter aventureiro e romântico, cuja melhor imagem talvez seja, desde há alguns anos, as saborosas aventuras do arqueólogo Indiana Jones. Pois bem, quando do auge do sucesso de Indiana Jones, o arqueólogo brasileiro Paulo Zanettini escreveu um artigo no Jornal da Tarde, de São Paulo, intitulado “Indiana Jones deve morrer!”. Para ele, assim como para outros arqueólogos profissionais, envolvidos com um trabalho árduo, sério e distante das peripécias das telas, essa imagem aventureira é incômoda.
O fato é que o arqueólogo, à diferença do historiador, do geógrafo ou de outros estudiosos, possui uma imagem muito mais atraente, inspiradora não só de filmes, mas também de romances e livros os mais variados.
Bem, para usar uma expressão de Eça de Queiroz, “sob o manto diáfano da fantasia” escondem-se as histórias reais que fundamentaram tais percepções. A arqueologia surgiu no bojo do Imperialismo do século XIX, como um subproduto da expansão das potências coloniais europeias e dos Estados Unidos, que procuravam enriquecer explorando outros territórios. Alguns dos primeiros arqueólogos de fato foram aventureiros, responsáveis, e não em pequena medida, pela fama que se propagou em torno da profissão.

Adaptado de Pedro Paulo Funari, Arqueologia

Questão nº 01 Assinale a alternativa correta.

a) Encontra-se no texto o predomínio da conotação, uma vez que as palavras empregadas transmitem sentidos figurados com várias possibilidades de interpretação.
b) O texto possui um caráter predominantemente estético, com os sentidos das palavras reinventados constantemente pelo seu autor, a aprofundar o valor literário do texto.
c) A referência a um autor português reforça o caráter literário que o texto assume ao direcionar subjetivamente o teor das informações transmitidas.
d) O domínio discursivo do texto apresenta um caráter instrucional, pois seu principal objetivo é transmitir um conhecimento ou um saber definido pelo seu autor.
e) O texto aprese enta todas as características de um texto oral, com marcas como hesitação, repetição, interação com o leitor, o que permite concluir que ele foi escrito para uma exposição oral, em uma palestra, por exemplo.

Questão nº 02 Considerando suas reflexões feitas na questão anterior, é possível classificar o texto lido como:
a) narrativo b) descritivo c) injuntivo d) informativo e) diálogo

Questão nº 03 Observe as afirmações feitas sobre o texto.

I. Ainda que com ressalvas, o autor considera a presença de uma imagem de aventura relacionada à figura do arqueólogo.
II. Pelas ideias e citações que o texto apresenta, é consensual a imagem positiva de um arqueólogo considerado como aventureiro.
III. É semelhante a imagem que o arqueólogo transmite no senso comum ao lado de seus pares como historiadores e geógrafos.
Assinale a alternativa correta.

a) Todas as afirmações estão corretas.
b) Nenhuma das afirmações está correta.
c) Está correta apenas a afirmação I.
d) Está correta apenas a afirmação II.
e) Está correta apenas a afirmação III.

Questão nº 04 Assinale a alternativa correta.

a) O pronome relativo cuja (linha 02) refere-se à palavra arqueologia, denotando sentido de possessividade.
b) Em há alguns anos (linha 03) a forma verbal também pode ser escrita sem a letra h inicial.
c) Pelas novas regras de ortografia, a palavra auge (linha 04) também pode ser escrita na forma “auje”.
d) É opcional o emprego do acento indicador de crase em à diferença (linha 10).
e) A expressão tais percepções (linha 16) refere-se às imagens descritas em romances de Eça de Queiroz.

Questão nº 05 Assinale a alternativa INCORRETA.

a) A presença de aspas no texto (nas linhas 14-15) indica que o autor do texto faz referência a palavras de outro autor, que ele incorpora em seu texto.
b) O trecho entre as linhas 16-21 tem a função de justificar uma certa interpretação a respeito da figura do arqueólogo no imaginário popular.
c) Discursos como o da literatura e o do cinema prescindem de figuras da realidade, uma vez que os tipos que elabora são puramente ficcionais.
d) Atividades científicas que surgiram no contexto de novos períodos de colonização e dominação de territórios estiveram relacionadas com a noção de aventura e descoberta.
e) Desvincular uma atividade como a arqueologia do imaginário da aventura e do herói é como descaracterizar a própria imagem popular da profissão.

Questão nº 06 Assinale a alternativa correta que representa a melhor correspondência sinonímica, considerando o emprego das palavras no texto.

a) desvencilhada (linha 01): desvinculada
b) árduo (linha 08): brando
c) peripécias (linha 08): mentiras
d) diáfano (linha 15): diário
e) bojo (linha 16): contraponto

Texto para as questões 07 e 08

Quanto eu tiver setenta anos

quando eu tiver setenta anos
então vai acabar esta minha adolescência

vou largar da vida louca
e terminar minha livre docência

vou fazer o que meu pai quer
começar a vida com passo perfeito

vou fazer o que minha mãe deseja
aproveitar as oportunidades
de virar um pilar da sociedade
e terminar meu curso de direito
então ver tudo em sã consciência
quando acabar esta adolescência

Paulo Leminski

Questão nº 07 A respeito do poema acima, de autoria do escritor contemporâneo Paulo Leminski, assinale a alternativa correta.

a) O poema faz uma exortação moral para que os seus leitores tomem o rumo correto na vida.
b) O poema possui a típica estrutura formal de um soneto camoniano.
c) O título do poema evidencia o seu tom nostálgico.
d) O verso “vou fazer o que meu pai quer” não possui nenhum sentido de ironia.
e) O eu lírico enxerga com ironia as concepções de “maturidade” e “virar um pilar da sociedade”.

Questão nº 08 Assinale a alternativa correta.

a) Uma expressão-chave que definiria o poema seria: “em busca do tempo perdido”.
b) Nascido em Curitiba, Paulo Leminski faz parte da segunda geração do modernismo brasileiro, tendo aderido à contracultura e à poesia marginal.
c) A ausência de humor e ironia são verificáveis em versos como: quando eu tiver setenta anos/então vai acabar esta minha adolescência.
d) As construções verbais predominantes no poema denotam um plano de vida ironizado pelo eu lírico.
e) O poema de Leminski faz uma leitura melancólica e subjetiva sobre uma trajetória de vida.

Texto para as questões 09 a 11

Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler!
E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: “E você fica com o livro por quanto tempo quiser.” Entendem? Valia mais do que me dar o livro: “pelo tempo que eu quisesse” é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.
Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo.
Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre ia ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.
Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.
Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.

“Felicidade Clandestina”, Clarice Lispector

Questão nº 09 Considere as afirmações abaixo, que estabelecem uma comparação entre o poema de Paulo Leminski e o trecho do conto de Clarice Lispector:

I. Tanto o poema quanto o fragmento selecionado do conto são reflexões sobre o processo de amadurecimento de um indivíduo;
II. Enquanto o poema de Leminski aborda o tema do amadurecimento com o uso do humor, o conto de Lispector escolhe um registro mais intimista para o mesmo tema;
III. A última frase do trecho de “Felicidade clandestina” mostra que a personagem que ficou com a posse do livro não deu nenhum passo em direção à vida adulta.

Assinale a alternativa correta.

a) Estão corretas as afirmativas I e II.
b) Estão corretas as afirmativas I e III.
c) Estão corretas as afirmativas II e III.
d) Todas as afirmativas estão corretas.
e) Nenhuma das afirmativas está correta.

Questão nº 10 Assinale a alternativa correta.

a) A narradora do conto é a mãe que resolve o conflito da posse do livro entre as duas garotas do conto, dissolvendo a forma emocional da angústia que vivia uma das meninas.
b) Em “Felicidade clandestina” encontramos um bem-sucedido caso de narração que simula a voz da infância, numa linguagem marcada pelo insólito e por alegorias.
c) “Felicidade clandestina” é narrado por uma narradora onisciente em terceira pessoa, aspecto representativo da prosa introspectiva de Clarice Lispector.
d) Não obstante encontremos crianças como personagens, o tema do mundo infantil possui pouca relevância em “Felicidade clandestina”
e) A narradora do conto é uma adulta que decide reviver uma memória marcante da infância, traço da prosa de Clarice Lispector, que tão bem soube representar a voz do feminino na nossa literatura.

Questão nº 11 Assinale a alternativa correta.

a) Por ser ambientado no Recife, o conto pode ser classificado como pertencente à produção dos escritores regionalistas.
b) No fragmento de “Felicidade clandestina”, podemos afirmar que a posse do livro por parte da protagonista constitui-se como metáfora de um encontro amoroso.
c) Em “Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar.”, a personagem principal, leitora compulsiva, está frustrada pela responsabilidade da posse do livro.
d) A decisão da mãe de não dar em definitivo o livro para a personagem principal constitui uma denúncia, por parte de Clarice Lispector, das injustiças cotidianas, dado que é também uma autora engajada em seu tempo, fiel à proposta existencialista de Jean-Paul Sartre.
e) A posse do livro não tem relação direta com a felicidade da narradora, que se explica pelo sentimento de vingança contra a menina que a prejudicou.


Grupos I - IV - V - VI TIPO DE PROVA: A

Texto para as questões de 01 a 06

Escrever é um ato não natural. A palavra falada é mais velha do que nossa espécie, e o instinto para a linguagem permite que as crianças engatem em conversas articuladas anos antes de entrar numa escola. Mas a palavra escrita é uma invenção recente que não deixou marcas em nosso genoma e precisa ser adquirida mediante esforço ao longo da infância e depois.
A fala e a escrita diferem em seus mecanismos, é claro, e essa é uma das razões pelas quais as crianças precisam lutar com a escrita: reproduzir os sons da língua com um lápis ou com o teclado requer prática. Mas a fala e a escrita diferem também de outra maneira, o que faz da aquisição da escrita um desafio para toda uma vida, mesmo depois que seu funcionamento foi dominado. Falar e escrever envolvem tipos diferentes de relacionamentos humanos, e somente o que diz respeito à fala nos chega naturalmente. A conversação falada é instintiva porque a interação social é instintiva: falamos às pessoas “com quem temos diálogo”. Quando começamos um diálogo com nossos interlocutores, temos uma suposição do que já sabem e do que poderiam estar interessados em aprender, e durante a conversa monitoramos seus olhares, expressões faciais e atitudes. Se eles precisam de esclarecimentos, ou não conseguem aceitar uma afirmação, ou têm algo a acrescentar, podem interromper ou replicar. Não gozamos dessa troca de feedbacks quando lançamos ao vento um texto. Os destinatários são invisíveis e imperscrutáveis, e temos que chegar até eles sem conhecê-los bem ou sem ver suas reações. No momento em que escrevemos, o leitor existe somente em nossa imaginação. Escrever é, antes de tudo, um ato de faz de conta. Temos de nos imaginar em algum tipo de conversa, ou correspondência, ou discurso, ou solilóquio, e colocar palavras na boca do pequeno avatar que nos representa nesse mundo simulado.

Adaptado de Steven Pinker, Guia de Escrita

Questão nº 01 Depreende-se corretamente do texto que:

a) a escrita é uma atividade tão natural quanto falar, tanto que seu aprendizado prescinde de treinamento direcionado.
b) escrever e falar são atividades da linguagem humana absolutamente equivalentes no seu modo de produção e resultado nas trocas interacionais.
c) a atividade da escrita implica aprendizagem e treinamento e pode ser melhorada e aperfeiçoada ao longo da formação educacional.
d) a presença física e real dos interlocutores na modalidade escrita facilita o processo de produção da escrita.
e) o diálogo efetivo entre escritor e leitor permite que os feedbacks constantes ampliem as possibilidades de interpretação de textos escritos.

Questão nº 02 O texto, pela sua estrutura e linguagem, pode ser caracterizado corretamente como:

a) uma descrição sobre um objeto definido, caracterizado detalhadamente.
b) um texto informativo com teor de divulgação científica.
c) uma narração com o desenvolvimento de um enredo.
d) um tratado argumentativo que defende um ponto de vista político.
e) um texto de teor pessoal com forte presença de índices de subjetividade.

Questão nº 03 Assinale a alternativa com fragmento textual que mais se assemelha ao texto quanto à forma e ao modo de apresentação do conteúdo.

a) “A Coreia do Norte aumentou o tom das provocações militares e lançou um míssil que sobrevoou o território japonês, ampliando a tensão no leste da Ásia.” (O Estado de S.Paulo, 29/8/2017)
b) “A sala arrumadinha no meio da calçada: sofá, duas poltronas, mesa de centro, tapete, vaso e pufe. Mulher chora abraçada à televisão – procura com medo uma chuva no céu. Crianças mascam chupetas, imploram paredes. Marido não há. Cachorro nem. O caminhão do despejo leva tudo num instante.” (Fernando Bonassi, 100 histórias colhidas na rua)
c) “Viviaaannnn!!!! Menina, vc está completamente desaparecida!! Nunca mais te vi na nossa querida faculdade... A Márcia e a Leila eu ainda vejo de vez em quando, mas você, nunca! Me escreva logo!!!” (Adaptação de texto em Se liga na língua 2, Wilton Ormundo e Cristiane Siniscalchi)
d) “Por ser uma atividade de interação entre pessoas, é preciso analisar a língua em funcionamento, observando seu uso nas situações comunicativas. Em todas as línguas existem regras específicas para a organização e a combinação das palavras, as quais se alteram ao longo do tempo, conforme mudam os valores da comunidade linguística.” (Texto em Se liga na língua 1, Wilton Ormundo e Cristiane Siniscalchi)
e) “O funil da ampulheta / apressa, retardando-a, / a queda / da areia. // Nisso imita o jogo / manhoso / de certos momentos / que se vão embora / quando mais queríamos / que ficassem.” (José Paulo Paes, Socráticas)

Questão nº 04 Assinale a alternativa correta.

a) É claro (linha 07) é oração intercalada que tem como função reafirmar o que se diz no período anterior.
b) Alterar a posição do advérbio não (linha 01) para o início do período manteria o mesmo sentido do que se encontra no texto tal como está.
c) O conector mas (linha 04) introduz período que semanticamente estabelece uma consequência em relação ao afirmado no período anterior.
d) É opcional o emprego do acento indicador de crase em diz respeito à fala (linha 14), de acordo com as regras do acordo ortográfico mais recente.
e) O emprego da preposição em no trecho no momento em que escrevemos (linha 25) é opcional, pois ela pode ser omitida, sem que com isso se incorra em erro de uso da norma culta da língua escrita.

Questão nº 05 Observe as afirmações seguintes.

I. Na construção a palavra falada é mais velha do que nossa espécie (linhas 1-2) há o emprego da figura de linguagem reconhecida como comparação.
II. No trecho as crianças precisam lutar com a escrita (linha 8), há emprego metafórico do verbo lutar.
III. Nos trechos A fala e a escrita diferem em seus mecanismos (linha 7) e Mas a fala e a escrita diferem também (linha 10), é possível apontar a presença de uma construção textual que se utiliza do paralelismo.
Assinale a alternativa correta.

a) Estão corretas as afirmações I e II.
b) Estão corretas as afirmações I e III.
c) Estão corretas as afirmações II e III.
d) Todas as afirmações estão corretas.
e) Nenhuma das afirmações está correta.

Questão nº 06 Assinale a alternativa que indica a relação sinonímica INCORRETA, considerando o emprego das palavras no texto.

a) genoma (linha 05) = conjunto de genes de uma espécie de ser vivo
b) mediante (linha 05) = por intermédio de
c) requer (linha 09) = prescinde de
d) instintiva (linha 15) = natural
e) imperscrutáveis (linha 23) = que não se pode examinar

Texto para as questões 07 e 08

O gato

Uma palavra para o gato: ágil.
Também unha, preguiça, pupila.
O resto
é o que ele
(entre uma e outra delas)
preenche de charme delgado –
enigmático.

Adoraria poder nele apalpar o pêlo
e saber de que abstração é feito.
Mas (felino) ele se enrosca incisivo
no vão do meu pensamento
e dependura-se
(em telepática acrobacia)
nas suas prerrogativas.
Só me permite escrevê-lo
a contrapelo.

Maria Lúcia Dal Farra

Questão nº 07 A respeito do poema “O gato”, assinale a alternativa correta.

a) A referência, pelo eu lírico, a uma metáfora com um animal indica uma influência da escola literária conhecida como Naturalismo.
b) Na primeira estrofe do poema, o eu lírico afirma que é possível dizer tudo o que se pode saber sobre o personagem do gato.
c) Os versos Uma palavra para o gato: ágil. / Também unha, preguiça, pupila são uma descrição do eu lírico e não do animal observado pelo mesmo.
d) O principal tema do poema é a incapacidade do sujeito lírico de entender e colocar em palavras a essência de um gato.
e) A palavra “contrapelo”, do último verso do poema, se refere a uma descrição física do animal tematizado nos versos da poeta.

Questão nº 08 A partir do poema “O gato”, considere as afirmativas abaixo:

I. A poesia brasileira contemporânea, também chamada por teóricos de “pósmoderna”, possui como característica a liberdade criativa na escolha de temas, de formas e intertextualidades;
II. O poema de Maria Lúcia Dal Farra retoma o pressuposto modernista da “arte pela arte”;
III. Só podemos chamar de poesia contemporânea aquela que aborda, ao contrário de “O gato”, o tema da violência cotidiana das grandes cidades.

Assinale a alternativa correta.

a) Apenas a afirmativa I está correta.
b) Apenas a afirmativa II está correta.
c) Apenas a afirmativa III está correta.
d) Nenhuma das afirmativas está correta.
e) Todas as afirmativas estão corretas.

Texto para as questões 09 a 11

A pergunta era imprudente, na ocasião em que eu cuidava de transferir o embarque. Equivalia a confessar que o motivo principal ou único da minha repulsa ao seminário era Capitu, e fazer crer improvável a viagem. Compreendi isto depois que falei; quis emendar-me, mas nem soube como, nem ele me deu tempo.
— Tem andado alegre, como sempre; é uma tontinha. Aquilo enquanto não pegar algum peralta da vizinhança, que case com ela...
Estou que empalideci; pelo menos, senti correr um frio pelo corpo todo. A notícia de que ela vivia alegre, quando eu chorava todas as noites, produziu-me aquele efeito, acompanhado de um bater de coração, tão violento, que ainda agora cuido ouvi-lo. Há alguma exageração nisto; mas o discurso humano é assim mesmo, um composto de partes excessivas e partes diminutas, que se compensam, ajustando-se. Por outro lado, se entendermos que a audiência aqui não é das orelhas senão da memória, chegaremos à exata verdade. A minha memória ouve ainda agora as pancadas do coração naquele instante. Não esqueças que era a emoção do primeiro amor. Estive quase a perguntar a José Dias que me explicasse a alegria de Capitu, o que é que ela fazia, se vivia rindo, cantando ou pulando, mas retive-me a tempo, e depois outra ideia...
Outra ideia, não, - um sentimento cruel e desconhecido, o puro ciúme, leitor das minhas entranhas. Tal foi o que me mordeu, ao repetir comigo as palavras de José Dias: «Algum peralta da vizinhança». Em verdade, nunca pensara em tal desastre. Vivia tão nela, dela e para ela, que a intervenção de um peralta era como uma noção sem realidade; nunca me acudiu que havia peraltas na vizinhança, vária idade e feitio, grandes passeadores das tardes. Agora lembrava-me que alguns olhavam para Capitu, - e tão senhor me sentia dela que era como se olhassem para mim, um simples dever de admiração e de inveja. Separados um do outro pelo espaço e pelo destino, o mal aparecia-me agora, não só possível mas certo.

“Uma ponta de Iago”, Dom Casmurro, Machado de Assis

Questão nº 09 Sobre o trecho acima, retirado do romance Dom Casmurro, escrito por Machado de Assis, assinale a alternativa correta.

a) As conclusões de Bentinho, o narrador do romance, e a fala de José Dias atestam, sem sombra de dúvidas, o quanto a personagem Capitu, leviana e fútil, não é digna de confiança.
b) O trecho é revelador da natureza extremamente ciumenta de Bentinho, pois não há nenhum indício concreto de que Capitu deixara de gostar dele.
c) A palavra mal, na penúltima linha do trecho, diz respeito a algum transtorno físico sentido por Bentinho devido à sua decepção com Capitu, já que provavelmente estaria apaixonada por algum peralta da vizinhança.
d) No seguinte trecho “Estive quase a perguntar a José Dias que me explicasse a alegria de Capitu, o que é que ela fazia, se vivia rindo, cantando ou pulando, mas retive-me a tempo, e depois outra ideia”, percebemos que o narrador desiste dos seus ciúmes.
e) Pela fala de José Dias, Capitu está alegre pela certeza de que vai em poucos dias reencontrar com Bentinho, o que é confirmado pela referência à peça Otelo, de Shakespeare, que intitula o capítulo (“Uma ponta de Iago”).

Questão nº 10 Assinale em qual trecho podemos encontrar o recurso da metalinguagem.

a) “Tal foi o que me mordeu, ao repetir comigo as palavras de José Dias: «Algum peralta da vizinhança».
b) “A minha memória ouve ainda agora as pancadas do coração naquele instante.”
c) “Há alguma exageração nisto; mas o discurso humano é assim mesmo, um composto de partes excessivas e partes diminutas, que se compensam, ajustando-se.”
d) “Em verdade, nunca pensara em tal desastre.”
e) “Separados um do outro pelo espaço e pelo destino, o mal aparecia-me agora, não só possível mas certo.”

Questão nº 11 No trecho de Dom Casmurro destacado abaixo, qual figura de linguagem podemos encontrar?

A notícia de que ela vivia alegre, quando eu chorava todas as noites, produziu-me aquele efeito, acompanhado de um bater de coração, tão violento, que ainda agora cuido ouvi-lo.

a) Hipérbole, uma vez que no discurso há um evidente exagero, pautado num estilo demasiadamente enfático.
b) Ironia, pois o trecho destacado contradiz o que se afirma no início do período.
c) Catacrese, já que a palavra coração está empregada conotativamente.
d) Onomatopeia, pois há referência ao som que o coração faz ao bater.
e) Eufemismo, porque evidentemente o trecho destacado suaviza a emoção sentida pelo narrador.

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