Universidade Mackenzie
– Vestibular 2018 – 1º Semestre – Prova de Língua Portuguesa
Grupos II - III TIPO DE PROVA: A
Texto para as questões de 01 a 06
A
arqueologia não pode ser desvencilhada de seu caráter aventureiro e romântico,
cuja melhor imagem talvez seja, desde há alguns anos, as saborosas aventuras do
arqueólogo Indiana Jones. Pois bem, quando do auge do sucesso de Indiana Jones,
o arqueólogo brasileiro Paulo Zanettini escreveu um artigo no Jornal da Tarde,
de São Paulo, intitulado “Indiana Jones deve morrer!”. Para ele, assim como
para outros arqueólogos profissionais, envolvidos com um trabalho árduo, sério
e distante das peripécias das telas, essa imagem aventureira é incômoda.
O
fato é que o arqueólogo, à diferença do historiador, do geógrafo ou de outros
estudiosos, possui uma imagem muito mais atraente, inspiradora não só de
filmes, mas também de romances e livros os mais variados.
Bem,
para usar uma expressão de Eça de Queiroz, “sob o manto diáfano da fantasia”
escondem-se as histórias reais que fundamentaram tais percepções. A arqueologia
surgiu no bojo do Imperialismo do século XIX, como um subproduto da expansão
das potências coloniais europeias e dos Estados Unidos, que procuravam
enriquecer explorando outros territórios. Alguns dos primeiros arqueólogos de
fato foram aventureiros, responsáveis, e não em pequena medida, pela fama que
se propagou em torno da profissão.
Adaptado de Pedro
Paulo Funari, Arqueologia
Questão nº 01 Assinale a alternativa correta.
a) Encontra-se no
texto o predomínio da conotação, uma vez que as palavras empregadas transmitem
sentidos figurados com várias possibilidades de interpretação.
b) O texto possui um
caráter predominantemente estético, com os sentidos das palavras reinventados
constantemente pelo seu autor, a aprofundar o valor literário do texto.
c) A referência a um
autor português reforça o caráter literário que o texto assume ao direcionar
subjetivamente o teor das informações transmitidas.
d) O domínio
discursivo do texto apresenta um caráter instrucional, pois seu principal
objetivo é transmitir um conhecimento ou um saber definido pelo seu autor.
e) O texto aprese enta
todas as características de um texto oral, com marcas como hesitação,
repetição, interação com o leitor, o que permite concluir que ele foi escrito
para uma exposição oral, em uma palestra, por exemplo.
Questão nº 02 Considerando suas reflexões feitas na
questão anterior, é possível classificar o texto lido como:
a) narrativo b)
descritivo c) injuntivo d) informativo e) diálogo
Questão nº 03 Observe as afirmações feitas sobre o texto.
I. Ainda que com
ressalvas, o autor considera a presença de uma imagem de aventura relacionada à
figura do arqueólogo.
II. Pelas ideias e
citações que o texto apresenta, é consensual a imagem positiva de um arqueólogo
considerado como aventureiro.
III. É semelhante a
imagem que o arqueólogo transmite no senso comum ao lado de seus pares como
historiadores e geógrafos.
Assinale a alternativa
correta.
a) Todas as afirmações
estão corretas.
b) Nenhuma das afirmações
está correta.
c) Está correta apenas
a afirmação I.
d) Está correta apenas
a afirmação II.
e) Está correta apenas
a afirmação III.
Questão nº 04 Assinale a alternativa correta.
a) O pronome relativo
cuja (linha 02) refere-se à palavra arqueologia, denotando sentido de
possessividade.
b) Em há alguns anos
(linha 03) a forma verbal também pode ser escrita sem a letra h inicial.
c) Pelas novas regras
de ortografia, a palavra auge (linha 04) também pode ser escrita na forma
“auje”.
d) É opcional o
emprego do acento indicador de crase em à diferença (linha 10).
e) A expressão tais
percepções (linha 16) refere-se às imagens descritas em romances de Eça de
Queiroz.
Questão nº 05 Assinale a alternativa INCORRETA.
a) A presença de aspas
no texto (nas linhas 14-15) indica que o autor do texto faz referência a
palavras de outro autor, que ele incorpora em seu texto.
b) O trecho entre as
linhas 16-21 tem a função de justificar uma certa interpretação a respeito da
figura do arqueólogo no imaginário popular.
c) Discursos como o da
literatura e o do cinema prescindem de figuras da realidade, uma vez que os
tipos que elabora são puramente ficcionais.
d) Atividades
científicas que surgiram no contexto de novos períodos de colonização e
dominação de territórios estiveram relacionadas com a noção de aventura e
descoberta.
e) Desvincular uma
atividade como a arqueologia do imaginário da aventura e do herói é como
descaracterizar a própria imagem popular da profissão.
Questão nº 06 Assinale a alternativa correta que
representa a melhor correspondência sinonímica, considerando o emprego das
palavras no texto.
a) desvencilhada
(linha 01): desvinculada
b) árduo (linha 08):
brando
c) peripécias (linha
08): mentiras
d) diáfano (linha 15):
diário
e) bojo (linha 16):
contraponto
Texto para as questões 07 e 08
Quanto eu tiver
setenta anos
quando eu tiver
setenta anos
então vai acabar esta
minha adolescência
vou largar da vida
louca
e terminar minha livre
docência
vou fazer o que meu
pai quer
começar a vida com
passo perfeito
vou fazer o que minha
mãe deseja
aproveitar as
oportunidades
de virar um pilar da
sociedade
e terminar meu curso
de direito
então ver tudo em sã
consciência
quando acabar esta
adolescência
Paulo Leminski
Questão nº 07 A respeito do poema acima, de autoria do
escritor contemporâneo Paulo Leminski, assinale a alternativa correta.
a) O poema faz uma
exortação moral para que os seus leitores tomem o rumo correto na vida.
b) O poema possui a
típica estrutura formal de um soneto camoniano.
c) O título do poema
evidencia o seu tom nostálgico.
d) O verso “vou fazer
o que meu pai quer” não possui nenhum sentido de ironia.
e) O eu lírico enxerga
com ironia as concepções de “maturidade” e “virar um pilar da sociedade”.
Questão nº 08 Assinale a alternativa correta.
a) Uma expressão-chave
que definiria o poema seria: “em busca do tempo perdido”.
b) Nascido em
Curitiba, Paulo Leminski faz parte da segunda geração do modernismo brasileiro,
tendo aderido à contracultura e à poesia marginal.
c) A ausência de humor
e ironia são verificáveis em versos como: quando eu tiver setenta anos/então
vai acabar esta minha adolescência.
d) As construções
verbais predominantes no poema denotam um plano de vida ironizado pelo eu
lírico.
e) O poema de Leminski
faz uma leitura melancólica e subjetiva sobre uma trajetória de vida.
Texto para as questões 09 a 11
Até
que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa
a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e
diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve
uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora
achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe
boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro
nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler!
E
o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a
descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a
potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à
porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se
refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora
mesmo. E para mim: “E você fica com o livro por quanto tempo quiser.” Entendem?
Valia mais do que me dar o livro: “pelo tempo que eu quisesse” é tudo o que uma
pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.
Como
contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão.
Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre.
Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos,
comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também
pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo.
Chegando
em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto
de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de
novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga,
fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns
instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que
era a felicidade. A felicidade sempre ia ser clandestina para mim. Parece que
eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim.
Eu era uma rainha delicada.
Às
vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem
tocá-lo, em êxtase puríssimo.
Não
era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.
“Felicidade
Clandestina”, Clarice Lispector
Questão nº 09 Considere as afirmações abaixo, que
estabelecem uma comparação entre o poema de Paulo Leminski e o trecho do conto
de Clarice Lispector:
I. Tanto o poema
quanto o fragmento selecionado do conto são reflexões sobre o processo de
amadurecimento de um indivíduo;
II. Enquanto o poema
de Leminski aborda o tema do amadurecimento com o uso do humor, o conto de
Lispector escolhe um registro mais intimista para o mesmo tema;
III. A última frase do
trecho de “Felicidade clandestina” mostra que a personagem que ficou com a
posse do livro não deu nenhum passo em direção à vida adulta.
Assinale a alternativa
correta.
a) Estão corretas as
afirmativas I e II.
b) Estão corretas as
afirmativas I e III.
c) Estão corretas as
afirmativas II e III.
d) Todas as
afirmativas estão corretas.
e) Nenhuma das
afirmativas está correta.
Questão nº 10 Assinale a alternativa correta.
a) A narradora do
conto é a mãe que resolve o conflito da posse do livro entre as duas garotas do
conto, dissolvendo a forma emocional da angústia que vivia uma das meninas.
b) Em “Felicidade
clandestina” encontramos um bem-sucedido caso de narração que simula a voz da
infância, numa linguagem marcada pelo insólito e por alegorias.
c) “Felicidade
clandestina” é narrado por uma narradora onisciente em terceira pessoa, aspecto
representativo da prosa introspectiva de Clarice Lispector.
d) Não obstante
encontremos crianças como personagens, o tema do mundo infantil possui pouca
relevância em “Felicidade clandestina”
e) A narradora do
conto é uma adulta que decide reviver uma memória marcante da infância, traço
da prosa de Clarice Lispector, que tão bem soube representar a voz do feminino
na nossa literatura.
Questão nº 11 Assinale a alternativa correta.
a) Por ser ambientado
no Recife, o conto pode ser classificado como pertencente à produção dos
escritores regionalistas.
b) No fragmento de
“Felicidade clandestina”, podemos afirmar que a posse do livro por parte da
protagonista constitui-se como metáfora de um encontro amoroso.
c) Em “Acho que eu não
disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem
devagar.”, a personagem principal, leitora compulsiva, está frustrada pela
responsabilidade da posse do livro.
d) A decisão da mãe de
não dar em definitivo o livro para a personagem principal constitui uma
denúncia, por parte de Clarice Lispector, das injustiças cotidianas, dado que é
também uma autora engajada em seu tempo, fiel à proposta existencialista de
Jean-Paul Sartre.
e) A posse do livro
não tem relação direta com a felicidade da narradora, que se explica pelo
sentimento de vingança contra a menina que a prejudicou.
Grupos I - IV - V - VI TIPO DE PROVA: A
Texto para as questões de 01 a 06
Escrever
é um ato não natural. A palavra falada é mais velha do que nossa espécie, e o
instinto para a linguagem permite que as crianças engatem em conversas
articuladas anos antes de entrar numa escola. Mas a palavra escrita é uma
invenção recente que não deixou marcas em nosso genoma e precisa ser adquirida
mediante esforço ao longo da infância e depois.
A
fala e a escrita diferem em seus mecanismos, é claro, e essa é uma das razões
pelas quais as crianças precisam lutar com a escrita: reproduzir os sons da
língua com um lápis ou com o teclado requer prática. Mas a fala e a escrita
diferem também de outra maneira, o que faz da aquisição da escrita um desafio
para toda uma vida, mesmo depois que seu funcionamento foi dominado. Falar e
escrever envolvem tipos diferentes de relacionamentos humanos, e somente o que
diz respeito à fala nos chega naturalmente. A conversação falada é instintiva
porque a interação social é instintiva: falamos às pessoas “com quem temos
diálogo”. Quando começamos um diálogo com nossos interlocutores, temos uma
suposição do que já sabem e do que poderiam estar interessados em aprender, e
durante a conversa monitoramos seus olhares, expressões faciais e atitudes. Se
eles precisam de esclarecimentos, ou não conseguem aceitar uma afirmação, ou
têm algo a acrescentar, podem interromper ou replicar. Não gozamos dessa troca
de feedbacks quando lançamos ao vento um texto. Os destinatários são invisíveis
e imperscrutáveis, e temos que chegar até eles sem conhecê-los bem ou sem ver
suas reações. No momento em que escrevemos, o leitor existe somente em nossa
imaginação. Escrever é, antes de tudo, um ato de faz de conta. Temos de nos
imaginar em algum tipo de conversa, ou correspondência, ou discurso, ou
solilóquio, e colocar palavras na boca do pequeno avatar que nos representa
nesse mundo simulado.
Adaptado de Steven
Pinker, Guia de Escrita
Questão nº 01 Depreende-se corretamente do texto que:
a) a escrita é uma
atividade tão natural quanto falar, tanto que seu aprendizado prescinde de
treinamento direcionado.
b) escrever e falar
são atividades da linguagem humana absolutamente equivalentes no seu modo de
produção e resultado nas trocas interacionais.
c) a atividade da
escrita implica aprendizagem e treinamento e pode ser melhorada e aperfeiçoada
ao longo da formação educacional.
d) a presença física e
real dos interlocutores na modalidade escrita facilita o processo de produção
da escrita.
e) o diálogo efetivo
entre escritor e leitor permite que os feedbacks constantes ampliem as
possibilidades de interpretação de textos escritos.
Questão nº 02 O texto, pela sua estrutura e linguagem,
pode ser caracterizado corretamente como:
a) uma descrição sobre
um objeto definido, caracterizado detalhadamente.
b) um texto
informativo com teor de divulgação científica.
c) uma narração com o
desenvolvimento de um enredo.
d) um tratado
argumentativo que defende um ponto de vista político.
e) um texto de teor
pessoal com forte presença de índices de subjetividade.
Questão nº 03 Assinale a alternativa com fragmento textual
que mais se assemelha ao texto quanto à forma e ao modo de apresentação do
conteúdo.
a) “A Coreia do Norte
aumentou o tom das provocações militares e lançou um míssil que sobrevoou o
território japonês, ampliando a tensão no leste da Ásia.” (O Estado de S.Paulo,
29/8/2017)
b) “A sala arrumadinha
no meio da calçada: sofá, duas poltronas, mesa de centro, tapete, vaso e pufe.
Mulher chora abraçada à televisão – procura com medo uma chuva no céu. Crianças
mascam chupetas, imploram paredes. Marido não há. Cachorro nem. O caminhão do
despejo leva tudo num instante.” (Fernando Bonassi, 100 histórias colhidas na
rua)
c) “Viviaaannnn!!!!
Menina, vc está completamente desaparecida!! Nunca mais te vi na nossa querida
faculdade... A Márcia e a Leila eu ainda vejo de vez em quando, mas você,
nunca! Me escreva logo!!!” (Adaptação de texto em Se liga na língua 2, Wilton
Ormundo e Cristiane Siniscalchi)
d) “Por ser uma
atividade de interação entre pessoas, é preciso analisar a língua em
funcionamento, observando seu uso nas situações comunicativas. Em todas as
línguas existem regras específicas para a organização e a combinação das
palavras, as quais se alteram ao longo do tempo, conforme mudam os valores da
comunidade linguística.” (Texto em Se liga na língua 1, Wilton Ormundo e
Cristiane Siniscalchi)
e) “O funil da
ampulheta / apressa, retardando-a, / a queda / da areia. // Nisso imita o jogo
/ manhoso / de certos momentos / que se vão embora / quando mais queríamos /
que ficassem.” (José Paulo Paes, Socráticas)
Questão nº 04 Assinale a alternativa correta.
a) É claro (linha 07)
é oração intercalada que tem como função reafirmar o que se diz no período
anterior.
b) Alterar a posição
do advérbio não (linha 01) para o início do período manteria o mesmo sentido do
que se encontra no texto tal como está.
c) O conector mas
(linha 04) introduz período que semanticamente estabelece uma consequência em
relação ao afirmado no período anterior.
d) É opcional o
emprego do acento indicador de crase em diz respeito à fala (linha 14), de
acordo com as regras do acordo ortográfico mais recente.
e) O emprego da
preposição em no trecho no momento em que escrevemos (linha 25) é opcional,
pois ela pode ser omitida, sem que com isso se incorra em erro de uso da norma
culta da língua escrita.
Questão nº 05 Observe as afirmações seguintes.
I. Na construção a
palavra falada é mais velha do que nossa espécie (linhas 1-2) há o emprego da
figura de linguagem reconhecida como comparação.
II. No trecho as
crianças precisam lutar com a escrita (linha 8), há emprego metafórico do verbo
lutar.
III. Nos trechos A
fala e a escrita diferem em seus mecanismos (linha 7) e Mas a fala e a escrita
diferem também (linha 10), é possível apontar a presença de uma construção
textual que se utiliza do paralelismo.
Assinale a alternativa
correta.
a) Estão corretas as
afirmações I e II.
b) Estão corretas as
afirmações I e III.
c) Estão corretas as
afirmações II e III.
d) Todas as afirmações
estão corretas.
e) Nenhuma das
afirmações está correta.
Questão nº 06 Assinale a alternativa que indica a relação
sinonímica INCORRETA, considerando o emprego das palavras no texto.
a) genoma (linha 05) =
conjunto de genes de uma espécie de ser vivo
b) mediante (linha 05)
= por intermédio de
c) requer (linha 09) =
prescinde de
d) instintiva (linha
15) = natural
e) imperscrutáveis
(linha 23) = que não se pode examinar
Texto para as questões 07 e 08
O gato
Uma palavra para o
gato: ágil.
Também unha, preguiça,
pupila.
O resto
é o que ele
(entre uma e outra
delas)
preenche de charme
delgado –
enigmático.
Adoraria poder nele
apalpar o pêlo
e saber de que
abstração é feito.
Mas (felino) ele se
enrosca incisivo
no vão do meu
pensamento
e dependura-se
(em telepática
acrobacia)
nas suas
prerrogativas.
Só me permite
escrevê-lo
a contrapelo.
Maria Lúcia Dal Farra
Questão nº 07 A respeito do poema “O gato”, assinale a
alternativa correta.
a) A referência, pelo
eu lírico, a uma metáfora com um animal indica uma influência da escola
literária conhecida como Naturalismo.
b) Na primeira estrofe
do poema, o eu lírico afirma que é possível dizer tudo o que se pode saber
sobre o personagem do gato.
c) Os versos Uma
palavra para o gato: ágil. / Também unha, preguiça, pupila são uma descrição do
eu lírico e não do animal observado pelo mesmo.
d) O principal tema do
poema é a incapacidade do sujeito lírico de entender e colocar em palavras a
essência de um gato.
e) A palavra
“contrapelo”, do último verso do poema, se refere a uma descrição física do
animal tematizado nos versos da poeta.
Questão nº 08 A partir do poema “O gato”, considere as
afirmativas abaixo:
I. A poesia brasileira
contemporânea, também chamada por teóricos de “pósmoderna”, possui como
característica a liberdade criativa na escolha de temas, de formas e
intertextualidades;
II. O poema de Maria
Lúcia Dal Farra retoma o pressuposto modernista da “arte pela arte”;
III. Só podemos chamar
de poesia contemporânea aquela que aborda, ao contrário de “O gato”, o tema da
violência cotidiana das grandes cidades.
Assinale a alternativa
correta.
a) Apenas a afirmativa
I está correta.
b) Apenas a afirmativa
II está correta.
c) Apenas a afirmativa
III está correta.
d) Nenhuma das
afirmativas está correta.
e) Todas as
afirmativas estão corretas.
Texto para as questões 09 a 11
A
pergunta era imprudente, na ocasião em que eu cuidava de transferir o embarque.
Equivalia a confessar que o motivo principal ou único da minha repulsa ao
seminário era Capitu, e fazer crer improvável a viagem. Compreendi isto depois
que falei; quis emendar-me, mas nem soube como, nem ele me deu tempo.
—
Tem andado alegre, como sempre; é uma tontinha. Aquilo enquanto não pegar algum
peralta da vizinhança, que case com ela...
Estou
que empalideci; pelo menos, senti correr um frio pelo corpo todo. A notícia de
que ela vivia alegre, quando eu chorava todas as noites, produziu-me aquele
efeito, acompanhado de um bater de coração, tão violento, que ainda agora cuido
ouvi-lo. Há alguma exageração nisto; mas o discurso humano é assim mesmo, um
composto de partes excessivas e partes diminutas, que se compensam,
ajustando-se. Por outro lado, se entendermos que a audiência aqui não é das
orelhas senão da memória, chegaremos à exata verdade. A minha memória ouve
ainda agora as pancadas do coração naquele instante. Não esqueças que era a
emoção do primeiro amor. Estive quase a perguntar a José Dias que me explicasse
a alegria de Capitu, o que é que ela fazia, se vivia rindo, cantando ou
pulando, mas retive-me a tempo, e depois outra ideia...
Outra
ideia, não, - um sentimento cruel e desconhecido, o puro ciúme, leitor das
minhas entranhas. Tal foi o que me mordeu, ao repetir comigo as palavras de
José Dias: «Algum peralta da vizinhança». Em verdade, nunca pensara em tal
desastre. Vivia tão nela, dela e para ela, que a intervenção de um peralta era
como uma noção sem realidade; nunca me acudiu que havia peraltas na vizinhança,
vária idade e feitio, grandes passeadores das tardes. Agora lembrava-me que
alguns olhavam para Capitu, - e tão senhor me sentia dela que era como se
olhassem para mim, um simples dever de admiração e de inveja. Separados um do
outro pelo espaço e pelo destino, o mal aparecia-me agora, não só possível mas
certo.
“Uma ponta de Iago”,
Dom Casmurro, Machado de Assis
Questão nº 09 Sobre o trecho acima, retirado do romance
Dom Casmurro, escrito por Machado de Assis, assinale a alternativa correta.
a) As conclusões de
Bentinho, o narrador do romance, e a fala de José Dias atestam, sem sombra de
dúvidas, o quanto a personagem Capitu, leviana e fútil, não é digna de
confiança.
b) O trecho é
revelador da natureza extremamente ciumenta de Bentinho, pois não há nenhum
indício concreto de que Capitu deixara de gostar dele.
c) A palavra mal, na
penúltima linha do trecho, diz respeito a algum transtorno físico sentido por
Bentinho devido à sua decepção com Capitu, já que provavelmente estaria
apaixonada por algum peralta da vizinhança.
d) No seguinte trecho
“Estive quase a perguntar a José Dias que me explicasse a alegria de Capitu, o
que é que ela fazia, se vivia rindo, cantando ou pulando, mas retive-me a
tempo, e depois outra ideia”, percebemos que o narrador desiste dos seus
ciúmes.
e) Pela fala de José
Dias, Capitu está alegre pela certeza de que vai em poucos dias reencontrar com
Bentinho, o que é confirmado pela referência à peça Otelo, de Shakespeare, que
intitula o capítulo (“Uma ponta de Iago”).
Questão nº 10 Assinale em qual trecho podemos encontrar o
recurso da metalinguagem.
a) “Tal foi o que me
mordeu, ao repetir comigo as palavras de José Dias: «Algum peralta da
vizinhança».
b) “A minha memória
ouve ainda agora as pancadas do coração naquele instante.”
c) “Há alguma
exageração nisto; mas o discurso humano é assim mesmo, um composto de partes
excessivas e partes diminutas, que se compensam, ajustando-se.”
d) “Em verdade, nunca
pensara em tal desastre.”
e) “Separados um do
outro pelo espaço e pelo destino, o mal aparecia-me agora, não só possível mas
certo.”
Questão nº 11 No trecho de Dom Casmurro destacado abaixo,
qual figura de linguagem podemos encontrar?
A notícia de que ela
vivia alegre, quando eu chorava todas as noites, produziu-me aquele efeito,
acompanhado de um bater de coração, tão violento, que ainda agora cuido
ouvi-lo.
a) Hipérbole, uma vez
que no discurso há um evidente exagero, pautado num estilo demasiadamente
enfático.
b) Ironia, pois o
trecho destacado contradiz o que se afirma no início do período.
c) Catacrese, já que a
palavra coração está empregada conotativamente.
d) Onomatopeia, pois
há referência ao som que o coração faz ao bater.
e) Eufemismo, porque
evidentemente o trecho destacado suaviza a emoção sentida pelo narrador.
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